domingo, 28 de setembro de 2008

EPIDEMIOLOGIA

Disciplina: HIGIENE ZOOTÉCNICA
Prof. Paulo Francisco Domingues
Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública
FMVZ-UNESP-Botucatu

CONSIDERAÇÕES SOBRE EPIDEMIOLOGIA
COMPONENTES DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA: CONCEITOS
Epidemiologia, segundo sua formação etimológica, significa: Epi = sobre, Demos = povo, população (humana, animal ou vegetal), e Logos = estudo. Seria, portanto o estudo sobre populações. Entretanto, ela deve ser entendida como a ciência, que estuda a ocorrência de doenças em populações, suas causas determinantes, medidas profiláticas para o seu controle, e até sua erradicação.
John Snow, considerado o “pai da epidemiologia”, por ocasião de uma epidemia de cólera em Londres, em 1849, concluiu que havia relação entre a doença e o consumo de água contaminada por fezes de pessoas doentes. Alguns anos após, seus estudos foram confirmados em laboratório pelo isolamento e identificação da bactéria Vibrio cholerae, nas fezes de doentes de cólera.
Se as pessoas envolvidas na criação preocuparem-se apenas com o animal doente, deixando de lado o restante do rebanho, não poderão avaliar o perigo que um único animal doente, poderá representar para todo o rebanho, principalmente considerando-se as enfermidades transmissíveis. Sem os conhecimentos básicos dos princípios epidemiológicos, o profissional não poderá ter idéia do perigo relativo que um caso particular possa representar para o restante do rebanho. É preciso considerar o meio no qual ocorre a enfermidade, o risco de que surjam novos casos, e as possibilidades de controlar os fatores que contribuem para a ocorrência desta. Deste modo o profissional poderá nortear sua prática assistencial com uma visão mais ampla dos problemas de sanidade animal,
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lembrando-se que o técnico deverá ter em mente que ele está trabalhando com populações animais, e não com um único animal.
Para entender melhor como as ações de saneamento podem interferir na prevenção de doenças infecciosas, torna-se necessário o detalhamento de aspectos relacionados à ecologia destas.
CORTÊS (1993), revendo o conceito de cadeia epidemiológica e de seus componentes, caracterizou os mecanismos de propagação das doenças. A identificação destes mecanismos que se relacionam com o processo de propagação da doença, torna possível a adoção de medidas sanitárias, capazes de prevenir e impedir a sua disseminação. Segundo este autor, as seguintes questões poderiam ser formuladas e respondidas:
1. Quem hospeda e elimina o agente? Fonte de infecção (FI).
2. Como o agente deixa o hospedeiro? Via de eliminação (VE).
3. Que recurso o agente utiliza para alcançar um novo hospedeiro? Via de transmissão (VT).
4. Como o agente se hospeda no novo hospedeiro? Porta de entrada (PE).
5. Quem pode adquirir a doença? Susceptível.
Se estes conceitos forem colocados seqüencialmente tem-se, a caracterização da cadeia epidemiológica, que nada mais é que uma série de eventos, necessários para que uma doença ocorra em um indivíduo ou em um rebanho, ou como o conjunto de componentes do meio ou do animal, que favorecem a disseminação.
FI VE VT PE Susceptível
Se estes elos da cadeia forem combatidos conjuntamente, é possível o controle de enfermidades que ocorrem nas populações animais, especialmente as
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transmissíveis. O saneamento procura atuar em todos os elos desta cadeia, principalmente na via de transmissão e fontes de infecção.
Pode-se então citar alguns dos objetivos da epidemiologia: estudar o meio no qual se desenvolve a doença, os mecanismos de transmissão, o risco de que surjam novos casos e as medidas preventivas, necessárias para se controlar os fatores que contribuem para o desenvolvimento das doenças. Conclui-se que a epidemiologia é o fulcro da saúde animal e da saúde pública, representando o lastro principal, para avaliação das medidas de prevenção, fornecendo orientação para o diagnóstico de doenças, sejam elas transmissíveis ou não.
GLOSSÁRIO DE TERMOS UTILIZADOS NA INVESTIGAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
Agente etiológico: é o causador ou responsável pela doença. Este pode ser: bactéria, vírus, fungo, protozoário, rickéttsia, chlamydia, ectoparasito e endoparasito.
Infecção: é a penetração e desenvolvimento, ou multiplicação de um agente infeccioso no homem ou animal.
Infestação: é o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do corpo. Pode-se dizer também que uma área ou local está infestado de artrópodes e roedores.
Fonte de Infecção: é o animal vertebrado que alberga o agente etiológico e o elimina para o meio exterior.
Reservatório: é um animal ou local que mantém um agente infeccioso na natureza. O solo, por exemplo, pode ser reservatório, como elemento abiótico, mantendo agentes infecciosos, ocasionando as doenças denominadas de origem telúrica, como as saprozoonoses, e entre elas estão a listeriose e histoplasmose.
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Caso: é o animal infectado ou doente, como exemplo tem-se um caso de aborto por Listeria monocytogenes, ou um caso de manqueira, que é doença, causada pelo Clostridium chauvoei. O caso refere-se, portanto, à fonte de infecção.
Foco: Trata-se de um ou mais animais doentes, numa área ou concentração pequena. Exemplo de um foco de febre aftosa, que acomete vários animais, de uma determinada propriedade rural. Normalmente o foco é identificado como rebanho afetado.
Surto epidêmico: Neste caso, trata-se de vários animais doentes em regiões diferentes. Como exemplo ainda, um surto de febre aftosa que atinge várias propriedades podendo ser de diferentes regiões. O termo surto epidêmico é utilizado como sinônimo de epidemia ou epizootia, com a finalidade de evitar alarme, que o termo epidemia, pode causar especialmente na população humana. O surto na realidade é o grupo de focos originários de uma mesma fonte de infecção, em espaço e tempo determinados, por transmissão direta ou indireta por focos sucessivos.
Enfermidade: é a etapa da doença ou agravo em nível orgânico, que se caracteriza pela presença de sintomatologia.
Enfermidade exótica: é aquela que não existe no país ou região estudada. Como exemplo pode-se citar a peste bovina que ingressou no continente americano, e já foi erradicada na década de 1920.
Comunicantes: são os indivíduos ou animais, que tiveram contato com animais infectados ou doentes, bem como com locais contaminados, sem que se conheça o seu estado sanitário.
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Susceptibilidade: qualidade do hospedeiro em relação à infecção ou invasão de seu organismo pelo parasito. É utilizado, para designar a característica do organismo susceptível à ação do fator determinante.
Susceptível: organismo ou população que apresenta susceptibilidade à ação de determinado fator. Pensando em agente infeccioso, seria o indivíduo que não possui resistência a determinado agente patogênico, podendo contrair a doença.
Vetor: são animais, geralmente artrópodes, que transmitem o agente infeccioso ao hospedeiro susceptível.
Vetor biológico: é o hospedeiro onde o parasita desenvolve parte do seu ciclo evolutivo, possibilitando a transmissão para novo hospedeiro. Caracteriza-se pelo caráter de obrigatoriedade para sua sobrevivência ou aumento da densidade populacional do parasito. Pode-se dizer que os microrganismos desenvolvem obrigatoriamente neste vetor fase do ciclo, antes de serem disseminados no ambiente, ou transportados para novo hospedeiro. Pode-se exemplificar, o caso da Anaplasmose, onde o principal transmissor é o carrapato Boophilus microplus considerado então, como vetor biológico e transmissor do agente, que é o Anaplasma marginale.
Vetor mecânico: é o organismo que pode se contaminar com formas infectantes do parasito, transportando-os mecanicamente para determinado hospedeiro. Neste caso o vetor participa apenas como carreador de agentes infecciosos, sendo que estes não sofrem qualquer modificação no interior do seu organismo. Podem ser exemplos, as moscas hematófagas como Stomoxys calcitrans e os tabanídeos, que pode vetoriar agentes após sugar animal portador da rickéttsia Anaplasma marginale, que ficam em sua tromba, infectando então animal susceptível, se a seguir sugarem o seu sangue.
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Veículo: é qualquer elemento que transporte determinado agente infeccioso. Este veículo pode ser animado, definindo-se como qualquer ser vivo que possa transportar passivamente o agente infeccioso. Os veículos inanimados são os elementos capazes de transportar o agente infeccioso. Neste último incluem-se a água, alimentos e objetos contaminados como as agulhas, seringas, panos, arreios, escovas, entre outros.
Fômites: para esta definição pode-se utilizar o próprio conceito de veículo inanimado, pois são os objetos inanimados, contaminados que podem transportar agentes infecciosos para os animais ou homem, como baldes, toalhas, seringas, entre outros.
Portador: são os animais ou pessoas que havendo ou não manifestado os sinais clínicos de determinada enfermidade continuam eliminando o agente por algum tempo. Pode ser portador são, o animal que já teve ou poderá vir a ter sintomatologia clinicamente detectável; portador em incubação é aquele que está infectado, mas não mostra alterações; e portador convalescente, que é aquele que embora tenha apresentado cura clínica, ainda pode eliminar o agente infeccioso.
RELAÇÃO DA EPIDEMIOLOGIA COM OUTRAS ÁREAS
A epidemiologia considera como sua unidade de interesse, portanto, o indivíduo, um grupo de indivíduos, seja de uma população constituída de pessoas, ou de animais; incluindo-se os sadios, doentes e mortos.
Na investigação epidemiológica, são utilizadas ciências e disciplinas consideradas correlatas, ou de apoio, tais como: a bioestatística, para medir as situações na fase de observação e posteriormente em nível de avaliação; a clínica, como ponto de partida para o diagnóstico individual da enfermidade, a partir do qual se estabelecerá a orientação a se tomar; a patologia, a microbiologia, a parasitologia, a imunologia, a toxicologia, entre outras. Estas
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fornecem à epidemiologia o diagnóstico da situação. As ciências do comportamento humano, como a sociologia, antropologia, psicologia, a economia e a ecologia, entre outras, assumem também papéis de grande importância.
Mostrando a relação da epidemiologia com outras áreas do conhecimento FORATTINI (1992), argumenta sobre alguns dos princípios que regem a unificação da epidemiologia e da sua indissociabilidade da ecologia. Enfatiza ainda que a sociedade nada mais é do que o fenômeno ecológico, cujos fundamentos devem ser procurados na própria característica da vida. Os componentes físicos e biológicos do ambiente onde vivem o homem e também os animais, somam-se aos da sociedade que se estabelecem, na determinação do seu estado de saúde e da qualidade de vida. De acordo com os conhecimentos atuais, ecologia e ambiente são termos usados quando o tema se refere ao bem-estar e à sobrevivência. A ecologia deve compreender o estudo de todos fatores físicos e biológicos, e da sua interação no meio em que vivem os organismos. O ambiente inclui desde a energia solar até o substrato representado pelo sol e os organismos que sobre ele vivem.
SAÚDE E DOENÇA
A saúde e doença são idéias relativas e convencionais, e representam estados absolutamente opostos. O limite entre o estado de saúde e doença é difícil de ser estabelecido. O indivíduo pode se manter entre eles, durante toda sua vida. A saúde é um estado de relativo equilíbrio da forma e da função do organismo, resultante de seu sucesso em ajustar-se às forças que tendem a perturbá-lo. Não se trata de uma aceitação passiva, dessas, por parte do organismo, mas de sua resposta ativa, para o seu reajustamento.
A Organização Mundial da Saúde define como saúde: “o estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”. É evidente a falta da precisão, em especial no que se refere ao significado da expressão “completo bem-estar”. Este pode variar de acordo, com o indivíduo, tempo e espaço. Do ponto de vista médico, o que é bom para um não é
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obrigatoriamente para outro, e nem a presença de bem-estar significa a ausência de doença (FORATTINI, 1992).
A doença por sua vez, pode ser definida como um desajustamento ou falha nos mecanismos de adaptação do organismo, ou ainda, como a ausência de reação aos estímulos que ele está exposto. O processo conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo, interferindo em suas funções vitais. Pode significar ainda o conjunto combinado de sintomas, manifestação associada à determinada desordem estrutural e/ou funcional, ou então caracterizar fenômeno decorrente da ação de um ou mais agentes específicos.
Sob o ponto de vista etiológico, as doenças podem ser classificadas em: infecciosas e não infecciosas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (1973), doença infecciosa do homem ou dos animais, é aquela resultante de uma infecção. Entende-se por infecção a penetração, desenvolvimento, multiplicação ou replicação de um agente infeccioso, incluindo-se os helmintos; no organismo do homem ou de animais. Estas podem ser aguda, subaguda e crônica. As crônicas são aquelas que se desenvolvem em longo prazo; e as subagudas e agudas são de curta duração.
Deve-se levar em consideração ainda, as doenças nutricionais e metabólicas, as parasitárias de forma geral, as tóxicas e ainda aquelas hereditárias, e outras que se devem a malformações, desenvolvidas durante os períodos embrionário e fetal, mas não herdáveis, sendo denominadas de doenças congênitas.
Com os avanços alcançados em biologia, microbiologia, entre outras áreas do conhecimento, estabeleceu-se o conceito ecológico de doença. Do ponto de vista ecológico, denomina-se biocenose a coabitação e interferência dos seres vivos em determinada área física, incluindo os microrganismos que determinam o ecossistema, com a inclusão de fatores em interação e associações ambientais, como o solo, água, clima e a presença do homem, considerando-se, portanto, o conjunto constituído pela comunidade e o ambiente onde se vive (FORATTINI,
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1992). O equilíbrio que vem a se estabelecer entre as diversas espécies animais e/ou vegetais em uma determinada região, caracteriza o fenômeno ecológico denominado clímax, que nada mais é do que a etapa do processo de sucessão ecológica, representadas pelo equilíbrio e estabilidade atingidas pela comunidade.
Um desequilíbrio ou conseqüência deste provocam um jogo de influências mútuas entre diversas variáveis ecológicas, que poderão resultar no estabelecimento do estado de doença. É importante, entretanto, considerar que a doença não é determinada única e exclusivamente pela presença de um agente infeccioso, mas sim pela interação entre o agente, hospedeiro e meio ambiente, que pode ser representada graficamente por um triângulo eqüilátero, onde a ocorrência de qualquer modificação em um lado, necessariamente implicará na modificação dos demais. Nenhum dos fatores poderá atuar de maneira isolada, ocorrendo, portanto, uma interação constante e dinâmica entre eles (MARTINS, 1975). AgentefatoresvariáveisHospedeirofatoresvariáveisEQUILÍBRIOSAÚDEFísicoBiológicoEconômicoSocialAmbienteVariação doEquilíbrioVariação doEquilíbrioFonte: Dias (1984)
Os agentes causais podem ser biológicos, químicos e físicos. Os hospedeiros apresentam variáveis que se relacionam com o estado fisiológico, nutricional, defesas orgânicas, espécie, idade, sexo e raça. O meio ambiente apresenta fatores que influenciam e estão relacionados com o clima, água, solo, topografia, presença de insetos, densidade populacional e manejo.
Estes três elementos fundamentais que constituem o processo epidêmico, bem como suas variáveis, se relacionam com qualquer tipo de doença, quando se
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estuda este fenômeno em populações. É importante considerá-los em conjunto, para se estabelecer os níveis em que deverão ser adotadas as medidas objetivando-se o controle e erradicação de determinada doença que esteja ocorrendo em dada população animal.
CARACTERÍSTICAS DO AGENTE
Descreve-se a seguir as principais características dos agentes biológicos, e em particular os de caráter infecto-contagiosos. Os conhecimentos das características são fundamentais, para se compreender suas inter-relações com o desenvolvimento da infecção, pois são elas que contribuem para que o agente infeccioso possa persistir em determinado sistema ecológico.
a) Infecciosidade: é a característica do agente de penetrar, alojar e multiplicar-se no organismo do hospedeiro, ou seja, a sua capacidade de causar infecção. Esta característica é fundamental, na previsão da propagação de dada doença. São considerados de alta infecciosidade o vírus da febre aftosa para os animais, e o vírus da raiva para os animais e o homem. Considera-se de baixa infecciosidade o vírus da febre aftosa para o homem.
b) Patogenicidade: é a capacidade do agente, em produzir lesões específicas no organismo hospedeiro. Agentes dotados de alta patogenicidade determinam incidência maior da doença na população. Ela é traduzida, portanto, pela frequência de casos clínicos no rebanho. São considerados de alta patogenicidade os agentes da raiva, aftosa, anemia infecciosa eqüina, e manqueira; e de baixa patogenicidade os da brucelose e tricomonose nos machos.
c) Virulência: caracteriza-se pela capacidade do agente de produzir lesões de maior ou menor gravidade, determinando o grau de severidade da infecção. Ela se traduz pela intensidade da ação do agente no hospedeiro. São de alta
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virulência os agentes da raiva, tétano, entre outros; e de baixa virulência, o agente da brucelose.
d) Variabilidade: é a capacidade de mudanças de características genéticas do agente, originando mutantes, como ocorre com o vírus da febre aftosa.
e) Antigenicidade: conhecida também como imunogenicidade. É a capacidade do agente etiológico em induzir no hospedeiro a formação de anticorpos, produzindo desta maneira imunidade, ou seja, resposta imunológica. São considerados de alta antigenicidade o vírus do sarampo, varíola e cinomose e de baixa antigenicidade os agentes da febre aftosa e salmonelose.
f) Resistência: é a característica que o agente apresenta em resistir ao meio ambiente em condições naturais, e aos produtos químicos como os anti-sépticos e desinfetantes, por determinados períodos de tempo, na ausência de parasitismo. São altamente resistentes no ambiente as bactérias dos gêneros Clostridium spp e Bacillus spp, que causam doenças conhecidas como de origem telúrica.
CARACTERÍSTICAS DO HOSPEDEIRO
Em um sentido amplo, o hospedeiro pode ser considerado como todo e qualquer ser vivo que albergue um agente em seu organismo, ou ainda o organismo que propicia alimento ou abrigo a organismo de outra espécie. São conhecidos três tipos de hospedeiros:
Hospedeiro definitivo: é aquele onde o parasito atinge a maturidade, reproduzindo-se sexuadamente.
Hospedeiro intermediário: é o hospedeiro, no qual o parasito desenvolve suas formas imaturas ou, para alguns, se reproduz assexuadamente.
Os fatores relativos ao hospedeiro, dentro do sistema ecológico, se relacionam às suas características, como a espécie, raça, sexo, estado fisiológico,
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entre outros, e aquelas que dependem do agente e do meio ambiente, como a densidade populacional, manejo e susceptibilidade.
a) Espécie: a susceptibilidade de uma espécie animal a um determinado agente etiológico, de maneira geral, é determinada por suas próprias características genéticas. Sendo assim, exemplificando: os eqüídeos são os únicos susceptíveis à anemia infecciosa eqüina, as aves à doença de Newcastle, os animais biungulados à febre aftosa e os canídeos, os únicos susceptíveis a cinomose.
b) Raça: algumas raças de animais são mais susceptíveis que outras, frente a um mesmo agente etiológico, isto também se deve às características genéticas da própria raça. Como exemplo, podemos citar as raças zebuínas que se mostram mais resistentes à “piroplasmose” (tristeza parasitária), em relação a outras, principalmente as raças leiteiras.
c) Sexo: observa-se que ocorre um distinto comportamento de ambos os sexos para um mesmo agente etiológico, isto se deve às características anatômicas, o que permitirá ou não o desenvolvimento de uma infecção. A brucelose afeta mais comumente as fêmeas do que os machos.
d) Idade: existem doenças que incidem mais em animais jovens, enquanto outras em adultos. Para a maioria das doenças infecto-contagiosas, a susceptibilidade do hospedeiro está em função da idade. A salmonelose, em bovinos, ocorre geralmente entre o 3o e 12o mês de vida do animal, podendo ocorrer também, entretanto, com menor frequência, na primeira semana de vida. As diarréias por rotavírus são mais freqüentes em animais neonatos, ou seja, recém-nascidos, bem como nas primeiras semanas de vida. A brucelose é uma doença de animais púberes (sexualmente maduros), sendo autolimitante em animais jovens, e a manqueira, conhecida também como carbúnculo
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sintomático, em bovinos, acomete mais freqüentemente animais jovens, até os dois anos de idade.
e) Estado fisiológico: pode influenciar na susceptibilidade dos animais. As deficiências nutricionais, fadiga, estresse e gestação, podem diminuir a resistência dos animais, tornando-os mais predispostos às enfermidades.
f) Densidade populacional ou lotação: está intimamente relacionada ao manejo. A densidade dos animais em uma determinada área constitui um dos fatores principais para o desenvolvimento e propagação das doenças. A superlotação com excesso de animais/área determinam em grande parte maior risco de contaminação entre os animais, pelas maiores chances de contato efetivo entre os hospedeiros.
g) Resistência dos animais: define-se como o conjunto de defesa específica e inespecíficas que o animal possui. A resistência natural ou inespecíficas é aquela em que o organismo independe do estímulo específico, e que, portanto, existe previamente ao contato com o agente. Essa ocorre por características anatômicas e fisiológicas do animal. Não depende de reações teciduais ou de anticorpos. Por exemplo, a galinha é refratária ao carbúnculo, e os urubus ao botulismo.
A resistência específica designa a resistência do organismo contra determinado agente específico. Ela pode ser passiva quando resultante da transferência de anticorpos produzidos em outro organismo, ou ativa quando for elaborada pelo próprio organismo. Estes dois casos referem-se à imunidade que pode ser ativa e passiva.
É denominada imunidade passiva quando o organismo hospedeiro recebe os anticorpos já elaborados passivamente. Pode ser natural (congênita) como no caso do colostro, transuterino e gema de ovos, nas aves; e artificial (soroterapia) para os anti-soros específicos, como soro antiofídico e antitetânico.
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A imunidade ativa é aquela que ocorre quando o organismo hospedeiro participa ativamente na formação dos anticorpos. Pode ser natural (pós-infecção), pelo contato com determinado antígeno e desenvolvimento de infecção ou doença havendo a formação de anticorpos específicos, e artificial (vacinação), pela utilização de vacinas, que da mesma forma eliciará imunidade, pela sensibilização do organismo, frente à ação antigênica.
CARACTERÍSTICAS DO AMBIENTE
O meio ambiente pode favorecer a evolução ou declínio de uma determinada doença na população animal. Consideram-se três fatores ou elementos do meio ambiente, que são, os fatores físicos, biológicos e sócio-econômicos. Tanto o ambiente físico como o biológico, e em particular o sócio-econômico, possuem características críticas para o desenvolvimento epidêmico de algumas doenças. Estes fatores encontram-se em permanente intercâmbio, de forma dinâmica, sendo seus efeitos sobre o agente e/ou sobre o hospedeiro, variáveis a cada instante.
Dentre os fatores físicos relevantes, do meio ambiente, e que devem ser considerados, estão:
a) Temperatura: nas épocas frias do ano, a incidência de enfermidades do sistema respiratório dos animais é maior; pois a instalação, e propagação das doenças são facilitadas pela baixa temperatura, e pela aglomeração dos animais. Por outro lado, no verão, com temperatura mais alta, observa-se uma ocorrência maior de afecções gastroentéricas, normalmente traduzidas por diarréias.
b) Calor e umidade: favorecem a manutenção e propagação de doenças, cujos agentes etiológicos necessitem de tais condições para sua proliferação e sobrevivência. A incidência de helmintos é maior nos animais criados em terrenos alagadiços, com umidade excessiva. A ocorrência de doenças
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veiculadas por vetores, como a anaplasmose e babesiose, transmitidas pelos carrapatos é maior nas épocas quentes do ano, como na primavera e verão, em função das condições favoráveis ao desenvolvimento dos carrapatos.
c) Topografia: a topografia do solo poderá predispor ao acúmulo de água estagnada tornando-o úmido, mantendo o local adequado, para o desenvolvimento de ovos e larvas de helmintos, ou de outros agentes causadores de doenças.
d) Composição do solo: os solos deficientes em elementos minerais podem influenciar a qualidade das gramíneas ou leguminosas cultivadas nestes locais, tornando-as deficientes em seus elementos minerais, podendo causar nos animais as chamadas doenças carenciais e metabólicas, como: o raquitismo, osteomalácia, marasmo enzoótico, entre outras.
Com relação aos fatores biológicos destacam-se:
a) Artrópodes: encontrando condições adequadas para a sua multiplicação e desenvolvimento no meio ambiente, serão maiores as possibilidades de transmissão de doenças aos animais, como a babesiose, anaplasmose, e encefalites.
b) Roedores: a existência de ambientes propícios e não higiênicos, com abrigo e alimentos à disposição, favorecem a proliferação de ratos, aumentando as possibilidades de transmissão de doenças veiculadas por estes animais, tais como: a leptospirose e salmonelose.
c) Reservatórios: quanto maior o número de reservatórios no meio ambiente, maior a probabilidade de propagação de determinadas doenças, como é o caso da raiva rural, raiva urbana, doença de Aujeszky, sendo os principais reservatórios para estas doenças, o morcego, cão e suíno, respectivamente.
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d) Animais susceptíveis: existindo um maior número de hospedeiros susceptíveis no local, serão maiores as chances de propagação de doenças.
e) Hospedeiros intermediários: da mesma forma que para os animais susceptíveis, quanto maior o número de hospedeiros intermediários numa região, maior a possibilidade de disseminação de doenças. É o caso da cisticercose nos suínos, e da hidatidose nos ovinos.
Os fatores sócio-econômicos do ambiente apresentam grande importância no estudo epidemiológico, pois mesmo usando os métodos disponíveis mais sofisticados, de prevenção de doenças, se as pessoas envolvidas, por exemplo, em determinado programa de controle, não os entendem, os métodos ou técnicas utilizadas estarão prejudicados. Portanto, no controle e prevenção de doenças, a educação sanitária, é um fator importante a ser considerado. O grau de participação da comunidade nas campanhas sanitárias é fator decisivo no êxito das mesmas.
Na implantação de um programa de saúde animal, é importante que se considere:
- O nível cultural e econômico do criador ou da comunidade.
- As condições higiênico-sanitárias da propriedade.
- O tamanho e distribuição das propriedades.
- O manejo e tipo de sistema de produção.
- O nível de tecnificação agropecuária.
COMPONENTES DA CADEIA EPIDEMIOLÓGICA
Fontes de infecção: Pode-se considerar como fonte de infecção os animais vertebrados nos quais o agente etiológico se aloja, sobrevive e se multiplica, sendo posteriormente, eliminado para o meio ambiente, transmitindo-o para outro
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hospedeiro. Existem dois elementos fundamentais, que funcionam como fontes de infecção: os animais doentes e portadores.
1. Doentes: são os animais que apresentam sintomas de alguma doença, atribuídos aos efeitos do agente etiológico que albergam em seu organismo. Podem ser, doentes típicos, aqueles que apresentam os sintomas característicos da doença, conhecido ainda por sintoma patognomônico, sendo assim, facilmente reconhecidos. Os doentes atípicos são os animais que apresentam sintomatologia diferente daquela que realmente caracteriza a doença, dificultam o diagnóstico, podendo postergar a adoção de medidas de controle.
2. Animais portadores: são os animais que não apresentam sintomas da doença, mas albergam, e eliminam o agente etiológico no ambiente. São conhecidos: o portador sadio, que são os animais de maior importância epidemiológica, pois além de serem de difícil diagnóstico, circulam livremente pelo rebanho; o portador em incubação, que não apresentam sintomas, mas já eliminam o agente etiológico no ambiente. Estes apresentarão os sintomas após o final do período de incubação, o que caracteriza o período de estado da doença. O tempo de incubação será maior ou menor, dependendo da doença. Na raiva, por exemplo, o cão, pode eliminar o vírus pela saliva de 5 a 13 dias antes do aparecimento dos sintomas (NILSSON, 1969, 1970, FEDAKU et al., 1982). Os portadores convalescentes são animais que já apresentaram sintomas, com cura clínica, entretanto, podem ainda eliminar o agente etiológico. Isto ocorre, por exemplo, na leptospirose e salmonelose.
Vias de eliminação: é o conjunto de vias no animal, pelas quais, o agente etiológico é eliminado para o meio ambiente. Este pode ser eliminado por diferentes vias, entretanto, de acordo com a doença, uma delas poderá ser a mais importante. Um agente que produza lesões entéricas terá geralmente, as fezes como a via mais importante de eliminação do agente. Em caso de doença, que produza lesões no sistema respiratório, as excreções oro-nasais, serão as
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principais vias de eliminação. Este fenômeno de especificidade de eliminação é de grande importância no estudo epidemiológico, na medida em que fornece indicação, dos mecanismos de transmissão da doença.
A seguir, exemplo de algumas doenças com as principais vias de eliminação de seus agentes. Na tuberculose, garrotilho, raiva e febre aftosa são as secreções oro-nasais; na brucelose, as descargas vaginais e placenta; na leptospirose, principalmente a urina; nas micoses, sarnas e ectima contagioso, as descamações cutâneas; nas verminoses, coccidiose, salmonelose e colibacilose, as fezes; nas mastites, o leite; na anemia infecciosa eqüina e leucose, o sangue.
Vias de transmissão: são os mecanismos pelos quais a doença chega da fonte de infecção ao susceptível. Esta pode ocorrer sob forma vertical, de geração a geração, sendo considerada ainda como congênita, e sob a forma horizontal, que ocorre de animal a animal, pelo contato direto ou indireto por meio de insetos, fômites, entre outros. Pode-se dizer ainda que a transmissão ocorre pelo contágio, transmissão aerógena, pelo solo, água, alimentos, vetores, fômites, e por veículos animados.
Diz-se que a transmissão é direta quando ocorre o contato entre a fonte de infecção e o animal susceptível, sem a interferência de veículos. Esta pode ser direta imediata, quando há o contato físico entre a fonte de infecção, e o animal. É o caso da mordedura, ou o ato de lamber, na raiva, e a cópula, na tricomonose e brucelose. Pode ser ainda direta mediata, quando não há o contato físico, entre a fonte de infecção e o animal, e como exemplo, estão as doenças respiratórias, transmitidas pelos aerossóis.
É considerada indireta quando a transferência do agente se dá por meio de veículos, ocorrendo intervalos maiores, entre a eliminação, e penetração do agente. A água é o principal veículo de transmissão de agentes infecciosos causadores de doenças entéricas. Os alimentos e a água, quando contaminados, constituem-se em importantes veículos de transmissão de doenças. O solo pode veicular agente infeccioso como no caso do tétano, botulismo e verminoses. É indireta ainda quando há a participação de vetores e fômites.
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Portas de entrada: são consideradas como as vias, pelas quais o agente infeccioso, consegue penetrar no organismo animal. As principais portas de entrada, são: a via respiratória, digestiva, conjuntival, galactófora, onfaloflébica, cutânea e genito-urinária.
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ABC Plaza Shopping instala sistema da General Water

A necessidade de utilizar racionalmente os recursos hídricos faz com que muitas indústrias já invistam no reúso. Mas a iniciativa começa a extrapolar os portões das fábricas e está chegando aos empreendimentos comerciais.


Cynthia Luz

Prova de que a economia e o reaproveitamento da água são preocupações que alcançam cada vez mais pessoas no País é a instalação de processos de reúso em shopping centers em São Paulo. Exemplo disso é o ABC Plaza Shopping, situado em Santo André. Lá a General Water, empresa de gestão de recursos hídricos para grandes consumidores privados, instalou e administra uma estação compacta de tratamento de efluentes que garante reaproveitamento de um terço do consumo total de água, de 15 mil metros cúbicos mensais. “Além de cuidarmos do fornecimento de água, captada a partir de poços artesianos, estamos reutilizando 5 mil metros cúbicos de esgoto, que deixam de ser lançados na rede pública”, conta Sérgio Luiz Nascimento, diretor de operações da General Water.

Com 55 metros quadrados, a ETE do Shopping, instalada numa área do estacionamento, trata hoje em torno de 5 mil litros, equivalentes a 60%, do esgoto do shopping, mas esse volume deve crescer, chegando a 90% ou 100% dos efluentes, conforme explica Nascimento. “Com isso, ela já registra economia de 50% na conta de esgoto, cobrada pela empresa pública de saneamento”, reforça o executivo.

O sistema de tratamento usado no local é resultado de parceria da General Water com com a empresa canadense Noram Engeneering. Trata-se do sistema Vertreat, que promove a reciclagem de esgotos sanitários utilizando o reator vertical, Deep Shaft, com 90 metros de profundidade. “O esgoto é inserido nesse reator, com suprimento de ar comprimido, que supre as bactérias aeróbias, que retiram do esgoto a matéria orgânica. As grandes vantagens da estação é a baixa geração de lodo, a não-emanação de odores, pequena ocupação de espaço, baixo custo energético e e ganho de tempo”, acentua Nascimento.

De acordo com ele, diferentemente dos sistemas convencionais, que demandam de três a cinco dias para a eliminação da matéria orgânica, no Deep Shaft em duas horas a água está pronta para reúso. A água resultante desse processo de reúso é desinfetada e esterilizada, além de ser identificada por um corante inerte, e então destinada a descargas de vasos sanitários, rega de jardins e lavagem de pisos.

Por outro lado, Nascimento acentua que o descarte de lodo é outra grande preocupação dos sistemas tradicionais. “O nosso sistema tem tão baixa produção desse resíduo que estamos montando ao lado da ETE um biodigestor para receber o excesso de lodo da estação, operação que deverá ocorrer apenas a cada cinco meses”, diz.

Crescimento
A General Water registrou aumento de faturamento da ordem de 50% nos dois últimos anos impulsionada por esse foco maior em conservação do ambiente e a implantação de sofisticados sistemas de tratamento e reciclagem de esgotos sanitários. Apenas no último ano, conquistou grandes clientes para reúso além do ABC Plaza Shopping, entre eles Volkswagen, Grupo O Estado de S. Paulo, Multek do Brasil, Condomínio Faria Lima Financial Center e Centro Administrativo Unibanco. “Agora a solução vai ser instalada também no Shopping Iguatemi, em Campinas, interior paulista”, adianta Nascimento.

“Nossas equipes de venda mostram que nossos clientes estão preocupados não apenas com economia de recursos, mas com a preservação ambiental. Há uma preocupação difundida quando se fala nesse assunto e a General Water, atenta ao mercado, passou a trabalhar também com sistemas de reúso de água, inclusive buscando parceiros no exterior em fornecimento de tecnologia”, explica Ricardo Ferraz, diretor comercial da General Water.

As expectativas para 2008 não poderiam ser melhores: cada vez mais as grandes empresas preocupam-se em ser ecologicamente responsáveis, entendendo seu papel na sociedade. A General Water proporciona às empresas clientes, além de independência em termos de abastecimento de água, reúso da água para fins secundários, que gera economia financeira e de recurso natural. O atrativo é que a empresa torna-se ambientalmente e socialmente responsável, já que também está possibilitando que a água da concessionária pública seja utilizada para abastecimento público. “No atual cenário de escassez de água, quando um cliente nosso usa água subterrânea, está liberando recursos hídricos para a população”, finaliza Ferraz.

Garantia de água sem cultura

Utilizados principalmente em processos industriais, como o tratamento de água para sistemas de resfriamento, os fungicidas dependem do desenvolvimento desse segmento econômico para crescer.


Cynthia Luz

Além de empregado em processos industriais que exigem pureza na água, como produção de papel e celulose, sistemas de óleo e gás, torres de resfriamento e trocadores de calor, os fungicidas também são usados em uma aplicação doméstica: as piscinas. E, ao longo do tempo, novas tecnologias são desenvolvidas e opções de desinfecção entram nesse mercado, propiciando soluções mais adequadas ao consumo humano.

No caso das piscinas, uma dessas alternativas é o uso de ozônio, que elimina não só os fungos, como as bactérias, algas e eventuais vírus que possam estar presentes na água. No ramo industrial, as opções são outras. Para Heitor Zuntini, gerente de produtos Cone Sul da Nalco, por exemplo, a aplicação de biocidas em sistemas de água está relacionada aos sistemas de resfriamento de indústrias ou mesmo de instalações institucionais. “Eles são fundamentais para garantir que a água de resfriamento não desenvolva crescimento microbiológico descontrolado, impedindo que a formação da chamada lama orgânica venha a prejudicar o condicionamento anticorrosivo e antiincrustante, ao mesmo tempo impedindo que haja perda da eficiência da troca térmica nos equipamentos ou mesmo seu completo entupimento”, avalia.

Para ele, a aplicação de biocidas deve atender às demandas particulares de cada sistema: “De maneira geral, verificamos a excelente aceitação da tecnologia Stabrex, bromo estabilizado, dada sua excelente relação performance/custo, comparada a outros biocidas existentes no mercado.”

“Dentre os inúmeros compostos manufaturados e/ou processados pela Nalco, a tecnologia Stabrex é a que mais tem se destacado. O Stabrex ST40, por exemplo, é um biocida líquido à base de bromo, de fácil dosagem e controle. Ao contrário do hipoclorito de sódio, ele não perde sua atividade rapidamente. Ele otimiza o tempo do operador e proporciona uma dosagem adequada e de fácil controle. Elimina bactérias e auxilia na prevenção de problemas de lama. Combinado com os serviços, ele auxilia a manter limpos os trocadores de calor e o enchimento da torre, propiciando operação eficiente. Esse biocida não é desativado pela amônia ou outros contaminantes e, por ser um biocida à base de bromo, mata bactérias em sistema de pH elevado e com contaminantes”, explica Zuntini.

Consumo humano
Por outro lado, José Eduardo Gobbi, gerente da Divisão Purate da Eka Chemicals, aponta uma solução da empresa que pode ser usada não apenas em processos industriais como também em aplicações para consumo humano.”O Purate é uma solução que inclui clorato de sódio e peróxido de hidrogênio patenteada e produzida na Eka Chemicals do Brasil, em Jundiaí, na região metropolitana de São Paulo, e está registrado na EPA (Environmental Protection Agency), na NSF (National Sanitation Foundation International) ANSI/NSF e na FDA (Food and Drug Administration), entre outras organizações mundiais, o que comprova a sua utilização principalmente para consumo humano. O gerador SVP-Pure é um sistema patenteado e projetado para produção de dióxido de cloro até 50kg/h (100 lb/h) por unidade, sendo possível o desenvolvimento de equipamentos com capacidades maiores.”

O executivo lembra que a Eka Chemicals atua há 40 anos desenvolvendo tecnologias para uso e geração de dióxido de cloro. Fundamentada na experiência do SVP, que está em operação desde 1969 em várias partes do mundo, cuja maior aplicação é na indústria de celulose/papel, foi desenvolvido e patenteado o sistema de geração de dióxido de cloro SVP-Pure/Purate, um sistema de pequena escala empregado principalmente no tratamento de água e de efluentes.

“O Sistema Purate + SVP-Pure é uma moderna tecnologia para geração de dióxido de cloro por meio de processo seguro, com alto rendimento e gerado no local de utilização, sem o uso de gás cloro ou de clorito. O sistema da Eka proporciona custos operacionais significativamente menores que outros processos existentes e que operam com outros químicos”, garante, esclarecendo: “O dióxido de cloro gerado pela tecnologia SVP-Pure Purate é utilizado em sistemas de tratamento de água para consumo humano, em sistemas de tratamento de esgotos, em sistemas de tratamento de água em torres de resfriamento, caldeiras etc., em sistemas de controle de odor; em desinfecção; oxidação de matéria orgânica – redução de carbono orgânico total; oxidação de metais pesados; evitar formação de THM – trialogenados; evitar formação de organoclorados; eliminação de fenol, de sulfeto, de ferro e de manganês; redução de cor; sabor e odor; controle de odores gerados nas unidades de tratamento; inibição de corrosão nos sistemas de condução da água; desinfecção após tratamento biológico em unidades de tratamento e outros.”

Para Gobbi, na maioria dos sistemas em operação e até mesmo em novos projetos, se observa uma grande tendência para sistemas anaeróbios em nível secundário para tratamento de esgotos domésticos em função de custos de investimentos e de operação e sem se preocupar com etapas importantes, como a desinfecção dos efluentes tratados antes de lançá-los ao ambiente. “Nos sistemas de tratamento de água para consumo humano ainda observa-se os tradicionais processos físicos e químicos de tratamento de água sem considerar as novas e seguras tecnologias disponíveis no mercado brasileiro, como por exemplo o dióxido de cloro aplicado na água bruta para pré-oxidação, evitando a formação dos trialometanos e dos ácidos haloacéticos, que são qualificados internacionalmente como cancerígenos quando encontrados na água tratada e distribuída para a população”, complementa.

Minas investe em saneamento e saúde

governador de Minas Gerais, Aécio Neves, assinou liberação de R$ 30,6 milhões do Tesouro do Estado para obras de saneamento em 261 municípios mineiros.

Cynthia Luz

Há pouco mais de um mês, o governo mineiro liberou recursos que chegarão às prefeituras por meio do projeto estruturador Mais Saúde para Todos, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população das áreas mais pobres, por meio da ampliação da oferta de água potável, da construção de redes de coleta e de sistemas de tratamento de esgoto. A contrapartida média das prefeituras é de 10% do total da obra.

O Mais Saúde para Todos possibilitará a construção de 3,3 mil banheiros em residências que não dispõem desse benefício. Cada uma dessas residências receberá um módulo composto de vaso sanitário, pia, chuveiro e, na área externa da casa, um tanque para uso diverso. O programa também terá um papel importante no tratamento do lixo, pois os municípios poderão usar o recurso para a compra de equipamentos ou instalação de usinas de compostagem ou aterros sanitários.

“Esses recursos servirão para abastecimento de água, para módulos sanitários, coisas simples, mas absolutamente transformadoras na vida das famílias. Isso mostra algo que eu dizia logo no início do governo, que, se houver uma ação nossa, por mais singela que seja, mas que chegue a um cidadão, possa melhorar a qualidade de vida de uma família ou de um cidadão, eu já me sentirei imensamente recompensado. E essas são ações simples, mas que passam por uma grande sinergia do governo. Estão aqui a Copasa, secretarias de Desenvolvimento Social, Esportes, Fazenda, participando desse esforço e por isso as coisas estão acontecendo em Minas Gerais”, disse Neves.

Mesmo cidades que não contam com os serviços prestados pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) serão contempladas pelo programa. Entre as cidades beneficiadas, 26 estão localizadas na área de influência da Estrada Real. Dos R$ 30,6 milhões a serem investidos, R$ 1,5 milhão será destinado à construção de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). A Copasa ficará responsável pela execução das obras em Além-Paraíba (R$ 60 mil), Caputira (R$ 125 mil), Conceição do Mato Dentro (R$ 200 mil), Gouveia (R$ 165 mil), Guapé (R$ 150 mil), Piranga (R$ 250 mil), São João Nepomuceno (R$ 180 mil), São Vicente de Minas (R$ 127 mil), Três Pontas (250 mil).

Copasa
A Companhia de Saneamento de Minas Gerais foi criada em 1963 e passou a se chamar Copasa em 1974. É uma empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana do Governo do Estado de Minas Gerais e tem como missão ser provedora de soluções em saneamento, mediante a prestação de serviços públicos de água e esgoto e a cooperação técnica, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, das condições ambientais e do desenvolvimento econômico e social.

Em fevereiro de 2006, a companhia lançou, pela primeira vez, ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), ingressando no Novo Mercado, que exige as melhores práticas de governança corporativa, que são traduzidas em eqüidade de informações, transparência e respeito aos acionistas minoritários. Com a abertura de capital, os acionistas da empresa, hoje, são o Estado de Minas Gerais, com 53%, e o restante (47%) são investidores pulverizados no mercado brasileiro e internacional.

Desde janeiro de 2003, a companhia vem realizando o maior programa de investimento da história de Minas Gerais, já tendo investido R$ 2,5 bilhões em saneamento. Desse montante, R$ 1,1 bilhão foi aplicado na ampliação e melhoria dos serviços de abastecimento de água, e R$ 1,3 bilhão no setor de esgotamento sanitário. O restante foi direcionado para programas de preservação ambiental e desenvolvimento operacional, desenvolvimento empresarial, bens de uso geral e outros, em todo o Estado. Os recursos utilizados são oriundos da própria Copasa e financiamentos, principalmente do BNDES e FGTS.

Mais de 12 milhões de pessoas, em 598 municípios são beneficiados com água tratada da Copasa, enquanto aproximadamente 6,3 milhões de mineiros têm os serviços de esgotamento, em 109 municípios. São cerca de 40 mil quilômetros de redes de água, para atender uma média de 97,7% da população das localidades operadas, correspondendo a 58,6% da população total do Estado. Já nos serviços de esgotamento sanitário, são mais de 13 mil quilômetros de redes coletoras e interceptoras. O percentual de atendimento é de 82,3% da população nas localidades atendidas, o que equivale a 29,4% da população total de Minas. Além da ampliação dos serviços de coleta de esgotos, a empresa construiu e está operando 83 Estações de Tratamento de Esgotos (ETE), em todo o Estado.

Um dos projetos da Copasa para os próximos anos é prestar serviços de saneamento em municípios com populações superiores a 15 mil habitantes em suas sedes urbanas. No conjunto dos 853 municípios mineiros analisados por dimensão populacional, esses municípios representam 80% (159 municípios) da população total do Estado. Desse total, 57 já são operados pela Copasa.

Já na região metropolitana de Belo Horizonte, a companhia conta com o programa Caça-Esgotos, que faz parte das ações do Governo de Minas visando à despoluição do Rio das Velhas. Os investimentos superam R$ 40 milhões. O Caça-Esgoto tem como objetivo identificar e eliminar os lançamentos indevidos de esgotos em redes pluviais e córregos, por meio da interligação das redes coletoras e interceptoras para encaminhamento às ETEs.

Crescimento
A Copasa obteve no primeiro trimestre de 2008 lucro líquido de R$ 87 milhões, o que representou aumento de 2,7% em relação ao verificado em igual período do ano passado, que foi de R$ 85 milhões. O resultado do trimestre mostrou que a receita líquida total atingiu R$ 467 milhões, valor 8,4% acima dos R$ 431 milhões do primeiro trimestre de 2007. A receita bruta alcançou R$ 521 milhões, sendo R$ 395 milhões oriundos dos serviços de água e R$ 126 milhões dos serviços de esgoto. Esse montante foi 8,8% maior na comparação com idêntico período do ano passado. “Esse incremento na performance do indicador já era esperado e foi impulsionado, principalmente, por conta do reajuste tarifário em março/2007 e do aumento do número de ligações de água e de esgoto”, explicou o diretor financeiro e de relações com investidores da Copasa, Ricardo Simões.

Os resultados financeiros divulgados pela companhia apontaram também aumento de 10% ficando em R$ 191 milhões no EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) sobre os R$ 174 milhões registrados no acumulado do primeiro trimestre de 2007. O número de habitantes beneficiados com abastecimento de água aumentou em 491 mil pessoas no período, atingindo 12,1 milhões de habitantes, ante 11,6 milhões no ano passado. Ainda no período, os municípios atendidos saltaram de 585 para 597, refletindo positivamente no número de ligações da companhia, que apresentou acréscimo de 141 mil ligações, totalizando 3,2 milhões de ligações, crescimento de 4,6% em relação ao 1T07.

Destaque para os sistemas de esgotamento sanitário, que apresentaram forte crescimento no período. O número de municípios atendidos saltou de 94 para 108 (aumento de 15%), no período. A companhia registrou um aumento de 7,6% no número de beneficiados, no final do primeiro trimestre do ano, representando no total o atendimento a 6,3 milhões de habitantes ante os 5,9 milhões registrados em 2007. O volume faturado no total de água e esgoto no período aumentou 4,1% em relação ao ano passado.

Qualidade
A companhia mantém 30 laboratórios espalhados pelo estado, que realizam, mensalmente, mais de 1 milhão de análises que permitem eficiente controle da qualidade da água distribuída à população. Cada uma das localidades operadas pela empresa possui, junto à ETA, um laboratório próprio que faz os primeiros testes de controle da qualidade antes da água ser distribuída. Também durante a distribuição, são coletadas amostras e feitas análises para certificar que o produto que está chegando nas casas mantém, sempre, o mesmo padrão, com o objetivo de atender as exigências da Portaria 518, do Ministério da Saúde, que dita as normas para o tratamento e controle da qualidade da água. Para imprimir mais celeridade e eficácia a essa estrutura a companhia está investindo R$ 15 milhões no Programa de Controle de Qualidade de Águas e de Esgotos (PCQA). Com esses recursos serão adquiridos novos e modernos equipamentos laboratoriais e feitas melhoria nas instalações físicas de suas unidades.

Uma prova da excelência desses serviços é o fato de o laboratório central, pela sétima vez consecutiva, ter obtido a certificação em cumprimento dos requisitos da norma BS EN ISO 9001:2000. Em auditoria externa completada em dezembro de 2007, a Bristish Standards Institution (BSI) comprovou que todos estavam em conformidade com a norma. A empresa responsável pela certificação inspecionou os diversos procedimentos, rotinas, documentação e registros relacionados nos processos que compõem os serviços laboratoriais para controle da qualidade de água e esgoto, previstos no Sistema de Gestão da Qualidade – SGQ do laboratório.

Responsabilidade social
Instituído em 2005, o projeto de Gestão Socialmente Responsável e Sustentabilidade Empresarial destacou a responsabilidade socioambiental como um dos objetivos institucionais definidos no Planejamento Estratégico, incluindo os conceitos a cada processo organizacional e prática de gestão.

Dentro da política de recursos humanos, a Copasa busca incentivar e apoiar os empregados e suas famílias em esferas que ultrapassam as demandas exigidas por leis, sindicatos e outras normas, investindo em programas sociais internos. Entre eles se destaca o Programa de Apoio e Prevenção à Aids (APA), reconhecido nacionalmente, com o prêmio “Ser Humano – As Melhores Práticas em Gestão de Pessoas”, concedido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos – ABRH.

Já no relacionamento com a comunidade, a Copasa atua promovendo educação sanitária e ambiental. Neste segmento, merece destaque o Projeto Chuá, um programa de educação ambiental e sanitária criado em 1986 com o apoio das superintendências regionais de ensino para atender estudantes da 5ª série do ensino fundamental. O programa promove visitas de estudantes de escolas municipais, estaduais e particulares às estações de tratamento de água da empresa. Durante as visitas, os estudantes conhecem todas as fases do tratamento da água, identificando a importância de cada uma delas para tornar a água adequada ao consumo humano. Além disso, eles recebem informações sobre preservação ambiental, destinação final adequada do lixo e higiene pessoal, temas importantes para a formação de cidadãos mais responsáveis e conscientes. Em 2008 a empresa ultrapassou a marca de mais de um milhão de visitantes.

Atuação ambiental
Dentre as iniciativas de preservação ambiental da Copasa destaca-se o Sistema Integrado de Proteção dos Mananciais – Sipam. Criado em 1989, o programa tem como objetivo promover a compatibilidade entre as atividades desenvolvidas nas bacias hidrográficas, a demanda do abastecimento público de água e a preservação do ambiente, por meio de diversas ações de conscientização e mobilização das comunidades, tais como plantio de mata ciliar, proteção de nascentes, uso racional de insumos, prevenção de incêndios e educação ambiental e outras. Para que os resultados sejam alcançados e mantidos ao longo do tempo, o Sipam tem a parceria de vários segmentos sociais e entidades, principalmente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e da comunidade.

As reservas preservadas em torno dos mananciais, sob responsabilidade da empresa, perfazem hoje 25 mil hectares, espalhadas na RMBH, na região de Montes Claros/Juramento, no Vale do Jequitinhonha nas proximidades de Diamantina e em Pedra Azul e Medina. Todas essas áreas apresentam uma diversidade de espécies da fauna e flora que comprovam o seu excelente estágio de preservação, abrigando espécies ameaçadas de extinção, relatadas no “Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais” e na “Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Flora do Estado de Minas Gerais”. A preservação dessas áreas vem garantir a quantidade e qualidade das fontes de abastecimento.

Águas minerais
Em março de 2006, a Copasa deu um novo e importante passo: assinou com a Codemig um protocolo de intenções para a retomada do envasamento das águas minerais de Araxá, Cambuquira, Caxambu e Lambari. A retomada da atividade trará um grande e positivo impacto econômico e social nas quatro cidades, sobretudo na revitalização do Circuito das Águas, ajudando a atrair turistas e mais empreendimentos. Essas águas estão, segundo especialistas, entre as melhores águas minerais do mundo.

A companhia então criou a subsidiária Águas Minerais de Minas, com o objetivo de envasar e comercializar essas águas e depende agora somente de licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o início de suas atividades.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Apenas 40,1%dos municípios cobram por serviços de limpeza

Conjuntura Online

Apenas 40,1% dos municípios cobram por serviços de limpeza


De Brasília
Dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos 2006, publicado pelo SNIS(Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), constatou que apenas 40,1% dos municípios cobram pelos serviços de limpeza. E aqueles que arrecadam, o valor é sempre abaixo do necessário,R$ 31,00 habitante/ano, ou seja a receita arrecadada com os serviços de manejo de resíduos sólidos paga apenas metade dos gastos com o serviço.

A análise mostra que a coleta de resíduos sólidos urbanos atinge 98,5 % da população e a massa coletada é de 0,93kg por habitante/dia. Com isso, a despesa total do manejo dos resíduos por ano chega a R$ 62,28 por habitante, o que representa cerca de 6% das despesas correntes do orçamento municipal. O custo da coleta de resíduos é de R$ 61,32 por tonelada.

A maioria dos municípios, além de prestarem os serviços de coleta de resíduos sólidos urbanos e de limpeza das ruas e logradouros, fazem outros serviços que não são de sua responsabilidade, como o recolhimento de resíduos sólidos dos serviços de saúde e resíduos da construção civil.

Em relação ao recolhimento dos resíduos dos serviços de saúde; 95,1% dos municípios têm coleta diferenciada e em 90% deles ela é realizada pela prefeitura, destes apenas 13,1% cobram. Já a coleta de entulhos é cumprida por 64,4% das cidades e somente 14,5% cobram pelo trabalho de limpeza deste tipo de lixo. Os municípios praticam esse serviço só ou em conjunto com o gerador.

A CNM (Confederação Nacional de Municípios) alerta para que os prefeitos fiquem atentos à possível aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tramita na Câmara em regime de urgência, além de planejarem as ações relativas ao manejo de resíduos sólidos, para assim prestar um serviço de qualidade e com eficiência administrativa e financeira.

Maracaju news

Deso inicia projeto-piloto de monitoramento de sistema de abastecimento

Superintendência Comercial da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) está desenvolvendo um trabalho de campo para monitorar o sistema de abastecimento com vistas aos usuários. O projeto-piloto está sendo executado há dez dias no conjunto Santa Lúcia, em Aracaju, a partir de visitas da equipe técnica a usuários. O intuito é realizar o levantamento das situações encontradas e encaminhando a soluções para as devidas correções.
Segundo o superintendente Comercial da Deso, Jânio Nascimento, o projeto traz mais controle do banco de dados com a atualização do cadastro do usuário. "O trabalho de campo nos permite ter exatamente a demanda. Por exemplo, em pouco mais de dez dias identificamos a quantidade de hidrômetros com problemas e já fizemos a substituição de 90% deles. Esta substituição reduz significativamente o que chamamos de perdas físicas", informou.

O superintendente Comercial explicou que as equipes verificam a situação da ligação, as condições do hidrômetro, se está ocorrendo vazamentos e outras ocorrências. "Nossa preocupação é acompanhar com precisão o que está acontecendo no sistema. Esta precisão proporciona um melhor planejamento das ações, maior eficácia e maior agilidade destas ações".

O projeto de monitoramento também proporciona subsídios para a identificação de vazamentos e desperdício, pois é feito o controle sobre o volume de água distribuído na região e o comparativo com o volume faturado. "Se ocorre uma diferença entre o que foi distribuído e o consumido pelos usuários é um indício de vazamento na rede naquela região. Então é possível direcionar um trabalho de verificação para localizar e corrigir a perda", explica Jânio. A proposta da Superintendência Comercial é ampliar o projeto para outras localidades e com isso melhorar a prestação do serviço.

ASN - Agência Sergipe de Nótícias

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Serragem ajuda a despoluir rios

Oliveira: “Os resíduos geram um alto custo para as grandes indústrias, que não têm o que fazer com eles e os armazenam em galpões”.


Um estudo conduzido no Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que é possível reduzir a quantidade de lixo industrial nos rios de uma forma simples e com um material de baixo custo, a serragem. Durante a pesquisa, o produto levou o percentual de metais pesados, liberados por duas empresas, aos níveis aceitáveis pela legislação.

No primeiro caso, a serragem da madeira fez com que os 2,7 miligramas de chumbo por litro liberados por uma fábrica de baterias para carros, situada no Distrito Federal, caíssem para 0,4 mg/L. O chumbo integra a composição das placas das baterias, mas também é comum nos setores de tintas, automotivos e ferragens.

Na outra situação analisada, referente a uma linha de produção de couro no Rio Grande do Sul, os dados também foram animadores. De 2,11 mg/L a concentração de cromo passou para 0,5 mg/L. A substância é empregada com o objetivo de dar ao couro o aspecto mais vistoso, uma vez que, na forma natural, sua coloração é esbranquiçada.

O resultado foi comemorado pelo autor do estudo, o químico Augusto Hosanna de Oliveira. “Conseguimos obter a extração de metais pesados com algo novo”, diz. Nas duas situações, o percentual ficou abaixo dos 0,5 mg/L estipulados pela portaria 357/05 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama/MMA).

A preocupação com o controle na emissão dos subprodutos dessas empresas é fundamental, pois tanto o chumbo quanto o cromo são extremamente danosos ao meio ambiente e à saúde, além de não se degradarem com o passar dos anos. “Ambos são cumulativos no organismo. O principal problema causado por eles é o câncer, e o chumbo é ainda pior porque atua no sistema nervoso central”, explica o professor Alexandre Prado, que orientou o trabalho.

A pesquisa foi realizada com resíduos de três tipos de madeiras, a maçaranduba, o ipê e o pequiá, provenientes de cargas apreendidas na Amazônia e doadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que propôs o estudo.

Prado explica que o produto florestal funcionou por ser rico em compostos que interagem facilmente com metais, como é o caso do tanino, cuja função nas plantas é atuar como defesa química contra animais, insetos e organismos patogênicos. Isso lhe confere a capacidade de agir como uma esponja e, assim, “capturar” os subprodutos lançados no ambiente.

Esse, no entanto, não é o único benefício do uso da serragem. É possível, ainda, reaproveitar o material seco, já impregnado do chumbo e do cromo, na fabricação de placas de MDF em móveis, por exemplo. Embora os metais sejam tóxicos na fase líquida, perdem essa propriedade em fase sólida.

Segundo Oliveira, a estratégia elimina um dos problemas enfrentados pelas fábricas atualmente, que é dar destinação ao lixo industrial, também conhecido como passivo ambiental. “Os resíduos geram um alto custo para as grandes indústrias, que não têm o que fazer com eles e os armazenam em galpões”, diz.

As exceções ficam por conta de grupos empresariais que conseguem reaproveitar o resíduo de um empreendimento em outro, como ocorre com uma indústria de alumínio de grande porte instalada no Brasil, que reutiliza os subprodutos na fabricação de cimento.

Daqui em diante, Oliveira e Prado esperam reproduzir o experimento em escala maior, ou seja, no ambiente onde funciona uma empresa. Mas até que a tecnologia esteja disponível no mercado, será preciso a atuação de engenheiros na criação de equipamentos e estruturas, tais como filtros ou tanques que insiram a serragem no processo.

As perspectivas são boas, pois o uso da serragem reduziria os custos de filtragem dos poluentes lançados na natureza e poderia estimular um maior cuidado ambiental. Muitas empresas não adotam os procedimentos de limpeza por serem caros. Chegam a US$ 1 para cada 9 mg de resíduo. “É preciso operacionalizar o sistema para calcular os custos”, afirma o professor. “Mas com certeza seria muito mais barato por causa do material empregado.”

A pesquisa teve apoio da Universidade Católica de Brasília (UCB), que cedeu a infra-estrutura do Laboratório de Espectroscopia Atômica para as análises mais detalhadas.

Fabiana Vasconcellos - Secretaria de Comunicação da UnB.


Augusto Hosanna Assis de Oliveira é mestre em Química pela Universidade de Brasília (UnB). Graduou-se em Química pela Universidade Católica de Brasília (UCB).

Alexandre Gustavo Soares do Prado leciona no Instituto de Química (IQ) da UnB. É doutor em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição pela qual se graduou em Química.

Agua de Pelotas vai ser tratada como esgoto antes de entrar na ETA

Fazer tratamento de esgoto na água antes de que ela entre na Estação de Tratamento de Água (ETA) é uma das alternativas que o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (RS) – Sanep – vai adotar para melhorar a qualidade do produto distribuído a cerca de 60% da população. Enquanto isto não se concretiza foi adotado o uso de permanganato de potássio e está sendo feita a desincrustração das redes com ortopolifosfato de sódio pois o manancial apresenta elevados teores de manganês.

Além disso, a idéia é informar a população sobre o que está acontecendo e porque soluções como estas têm que ser tomadas quando a qualidade dos recursos hídricos onde a água é captada começa a comprometer o tratamento. Durante a 6ª Semana Municipal da Água, que ocorrerá de 4 a 10 de outubro, será abordada, através dos técnicos do Departamento de Tratamento, a avaliação completa deste tratamento com os técnicos da empresa que dá a assessoria.

Segundo a bioquímica Isabel André, chefe do Departamento de Tratamento, desde fevereiro de 2005 o Sanep passou a enfrentar problemas com água turva (preta) que atingiu várias regiões da cidade, entre elas Porto, Navegantes, Fátima, Centro, Fragata, Py Crespo, Santa Terezinha e Lindóia.

Em junho de 2006 análises identificaram a causa da turbidez: altíssima concentração de manganês na água in natura captada para tratamento, da barragem Santa Bárbara, manancial represado e bastante eutrofizado. Na água bruta da represa Santa Bárbara foram encontradas até 6 mg/L de manganês. Em outras cidades que enfrentam o mesmo problema essa concentração atingia no máximo 1 mg/L.

Conforme a bioquímica as concentrações variam muito com a estratificação que ocorre no meio, concentração da carga orgânica dos afluentes que contribuem para a bacia de acumulação, etc. “A partir de então foram buscadas soluções para o tratamento da água, encontrando-se algumas alternativas: aeração, o que não deu resultados positivos; pré-cloração, não adotada porque poderia causar o inconveniente de formar outros compostos indesejáveis à água de consumo, em desacordo com a portaria 518/04”, conta Isabel.

Ela explica que a opção foi pelo tratamento com permanganato de potássio, dosado na entrada da água bruta que chega à planta de tratamento, por gravidade, com um tempo de contato de 7m30s, fazendo com que o produto oxide o metal e fique retido no processo de clarificação da planta de tratamento, evitando a entrada do manganês na rede de distribuição. “Esse tratamento é eficiente. Mas nos restava resolver os quilos de manganês depositados nas incrustações das redes, por serem bastante antigas, algumas com mais de 100 anos”.

Novos ensaios laboratoriais foram realizados, testando outros produtos químicos, entre eles o ortopolifosfato de sódio que atua como sequestrante de metais, mantendo-os em suspensão na forma solúvel, impedindo a deposição e possibilitando a remoção. Há três meses o SANEP deu inicio a dosagem desse produto diretamente na saída do tratamento dado à água na ETA Santa Bárbara.

O ortopolifosfato de sódio deverá ser aplicado ao longo de até dois anos, desincrustando as redes internamente, resultando também, no aumento da pressão da água. O acompanhamento deste processo será observado através de microfilmagens, feitas pela empresa que dá o assessoramento técnico, em três pontos distintos da rede. Foram escolhidos três pontos em uma mesma adutora, que possui diâmetro de 140 mm até 300 mm e material de PVC, fibrocimento e ferro, nessa mesma rede.

Foi feita uma primeira filmagem no momento do início da dosagem com o produto. Na primeira quinzena de outubro será realizada a segunda microfilmagem para observar o grau de eficácia do produto e a redução do problema. “Já constatamos melhorias através das análises laboratoriais semanais feitas em 60 pontos distintos da rede de distribuição e nas análises realizadas nas 24 h durante a condução do tratamento. Não foram detectados mais problemas e as reclamações que chegavam a Autarquia cessaram” informa a especialista do Sanep.

Paralelamente à aplicação do ortopolifosfato de sódio são dadas descargas - sangria - em vários pontos das redes, para que se possa manter a água distribuída dentro dos padrões determinados pela portaria 518/04. Para solucionar em definitivo o problema restam ainda outras iniciativas importantes que estão sendo providenciadas, entre elas: o conserto da adufa de fundo do manancial Santa Bárbara, que além de outras finalidades, é também de dar expurgo ao lodo colmatado e rico em micronutrientes capazes de causar a eutrofização, depositado ao longo de 42 anos, e que nunca foi descartado.

A outra, mais definitiva, será o tratamento através de ETE ou lagoa de estabilização biológica a fim de tratar o afluente da Sanga da Barbuda, que recebe esgoto doméstico e industrial a montante do manancial.


Fonte: Água online -revista digital.

Alternativas para implantar saneamento

Sistemas de baixo custo podem ajudar diminuir o déficit de saneamento.Ao investir apenas em grandes obras, os municípios deixam de fora pequenas estações de tratamento, wetlands, círculo de bananeiras, banheiro seco, entre outras alternativas tecnológicas que funcionam tanto em residências como em bairros inteiros. Estas alternativas, que têm a vantagem de terem baixo custo e de envolverem as comunidades locais em sua implementação e manutenção, poderiam diminuir o déficit de saneamento existente nas regiões de mananciais da Grande São Paulo.

Para complementar a Plataforma municipal para os mananciais da Grande São Paulo, o Instituto Socioambiental (ISA) pesquisou alternativas para a implantação de saneamento básico nas áreas produtoras de água da metrópole. Na região, apenas 74% dos 20 milhões de habitantes possuem rede de coleta de esgoto. Destes 20 milhões, somente 7 milhões têm tratamento de esgoto. Esse quadro demonstra que as alternativas escolhidas não têm sido eficientes, tanto por desconsiderar as especificidades locais quanto por seu alto valor e complexidade de implantação e manutenção.

A implantação de saneamento básico não deve estar pautada apenas na execução de grandes obras que afastam o tratamento do esgoto da sua fonte. Atualmente existe uma grande diversidade de alternativas técnicas de tratamento de saneamento próximas à fonte de esgoto. São sistemas simples, de eficiência comprovada, mais baratos e com maior eficiência em relação às alternativas tradicionais. Algumas destas alternativas, inclusive, podem gerar renda para as comunidades locais, além de envolver os moradores na sua construção, manutenção e monitoramento.

O novo marco legal de saneamento (Lei 11.445/07) prevê a adoção, por parte dos municípios, destas novas e alternativas formas de saneamento. Desta forma, todos os municípios podem fomentar e implantar tecnologias alternativas locais para sanear, recuperar e preservar seus mananciais. Contudo, ainda faltam investimentos e um interesse efetivo por parte das prestadoras e gestores municipais para implementar estes sistemas alternativos de saneamento.

Os atuais investimentos em saneamento e intervenções das prestadoras de serviço priorizam grandes estações de tratamento que afastam o esgoto de sua origem mas que, em geral, não apresentam resultados satisfatórios mensurados na melhoria da qualidade da água. O Programa Guarapiranga (projeto do governo de São Paulo para recuperar e proteger a bacia da Guarapiranga, realizado entre 1992 e 2000), por exemplo, se limitou a afastar o esgoto que corria a céu aberto em algumas áreas, mas não o coletou e o tratou integralmente. Ainda que algumas das áreas ocupadas precariamente tivessem tido melhorias urbanísticas com o afastamento do esgoto, que prejudicava a saúde e a qualidade de vida da população local, a falta de coleta integral e de tratamento fez com que o mesmo esgoto passasse a chegar em maior volume e com maior velocidade nos rios e córregos que deságuam na Guarapiranga, e também na própria represa, piorando a qualidade da água do manancial.

Além de investimentos pontuais em fossa sépticas, as prestadoras de serviço de saneamento não têm considerado os sistemas alternativos locais de tratamento nas áreas de mananciais. Em suas páginas na Internet, as prestadoras sequer consideram estas alternativas como opções às grandes estações de tratamento. Além disso, como as fossas sépticas foram implementadas sem a garantia de pós-tratamento, tornaram-se ineficiente e verdadeiros focos de contaminação de lençóis freáticos. A implantação de fossas sépticas, desde que feita de forma adequada com pós-tratamento é uma alternativa local de saneamento eficiente. Contudo, os sistemas alternativos de saneamento não se reduzem às fossas sépticas, existem diversas outras alternativas pouco exploradas no Brasil, em especial na RMSP, e que poderiam reverter ou atenuar o atual estado de degradação dos mananciais.

A nova Lei de Saneamento (Lei Federal 11.445/07) estimula a utilização de alternativas diferenciadas para a prestação de serviços de saneamento ao prever: o fomento ao desenvolvimento científico e tecnológico, a promoção de alternativas de gestão que viabilizem a auto-sustentação econômica e financeira dos serviços e a utilização de tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários, a adoção de soluções graduais e progressivas, bem como a difusão dos conhecimentos gerados de interesse para o saneamento básico.

Existem diversas alternativas tecnológicas e instituições que podem contribuir com a implantação do saneamento e a maximização da auto-sustentação econômica do serviço. Estas alternativas são diferentes das soluções tradicionais tanto pelo tipo de tecnologia empregado, na sua maioria de baixo custo, quanto pela escala de tratamento, mais próxima da fonte de geração do esgoto e com o envolvimento da comunidade local na sua implantação e manutenção. A simplicidade de sua engenharia e os tipos de materiais utilizados geralmente permitem que não somente técnicos as compreendam, implantem e mantenham, mas tornam algo compreensível e acessível a um maior número de pessoas nas comunidades envolvidas.

Além da eficiência no tratamento, agregam-se às tecnologias alternativas valores ambientais da permacultura: a água é reutilizada, o esgoto vira adubo e em alguns casos os materiais naturais, dentre eles plantas com alto poder de absorção de matéria orgânica, como bananeiras, passam a fazer parte do espaço verde dos bairros e áreas de lazer da cidade. A permacultura, ou cultura permanente, é um conjunto de práticas que utilizam métodos ecologicamente saudáveis e economicamente viáveis, capazes de responder às necessidades básicas sem explorar ou poluir o meio ambiente, sendo auto-suficientes a longo prazo.

A pesquisa do ISA resultou em uma lista de alternativas que podem ser utilizadas para atender residências e bairros e outras para atender mais de um bairro, um município ou um conjunto de municípios. Em geral, todas as alternativas que podem ser adotadas por residências também podem ser ampliadas para atender pelo menos um bairro e, além de tratar o esgoto, melhorar o espaço público e garantir o reuso da água para diversas finalidades; o círculo de bananeiras, por exemplo, pode ser implantado em uma residência ou em uma praça e, além de tratar as águas cinzas (água de banho, pia e lavagens em geral) de todos os residentes de um bairro, contribui para manter a área verde por meio do adubo e irrigação, reutilizando a água tratada; os banheiros secos, por sua vez, podem atender uma residência ou mais pessoas servindo de banheiro público e também produzem adubo; a reciclagem de água através de filtros naturais e artificiais com materiais porosos, o sistema circuito fechado e as fossas sépticas também podem ser adotados como soluções e permitem que a água seja usada para limpeza doméstica (tanques, pias, vaso sanitário e chuveiro), irrigação de plantações, rega de plantas, sistemas de ar condicionado e usos industriais.

As soluções também podem visar atender maior número de habitantes, mantendo-se localizadas, possibilitando o reúso da água e tornar parte do espaço de lazer das cidades e/ou bairros: as pequenas estações de tratamento descentralizadas, os filtros percoladores, o reator seqüencial por bateladas e as wetlands são formas de tratamento de esgoto local com maior capacidade de tratamento (podendo atender um ou mais municípios) que permitem tratar minimamente a água para que possa ser lançada no corpo hídrico em condições adequadas, bem como a irrigação das plantas do jardim e árvores, sendo que as wetlands podem se transformar em verdadeiras áreas de lazer e parques.

Todas estas alternativas podem e devem ser fomentadas, estudadas e implantadas pelos municípios e prestadores de serviço de saneamento de forma direta ou mediante parceria com outras instituições. E, de acordo com o novo marco legal do saneamento, trata-se de um dever do município exercer este papel, garantindo a eficiência do tratamento considerando as especificidades locais e maiores benefício sociais e econômicos.



(Envolverde/Pauta Social)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ABES quer saneamento com gestão de resultados e norteada por indicadores

A prioridade da nova diretoria da ABES, comandada pela engenheira Cassilda Teixeira, será usar todo o seu poder de capacitação e de representação, através das seções regionais que a ABES mantém em praticamente todas as unidades da Federação. “A proposta é criar mecanismos que permitam uma gestão focada em resultados e norteada por indicadores, para execução rápida de bons projetos e, principalmente, com definições de metas claras para a conclusão das obras necessárias”, afirmou.

Segundo ela, é fundamental que os municípios e os estados capacitem seus técnicos e invistam fortemente em modelos de gestão eficientes para que a prestação de serviços à população seja a mais adequada possível e que a manutenção desta prestação seja feita de forma permanente e transparente.

A nova presidente da ABES explicou que o governo brasileiro também aderiu às Metas do Milênio, previstas pela ONU para 2015, mas o País ainda precisa incorporar ao universo atendido por serviços de saneamento ambiental quase 90 milhões de pessoas, sendo 10% (19 milhões) com abastecimento de água e cerca de 53% com coleta e tratamento de esgoto sanitário, hoje, quase 100 milhões de pessoas. O mais gravem destaca, é que a população cresceu nos últimos anos, e os serviços não acompanharam esse crescimento na proporção necessária.A falta de saneamento básico fez com que, nos últimos 10 anos, pelo menos cinco crianças morressem diariamente no Brasil, vítimas das chamadas doenças de veiculação hídrica, enquanto outras 1.000 eram internadas na rede pública de hospitais. As mais atingidas são as crianças com até 9 anos – cerca de 48,5% das vítimas – e idosos com mais de 60 anos, cujo índice de mortalidade chega 47,2% das vítimas. Somente no ano de 2005, em média, 400 crianças com até nove anos foram internadas diariamente no Brasil devido a diarréias.

Com representação através de seções estaduais em praticamente todas as unidades da Federação, a ABES foi criada há 42 anos e hoje é reconhecida como a principal e mais antiga entidade de saneamento ambiental do país.

Déficit sanitário no mundo

Na visão da engenheira sanitarista Cassilda Teixeira, que coordena a assessoria técnica da presidência da Companhia de Saneamento de Minas Gerais, embora o saneamento tenha avançado no Brasil nesses últimos anos, o déficit de cobertura ainda é muito grande. "A questão do saneamento não é um privilégio triste somente do Brasil – é um dos maiores desafios mundiais", explica Cassilda Teixeira. De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2006 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a falta de acesso à água e serviços de esgoto mata uma criança a cada 19 segundos, em decorrência de diarréia. O estudo, intitulado "Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água", também mostra que, no ritmo atual, o mundo não conseguirá cumprir as Metas do Milênio, da ONU, que prevêem reduzir pela metade, até 2015, a proporção de pessoas que não desfrutam desses recursos.

Em termos de América Latina, a situação também é caótica – lembra a engenheira, baseando-se em dados da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) que estima que mais de 35% das crianças na região não têm acesso à água potável. De acordo com o estudo "O direito a um Ambiente Saudável para Crianças e Adolescentes: Um diagnóstico sobre América Latina e Caribe", o problema de acesso à água afeta ainda cerca de três em cada 10 adultos. Ainda segundo a Cepal, a falta de água potável pode agravar a mortalidade infantil e a desnutrição infantis. A pesquisa sugere a busca de soluções que possam integrar medidas conjuntas dos setores público e privado

Legislação brasileira sobre poluição do ar precisa ser revista

Thiago Romero - Agência FAPESP.

A legislação brasileira que regulamenta os parâmetros de emissão de gases poluidores na atmosfera foi criada no início da década de 1990, mas 70% do conhecimento científico em poluição e saúde no país foi produzido após essa data.

A preocupante contradição foi apontada por Paulo Afonso de André, pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, durante o 15º Congresso Brasileiro de Meteorologia, evento promovido pela Sociedade Brasileira de Meteorologia.

“Ao pesquisarmos em publicações científicas, focando no tema da poluição e saúde, concluímos, pelo número de artigos encontrados, que a legislação ambiental atual, que precisa de atualização, foi produzida com o conhecimento gerado até o fim da década de 1980, que representa menos de 1/3 do que se sabe hoje sobre o assunto”, disse André à Agência FAPESP, logo após proferir a palestra “Meteorologia urbana e saúde”.

A legislação ambiental em vigor no país, segundo ele, determina os parâmetros de qualidade do ar que devem ser monitorados, entre os quais a exposição ao material particulado (PM, na sigla em inglês), uma mistura de partículas líquidas e sólidas em suspensão no ar classificadas de acordo com o seu diâmetro. A norma ambiental determina como máxima a exposição a partículas inaláveis PM 10, que têm diâmetro inferior a 10 mícrons.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por outro lado, recomenda o monitoramento da qualidade do ar nas grandes cidades por meio de partículas em concentrações PM 2,5, entre outros parâmetros. “Esse valor ainda não é considerado pela legislação brasileira, apesar de, para a comunidade científica, ser uma realidade há mais de dez anos”, apontou.

André, que é coordenador do Núcleo de Equipamentos e Projetos do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da FMUSP, explicou que a maioria dos estudos de monitoramento ambiental no país já segue a concentração PM 2,5, pois se sabe que essa é a fração de poluição do ar capaz de penetrar no aparelho respiratório, podendo atingir os brônquios e os alvéolos pulmonares e causar doenças como asma, bronquite e enfisema pulmonar.

“Por outro lado, sabemos que boa parte das partículas inaláveis de PM 10 é retida pelos sistemas de defesa do organismo humano. Hoje, o PM 2,5 é mandatório nas pesquisas em saúde e, dependendo da revista científica, não é nem permitida a publicação de resultados de estudos com PM 10”, afirmou.

O pesquisador lembrou que, enquanto os cálculos científicos de risco da poluição do ar para a saúde humana são feitos com base em PM 2,5, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo de São Paulo, tem como base os instrumentos legais e segue o PM 10 como parâmetro de monitoramento da qualidade do ar das cidades.

“A Cetesb tem feito monitoramentos exploratórios em nível de aprendizado com base no PM 2,5, uma vez que todos sabem que aí reside um grave problema ambiental e que, esperamos em breve, a legislação brasileira deve mudar. Mas, por enquanto, a obrigação é monitorar seguindo o padrão legal de PM 10”, disse.

Segundo André, calcula-se que o PM 2,5 represente cerca de 50% das partículas inaláveis de PM 10. “A legislação ambiental precisa ser atualizada para que o monitoramento do ar seja realizado apenas com base nessa concentração prejudicial de interesse. Hoje, os resultados são mascarados em parte porque os órgãos competentes devem medir o elefante inteiro, enquanto apenas seu rabo causa o efeito prejudicial”, comparou.

Os pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP desenvolvem uma série de estudos sobre o assunto a partir do monitoramento das principais regiões metropolitanas do país. “São áreas que, invariavelmente, têm um perfil de poluição urbana devido à participação significativa da frota de veículos automotivos”, apontou.

Estima-se que a exposição à matéria particulada, mesmo em níveis considerados seguros pela legislação ambiental, esteja associada a aproximadamente 800 mil mortes anuais causadas por doenças cardiorrespiratórias em todo o mundo, principalmente em crianças e idosos, das quais 35 mil ocorrem na América Latina.

SNIS mostra dados de menos de 10% dos municípios na área de resíduos

SNIS: muito ainda a avançar na área de resíduos sólidos.

A cobertura média da coleta de resíduos sólidos urbanos abrange um percentual superior a 90% da população urbana, em 215 dos 226 municípios pesquisados pelo Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS). É o que aponta o “Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos/2006”, lançado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, do Ministério das Cidades, O Diagnóstico retrata as características e a situação da prestação dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos em 247 municípios, de todos os estados brasileiros e mais o Distrito Federal. Em sua última versão, o Diagnóstico se referiu a 192 municípios.

As unidades de tratamento de resíduos sólidos cadastradas no SNIS totalizam 714, sendo 216 delas unidades de disposição em solo, ou seja, aterros sanitários (39,4%), aterros controlados (32,4%) ou lixões (28,2%). O destino final da massa coletada por 135 das 216 unidades de disposição em solo, que totaliza 11,7 milhões de toneladas, se dá em maior parte em aterros sanitários (61,4%), seguidos por aterros controlados (25%) e lixões (13,6%).

Há coleta seletiva em 55,9% dos municípios presentes na amostra, em geral sob a forma de coleta porta-a-porta. Já a coleta seletiva não formal – realizada por catadores – está presente em 83% dos municípios. Os catadores estão organizados em associações e cooperativas em 53% das cidades pesquisadas. A quantidade média de materiais recicláveis recuperados é de 2,8 quilos por habitante urbano, a cada ano, sendo: 44,3%, papel ou papelão; 27,6%, plásticos e 15,3% metais. Vidros representam 9,8% e outros totalizam 2,9%.

No que se refere ao pessoal, os municípios da amostra geram 1,7 emprego para cada 1.000 habitantes, sem considerar os temporários, assim divididos: 11,5% dedicando-se a atividades administrativas e gerenciais; 31,4% alocados no serviço de varrição; 27,5% alocados no serviço de coleta de resíduos domiciliares e públicos e 19,2% alocados nos serviços de capina. Com relação ao desempenho financeiro, 40,1% dos municípios não cobram pelos serviços de limpeza urbana, sendo que aqueles que cobram informaram que o valor médio verificado é de R$ 31,00/habitante/ano.

Pesquisa avalia monitoramento da água

Por Sarah Fernandes, do Pnud




Uma pesquisa do governo federal vai apontar quais problemas técnicos e operacionais as companhias de abastecimento enfrentam para classificar a água como potável. O trabalho deve ser usado na proposta de mudança da norma que indica de quanto tem quanto tempo o produto deve ser analisado e estipula os teores máximos e mínimos das substâncias presentes na água para que ela seja apropriada ao consumo.

Os parâmetros de qualidade estão previstos na portaria 518, de 2004, que determina, por exemplo, a quantidade máxima de cloro, flúor e ferro na água. O governo pretende alterá-la no ano que vem, e por isso está fazendo uma série de estudos sobre o assunto.

Dados preliminares da pesquisa indicaram que as empresas têm dificuldade para fazer monitoramentos semestrais, mais complexos, mas cumprem a obrigação de analisar diariamente algumas substâncias. O levantamento mostrou também que faltam programas de financiamento para laboratórios de qualidade de água, mas que alguns prestadores de serviço fazem parceria com a prefeitura para contornar o problema.

“Com a reforma da portaria, são esperadas algumas mudanças relacionadas, por exemplo, aos valores máximos permitidos das substâncias presentes na água”, afirma a consultora da pesquisa, Adriana Cabral. “Alguns agrotóxicos que não podem estar presentes na água e por isso devem ter presença monitorada já não são mais usados. Em compensação outros foram adotados, mas não são monitorados”, exemplifica.

A pesquisa é realizada pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério das Cidades, por meio do Programa de Modernização do Setor Sanitário, que tem o apoio do PNUD. Ela deve ser concluída em outubro e está dividida em duas partes: controle, que avalia a estrutura e os recursos usados para medir as substâncias, e vigilância, para indicar a freqüência com que os testes devem ser feitos.

Serão avaliados cerca de 2 mil questionários, que foram enviados para empresas de saneamento, públicas e privadas. Também estão sendo realizadas visitas técnicas às companhias. Para verificar se o intervalo de monitoramento é suficiente, serão visitados municípios de dois Estados por região; a fim de avaliar a estrutura para controle da qualidade da água, serão visitados 78 municípios (três por Estado) e o Distrito Federal.

A equipe técnica foi a todos os Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e neste mês e setembro vai ao Norte e ao Nordeste.

(Envolverde/Pnud)