quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Coleta seletiva ruim emperra setor de reciclagem de PET

Brasil chega a importar plástico reciclado do Paraguai para atender à demanda crescente, mesmo tendo índice alto de reciclagem, de 56%

Karina Ninni - O Estado de S.Paulo


Em 2010 o Brasil reciclou 56% das embalagens de PET colocadas no mercado, ou 282 mil toneladas. O número - considerado alto por especialistas, dada a coleta seletiva incipiente que existe no País - é 7,6% maior que o de 2009. A indústria recicladora brasileira, no entanto, ainda trabalha com 30% de capacidade ociosa e o Brasil chega a importar PET reciclado do Paraguai.


"Nos últimos três anos importamos 10 mil toneladas em forma de "flakes" (flocos), vindas do Paraguai", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet), Auri Marçon.

O resultado é que o preço do PET reciclado se equipara ao valor da matéria-prima oriunda da natureza. Os pelets (pequena unidade de PET) virgens custam cerca de US$ 1,9 a tonelada e os flakes reciclados, US$ 1,6.

Os números foram apresentados ontem em evento da Abipet para divulgação do 7.º Censo da Reciclagem do PET.

Como consequência da falta de embalagens para reciclagem, as margens de crescimento da indústria de reciclagem do PET vêm caindo em relação aos anos anteriores.

De 1994 a 2002, o porcentual de reciclagem das embalagens PET pós-consumo no Brasil subiu de 18,8% para 35% do total comercializado. De 2003 a 2006, subiu de 43% para 51,3%. E, desde então, a alta anual tem variado de 1,5% a 2%. "Não se pode esperar o mesmo crescimento dos anos anteriores, porque isso não vai acontecer. A indústria da reciclagem está tirando PET de pedra", diz Leandro Fraga Guimarães, consultor da Nous Consulting, que fez o censo.

Falta coleta

Dados de um relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lançado em 2010, indicam que 37% dos materiais potencialmente recicláveis aparecem misturados aos resíduos sólidos urbanos. Do ponto de vista da reciclagem, esses 37% não têm destinação adequada e são "enterrados" com outros materiais não recicláveis, como matéria orgânica, por exemplo.

A falta de um bom sistema de coleta seletiva é apontada pelos especialistas como o calcanhar de aquiles da indústria da reciclagem PET no Brasil. "O material está aqui, mas nós não temos como chegar a ele, pois está escondido nos aterros", diz Guimarães. "Nós recolocamos tudo o que reciclamos na cadeia produtiva brasileira. Mas estamos estrangulados pela coleta seletiva incipiente", afirma Marçon.

Hoje, apenas 18% das cidades brasileiras têm coleta seletiva.

Boa performance

Apesar do cenário, numa comparação com vários países com indicadores socioeconômicos melhores do que os nossos, o Brasil acaba tendo uma posição de destaque na reciclagem do PET. Em um estudo que cruzou dados de reciclagem de PET com informações sobre população, território, renda per capita e escolaridade, o País está na sexta colocação, atrás de Japão, França, Alemanha, Suíça e República Tcheca.

"São países que têm um território muito menor que o nosso, índice de escolaridade e renda per capita maiores, mas aparecemos próximos deles no tocante à reciclagem de PET", explica o analista de mercado Sotirios Denis Ghinis, da Abipet.

Ele atribui isso a três variáveis: a pesquisa para aplicação do PET reciclado, a disponibilidade de mão de obra abundante (catadores) e o espírito de empreendedorismo do brasileiro.

"A indústria brasileira viu no PET pós-consumo uma oportunidade, um novo material para trabalhar", afirma o analista. "É um equilíbrio um pouco frágil, é verdade, porque nenhum país desenvolvido chegou a esse nível só pelas forças do mercado. É preciso que o Estado atue e que a sociedade civil faça sua parte."

No Brasil, o maior usuário do PET reciclado é o setor têxtil (38% do total), seguido de resinas (19%), embalagens (17%) e laminados (8%).

Fonte: Estadão.com

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

EFLUENTES NA NOVA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS

Evoluímos na área industrial, mas não tratamos a maior parte do nosso esgoto doméstico que contamina e gera um grande passivo ambiental.

Fazer a gestão ambiental e mostrar a sociedade que sua indústria ou empresa é sustentável, que não causa nenhum dano ao meio ambiente e principalmente trata seus efluentes de forma correta, para muitos empresários era uma tarefa árdua e considerada cara há alguns anos. Este panorama vem mudando, novas tecnologias surgindo e se tornaram mais baratas e finalmente depois de 20 anos o Brasil aprovou a Nova Política Nacional de Resíduos.

Para Dorivaldo Domingues de Souza, diretor da Ambisol – Soluções Ambientais, empresa especializada no tratamento de efluentes, a Lei 12.305 que institui a nova política, vai ajudar ainda mais o avanço no tratamento de efluentes no país, assim como na gestão dos resíduos e consequentemente no impacto que as indústrias têm no meio ambiente. “A lei vem juntar-se a normas e resoluções já vigentes, que já vinham funcionando bem e certamente muitos geradores mudarão suas posturas quanto ao tratamento dos efluentes, porque as multas serão altas para quem desobedecer“, alerta o diretor.

Além da legislação agora vigente existe uma consciência ambiental crescente nas indústrias. Efluentes líquidos que sempre foram considerados um problema sério, estão tendo seu tratamento cada vez mais eficiente, para que as empresas possam reutilizam a água tratada em seus processos. Na área industrial há um aumento significativo do tratamento de água pelo custo e pela necessidade de usar esse recurso de forma responsável, pontua o Dorivaldo. “Temos uma boa conscientização das indústrias para evitar poluir e consumir em excesso esse bem, além disso, o tratamento de água de efluentes e sua reutilização já são programas obrigatórios em grandes empresas”, completa.

Já para o Giuliano Moretti, diretor da Preserva Ambiental Consultoria, este ano é de adaptação a nova política, onde a sociedade organizada vem discutindo se mobilizando para que a noval legislação seja cumprida. “Esta discussão faz com que o tratamento de efluentes ganhe destaque, acredito que vai ajudar na mudança de cultura no setor empresarial, onde ainda se vê a questão ambiental como gasto e não como investimento que beneficie todos”. Infelizmente hoje ainda muitas empresas somente realizam estes investimentos por sanções impostas, quando são multadas, quando precisam renovar suas licenças ambientais ou quando o mercado força a mudança. Muitas redes de varejos têm uma gestão ambiental que atinge sua cadeia de fornecedores, para isso há necessidade de adequação para poder vender seus produtos, ainda não temos uma mudança voluntária na maioria das empresas, destaca o Moretti.

Medidas simples nas indústrias como a correta destinação do esgoto, que em muitas está ligada a rede fluvial, muitas vezes somente são tomadas pelos empresários quando a fiscalização bate a sua porta. É uma mudança de cultura, que a nova lei vai ajudar que isso aconteça, já que as multas podem ser pesadas, acrescenta o diretor da Preserva. “Não sai barato criar uma rede de tratamento de efluentes própria, ainda os empresários pensam no valor final e não nos benefícios ambientais e econômicos que terá, mas as mudanças estão ocorrendo, de forma lenta, mais avançando”, salienta.

Apesar de muitos ainda acharem que podem burlar a lei, a relação da indústria com os recursos naturais, principalmente os hídricos tem mudado. O uso racional da água nos dias de hoje é prioridade para as empresas que buscam competitividade e sustentabilidade em seus mercados, por isso tratar os efluentes é sinal de redução de custos e ganhos ambientais. Incentivadas por razões econômicas também, inúmeras empresas passaram a conduzir programas de gestão dos recursos hídricos, implementando projetos de reuso, redução de perdas e racionalização do uso, obtendo reduções expressivas do consumo de água e dos lançamentos de efluentes ao meio ambiente. Na maior parte dos casos, as economias anuais geradas por esses projetos superam os valores totais investidos, relata o diretor da Ambisol Dorivaldo.

A lei também reforça a visão com relação à sustentabilidade, tratamento adequado de efluentes e o crescimento sustentável passam a ser muito mais do que um mero conceito, passa por ações reais, isso tem se tornado uma alavanca importante de negócios. Fatores ambientais passam a ter papel fundamental nesse tipo de decisão, então, essa redução de impacto ambiental dos efluentes passa a fazer sentido comercial e o tratamento dos efluentes é prioritário, acredita Dorivaldo.

“Apesar de o Brasil contar agora com ótimas leis e tecnologias cada vez mais baratas e diversificadas, a falta de fiscalização abre caminhos para que infratores ambientais não sejam punidos, principalmente em cidades menores, onde ainda muitos efluentes são jogados nos rios e córregos contaminando o meio ambiente e água que consumimos“, alerta.

Desde os anos 80 o Brasil começou a pensar como tratar seus efluentes e a partir dos anos 90 a legislação que normatiza o setor começou a ser aplicada, aos poucos as indústrias foram de adequando, buscando as certificações como ISO 14001 (ambiental), criando suas próprias áreas de tratamento dos efluentes e algumas destinando para empresas menores, diz o diretor da Ambisol.

A busca por alternativas para tratamento de efluentes e geração de energias renováveis fez a indústria cimenteira, que era a grande “vilã” da poluição, inovar e criar novas tecnologias. Hoje as cimenteiras recebem resíduos de efluentes de outras empresas, que são queimados em fornos e geram energia para fabricação de cimento. O coprocessamento é a operação de reaproveitamento e destinação final, em uma única operação de queima de resíduos industriais com características físico-químicas compatíveis ao processo de produção de clínquer, em fornos rotativos da indústria cimenteira. Enquanto eficiente, seguro e econômico processo de tratamento e reciclagem de resíduos está ocorrendo, através da utilização destes efluentes e resíduos como combustíveis alternativos ou substitutos de matérias-primas, um produto econômico importante está sendo produzido, o cimento.“As indústrias de cimento se organizaram, através da parceria e transferência de tecnologia hoje acabam ajudando outras empresas a tratarem seus efluentes”. Isso gera uma economia de recursos não renováveis (combustíveis fósseis e recursos naturais), reduz as emissões atmosféricas e a destinação dos resíduos de forma segura e definitiva.

Empresas, como a Processa em Colombo/PR, têm papel importante no tratamento de efluentes, porque ela armazena e destina para muitas empresas o mesmo, de forma a garantir que todo o processo seja eficiente. “Levamos muitos efluentes de clientes para a indústria cimenteira, o que possibilita que muitas empresas deem destinos eficientes e não levam mais aos aterros indústrias controlados, o que é muito benéfico” fala Wagner Piz, gerente comercial da Processa.

Além da nova legislação, a população vem tenho tem papel decisivo na fiscalização das empresas e hoje com as redes sociais rapidamente a propaganda negativa dos danos ambientais de efluentes não tratados se espalha pela rede e a imagem da empresa é prejudicada, o que ajuda na conscientização dos empresários, conclui Moretti.


COMO TRATAMOS OS EFLUENTES

Para tratar efluentes no Brasil os empresários contam com várias possibilidades, mas existe muito a ser feito, pesquisas que melhorem os processos e diminuam seus custos. Parcerias com instituições de ensino, com investimento da indústria para incentivar tecnologias cada vez melhores, possibilitaram que o tratamento de efluente melhorasse no país, entre elas está o avanço na área laboratorial.

Para comprovar a eficácia dos tratamentos dos efluentes, exames laboratoriais são importantes e dão segurança que as empresas destinem ou reaproveitarem de maneira segura. Servem para verificar a eficácia do tratamento e os requisitos legais das normas para o descarte de efluentes. Tecnologias modernas como a espectrofotometria, gravimetria, titulometria, cromatografia, espectrofotometria de absorção atômica e ecotoxicologia ajudam as empresas na comprovação da qualidade do tratamento de seus efluentes, fala Silvia Mara Haluch, química do laboratório de análises ambientais Teclab. “Precisamos que o governo olhe para as empresas como geradoras de empregos e renda e ajude com investimento para que tanto instituições de ensino como as próprias empresas possam melhorar o tratamento dos efluentes e diminuam os impactos ambientais” alerta a química.


Conheça algumas formas de tratamento de efluentes

Para efluentes líquidos existem tratamentos físico-químicos (inorgânicos e biológicos para orgânicos, grandes empresas já têm suas próprias ETEs (estação de tratamento de efluentes). É importante destacar que o tratamento dos efluentes pode variar muito dependendo do tipo de efluente tratado e da classificação do corpo de água que irá receber esse efluente, de acordo com a Resolução CONAMA 20/86. Quanto ao tipo, o esgoto industrial costuma ser mais difícil e caro de tratar devido à grande quantidade de produtos químicos presentes.

Quanto à classificação, o efluente deve ser devolvido ao rio tão limpo ou mais limpo do ele próprio, de forma que não altere suas características físicas, químicas e biológicas. Em alguns casos, como por exemplo, quando a bacia hidrográfica está classificada como sendo de classe especial, nenhum tipo de efluente pode ser jogado ali, mesmo que tratado. Isso porque esse tipo de classe se refere aos corpos de água usados para abastecimento.

Para efluentes gasosos são usados filtros (são lavados com química adequada) e sólidos são destinados a aterros controlados, muitos são levados para as cimenteiras onde são incenerados em fornos de clínquer e geram energia.

Processos Tratamentos Efluentes

Processos Químicos: Métodos de tratamento nos quais a remoção ou conversão de contaminantes ocorre pela adição de produtos químicos ou devido a reações químicas.

Processos Físicos: Método de tratamento nos qual predomina a aplicação de forças físicas (ex: gradeamento, filtração).

Processos Físico-Químicos: Método de trabalho no qual se faz uma "junção" dos processos físicos e químicos citados anteriormente.

Processo Biológico: Métodos de tratamento nos quais a remoção de contaminantes ocorre por meio de atividade biológica (ex: desnitrificação, remoção de matéria orgânica carbonácea). Os processos biológicos podem ser divididos em anaeróbios (ocorrem na presença de O2) e anaeróbios (ocorrem na ausência de O2), cada qual com suas peculiaridades, oferecendo isoladamente maior ou menor eficácia dependendo da caracterização do efluente a ser tratado.

EFLUENTES GERADOS POR NÓS E NÃO TRATADOS NO BRASIL

Quando falamos de efluentes, logo vem a nossa mente as grandes indústrias despejando nos rios, não lembramos que o esgoto doméstico que geramos na maioria dos casos é jogado na natureza sem ser tratado. Grande parte da população brasileira está longe de ter acesso pleno ao sistema de saneamento básico. Um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2008, 32 milhões de domicílios no país - ou 56% do total - não tinham ligação com a rede de esgoto. Em relação aos municípios, a situação também é preocupante: há dois anos, quase metade (44,8%) das cidades brasileiras não tinham acesso à rede geral de esgoto. São 34,8 milhões de pessoas - 18% da população - viviam em cidades em que não havia nenhum tipo de rede coletora de esgoto. Os dados de tratamento de esgoto também são preocupantes: apenas 28,5% dos municípios em 2008 possuíam tratamento, ante 20,2% em 2000.

O volume de efluente despejado na natureza é gigantesco e preocupante, enquanto a iniciativa privada vem avançado, o setor público ainda tem muito trabalho pela frente. Não somente o esgoto como a água tratada gera efluente. “A água para ser levada as nossas casas, depois de tratada gera lodo contaminado que na maioria das vezes é jogado de novo nos rios sem tratamento ocasionando contaminação uma temática que deveria ser discutida”. “Não sabemos a água que tomamos”, alerta o diretor da Ambisol.

Além do esgoto doméstico temos os efluentes gerados em milhares de cemitérios espalhados pelo Brasil, que contaminam os lençóis freáticos em todas as cidades, ressalta Dorivaldo. ”Temos que começar a pensar nisso e planejar cemitérios, onde seu efluente seja coletado a tratado”, incentiva. Este tema é difícil porque mexe com os sentimentos das pessoas, mas tem que ser questionado, inclusive a cremação, quando feita sem devidos cuidados ambientais gera um efluente gasoso que polui, alerta Dorivaldo.

A localização e operação inadequadas de cemitérios em meios urbanos podem ocasionar a contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam no processo de decomposição dos corpos. Caso o aquífero freático seja contaminado na área interna do cemitério, tal contaminação poderá fluir às regiões próximas, aumentando, assim, o risco de saúde na população que utilizar desta água captada através de poços rasos. Uma das maiores preocupações dos ambientalistas é sobre o necrochorume – líquido que é liberado pelos corpos em decomposição. Apenas para ilustrar: um corpo em decomposição pode liberar cerca de 30 litros de necrochorume-composto basicamente de água, sais minerais e substâncias orgânicas biodegradáveis, como a putrescina – em um período de seis meses (fonte: Livro A ameaça dos Mortos).


Destaques:

“A Lei Nacional de Resíduos vem juntar-se a normas e resoluções já vigentes, que já vinham funcionando bem e certamente muitos geradores mudarão suas posturas quanto ao tratamento dos efluentes, porque as multas serão altas para quem desobedecer“, Dorivaldo Domingues de Souza, da Ambisol Soluções Ambientais

“Não sai barato criar uma rede de tratamento de efluentes própria, ainda os empresários pensam no valor final e não nos benefícios ambientais e econômicos que terá, mas as mudanças estão ocorrendo, de forma lenta, mais avançando”, Giuliano Moretti, da Preserva Ambiental Consultoria



**Matéria publicada originalmente na edição 23 da revista Geração Sustentável - Jornalista: Tania Kamienski



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Incineração não deve se sobrepor à reciclagem, afirmam especialistas.


A incineração de lixo pode ser implementada em breve em dez municípios paulistas. Segundo levantamento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, essas cidades estudam a viabilidade ou já estão em fase de consultas públicas e preparando editais para a instalação de equipamentos para eliminar os resíduos por meio da queima.

O crescente número de municípios que buscam os incineradores como destino final do lixo é preocupante, na avaliação da coordenadora de resíduos do Instituto Polis, Elizabeth Grimberg. Segundo ela, existe a possibilidade de serem queimados alguns materiais que poderiam ser reaproveitados com o processo de reciclagem. “Porque o orgânico não vai queimar sem o teor de combustão que vem dos materiais secos”, explicou.

Para o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério de Meio Ambiente, Nabil Bonduki, a questão deve ser abordada com cautela. Ele observou que a destruição de resíduos tem diversas implicações, desde o impacto ambiental da queima até a eliminação de recursos não renováveis. “Nós temos como expectativa que o material que possa ser reciclado, seja reciclado, evitando que recursos não renováveis sejam retirados da natureza”.

Além disso, Nabil apontou que, para justificar o alto custo dos fornos, é necessário queimar grandes quantidades de lixo, o que não teria sentido com a implementação de um amplo programa de reciclagem. "Para um incinerador se viabilizar economicamente é preciso ter uma grande quantidade de resíduos. Isso contraria a Política [Nacional de Resíduos Sólidos], porque ela vai no sentido de reduzir ao máximo o resíduo."

Ele ponderou, entretanto, que essa legislação sobre o tratamento do lixo urbano e industrial, sancionada em agosto de 2010, não exclui a incineração como forma de tratar os resíduos que não podem ser aproveitados. “Mas ela estabelece que só deve ter uma destinação final aquilo que não puder ser reciclado ou reaproveitado. Ou seja, aquilo que é o chamado rejeito, que sobra de todo o processo de reciclagem e compostagem."

Elizabeth reclamou que, em alguns casos, as prefeituras parecem ter mais interesse na instalação dos equipamentos para a queima do lixo do que nas iniciativas de reciclagem. “Para a questão da incineração, [vem logo]o processo de licitação, tudo anda muito rápido."

Porém, o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos da Silva Filho, discordou que haja oposição entre a incineração e a reciclagem. “O processo não anula a reciclagem. Muito pelo contrário, ele justamente incrementa os índices de reciclagem, quando há essa opção”, ressaltou.

Energia do lixo

A geração de energia a partir do lixo é, na opinião de Silva, uma “opção viável para o tratamento e destinação de resíduos no país”. Citando estudos feitos nos Estados Unidos e na Alemanha, ele argumentou que nos locais onde o procedimento é realizado houve um aumento dos percentuais de materiais reaproveitados.

São José dos Campos, uma das cidades apontadas pelo levantamento do movimento de catadores, aposta justamente nessa ideia. De acordo com a prefeitura, o projeto da usina que será construída na cidade prevê a separação dos materiais recicláveis (vidros, plásticos e metais), a biodigestão dos resíduos orgânicos (com a produção de gás e adubo) e a queima do restante.

Segundo a administração municipal, o processo irá reduzir em 30% as 200 mil toneladas anuais de lixo produzidas pelos 627 mil habitantes da cidade. Além disso, a usina vai gerar aproximadamante 12 megawatts de energia, o suficiente para abastecer 30 mil residências, 20%da demanda do município.

A prefeitura garantiu ainda que a proposta, disponibilizada para consulta pública, “está alinhada com rigorosos padrões internacionais de controle de emissões”. Carlos Silva, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), alertou que a redução dos níveis de poluição emitidos pela queima são a parte mais cara desse tipo de projeto.

No entanto, ele ressaltou que esse cuidado é imprescindível para a sustentabilidade da usina. “É preciso que esses projetos tenham realmente um critério de licenciamento ambiental que garanta o cumprimento desses padrões de emissão."

Segundo levantamento do movimento de catadores, as cidades de São Bernardo do Campo, Lorena, Barueri, Ferraz de Vasconcelos, Assis, São Sebastião, Taubaté e Canas também estão em um estágio avançado de discussões sobre o uso de incineradores.


Fonte:Ecodesenvolvimento.org/Agencia Brasil


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Mesmo com lei aprovada há um ano, logística reversa ainda não é realidade

Por Daniel Mello/Agência Brasil



Sancionada há um ano, no dia 2 de agosto de 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos mudou a maneira como o governo, em suas três esferas, empresas e cidadãos devem encarar a destinação do lixo. Um dos principais pontos diz respeito à logística reversa, que traz para os vendedores e fabricantes parte da responsabilidade no descarte dos resíduos dos produtos.

Esse tema depende de acordos com as cadeias produtoras que devem definir o modelo de recolhimento, reciclagem e destinação final, para entrar efetivamente em funcionamento. Mas, até o momento, nenhum ramo industrial apresentou proposta nesse sentido.

Para a coordenadora de Ambiente Urbano do Instituto Polis, Elisabeth Grimberg, o atraso no processo de definição da logística reversa se deve à falta de empenho das indústrias. “[Não há] Nenhum movimento dos fabricantes nessa direção de assumir que estão fazendo uma discussão de com qual modelo eles vão fazer a parte deles”, disse em entrevista à Agência Brasil.

A indefinição prejudica, segundo Elisabeth, outros pontos previstos na política nacional, como os planos municipais para gestão de resíduos. Isso porque as estratégias devem levar em conta todo o manejo, incluindo a coleta e reciclagem da qual as empresas também deverão participar.

A situação se agrava, na avaliação da especialista, em razão dos prazos. Os planos municipais devem ser concluídos até 2012 e, em 2014, só poderão ir para os aterros o lixo que não tem mais como ser aproveitado ou remanufaturado.

Existem, entretanto, setores que estão mais avançados no processo de discussão, segundo o secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério de Meio Ambiente, Nabil Bonduki. Ele cita, por exemplo, os fabricantes e distribuidores de lubrificantes que, de acordo com o secretário, deverão assinar um acordo setorial antes do fim deste ano.

Outros, como o de eletroeletrônicos, Bonduki define como “complexos” porque abrange vários produtores diferentes. “Envolve computadores, celulares, eletrodomésticos”, enumera. Diversidade que, na avaliação dele, deve dificultar a assinatura de um acordo. “Certamente na hora da definição de qual será a proposta não será fácil encontrar um denominador comum. Talvez terá que ser feita, em cada um desses segmentos, uma proposta específica”, antecipa.

O secretário faz questão de ressaltar, no entanto, que a indústria não está “apática” no processo de discussão. Mas ele pondera que só será possível saber até que ponto as empresas estão realmente dispostas a colaborar quando a logística reversa for colocada em prática. “Na hora que for proposta uma logística dos diferentes setores, nós vamos ver qual vai ser o grau de adesão à proposta que for lançada.”

Para o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos da Silva Filho, é normal que haja um período de adaptação à lei, sem resultados práticos. “Esse é um processo natural. Porque a lei é bastante inovadora, que altera a sistemática até então desenvolvida e exige um tempo de adaptação”, avaliou.

Mas o período de discussão chegou ao fim, na opinião de Silva. Por isso, deve-se exigir, a partir de agora, o cumprimento do estabelecido na legislação. “A partir desse momento o assunto já está mais do que maduro para ser exigido, inclusive, o seu não cumprimento pode ser penalizado.”

Elisabeth Grimberg lembra que a legislação permite diversas formas de execução da logística reversa. A proposta, inclusive, leva em consideração os catadores de material reciclável. “Existe toda essa rede de entidades que é atuante e que pode estar envolvida. Isso, em um país como o Brasil, que tem a presença histórica de trabalhadores nesse campo.”

Fonte:Plurale