quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quase metade das crianças vive em domicílios onde falta pelo menos um serviço de saneamento



Por Flávia Villela, repórter da Agência Brasil



Em 2011, 48,5% das pessoas até 14 anos de idade (21,9 milhões) residiam em domicílios em que pelo menos um serviço de saneamento (água, esgoto ou lixo) era inadequado. O dado faz parte da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no dia 28de novembro.

Cerca de 4,8 milhões de crianças (10,7%) viviam em casas em que mais de um desses serviços eram inadequados, sendo que 17,2% delas eram da Região Nordeste e 3,7%, da Sudeste. Segundo o IBGE, a maior parte da população até 14 anos de idade faz parte de famílias com menor poder aquisitivo: 60,8% vivem com rendas até meio salário mínimo.

A pesquisa chama a atenção ainda para o déficit de creches no país, sobretudo, para as crianças da camada mais pobre e as mães que precisam trabalhar e/ou estudar, mas não têm com quem deixar os filhos. Entre as mulheres com filhos até 3 anos de idade cujos filhos frequentam creche, 71,7% estavam ocupadas em 2011. No mesmo período, apenas 21% das crianças até 3 anos tinham acesso à creche.

De acordo com o conselheiro do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, a primeira etapa da educação básica é determinante para o desenvolvimento dessas crianças. Ele informou que o custo per capita da fase pré-escolar é o mais alto entre todas as etapas da educação, mas que o retorno compensa.

“A meta número 1 do Plano Nacional de Educação é ampliar o acesso às creches, mas o Brasil evoluiu muito pouco em relação à demanda. A meta estabelecida era chegar a 50% em 2010 e o desafio é tão grande que a meta foi mantida para 2020.”

O estudo ressalta ainda que a fecundidade costuma atrasar e, em muitos casos, interromper o processo de escolarização da mulher e que deve haver políticas públicas para dar suporte às mães que não desejam parar de frequentar a escola ou que pretendem estudar ou trabalhar.

Entre as crianças brasileiras de 4 e 5 anos de idade, a taxa de escolarização é melhor do que entre as crianças mais novas. Em 2011, quase 77,4% das crianças nessa faixa etária frequentavam a escola, enquanto em 2001 esse percentual era 55,4%. Entretanto, a média brasileira ainda está baixo da dos países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é 90%.

Fonte: Agência Brasil


Cerca de 85% dos brasileiros separariam o lixo caso serviço de coleta seletiva estivesse disponível, aponta Ibope.

Por Camila Maciel, repórter da Agência Brasil



A maioria (85%) dos brasileiros que ainda não conta com coleta seletiva estaria disposta a separar o lixo em suas casas, caso o serviço fosse oferecido nos municípios, aponta pesquisa divulgada no dia 28 de novemvro, pelo Programa Água Brasil. Apenas 13% dos entrevistados declararam que não fariam a separação dos resíduos e 2% não sabem ou não responderam. O estudo, encomendado ao Ibope, entrevistou 2.002 pessoas em todas capitais e mais 73 municípios, em novembro do ano passado.

Apesar da disposição em contribuir para a destinação adequada dos resíduos sólidos, o percentual dos que não têm meios para o descarte sustentável chega a 64% dos entrevistados. A quantidade de pessoas que contam com coleta seletiva ou que têm algum local para deixar o material separado representa 35% da amostra.

Em relação aos produtos que costumam ser separados nessas casas, as latas de alumínios ficam em primeiro lugar, com 75%, seguidas pelos plásticos (68%), papéis e papelões (62%) e vidros (55%). Os eletrônicos, por outro lado, são separados por apenas 10% dos entrevistados. Cerca de 9% dos entrevistados não separam nenhum material mesmo que o serviço de coleta seletiva esteja implantado na sua região.

Dos que contam com o serviço de coleta seletiva, metade (50%) dos casos tem a prefeitura como responsável pelo trabalho. Catadores de rua (26%), cooperativas (12%) e local de entrega (9%) aparecem em seguida dentre os meios de coleta disponíveis.

O estudo aponta também que a proposta de uma tarifa relaciona ao lixo divide opiniões. A ideia de que quem produz mais resíduos deve pagar uma quantia maior é aprovada completamente por 13% dos entrevistados, 23% concordam parcialmente. Os que discordam completamente a respeito do pagamento da taxa somam 36%. Há ainda os que não concordam, nem discordam (16%) e os que discordam em parte, com 10%.

Na hora de consumir, práticas sustentáveis ainda são deixadas de lado. Preço, condições de pagamento, durabilidade do produto e marca lideram as preocupações do consumidor brasileiro. O valor do produto, por exemplo, é considerado um aspecto fundamental por 70% dos entrevistados. Características do produto ligadas à sustentabilidade, no entanto, como os meios utilizados na produção, o tempo que o produto leva para desaparecer na natureza e o fato de a embalagem ser reciclável, ficam em segundo plano.

Os entrevistados responderam ainda quais produtos devem ser menos usados em suas casas nos próximos três anos. O campeão foi a sacola plástica. O produto é comprado com frequência em 80% das residências, mas 34% dos entrevistados esperam reduzir o consumo. Em seguida aparecem os copos descartáveis (31%), bandejas de isopor (22%) e garrafas PET (21%). No fim da lista, entre os que devem permanecer com alto percentual de consumo, estão os produtos de limpeza perfumados. Apenas 9% estimam que irão reduzir o uso desses materiais.

O Programa Água Brasil é uma iniciativa do Banco do Brasil, da Fundação Banco do Brasil, da Agência Nacional de Águas (ANA) e da organização não governamental WWF-Brasil, com intuito de fomentar práticas sustentáveis no campo e na cidade.

Fonte: Agência Brasil



domingo, 25 de novembro de 2012

Conservação e reuso de água, práticas que crescem na indústria

Por * Ivanildo Hespanhol


Dono de 12% das reservas de água doce do mundo, a questão da água não era um problema no Brasil até pouco tempo atrás, com exceção das regiões semiáridas. Não havia a preocupação em mapear o consumo de cada setor da economia. Também não existia o entendimento de que a água é um recurso finito, um bem econômico que precisa ser preservado para garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos.

Nos últimos anos, os problemas de escassez devido à demanda crescente, associados ao custo da cobrança pelo uso das águas e à poluição dos mananciais, levaram ao desenvolvimento de métodos opcionais de gestão, como a adoção de sistemas conservacionistas e de reuso de água, práticas que vêm se disseminando na indústria. O processo permite efetuar a gestão da demanda, controlando perdas e desperdícios e reaproveitar efluentes domésticos e industriais, convenientemente tratados.

A fim de diminuir o impacto da cobrança nos custos de produção, que pode resultar em perda de competitividade, a indústria paulista tem feito grandes investimentos para reduzir a captação de água e a geração de efluentes.

A indústria química, por exemplo, conseguiu diminuir em 24% o consumo e em 55% a emissão de efluentes entre 2001 e 2007. Na Bacia do Paraíba do Sul, o reuso é praticado por cerca de 50% das grandes indústrias. Dos 32 milhões de metros cúbicos captados, 25%, ou pouco mais de 8 milhões de metros cúbicos, são reutilizados, principalmente pelo setor metalúrgico.

Para incentivar o setor industrial e outros usuários sujeitos à outorga a economizar água e reduzir a carga poluidora, a Agência Nacional de Águas (ANA) instituiu, em 1997, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, incluindo a captação de água e o lançamento de efluentes. Mas só nos últimos anos a lei foi implantada nos estados. Em São Paulo, onde a água de reuso equivale a aproximadamente 20% do consumo para fins não potáveis, a cobrança foi regulamentada em 2006. Ao dar uma dimensão econômica a esse recurso natural, que tende a ficar mais caro com a demanda crescente, o órgão regulador estimulou o uso racional e sustentável, inibindo o desperdício.

Além do fator econômico, as indústrias estão cada vez mais preocupadas em desenvolver novos conceitos ambientais tais como “eco-vantagem” e “eco-imagem”, cientes de que possam gerar retorno superior aos proporcionados por ações de propaganda e marketing. Diversas entidades de classe, como Fiesp, Fierj e Sinduscon-SP produziram manuais com orientação sobre conservação e reuso da água com o apoio do Centro Internacional de Referência em Reuso em Água – CIRRA/IRCWR, ligado ao Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) estimulou a discussão sobre o tema durante a Acquasur 2000, evento que apresentou temas sobre viabilidade socioeconômica e ambiental do reuso da água. A gestão ambiental na indústria se constituía em tema que atraia pouco interesse da maioria dos empresários nacionais, o que mudou substancialmente nos últimos anos.

O aproveitamento de águas pluviais e o reuso reduzem a demanda exercida sobre os mananciais devido à substituição da água potável fornecida por concessionárias por água coletada nas próprias empresas e pelo tratamento e reuso de seus próprios efluentes. Muitas vezes, a qualidade das águas do sistema público é superior à qualidade necessária, com possibilidade de ser substituída por uma de qualidade inferior a um custo menor.

A água poluída pode ser recuperada e reusada para diversos fins desde que tratada. O tipo de tratamento recomendado está diretamente vinculado ao uso e aos critérios de segurança adotados. Geralmente, a água de reuso passa por um tratamento biológico, físico-químico e desinfecção com cloro ou outro desinfetante tais como dióxido de cloro, ozona ou radiação ultravioleta. Nos reservatórios, é conveniente manter a presença de cloro residual na água. Além disso, em se tratando de água de chuva, é necessário fazer a filtração e desinfecção com cloro ou outro desinfetante tais como dióxido de cloro, ozona ou radiação ultravioleta. Usos que demandam água com qualidade elevada exigem sistemas de tratamento e de controle avançados. Entretanto, mesmo que sejam efetuados grandes investimentos em sistemas de tratamento e reuso, os períodos de retorno do capital são geralmente reduzidos, mantendo-se, normalmente, em menos de três anos.

Embora ainda incipiente no país, o reuso urbano é indicado para a rega de jardins, campos de futebol e golfe, lavagem de ruas, desentupimento de galerias de esgoto, compactação de terrenos, descarga sanitária em banheiros, água de “make up” em torres de resfriamento de sistemas de ar condicionado, reserva de incêndio e sistemas decorativos. Na construção civil, a água de reuso pode ser utilizada para preparação e cura de concreto e para atingir a umidade ótima em trabalhos de compactação de solos. Na agricultura, um dos setores que mais consomem água, o reuso também apresenta um grande potencial de crescimento, mas no Brasil, está, ainda, muito pouco desenvolvido. Para fins agrícolas, o uso do esgoto tratado para irrigação gera economia para os agricultores, pois carrega matéria orgânica, nutrientes e macro nutrientes, dispensando, na maioria dos casos, a necessidade da utilização de fertilizantes sintéticos. Esgotos tratados têm sido, atualmente, utilizados para fins não potáveis, mas a prática mundial se encaminha, em futuro próximo, para fins potáveis, após o tratamento avançado de esgotos. Mas, qualquer que seja a forma de reuso empregada, é fundamental atentar para a preservação da saúde dos usuários, a preservação do meio ambiente, o atendimento consistente às exigências de qualidade conforme o uso pretendido e à proteção dos materiais e equipamentos utilizados.

Apesar dos avanços mais recentes, a prática de reaproveitamento da água no país ainda carece de uma legislação específica e realística, que oriente e defina os tipos de reuso, padrões e controle de qualidade, a fim de garantir a qualidade necessária para cada uso específico. É preciso, portanto, vontade política e um arcabouço legal para promover e estimular o reuso no país como instrumento de gestão dos recursos hídricos. É importante ainda que o governo ofereça algum tipo de subsídio às empresas que adotem a prática de reuso de água.



* Ivanildo Hespanhol é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água – Cirra/IRCWD, Universidade de São Paulo.

Fonte: Envolverde



Especialistas dizem que Nordeste tem água, mas falta capilaridade na distribuição

Por Carolina Gonçalves


A fome, sede e as perdas agrícolas enfrentadas, anualmente, por quase 20 milhões de brasileiros que vivem no Semiárido nordestino, poderiam ser evitadas se existisse um programa de abastecimento de água para a região nos mesmos moldes do Programa Luz para Todos.

O defensor da proposta, João Abner Guimarães Júnior, especialista em recursos hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), garante que o novo sistema solucionaria, inclusive, os impactos agravados em anos com estiagem mais prolongada como o atual.

As cidades nordestinas estão enfrentando desde o último mês de janeiro uma das maiores secas dos últimos 30 anos. As previsões meteorológicas indicam que as chuvas só devem cair no Semiárido a partir do ano que vem.

“Tem água para consumo humano e animal, tem água sobrando. Tem estoques de água suficiente para atender plenamente, mesmo nesta época como agora. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima do Rio São Francisco, em grandes reservatórios”, detalhou Abner. Segundo ele, um sistema adutor com capilaridade seria suficiente para atender a toda a demanda local, comprometendo menos de 20% da disponibilidade hídrica dos reservatórios.

Ao apresentar dados de armazenagem de água no Nordeste, durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados sobre o problema da seca na região, o pesquisador destacou que o Semiárido brasileiro é um dos sistemas ambientais mais chuvosos do mundo, mas o acesso à água não está democratizado.

“Os cerca de 60 mil açudes que têm hoje no Nordeste ficam lá, sendo reservados para consumo humano. Enquanto isso, 95% da água se perde em evaporação. Na hora que tiver um sistema integrado que traga água [das grandes barragens] para o abastecimento humano, você libera os pequenos açudes para a produção de feno”, disse, ao criticar a falência do sistema de abastecimento da região.

“A solução para o período de vacas magras tem que passar pelo aproveitamento do período de vacas gordas. Seria o [programa] água para todos, que representaria uma revolução também para a agricultura. Isso custaria cerca de R$ 20 por ano, por habitante. É um custo menor do que o custo do carro-pipa. É um terço do valor da transposição do Rio São Francisco”, afirmou.

A situação do Semiárido nordestino, segundo os especialistas, reflete falhas do cenário nacional. O Brasil concentra a maior parte da água escoada no mundo, mas enfrenta problemas de má distribuição: 72% estão na Região Amazônica; 19% no Centro-Oeste; 6% no Sul e Sudeste; e apenas 3% no Nordeste.

João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, lembrou que em períodos de estiagem mais intensas, metade da população local sofre com a seca e fome. “Oitenta por cento das secas do Nordeste ocorrem no miolão da região. E a seca não é por falta de água, mas pela má distribuição dessa água”, criticou.

Segundo ele, a solução para o problema da seca deve ser baseada em medidas de convívio com as condições climáticas características da região. Para Suassuna não serão grandes obras que apontarão o fim do sofrimento da população afetada. As barragens instaladas na região Nordeste têm potencial de armazenagem de 37 bilhões de metros cúbicos.

“Mas não tem uma política para captar essa água e levar para quem precisa”, criticou. “Há 18 anos sou contra a transposição [da Bacia do Rio São Francisco] porque vai chegar onde já é abundante. Vai abastecer represas nas quais as populações no entorno estão passando sede. Esta população vai continuar sofrendo com a seca e sendo abastecida por caminhões-pipa, mesmo depois da transposição”.

No Ceará, por exemplo, as 8 mil represas poderiam armazenar 18 bilhões de metros cúbicos, segundo Suassuna. Pelas contas do pesquisador, apenas o Açude Castanhão, a maior barragem do Nordeste, seria capaz de atender a todas as cidades cearenses. A capacidade de aproveitamento do recurso também está acima das expectativas nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Fonte: EcoDebate