quinta-feira, 30 de junho de 2011

Água de boa qualidade para o semiárido brasileiro

Até 2019, cerca de 2,5 milhões de brasileiros do semiárido deverão ter acesso à água de boa qualidade para consumo. Essa é a meta do Água Doce, programa que busca garantir água potável por meio de sistemas dessalinizadores, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.

Essa meta foi apresentada, nesta quarta-feira (29), pelo coordenador do Programa Água Doce, o gerente de projeto do MMA Renato Ferreira, durante o 1° Seminário Franco-Brasileiro sobre “Saúde Ambiental: Água, Saúde e Desenvolvimento”.

Ele falou que o programa ganha nova escala com o Plano Brasil sem Miséria. A região do semiárido é uma das mais pobres do Brasil. Muitas comunidades só tem os poços como recursos para acesso à água , destacou.

Criado em 2005, o Programa Água Doce já desenvolveu sistemas dessalinizadores em 152 locais do semiárido, beneficiando 96 mil pessoas. De acordo com Ferreira, todos os sistemas instalados continuam em funcionamento devido ao envolvimento da comunidade na gestão do equipamento.

No primeiro ano, a gente promove 100% de suporte. No segundo ano cai pra 50% e depois para 20%. A partir daí, a própria comunidade faz a gestão. E isso vem dando certo , contou o gerente de projeto. De acordo com ele, o custo médio para a instalação dos sistemas dessalinizadores é de R$ 100 mil e a manutenção mensal é de R$ 1 mil.

Para garantir o benefício para população de baixa renda, o Água Doce usa quatro critérios para a escolha de onde serão implementados os novos sistemas: nível de chuva, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mortalidade infantil e intensidade de pobreza.

Além dos sistemas dessalinizadores, o Água Doce também já criou nove unidades demonstrativas, que aliam a dessalinização com a produção de alimentos. O método é simples. A água com os rejeitos do dessalinizador é reaproveitada em tanques de criação de peixe e também para irrigação de atriplex, suporte forrageiro utilizado como alimento para ovino e caprinos. Essas unidades só podem ser instaladas em área com grande fluxo de água.

Fonte: Ambiente Brasil/Carlos Américo/ MMA

terça-feira, 28 de junho de 2011

Os donos do lixo

Em uma entrevista recente gravada em vídeo pela revista americana de negócios Fortune, o executivo David Steiner soltou a seguinte previsão: daqui a dez anos, será possível extrair tanta riqueza do lixo que as empresas do setor poderão fazer sua coleta de graça, sem que nenhum governo tenha de pagar pelo serviço. Ao ouvir a declaração, o interlocutor de Steiner esboçou um sorrisinho de deboche, mas não retrucou. David Steiner ainda está em posição de receber crédito por suas palavras, por mais que elas soem como delírio. Há sete anos ele é o presidente da Waste Management, a maior empresa de lixo dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo. Sob sua gestão estão 273 aterros sanitários, 17 usinas de geração de energia por meio da incineração do lixo e 119 operações de conversão do gás metano dos aterros em energia. A Waste Management ainda opera 91 estações de reciclagem de lixo comum e 34 de processamento de lixo orgânico. Com isso, fatura cerca de 12 bilhões de dólares por ano. Hoje, não há nada no Brasil que se pareça com isso - nem em tamanho de receita nem em modelo. Mas, para alguns empresários e investidores, a Waste Management já é uma referência num negócio por muito tempo negligenciado. Segundo estimativas, o mercado de lixo, hoje tremendamente pulverizado, movimenta quase 20 bilhões de reais por ano no país.

Um dos que acompanham com entusiasmo o desempenho da Waste Management e sonham em fazer algo parecido é o paulista Wilson Quintella Júnior, de 54 anos - o homem à frente da Estre. A empresa nasceu há 11 anos com a construção de um aterro sanitário no município de Paulínia, no interior de São Paulo - na época, Quintella deixou um emprego na GP Investimentos para se dedicar ao novo negócio. De lá para cá, ampliou seus domínios e hoje opera dez aterros, que atendem centenas de clientes públicos e privados e estão localizados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná e em Bogotá, na Colômbia, e Buenos Aires, na Argentina. Outros dois deverão ser inaugurados nos próximos meses - na cidade paulista de Piratininga e em Aracaju. Em março deste ano, Quintella fez uma manobra ousada: com a ajuda do BTG Pactual, de André Esteves, atropelou um fundo de private equity que vinha já há algum tempo negociando a empresa de coleta de lixo urbano Cavo, do grupo Camargo Corrêa, e a comprou por 610 milhões de reais. A aquisição da Cavo fará com que o faturamento da Estre, previsto para alcançar 640 milhões de reais em 2011, dobre.

Com os negócios da Estre nessa toada, não é de admirar que, numa palestra recente dada em São Paulo para convidados do Bank of America Merrill Lynch, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha feito menção a Quintella, presente na plateia, dizendo que ele "está rindo de orelha a orelha com o lixo". O que faz Quintella sorrir não é tanto o que ele já conseguiu construir, mas o potencial que vê pela frente. Ainda hoje a coleta atinge apenas 88% do lixo gerado no Brasil. E, desse volume, 42% ainda são destinados aos lixões. No ano passado, depois de quase 20 anos tramitando no Congresso Nacional, a lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos foi finalmente aprovada. Com ela, foi determinado que 2014 será a data-limite para que todos os municípios do país fechem seus lixões. As prefeituras também terão de estabelecer programas de gestão do lixo que permitam separar os resíduos - aquilo que pode ser reaproveitado - dos rejeitos - material que realmente merece ir para os aterros. Além disso, a lei deixa claro que a indústria e os consumidores têm deveres a cumprir em relação aos resíduos que geram. Mas isso é o que está no papel. "Há ainda muitos questionamentos sobre como todas essas premissas vão funcionar na prática", diz Fabricio Soler, advogado especializado em meio ambiente do escritório Felsberg e Associados, de São Paulo. E se vão funcionar.

CONSÓRCIO DE RESÍDUOS
No passado, muito dinheiro público foi distribuído a pequenos municípios para que eles construíssem aterros. O baixo volume de resíduos, associado ao custo e à complexidade de operação do empreendimento, fez com que a maioria se transformasse em lixões. O desafio agora está em fazer com que os municípios trabalhem juntos, de modo a criar uma espécie de "consórcio" para administrar seu lixo.

Os diferentes setores da indústria também terão de se mexer e apresentar ao governo propostas sobre como vão fazer a logística reversa de seus produtos. Pela lei, as indústrias são responsáveis por dar uma destinação correta a seus produtos descartados pelo consumidor. Até agora, segundo especialistas, as discussões setoriais têm sido mais acaloradas do que produtivas. Independentemente desse cenário ainda nebuloso, muitas empresas ligadas ao negócio do lixo já estão se movendo para aproveitar as oportunidades de negócios decorrentes dessas mudanças. "Esse setor vai explodir no Brasil nesta década. Sobrarão os que estiverem muito preparados", diz o grego Antonis Mavropoulos, diretor da Associação Internacional de Resíduos Sólidos. Por enquanto, a Estre é vista como uma das candidatas a liderar essa consolidação. Sua maior concorrente nesse processo é a Haztec, com sede no Rio de Janeiro.

Até ser comprada pelo paulista Paulo Tupinambá e mais dois sócios, em 2003, a Haztec era uma consultoria ambiental que faturava 7 milhões de reais por ano prestando serviços como o de descontaminação de solos. Desde então, a empresa cresceu um bocado. O fundo Infrabrasil - dos fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal), gerido pelo Santander - injetou 200 milhões de reais na empresa entre 2007 e 2010 e hoje tem uma participação de 50%. Em 2008 foi a vez do fundo de private equity do Bradesco investir 160 milhões de reais para ficar com uma fatia de 28% da Haztec. Há um mês, a empresa recebeu grau de investimento - ou seja, representa baixo risco de calote para seus credores - pela agência de classificação de risco Fitch Ratings. A previsão é que a companhia encerre 2011 com faturamento de 700 milhões de reais, a maior parte desse dinheiro oriunda da gestão de quatro aterros sanitários públicos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Recentemente, a Haztec começou a operar sua quinta unidade, o aterro de Seropédica, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O local é emblemático da mudança da administração dos negócios do lixo no país. Isso porque ele substituirá, até 2012, Jardim Gramacho - misto de aterro e de lixão que por décadas manchou a imagem do Rio de Janeiro e foi cenário de Lixo Extraordinário, documentário sobre o trabalho do artista plástico brasileiro Vik Muniz com catadores de material reciclável e que concorreu ao Oscar deste ano. Além dos aterros, a empresa também ganha com outros negócios. Em janeiro, a Haztec comprou a Biogás, empresa que usa o metano resultante da decomposição do lixo de dois aterros para gerar algo como 40 megawatts de energia, suficientes para iluminar, por exemplo, uma cidade de 200 000 habitantes. A energia obtida é vendida no mercado livre.

Um dos desafios das empresas que atuam no mercado de lixo é descobrir novos nichos. Foi o que fez a paulista Ambitec, que prevê faturar neste ano algo como 400 milhões de reais - a maior parte dessa receita vem da gestão de resíduos de empresas de grande porte, como Johnson&Johnson, Embraer e International Paper. Em abril, a Ambitec pagou 4,5 milhões de reais para adquirir 49% da startup Descarte Certo. Fundada pelo ex-executivo Lucio Di Domenico há menos de três anos, a Descarte Certo oferece aos consumidores, por meio de seu próprio site ou nas lojas de varejistas como Carrefour e Cybelar, um serviço de coleta e de descarte ecologicamente correto de produtos. Até agora, a empresa atuava apenas como intermediária entre consumidores e empresas de manufatura reversa. "Nos próximos meses, faremos investimentos para que ela mesma execute todo o processo", diz André Oda, professor de finanças da FEA-USP que há um ano foi chamado pela família Borlenghi, dona da Ambitec, para ajudá-la no processo de profissionalização e de preparação para um futuro IPO. "A hora desse mercado é agora. Quem não se posicionar rapidamente perderá a oportunidade."

FONTE: VerdeGaia/Planeta Sustentável

Cidades enfrentam dilema da sustentabilidade frente ao aumento da população mundial

Qualquer criança que nasça em aproximadamente quatro meses poderá se transformar no habitante nº 7 bilhões da Terra, mas tudo indica que esse hipotético bebê nascerá na Índia, onde ocorrem por ano 27 milhões de partos. Em pouco mais de um século a população da Terra se multiplicou por quatro e continuará crescendo de forma vertiginosa por mais meio século ainda, até alcançar os 9 bilhões. Até pouco tempo atrás, a ONU considerava que esse seria o ápice e que a partir desse número começaria uma lenta e progressiva redução da população. Reportagem de Georgina Higueras, El País.

No entanto, agora afirma que o planeta abrigará 10 bilhões de pessoas no final deste século. O desafio não é só a alimentação, mas muito especialmente organizar cidades para que os abriguem.

Urbanistas, arquitetos e dezenas de milhares de especialistas estudam como enfrentar o desafio de adaptar as urbes a tal volume de habitantes. Contam ainda com outro fluxo adicional: os 3 bilhões de pessoas que nas próximas décadas deixarão o campo para buscar um futuro supostamente melhor na cidade. E tudo isso dentro do temor cada dia mais generalizado da mudança climática e das catástrofes naturais que provoca, desde secas horrendas a inundações selvagens que se tornam cada vez mais frequentes conforme a Terra se aquece e aceleram a fuga do campo para a cidade.

O arquiteto e sociólogo José María Ezquiaga, um dos grandes urbanistas espanhóis, afirma que “o problema não é se cabemos, mas se nos alojamos bem”. E isto supõe que os recém-chegados devem ter acesso a educação, saúde, água potável e saneamento. Além disso, a autoridade local deve ser capaz de “mitigar o impacto ambiental pela perda de solo agrícola e a poluição da construção”.

Até agora, as cidades só ocupam 2% da superfície terrestre. Mas o alarme provocado pelo aumento dos preços da alimentação nos últimos três anos, porque a produção não cresceu tanto quanto o consumo, levantou as vozes dos que denunciam que o cimento arrasa solos férteis. Como Hans-Joachim Braun, diretor do Instituto Mexicano do Trigo e Milho, que afirma que a expansão urbana devora terras de cultivo e compete com os agricultores pela água.

Anthony Townsend, diretor de pesquisa do Instituto para o Futuro, da Califórnia, indica por telefone que uma das propostas do IFTF para a sustentabilidade das cidades é “promover o cultivo urbano”. Trata-se de criar edifícios com terraços e sacadas que facilitem o cultivo de hortaliças e verduras, de educar a população para que tenha pequenas hortas urbanas para suas necessidades.

A maioria dos urbanistas consultados não vê o crescimento populacional como uma praga, mas sim como uma oportunidade para utilizar melhor e com mais sabedoria os recursos que temos e para estudar e aplicar as inovações tecnológicas. Além disso, apontam que a cidade atua como um método bem-sucedido de controle de natalidade, já que ao melhorar o nível de vida e ter acesso à saúde se limitam voluntariamente os filhos, sem necessidade de medidas coercitivas, como na China, nem de esterilizações forçadas como as que fizeram a primeira-ministra da Índia Indira Gandhi perder o governo em 1977.

Na atualidade, 50% da população são urbanas e em 2050 essa porcentagem terá aumentado para 75%. “Mas também é importante levar em conta que as cidades já criam 80% da riqueza total”, salienta Ezquiaga.

Para o arquiteto Alejandro Zaera, que participou de diversos projetos internacionais, o urbanismo “é muito excitante porque afeta um número cada vez maior de pessoas”. Zaera, que tem um de seus textos incluído em “Endless City” [Cidade sem Fim], uma das principais obras teóricas da arquitetura mundial, de Ricky Burdett e Deyan Sudjic, afirma que “o grande desafio é a sustentabilidade das cidades”. Isto exige de forma urgente “diminuir seu consumo energético, fomentar o transporte público e eliminar o veículo particular”. Nesse sentido, aposta em urbes com alta densidade de população como Nova York, Xangai, Tóquio, Hong Kong ou Barcelona.

Zaera preconiza “modelos de vida com uma maior tolerância ao frio e ao calor”, de maneira que com edifícios “muito melhor isolados, com um melhor comportamento e que se verticalizam de forma natural” seja possível prescindir em grande parte da calefação e do ar-condicionado. Para combater a mudança climática que afeta a todos, ele defende que a comunidade internacional adote um imposto sobre as emissões de dióxido de carbono, já que, por exemplo, “os cidadãos americanos emitem quatro vezes mais do que deveriam para ser sustentáveis”.

Ezquiaga indica que na hora de preparar as cidades para a avalanche que se prevê é preciso distinguir entre as do mundo desenvolvido e as dos países emergentes. Nos primeiros haverá um mínimo aumento de habitantes. O problema é “conter a dispersão da população”.

Nos países emergentes, por outro lado, a população urbana aumentará 91% entre 2010 e 2030. “O importante não será tanto conter o crescimento das urbes”, afirma Ezquiaga, “como enfrentar a pobreza e facilitar a todos água potável, saneamento, energia e transporte. Além disso, será preciso limitar o impacto ambiental provocado pela passagem do solo agrícola para urbano.”

A UE financia estudos e instituições dedicadas a investigar as chamadas “cidades inteligentes”, nas quais a conectividade desempenha um papel muito importante para garantir “a criação de riqueza, a sustentabilidade social e o meio ambiente”, afirma Panagiotis Tsarchopoulos, diretor do Urenio, um instituto de Salônica (Grécia). Acrescenta que já tem projetada a futura Salônica inteligente, que inclui seis bairros com serviços diferentes e plena conectividade, através de sensores e sistemas de software. E lamenta que a crise econômica tenha impedido que o município financie a implementação do projeto.

Nesta linha também se encontra a Agenda Futura: o Mundo em 2020, um projeto do qual participam numerosas empresas para estudar as possibilidades oferecidas pelo crescimento da população nos próximos dez anos. A ideia foi lançada em Istambul, a maior megalópole da Europa, com mais de 10 milhões de habitantes e, segundo o semanário “The Economist”, a cidade de “melhor comportamento” de 2010, não só pela melhora de seu nível de vida como porque criou 7,3% de emprego, um dos grandes desafios das grandes cidades. De fato, a busca de um emprego remunerado é a grande aspiração dos que abandonam a vida rural pela urbana.

Zaera indica que no futuro “talvez seja necessário prescindir” dos grandes templos que são construídos hoje, “como a Cidade da Cultura de Valência”, em nome da “sustentabilidade e de dedicar recursos financeiros a estruturas urbanas que tornem as cidades mais habitáveis”. Esse é o grande objetivo de urbanistas e especialistas: que embora se transformem em megalópoles de até 100 milhões de habitantes continuem oferecendo aos cidadãos trabalho e esperança em um futuro melhor.

Joan Clos, diretor do Programa da ONU para os Assentamentos Humanos (Habitat): “Uma cidade geriátrica seria terrível”

Ele tem 62 anos e é médico, mas boa parte de sua vida profissional está ligada ao governo das cidades. Foi ministro, mas sobretudo prefeito de Barcelona de 1997 a 2006, cargo que dividiu em vários anos com muitos outros, como presidente da Associação Mundial para a Coordenação das Cidades e Autoridades Locais, presidente do Comitê Assessor de Autoridades Locais da ONU ou vice-presidente de Cidades e Governos Locais Unidos. Desde outubro de 2010, como secretário-geral adjunto da ONU, dirige o organismo Habitat, com sede em Nairóbi (Quênia), que cuida da promoção em todo o mundo de cidades sustentáveis. A entrevista foi feita por correio eletrônico.

P. Hoje a urbanização é mais preocupante que a alimentação?

R. Mais de um bilhão de pessoas vivem em condições de vida terríveis em favelas e zonas de “barraquismo”. A alimentação e a moradia são direitos fundamentais das pessoas, e é preocupante que um número elevado não tenha qualquer um deles.

P. As cidades estão preparadas para absorver o crescimento da população e a migração rural?

R. As cidades dos países desenvolvidos não estão crescendo em população. O problema está nas cidades que não viveram o processo de industrialização e que não são capazes de oferecer aos novos cidadãos um lugar de trabalho e um espaço de produtividade e geração de riqueza.

P. É preciso promover cidades com maior densidade?

R. O principal desafio é a organização da convivência urbana. Quando isso se consegue, a cidade se transforma em um espaço de liberdade e em um grande instrumento de prosperidade e desenvolvimento em todos os níveis. É o momento mágico de eclosão da cidade como elemento de progresso humano. Nas últimas décadas as cidades souberam aproveitar a economia da urbanização, a que deriva dos ativos reais do entorno urbano: edificação, mais valia, venda do solo, hipotecas… Todos conhecemos suas virtudes e infelizmente também seus defeitos. No entanto, ainda há muitas cidades que devem descobrir as oportunidades da economia da densidade, da aglomeração, que permite criar valor, reduzir custos, aumentar a especialização, multiplicar o crescimento dos fluxos de informação, diminuir os custos de produção. A densidade é sem dúvida necessária para conseguir uma cidade produtiva e mais sustentável.

P. É melhor a megalópole ou cidades médias?

R. Não há um tamanho ideal. O que deve ser é uma cidade bem planejada e governada, na qual a qualidade de vida dos cidadãos seja uma prioridade, na qual o urbanismo tenha uma função de melhora da conectividade, de evitar a congestão, de eficiência energética, capaz de se financiar com o valor gerado pela economia da densidade e criar postos de trabalho.

P. É possível construir cidades sustentáveis com emissões zero?

R. Ainda não sabemos como construir uma cidade com emissões zero, mas o desenvolvimento das energias renováveis em escala maciça é a única solução. Entretanto, os esforços estão sendo dirigido para reduzir as emissões por habitante e por unidade de produto econômico com uma cidade bem estruturada.

P. O Ocidente e a própria China avançam rapidamente para o envelhecimento da população. Trabalha-se no projeto de cidades para aposentados?

R. As cidades devem ser diversificadas, mistas. Com serviços adequados e sustentáveis tanto econômica como ambientalmente para nossos jovens, idosos, trabalhadores, estudantes, criadores ou os que fazem tudo isso ao mesmo tempo. A beleza e o interesse da cidade estão na diversidade. Uma cidade geriátrica seria terrível.

P. A população da África duplicará em três décadas. Como enfrentar esse “boom”?

R. Sessenta e cinco por cento dos africanos urbanos vivem em barracos e podem chegar a 80% nos próximos anos. Eles farão isso sem água, sem luz, em péssimas condições de higiene. O barraquismo é um problema em escala global, e só medidas radicais poderão alterar essa terrível realidade. É preciso reintroduzir o planejamento urbanístico na África, assim como se fez na Europa e na América durante a Revolução Industrial.

P. A globalização é positiva para o urbanismo?

R. A globalização está produzindo uma aceleração da urbanização não planejada que termina em barraquismo. Gerações de jovens estão crescendo em favelas, com os riscos e a perda de capital humano que isso representa para os países emergentes e os menos desenvolvidos, que são os que mais o necessitam.

P. Como a inovação tecnológica ajuda o urbanismo?

R. Se a política urbana existe e há capacidade política, a tecnologia ajuda, mas se não houver essa capacidade a tecnologia frequentemente se transforma em um falso instrumento de progresso que não ajuda a enfrentar os problemas de fundo.

P. Politicamente caminhamos para tempos passados, nos quais as cidades eram mais importantes que os Estados?

R. Nunca se volta literalmente ao passado. O que faz falta é um novo contrato entre o Estado-nação e a cidade, porque a importância econômica, social e cultural desta é indubitável. Segundo o Banco Mundial, das cem economias mundiais mais importantes 37 são cidades.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Reportagem de El País, no UOL Notícias.

Fonte:EcoDebate

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coleta Seletiva - Universidade Federal de Sergipe

Por Mairon Hothon


No ano passado, durante a Semana UFS Ambiental, professores e técnicos ambientais discutiram sobre o projeto de coleta seletiva do lixo em nosso campus, no intuito de reduzir a proliferação desenfreada desses resíduos e preservarem, por extensão, o meio ambiente. Por isso com a ajuda dos professores Genésio Tamara e Laura Jane (Engenharia Florestal), Zênite Debabritta (Psicologia Comportamental), Maria Inês (Projeto Sala Verde), João Dantas e Matheus Felizola (Comunicação Social), juntamente com os alunos voluntários do Programa UFS Ambiental, desenvolveram um projeto de recolhimento e destinação do lixo.

A administradora do UFS Ambiental, Daniele Andrade, explica que o projeto, que depende de toda a comunidade universitária, visa diminuir o impacto ambiental que a Universidade produz bem como produzir multiplicadores desse conhecimento. “O nosso resíduo vai ser descartado de forma adequada, onde o lixo inorgânico vai ser reciclado e o lixo orgânico vai passar pelo processo da compostagem. Não só iremos diminuir o impacto ambiental, mas também formar gestores ambientais e assim criar uma consciência na cabeça das pessoas.” relata.
Daniele também explica o porquê das lixeiras só serem de duas cores. “A princípio as pessoas vão achar estranha uma coleta seletiva com duas cores, pois conhecemos com cinco, mas optamos por duas para facilitar o recolhimento. A cor laranja será para o lixo reciclável, ou seja, papel, plástico, metal e vidro. Já a cor azul é para o lixo não-reciclável, como adesivos, pilhas, isopor, teclado de computador, lâmpadas, etc. Outro lixeiro de cor verde também será colocado, para o lixo orgânico” pontua a administradora do UFS Ambiental.

Investimentos e Parceira


O coordenador do UFS Ambiental, Fred Amado, define o investimento feito para o programa como “um investimento ambiental”. Mais de cem lixeiras, entre grandes e pequenas, foram compradas e uma parceria foi firmada com os alunos do Curso de Publicidade e Propaganda, da UFS, que ficaram responsáveis por construírem a identidade visual do projeto. Quanto ao slogan que acompanhará a marca da campanha, alunos e professores poderão participar do concurso. A data para submissão dos slogans ainda será divulgada oficialmente.


Fred justifica que a coleta seletiva, é um projeto que não trará custo adicional para as despesas da UFS, pois o lixo será recolhido pela Empresa Torre, que já tem parceria com a universidade. “Todas as quartas-feiras o caminhão da Torre recolherá o lixo e levará para a Cooperativa dos Catadores do bairro Coqueiral, onde mais de dez famílias serão beneficiadas com o trabalho da reciclagem”. Fred também diz que “esse projeto a priori está no campus de São Cristóvão, mas nos campus de Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto já está sendo mapeada a situação para implantação da coleta”.

Um projeto de Todos

“A coleta seletiva do lixo é um projeto onde todos podem participar direta ou indiretamente. Primeiramente basta cada um fazer a sua parte e jogar lixo na lixeira correta, e quem quiser ajudar um pouco mais, basta entrar em contato com a gente, pelo telefone 2105-6449 ou pelo e-mail ufsambiental@ufs.br” afirma Daniele.
Para a aluna do projeto Sala Verde, Alana Danielly, “reduzir e dar um fim especifico para o nosso lixo é essencial para termos mais consciência com o meio ambiente. O homem precisa aprender a conviver com a natureza. Parafraseando o filósofo Paulo Freire ‘ a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, finaliza a estudante.

Fonte: UFS Ambiental.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Especialistas em hidrologia pedem mais atenção para gestão das águas pluviais urbanas

Inúmeros municípios e cidades brasileiras vêm sofrendo com freqüência enormes prejuízos socioeconômicos devido às constantes inundações urbanas. O Brasil perde por ano em média R$ 6 bilhões por causa destas, sem contar com os prejuízos causados pelas cheias ribeirinhas, que ocorrem quando da ocupação não planejada do espaço limítrofe dos rios. O fato é que este problema, não ocorre somente devido a fatores climáticos e processos naturais, mas também, por falta do controle adequado da ocupação do espaço geográfico e de ações consistentes que busquem melhorar à gestão dos sistemas de drenagem das águas pluviais urbanas.

Gestores e especialistas na área demonstram preocupação com este problema, e afirmam que o país não pode simplesmente adotar medidas emergenciais lembradas somente depois de um evento, mas sim buscar soluções viáveis e sustentáveis em longo prazo. Para o engenheiro civil, Marcelo Gomes Miguez, que conta com o apoio do CNPq em sua pesquisa “Modelação Matemática como Ferramenta de Apoio à Gestão da Drenagem em Bacias Urbanas”, novos paradigmas de planejamento e gestão das águas pluviais precisam ser consolidados.

“É fundamental que os Municípios consolidem um Plano de Manejo de Águas Urbanas que articule novos instrumentos de ordenamento de uso do solo, com diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos e da Lei Nacional de Saneamento. É preciso tratar o problema de forma sistêmica e realizar projetos integrados com o crescimento urbano. Hoje, ainda se percebe que as cidades vêm trabalhando de forma muito fragmentada e isolada nesta área”, afirma o pesquisador.

A agravante urbanização


Marcelo Miguez, que há mais de vinte anos vem trabalhando com o intuito de agregar importantes informações acerca da gestão da água no meio urbano, de modo a auxiliar a confecção de projetos integrados de controle de enchentes, afirma que a questão das inundações nas cidades vem sendo agravada por causa da urbanização não planejada.

“Em países em desenvolvimento, como o Brasil, verifica-se, em geral, o crescimento das cidades de forma mais espontânea e não ordenada, sem o adequado controle sobre o uso do solo e sem vinculação com um Plano Diretor Urbano. Com isso, o sistema de drenagem é afetado, comprometendo o meio urbano, degradando-o e criando situações de risco e perdas”, ressalta.

Segundo ele, muitas cidades crescem e firmam-se como pólos de atração, e com isso sofrem com um aporte não previsto de uma população migrante, com ilusões de melhores condições de vida. “Essa população, em geral, não é absorvida pela cidade formal e faz crescer uma massa empobrecida que ocupa desordenadamente regiões críticas, periféricas, geralmente de encosta ou ribeirinhas, em sub-moradias, sem o acompanhamento necessário da infraestrutura que lhe seria necessária. Os problemas sociais não equacionados das cidades grandes de países em desenvolvimento agravam a situação. Por isso, é preciso que ações de requalificação urbana e controle de cheias sejam vistas de forma integrada”, pontua Miguez.

Superando barreiras

Preocupado também com o mesmo problema, o engenheiro civil, Carlos Eduardo Morelli Tucci, referência mundial na pesquisa científica sobre recursos hídricos, diz que as obras de drenagem no Brasil ainda estão em descompasso com a realidade técnica de outros países.

“Sabemos que as grandes inundações não podem ser evitadas, mas podemos mitigá-las com medidas estruturais, com obras de controle ou medidas de convivência. Os países com freqüentes desastres naturais possuem instituições permanentes com investimentos em prevenção, e com técnicos altamente qualificados. Infelizmente, nós só temos à parte curativa e não a preventiva. Até Moçambique tem um programa de Defesa Civil com atuação na prevenção. Por isso, é preciso criarmos uma coordenação integrada, em todos os âmbitos do Estado, para estabelecermos metas, atribuições e recursos bem definidos, tanto para evitar quanto para lidar com o problema”, destaca.

Tucci ressalta ainda que os prejuízos devidos às inundações na drenagem urbana nas cidades brasileiras têm aumentado exponencialmente, reduzindo a qualidade de vida da população e o valor das propriedades. Este processo, segundo ele, ocorre devido a urbanização e a conseqüente impermeabilização junto com a canalização do escoamento pluvial.

Qualificando profissionais

Para mudar este cenário, é necessário estimular uma nova geração de engenheiros, arquitetos e projetistas que visem planejar o espaço de forma mais sustentável. Segundo Tucci, a defasagem técnica dos profissionais, a falta de regulamentação da transferência de impactos dentro das cidades, e o limitado conhecimento dos decisores sobre o assunto são as principais causas das perdas de recurso.

“Uma parcela importante dos engenheiros que atuam no meio urbano, estão desatualizados quanto à visão ambiental e geralmente buscam soluções estruturais, que alteram o ambiente, com excesso de áreas impermeáveis e conseqüente aumento de temperatura, inundações, poluição, entre outros. Os gestores das cidades devem entender que a drenagem faz parte da infra-estrutura urbana, portanto deve ser planejada em conjunto dos os outros sistemas, principalmente o plano de controle ambiental, esgotamento Sanitário, disposição de material sólido e tráfego”, diz.

Desafios

Para Miguez não existe uma solução que possa ser padronizada para o problema de cheias urbanas. As respostas não são fáceis, pela diversidade do ambiente urbano e pela variabilidade espacial e temporal do fenômeno tratado. De acordo com ele, em geral, um projeto de controle de cheias eficaz deve demandar uma combinação de diferentes medidas, desde as estruturais tradicionais, que podem ainda ter papel em projetos integrados, passando por medidas estruturais ambientalmente mais sustentáveis e mais desejáveis.

“A integração de soluções de drenagem com a revitalização e valorização do espaço da cidade pode ser um caminho importante para a solução do problema de cheias, seja pela possibilidade de projetar atuações distribuídas sobre toda a bacia urbanizada, fugindo do foco tradicional que direciona esforços para a adequação da rede de drenagem, seja pela possibilidade de financiamento, pelo poder público, de obras com múltiplas finalidades, seja pela melhor aceitação destas obras pela população, que têm nesta concepção a possibilidade de melhoria do ambiente em que ela se insere”, pontua

Já para Carlos Tucci, que receberá em julho, o Prêmio International Hydrology Prize 2011, por sua contribuição à ciência e à prática de hidrologia, é necessário consolidar um Plano Nacional de Águas Pluviais que abranja vários componentes. “Tanto institucional com definições de atribuições, técnicos com suporte aos Municípios e aos Estados; Econômico com alocação de recursos por vários anos, formação e capacitação de pessoal e de participação pública onde são definidos os caminhos de apoderamento da população. Volto a dizer que o gestor eficiente é aquele que olha e avalia fora do seu momento com visão de Estado”, finaliza.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do CNPq

Brasileiro está ligado na separação do lixo

Pesquisa realizada pela GfK, 4ª maior empresa de pesquisa de mercado no Brasil e 4º maior grupo mundial do setor, revela que a reciclagem está cada vez mais presente na vida dos brasileiros.

De acordo com o estudo, 59% dos entrevistados separam o lixo para destinar parte dele para a reciclagem, sendo que merece destaque a região Sul do País, onde 79% dos consultados têm este hábito. Já o Nordeste, com 51% das citações, destaca-se como a região onde a prática é menos comum.

É grande ainda a preocupação entre os que têm idade acima de 35 anos – cerca de 65%. Porém, entre os mais jovens, dos 18 aos 24 anos, o índice cai para 46% – uma diferença de quase 20 pontos percentuais. Na análise socioeconômica, os integrantes das classes A e B se sobressaem na prática da reciclagem em relação aos das C e D, 63% contra 54%, respectivamente.

Entre aqueles que têm o hábito de reciclar, mais da metade, 60%, afirma que separa os tipos de recicláveis (papéis, alumínio, vidro etc.). Nesse quesito, destacam-se os habitantes do Nordeste (75%) e Norte/ Centro-Oeste (73%), das classes C e D (71%), e dos 35 aos 44 anos (70%).

A pesquisa da GfK também aponta que o caminhão da coleta seletiva é o principal lugar para despejo do material reciclado. 45% sinalizam esta opção; em seguida está a entrega para algum catador ou cooperativa, com 28% das citações

Fonte: Água Online

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Comissão quer definir responsabilidades sobre resíduos sólidos

Como determina o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, até agosto de 2014 todos os resíduos devem ser tratados, o que representa uma redução em 70% do volume de material depositado no meio ambiente.

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável quer determinar de quem são as responsabilidades pela coleta, destinação e tratamento dos resíduos sólidos produzidos nas cidades brasileiras. O presidente da comissão, deputado Giovani Cherini (PDT-RS), disse esperar que essa definição sirva de base para as discussões da implementação da política nacional do setor. “Quem é que tem a responsabilidade em cada momento dessa cadeia, da fábrica ao supermercado e, finalmente, ao consumidor”, questionou Cherini, autor do requerimento para a realização de audiência ontem sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Como determina a Lei 12.305/10, até agosto de 2014 todos os resíduos devem ser tratados. Isso representa uma redução em 70% do volume de material depositado no meio ambiente, e que deve acabar com os lixões – depósitos a céu aberto, usados em 63% das cidades, e que ficaram proibidos pela nova legislação.

Municípios

A primeira fase do plano nacional será implantada até agosto de 2012, quando os municípios devem terminar os estudos de seus planos de gestão. Segundo o diretor do Departamento de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente, Silvano da Costa, essa etapa é importante para que as prefeituras tenham acesso aos recursos para implementação da coleta e tratamento. O ministério espera colocar o plano nacional em discussão ainda neste mês, e aguarda contribuições dos prefeitos.

O presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, não acredita que o prazo de 2014 possa ser cumprido para a eliminação total dos problemas com resíduos. Pela nova lei, ressaltou, os municípios terão de implantar coleta seletiva em 100% do seu território, compostagem em 100% do lixo orgânico, e um programa de educação ambiental. Atualmente, segundo dados da CNM, apenas 40,7% dos municípios têm algum tipo de coleta seletiva, e ela é realizada em 10% a 20% da área urbana. “Mais de 80% das cidades não fazem compostagem, e a lei obriga que o lixo orgânico não seja mandado para aterros sanitários”, disse.

Pagamento por produção

Para o presidente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, o gerenciamento de resíduos sólidos deve ser remunerado por produção, com taxa sobre os poluidores. Ele propôs que os municípios banquem a instalação e manutenção do serviço. “A coleta é feita pelo município, que separa o lixo seco; a partir daí acabou a responsabilidade, se houver algo inservível, isso precisa ser remunerado pelo sistema”, explicou.

Já a coordenadora-executiva do Instituto Pólis, Elisabeth Grimberg, acredita que a coleta e os centros de gerenciamento de resíduos devem ser remunerados pelas empresas que produziram os dejetos, geralmente embalagens, uma vez que a legislação explicita que a responsabilidade sobre eles é de quem os produziu. “Os fabricantes, importadores e comerciantes são responsáveis pela porção seca do lixo. Vamos ver quanto custa essa coleta, cada cadeia produtiva sabe quanto colocou; a partir daí, faz-se fundo e remunera-se os municípios de volta”, defendeu. O Instituto Pólis participou da formulação da lei.

Elisabeth alertou que empresas estão oferecendo aos municípios a incineração dos resíduos, no lugar da reciclagem deles. A debatedora, que considera isso um retrocesso, propôs a estruturação de um órgão de amparo técnico, para reunir experiências e ajudar os municípios a implantar programas sustentáveis. “Desde 1989 há municípios que fazem coleta seletiva com catadores, e esse é o momento de implementação dessa lei, que tem todos os elementos para resolver os problemas de desperdícios e disposição inadequada”, avaliou.

Catadores

Para o presidente do Compromisso Empresarial com a Reciclagem (Cempre), Victor Bicca, é ponto pacífico que os catadores que hoje trabalham em lixões precisam ser incluídos na implementação do plano. “Hoje existem lixões e aterros irregulares, empresas fazendo coleta irregular, e milhares de pessoas trabalhando na coleta de forma não remunerada”, resumiu.

Bicca entende ser preciso encontrar um modelo de competitividade que seja ao mesmo tempo rentável e sustentável. Isso, propôs, poderia ser feito em parcerias entre o setor produtivo e o poder público, e com incentivos fiscais para empresas que reciclarem.

“De fato, no Brasil, há empresas que cumprem a legislação ambiental competindo em condição de desigualdade com outras que não cumprem, mas não sofrem qualquer pena, isso não pode ocorrer com os resíduos”, explicou o diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), Jarbas Soares Junior.

Fonte:Camara dos Deputados /Reportagem - Marcello Larcher

Aproveitamento do potencial econômico das unidades de conservação pode render R$ 5 bilhões por ano

Publicado por Carine Corrêa, do MMA, publicado pelo EcoDebate



Atividades econômicas em UCs brasileiras podem gerar R$ 5 bilhões por ano – Se exploradas economicamente de forma adequada, as unidades de conservação (UCs) brasileiras – principais instrumentos de proteção da biodiversidade no País – têm potencial de gerar, numa estimativa conservadora, de R$ 5 a 10 bilhões por ano, a partir de 2016. Esta cifra é oriunda apenas de uma parte de serviços ecossistêmicos que podem ser prestados por estas áreas protegidas, e não abrange o valor monetário da emissão evitada de 2,8 bilhões de toneladas de carbono com a criação das UCs, cujo valor monetário é avaliado em R$ 96 bilhões.

A conclusão é do estudo Contribuição das Unidades de Conservação para a Economia Nacional, lançado nesta terça-feira (07/6), na sede do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) em Brasília, e promovido pelo MMA, Pnuma e Ipea, com apoio da Embaixada Britânica e da Cooperação Técnica Alemã (GIZ).

Os levantamentos realizados indicam que, com os investimentos adequados, o potencial de gerar contribuição econômica local e regional nas regiões de UCs pode chegar, por exemplo, de R$ 1,2 a 2,2 bilhões por ano, considerando-se apenas a produção de maneira em tora nativa nas florestas nacionais e estaduais da Amazônia, que pode ser alcançada em áreas manejadas segundo o modelo de concessão do Serviço Florestal Brasileiro.

No estudo, foram contemplados apenas cinco dos diversos serviços ecossistêmicos prestados pelas UCs: produtos florestais, produtos não madeireiros, turismo em unidades de conservação, armazenamento de carbono, água e repartição de receitas tributárias.

Segundo Rodrigo Medeiros, um dos autores da publicação, a intenção do projeto é demonstrar como os investimentos já feitos e os que ainda devem ser aplicados podem contribuir para o desenvolvimento e inclusão social de parte significativa da sociedade brasileira.

“A grande mensagem que queremos passar é que existem muitas oportunidades de negócios e geração de renda. Pode parecer um desafio, pois, a princípio, todos vão pensar na origem dos recursos para novos investimentos. Mas apenas em uma categoria de atividade, como, por exemplo, a extração de madeira em tora na Amazônia, já conseguiríamos os recursos necessários para se investir no sistema de UCs, fomentando o potencial de geração de renda nas áreas protegidas”, afirma Medeiros.

Ele explica que, atualmente, o orçamento destinado para a manutenção dessas áreas protegidas é de R$ 300 milhões, mas o estudo chegou à conclusão de que seriam necessários investimentos de pelo menos R$ 1 bilhão para alavancar o potencial econômico das UCs.

“Se houver investimentos de maneira adequada, os ganhos podem ser tão significativos e importantes quanto de qualquer outro setor produtivo relevante do País”, afirma Carlos Eduardo Young, o outro autor do estudo.

Em relação a atividades não madeireiras, como a exploração da borracha, considerando-se a produção de apenas 11 reservas extrativistas, cuja população estimada está em torno de 22 mil indivíduos, existe um potencial de geração de renda de R$ 16 a 17 milhões por ano, com uma produção de cerca de 3,7 mil toneladas. A renda média anual por coletor seria de R$ 1.886, apenas com esta atividade complementar nestas 11 áreas.

Já a castanha coletada em apenas 17 reservas extrativistas federais, em uma área de 6,6 milhões de hectares, pode gerar quase R$ 40 milhões por ano, ocasionando uma renda média de R$ 4.100 por coletor anualmente.

Além disso, o impacto econômico de atividades turísticas em parques e florestas nacionais, considerando-se a estimativa de fluxo de turistas projetadas para o País (cerca de 13,7 milhões de pessoas) até 2016, pode gerar entre R$ 1,6 e 1,8 bilhão por ano.

A criação e manutenção de UCs também evita o desmatamento e ajuda e mitigar os gases de efeito estufa. Apenas o valor do estoque de emissões evitadas pelas UCs está avaliado em pelo menos
R$ 96 bilhões.

No que se refere à água, 80% da geração hidrelétrica do Brasil vem de fontes geradoras que têm pelo menos um curso d´água, como riachos, rios e córregos, oriundo de UCs, e 9% da água para consumo humano é captada diretamente nessas áreas. Outro dado relevante apontado é que 4% da água para agricultura e irrigação é captada dentro ou a jusante de alguma UC.

O estudo revela ainda que, em 2009, a receita real de ICMS ecológico repassada aos municípios pela existência de UCs em seus territórios foi de R$ 402,7 milhões, e que a receita potencial de 12 estados que ainda não têm legislação ecológica seria de outros R$ 14,9 milhões.

De acordo com o secretário de Biodiversidade e Florestas, Bráulio Dias, a publicação é fundamental porque apresenta indicadores econômicos que vão contribuir para o debate da manutenção da biodiversidade associada ao desenvolvimento do País. “Não se trata de reduzir o valor dos recursos naturais a números, mas de retomar o aspecto econômico no debate da conservação e comprovar que é possível ter lucro com atividades sustentáveis. Floresta não é problema, e sim solução, também do ponto de vista econômico”, afirma.

Fonte:Tratamento de Água

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Reciclar e remanufaturar sempre vale a pena?

A reciclagem e a remanufatura de produtos – em vez de fazer produtos novos a partir do zero – deve permitir uma grande economia de energia, certo?

Não exatamente, garante um novo estudo realizado por pesquisadores do MIT, nos Estados Unidos.

Amplamente difundidas como ambientalmente corretas, as práticas de reciclagem e remanufatura são usadas desde as latinhas de alumínio e os pneus recauchutados, até os cartuchos de impressora jato de tinta e os motores remanufaturados.

Mas a equipe do Dr. Timothy Gutowski demonstrou que o senso comum não se confirma quando os dados são cuidadosamente verificados.

Custo energético

Em alguns casos, a sabedoria convencional está realmente correta. Mas, em 25 estudos de caso, cobrindo produtos em oito categorias, há um número igual de situações nas quais a remanufatura de fato consome mais energia.

E para a maioria dos casos, a economia de energia é insignificante ou o equilíbrio de energia esteve muito próximo entre o produto novo e o produto remanufaturado.

Mas por que os novos resultados são tão diferentes do que se tem assumido por tanto tempo?

A razão está em que a equipe do MIT usou em seus cálculos a energia total utilizada durante a vida útil de um produto – a chamada análise do ciclo de vida – e não apenas a energia utilizada no processo de fabricação em si.

Em praticamente todos os casos, custa menos dinheiro e menos energia produzir um produto a partir de um “núcleo” reciclado – a parte reutilizável do produto – do que começar do zero a partir da matéria-prima.

Mas o problema é que muitos desses produtos remanufaturados são menos eficientes em termos energéticos, ou versões mais recentes são mais eficientes em termos energéticos do que a geração à qual eles pertenceram, de modo que a energia extra utilizada ao longo da vida útil do produto remanufaturado anula a economia obtida na fase de fabricação.

O mundo é um lugar complicado

“O que parece à primeira vista ser um problema simples, mostra que o mundo é um lugar muito mais complicado do que as pessoas pensam,” afirma Gutowski, que já havia coordenado um estudo que demonstra que as indústrias modernas são extravagantes no uso de energia.

Para ele, na maioria dos casos, “a nova tecnologia revela-se tão mais eficiente do ponto de vista energético, que você deve se livrar do velho aparelho” em vez de consertá-lo ou comprar uma versão remanufaturada.

Por exemplo, a eficiência de muitos aparelhos novos – como geladeiras e máquinas de lavar – é tão melhor em relação aos modelos mais antigos que, em termos de consumo de energia, um novo modelo é quase sempre a melhor escolha.

Infelizmente, não é assim que a maioria das pessoas e empresas faz suas escolhas. “A decisão é sempre em relação ao custo, não à energia”, diz Gutowski.

Por exemplo, um motor elétrico remanufaturado, no qual o núcleo de metal é reutilizado, mas enrolado com novos fios, é tipicamente entre 0,5 e 1 por cento menos eficiente do que um motor novo. “Continua havendo uma vantagem de custo” para os motores remanufaturados, diz o pesquisador, “mas, do ponto de vista energético, é o oposto.”

Visão mais ampla

Gutowski enfatiza que esta pesquisa não sugere, necessariamente, um curso específico de ação.

Para um determinado produto, pode haver outras razões para que se prefira a versão remanufaturada, mesmo que esta produza um gasto líquido de energia.

Por exemplo, a remanufatura pode reduzir o impacto sobre os aterros sanitários, reduzir o uso e o descarte de alguns materiais tóxicos, ou gerar empregos necessários em uma determinada área.

“Nós não estamos dizendo que você não deve fazer [a remanufatura]“, diz ele, “[estamos] apenas sugerindo que vale a pena conhecer os efeitos da decisão, na sua totalidade.”

Referência bibliográfica:

Remanufacturing and Energy Savings – Timothy G. Gutowski, Sahil Sahni, Avid Boustani, Stephen C. Graves – Environmental Science & Technology – Vol.: 2011, 45 (10), pp 4540-4547 – DOI: 10.1021/es102598b

(*) Com informações do MIT

(Site Inovação e Tecnologia)

Fonte: Mercado Ético.

Pepinos, porcos e doenças

Silvia Ribeiro (*)

O surgimento de uma nova variante letal da bactéria Escherichia coli (E. coli) em alimentos na Europa demonstra, novamente, o desastre sanitário em que nos meteu o sistema alimentar agroindustrial. Tratam-no como um acidente, mas na realidade é algo cada vez mais frequente, porque é uma consequência sistêmica. Era de se esperar, tal como o surgimento da gripe suína e da gripe aviária.

As autoridades sanitárias do governo alemão, onde primeiro se identificou o surto, acusaram os pepinos orgânicos espanhóis de serem os causadores da contaminação. Tiveram de retificar a acusação, porque era falsa, mas já tinham provocado grandes perdas. Acusam também os tomates e o alface, especula-se com o leite, a carne e a água engarrafada. Segundo o Instituto Robert Koch da Alemanha, trata-se de uma variante desconhecida, produto de recombinação de outras, que deu a nova E. coli entero-hemorrágica O140:H4. No princípio suspeitavam da E. coli O157:H7, que foi encontrada na carne picada de grandes empresas como a Cargill e que em 2008 levou à retirada de 64 milhões de toneladas de carne dos Estados Unidos e milhares de pessoas afetadas.

Neste caso dizem não saber de onde saiu nem quanto tempo vai durar, mas proliferou-se a vários países europeus e já causou 18 mortes e mais de 2.000 internações que podem ter consequências graves. Poder-se-ia juntar uma longa lista de acidentes graves do sistema alimentar industrial (carnes contaminadas, melamina, dioxinas, aditivos e embalagens de plástico tóxicos, adulterações). O certo é que graças à indústria agro-alimentar controlada por um vintena de transnacionais globais, a comida deixou de ser necessidade, prazer e cultura para se tornar em uma permanente ameaça à saúde.

No caso das bactérias E. coli, das quais há muitas variantes diferentes, estas são usadas e manipuladas na forma intensiva e extensiva pela indústria, o que favorece a criação de novos surtos continuamente. Por exemplo, são um elemento importante na construção de transgênicos (agro-alimentares, farmacêuticos e veterinários), são o vetor de fermentação da biologia sintética (manipulando com genes artificiais bactérias E. coli e leveduras, porque são rápidas e fáceis de usar), são o vetor para fabricar hormônios transgênicos (hormônio de crescimento bovino) para que as vacas produzam quantidades absurdas de leite que as adoecem e nos provocam doenças. Na maioria dos casos, para testar se a modificação genética foi bem sucedida aplicam-lhes antibióticos, pelo que para além da transferência horizontal de material genético entre diferentes bactérias (que só por si os transgênicos promovem), aumentam também a resistência aos antibióticos.

Como as E. coli estão presentes por todo o lado mas aumentam em certas condições (armazenamento, transporte, temperaturas, etc), nas grandes instalações são combatidas com batericidas que promovem ainda mais mutação e resistência.

A presença de bactérias e vírus, normais ou por falta de higiene e outras condições, pode acontecer tanto nas pequenas produções locais, como nas grandes. Mas nas pequenas e descentralizadas, desde a criação animal às culturas, comércio e processamento de alimentos, fica focalizada ou diluída entre muitas outras fontes de diversidade animal e vegetal.

É justamente o caráter extensivo e uniforme das culturas e dos animais que os torna mais vulneráveis, enquanto que os ataques contínuos com produtos químicos criam maior resistência, juntamente com grandes transportes e diversos embalamentos que os grandes supermercados exigem, o que contribui para criar as variantes mais perigosas. Já na espiral destrutiva, para controlar todo este desastre de doenças – quer as que são descobertas, quer as muitas sobre as quais não há estatísticas – aplicam mais produtos químicos como conservantes, aplicam irradiação de alimentos e embalagens com nanotecnologia para que os alimentos pareçam frescos, ainda que sejam nocivos.

Assim como aconteceu com a gripe suína, não é verdade que as autoridades não saibam de onde saiu a variante da bactéria. Inclusive, desde já, podemos dizer-lhes de onde virão muitas das próximas bactérias e vírus patogênicos.

A verdadeira origem do desastre é o sistema agro-alimentar, que foi sequestrado pelas transnacionais, e que para ganharem mais, a nossa comida é transgênica, torna-nos obesos, tem menos nutrientes e está cheia de venenos, sejam químicos ou nano-tecnológicos. Tão brutal foi o sequestro dos mercados, que em lugar de advertir os que têm tóxicos, etiqueta-se – com elevado custo para produtores e consumidores – os produtos orgânicos que não têm tóxicos. E de passagem, afirmam que são a origem das variantes patogênicas.

Consequentemente, o controle da segurança alimentar transformou-se numa máquina comercial que longe de favorecer a saúde pública e prevenir doenças, é um sistema seletivo de privilégios para as grandes empresas, para deslocar e impedir a produção e consumo de produtos camponeses, de pequenos produtores e de muitos países do Sul. (Recomendo a leitura do informe da Grain: Food safety for whom: corporate wealth vs. peoples’s health www.grain.org)

Apesar de tudo isto, 70% do planeta ainda se alimenta da produção camponesa, comunitária e familiar. Para a saúde de todos e do planeta, é isso que temos de resgatar e apoiar, contra a voracidade homicida das transnacionais.

(*)Silvia Ribeiro, investigadora do grupo ETC, publicado no jornal mexicano La Jornada. Traduzido por Carlos Santos para Esquerda.net


Fonte: Mercado Etico/Brasil de Fato

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Oligopolizado, mercado de agrotóxicos cresce no Brasil quatro vezes acima da média mundial

Fernando César Oliveira, Portal da UFPR

O mercado mundial de agrotóxicos é dominado por seis empresas transnacionais. Juntas, as empresas Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Dow e Dupont detêm 68% de um mercado que movimenta cerca de US$ 48 bilhões por ano no mundo.

O Brasil representa hoje aproximadamente 16% do consumo de agrotóxicos no planeta. O crescimento do mercado brasileiro foi de 176% entre os anos de 2000 e 2008 —3,9 vezes acima da média mundial, que foi de 45,4% no mesmo período.

Os dados foram exibidos pelo professor Victor Pelaez, professor do Departamento de Economia da UFPR, durante o lançamento no Paraná da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, realizado na noite de terça-feira (31) no Teatro da Reitoria.

Dezenas de entidades e movimentos sociais integram a campanha. Entre os objetivos está debater a fiscalização dos agrotóxicos, a contaminação do meio ambiente e os impactos na saúde dos trabalhadores e do conjunto da população.

“As maiores empresas de agrotóxicos controlam o mercado de sementes, montam um pacote tecnológico e controlam a produção de alimentos no mundo”, afirmou Pelaez. “O Brasil é hoje o maior mercado do mundo, com o maior ritmo de expansão.”

Commodities como soja, algodão, milho, arroz e cana-de-açúcar estão entre as culturas que mais consomem agrotóxicos. “Quanto mais se produz, mais se consome [agrotóxicos]”, explicou Pelaez.

O evento foi organizado pela Via Campesina, Coordenação dos Movimentos Sociais, Terra de Direitos e Coletivo Maio. Centenas de trabalhadores rurais sem-terra lotaram o Teatro da Reitoria da UFPR.

Ações da Anvisa

O professor da UFPR também abordou o processo de fiscalização do setor no Brasil. Segundo ele, enquanto a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem apenas 77 funcionários que atuam na regulação de agrotóxicos, o órgão similar dos EUA, por exemplo, possui 150. As taxas cobradas pelo governo brasileiro também são muito mais baixas do que as do órgão norte-americano.

“É uma pressão muito grande em cima dos órgãos fiscalizadores para aprovar novos registros de agrotóxicos, sob a alegação de que não aprovar seria agir contra a agricultura nacional”, diz Victor Pelaez.

Gerente de Normatização e Avaliação da Anvisa, Letícia Rodrigues da Silva fez um histórico do processo de legislação sobre agrotóxicos no Brasil. Ela classifica a lei federal 7.802, conhecida Lei dos Agrotóxicos, como “ainda hoje bastante avançada”.

Letícia relatou que um dos problemas enfrentados pela agência são projetos que periodicamente são apresentados no Congresso Nacional para retirar ou diminuir parte das atribuições do órgão.

Em 2008, a Anvisa colocou 14 ingredientes ativos de agrotóxicos em reavaliação, alguns deles já proibidos em outros países. Desses 14, apenas seis tiveram o processo de reavaliação concluído.

“As empresas acionam políticos e ingressam com ações judiciais até para tentar proibir a publicação de nossas notas técnicas”, informa a gerente da Anvisa. “É muito lento o processo entre a colocação de um produto no mercado, a percepção de danos à saúde e ao meio ambiente e a sua retirada do mercado.”

Letícia Silva citou o exemplo dos organoclorados. Surgidos em 1939, apenas em 1962 uma pesquisadora norte-americana apontaria os danos provocados por eles. Dez anos depois, em 1972, foram proibidos nos EUA. No Brasil, a mesma medida seria tomada apenas em 1985.

Em 2010, a Anvisa aplicou uma multa de R$ 2,4 milhões na empresa Milênia, filial de uma multinacional israelense, que alterou ilegalmente a composição de seus agrotóxicos. “Os produtos que a empresa fabricava eram diferentes do registrado, com uma toxidade muito maior do que ela havia informado à Anvisa”, explica a gerente.

A Anvisa promove ainda outras ações de fiscalização, como o monitoramento de resíduos de agrotóxicos em produtos disponibilizados ao consumidor. Algumas das mais de mil amostras de alimentos coletadas em 2009 revelaram percentuais de contaminação com agrotóxicos não autorizados superiores a 80%.

Exemplos de contaminação

Um estudo recente elaborado pela UFMT no município de Lucas do Rio Verde apontou a presença de agrotóxicos na água de chuva, em amostras de ar coletadas dentro de escolas e também no leite materno.

Há algumas semanas, pesquisadores de Ribeirão Preto também constataram resíduos de agrotóxicos na água do Aquífero Guarani. “E não há regulação que impeça a utilização de venenos em áreas de recarga, onde o aquífero está mais próximo da superfície”, critica Letícia.

A gerente da Anvisa defendeu ainda uma maior mobilização social contra o uso de agrotóxicos. “Precisamos de controle social, a população deve dizer que não quer o leite materno, os alimentos e a água contaminados”, defendeu Letícia. “É direito de vocês produzir e consumir sem agrotóxicos, para garantir uma qualidade de vida.”

Procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio das Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente, Saint-Clair dos Santos apontou que a situação de Lucas do Rio Verde se repete em outros municípios do País. “Lucas do Rio Verde é igual a qualquer cidade do Paraná, também vamos encontrar nelas os mesmos índices se formos fazer essa avaliação.”

Saint-Clair, que também coordena o Fórum Estadual de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, citou os casos de contaminação de produtores de fumo em cidades do interior do Paraná, entre elas São João do Triunfo.

“A cidade como Curitiba é consumidora e não sabe o que acontece. Precisamos motivar a sociedade, divulgando os dados que mostram que as pessoas estão consumindo produtos contaminados. Do contrário, a realidade vai continuar sendo a mesma.”

O procurador de Justiça também defendeu um maior financiamento para que laboratórios da UFPR, como, por exemplo, os das áreas de alimentos e de solos, possam contribuir com ações de fiscalização de agrotóxicos. “Esses laboratórios precisam estar a serviço da sociedade, e não das empresas.”

Ao final do debate, as pessoas presentes manifestaram a defesa da agricultura agroecológica, sem o uso de agrotóxicos nem de sementes transgênicas. “Precisamos de áreas contínuas, livres de agrotóxicos, para garantir a produção sem transgênicos”, defendeu o pastor Werner Fuchs.

“Essa mobilização é fundamental para mostrar que as soluções das transnacionais são falsas, servem ao lucro e não a sociedade”, avaliou o advogado Darci Frigo, da ONG Terra de Direitos.

Fonte:Mercado Ético/Portal da UFPR

quinta-feira, 2 de junho de 2011

PAC Saneamento avança, mas só 4% das obras foram concluídas

Monitoramento De Olho no PAC analisou 101 obras nas cidades com mais de 500 mil habitantes; apenas 4 dessas obras foram concluídas

Apesar dos recursos liberados terem atingido 40,9% dos investimentos previstos nas obras voltadas a esgotos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nos maiores municípios, os entraves continuam impedindo um avanço mais rápido e apenas 4% dessas obras foram concluídas até final de 2010. A se manter este ritmo, muitas obras só terminarão próximo a 2015. Essa é a constatação de mais um ano do monitoramento "De Olho no PAC", feito pelo Instituto Trata Brasil.

O acompanhamento é feito sobre uma amostra de 101 obras nos municípios maiores que 500 mil habitantes e que totalizam R$ 2,8 bilhões em investimentos. As informações são obtidas através de consultas e solicitações formais à Caixa Econômica Federal, BNDES, SIAFI, relatórios oficiais do PAC e Ministério das Cidades.

Os avanços compreendem o período de Dezembro de 2009 a Dezembro de 2010 e revelam, que das 101 obras monitoradas, 4 foram concluídas, 22 estão atrasadas e 11 sequer foram iniciadas. Ao contrário do que previam os balanços oficiais do PAC, de que 60% das obras estariam concluídas até 2010, mais da metade das obras monitoradas não avançaram além dos 40% do cronograma físico até o final de 2010.

No que se refere aos recursos liberados, o maior progresso ocorreu na região Sudeste onde 57% dos recursos foram liberados. E mesmo possuindo a maior quantidade de obras (41), a região, também, apresentou o maior avanço na execução de 31,9% (até 2009) para 57,3% (final de 2010). Em contraponto à região Sul que teve a menor liberação (24,1%) saltou de 7,7% (menor índice de 2009) para 20,4% (final de 2010).

A região Centro-Oeste, por sua vez, apresentou a menor evolução nas obras (7,9% para 12,9%). Nas 101 obras, o andamento médio aumentou de 19,7% ao final de 2009 para 35,3% em 2010.

"No que se refere a esta amostra de obras que monitoramos, voltadas a esgotos e nos maiores municípios, os resultados mostram que a coleta e tratamento dos esgotos tende a ficar melhor nas regiões já melhor atendidas e continuar precária por mais tempo nas regiões mais carentes destes serviços", conclui o presidente do ITB.

Os resultados do monitoramento das 101 obras do PAC Saneamento Esgoto mostram que é cada vez mais fundamental atuar nos gargalos apontados para o avanço das obras e que continuam presentes, após 4 anos do programa.

Continuam urgentes as ações para avançar na solução dos gargalos do saneamento, tais como a necessidade de apresentação de melhores projetos - técnico e economicamente viáveis, melhoria da eficiência dos operadores e gestores, melhor coordenação entre os Poderes Municipal, Estadual e Federal, aumento dos investimentos e incentivos à qualificação dos profissionais envolvidos, entre tantos outros.

Para Édison Carlos, os resultados são muito preocupantes, uma vez que o PAC é um programa amplo de investimentos em infraestrutura com expressivos recursos destinados a redução dos déficits do saneamento. "Estamos perdendo uma oportunidade única de avançar mais rapidamente nas obras e assim trazer mais saúde e qualidade de vida às comunidades mais atingidas pelos esgotos a céu aberto, sobretudo as crianças. Acelerar estas obras é uma obrigação de todos, em especial das autoridades, uma vez que não cabe mais lamentar a falta de recursos, pois neste caso eles estão disponíveis. Temos, sim, é que nos debruçar sobre os problemas e resolvê-los, sob pena de continuarmos prejudicando o meio ambiente e milhares de brasileiros afetados pelos esgotos", conclui.


Fonte: Instituto Trata Brasil.

Programa de US$ 8,4 milhões quer colocar catadores no mercado formal da reciclagem

Novo programa da Fundação Avina, em parceria com o Fundo Multilateral de Investimentos (FUMIN) e a The Coca-Cola Company, visa integrar catadores de lixo no mercado formal da reciclagem. A iniciativa tem como exemplo projetos ativos da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru para discutir e elaborar propostas para a inclusão desses trabalhadores no mercado.

O programa latino-americano lançado no dia 26 de maio em Assunção, no Paraguai, vai receber US$8,4 milhões para desenvolver ações e leis que melhorem a situação sócio-econômica dos catadores de lixo na região.

“É crucial apoiar a transformação do mercado e a organização dos catadores informais para melhorar sua inserção econômica e social. Com uma maior coordenação entre os catadores, as empresas e as prefeituras melhorarão a qualidade de vida das pessoas que vivem desta atividade”, afirmou Nancy Lee, gerente geral do FUMIN, órgão do BID que vai investir US$ 4 milhões com o projeto.

Além dos quatro milhões, o AquaFund, também do BID, vai financiar US$ 1 milhão para o programa. A Fundação Avina vai colaborar com US$ 1,4 milhão de dólares e o The Coca-Cola Company com os dois milhões restantes.

Catadores de lixo

Na América Latina, existe um número estimado de mais de quatro milhões de pessoas que sobrevivem apenas com a catação de materiais recicláveis, o que inclui famílias inteiras que trabalham muitas vezes em condições inadequadas de insalubridade.

Para Oscar Fergutz, gestor continental de estratégia de reciclagem da Fundação AVINA, os catadores informais recebem uma porcentagem muito baixa no processo de reciclagem industrial, visto que eles são responsáveis em alguns casos pela recuperação de até 90% dos materiais.

Segundo o gestor, “apesar de estarem posicionados como elemento-chave em um mercado novo como a reciclagem, os catadores informais e suas famílias continuam isolados na sociedade e na economia. Este projeto nos permite unir todos os atores para desenvolver um entorno que respeite seu trabalho, e tirar a atenção para mostrar que este trabalho não somente é digno, mas também valioso para a sociedade”, concluiu.

Fonte: Envolverde.

IBGE: Amazônia Legal concentra quase metade de toda a água subterrânea potável do país

A região conhecida como Amazônia Legal, que ocupa cerca de 59% do território nacional, concentra quase metade de toda a água subterrânea potável do país (45%), sendo as maiores reservas localizadas no Amazonas, em Mato Grosso e no Pará. Mas essa não é a única riqueza que compõe o subsolo amazônico. Por ser formado predominantemente (66,8%) de rochas sedimentares, originadas a partir da alteração, erosão e deposição de qualquer outro tipo de rocha, as camadas abaixo do solo também têm potencial para a exploração de combustíveis fósseis, como petróleo e gás.

De acordo com o estudo Geoestatísticas de Recursos Naturais da Amazônia Legal, divulgado ontem (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “há boas perspectivas de acumulação dessas substâncias nas rochas sedimentares das bacias costeiras do Maranhão, Pará e Amapá, além de reservas de gás natural no município de Capinzal do Norte (MA)”.

Ainda nas áreas de rochas sedimentares, o documento indica que há possibilidade de serem encontradas jazidas de calcário, utilizáveis tanto na agricultura quanto na produção de cimento; sal-gema e gipsita, fontes de gesso para a medicina e a construção civil; e anidrita, fonte de sulfato e cálcio. Apesar de ter menor potencial metálico, minerais desse tipo e pedras preciosas podem ser encontrados na região. Depósitos de ouro, cassiterita e diamante também são comuns.

O estudo revela ainda que na região da Amazônia Central, que se estende do sudeste do Pará ao norte de Roraima e ao noroeste do Amazonas, estão concentradas as rochas ígneas, provenientes da consolidação do magma – massa rochosa do interior da terra em estado de fusão –, com tendência à formação de jazidas de metais nobres, como o ouro, e de minerais industriais, como a cassiterita. Somente o Pará abriga 51,9% das rochas ígneas da Amazônia Legal, seguido pelo Mato Grosso (14,2%).

É também no estado do Pará que ocorrem as maiores concentrações (37,3%) de outro tipo de rocha, as chamadas metamórficas, que têm potencial como fonte de ouro primário. Elas são propícias ainda à formação de jazidas minerais de uso industrial, como ferro e manganês, e de sulfetos de cobre, chumbo e zinco. São também fontes de material para construção civil, como brita e rochas ornamentais.


Reportagem de Thais Leitão, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate.