quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Quase metade das crianças vive em domicílios onde falta pelo menos um serviço de saneamento



Por Flávia Villela, repórter da Agência Brasil



Em 2011, 48,5% das pessoas até 14 anos de idade (21,9 milhões) residiam em domicílios em que pelo menos um serviço de saneamento (água, esgoto ou lixo) era inadequado. O dado faz parte da Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados no dia 28de novembro.

Cerca de 4,8 milhões de crianças (10,7%) viviam em casas em que mais de um desses serviços eram inadequados, sendo que 17,2% delas eram da Região Nordeste e 3,7%, da Sudeste. Segundo o IBGE, a maior parte da população até 14 anos de idade faz parte de famílias com menor poder aquisitivo: 60,8% vivem com rendas até meio salário mínimo.

A pesquisa chama a atenção ainda para o déficit de creches no país, sobretudo, para as crianças da camada mais pobre e as mães que precisam trabalhar e/ou estudar, mas não têm com quem deixar os filhos. Entre as mulheres com filhos até 3 anos de idade cujos filhos frequentam creche, 71,7% estavam ocupadas em 2011. No mesmo período, apenas 21% das crianças até 3 anos tinham acesso à creche.

De acordo com o conselheiro do Movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, a primeira etapa da educação básica é determinante para o desenvolvimento dessas crianças. Ele informou que o custo per capita da fase pré-escolar é o mais alto entre todas as etapas da educação, mas que o retorno compensa.

“A meta número 1 do Plano Nacional de Educação é ampliar o acesso às creches, mas o Brasil evoluiu muito pouco em relação à demanda. A meta estabelecida era chegar a 50% em 2010 e o desafio é tão grande que a meta foi mantida para 2020.”

O estudo ressalta ainda que a fecundidade costuma atrasar e, em muitos casos, interromper o processo de escolarização da mulher e que deve haver políticas públicas para dar suporte às mães que não desejam parar de frequentar a escola ou que pretendem estudar ou trabalhar.

Entre as crianças brasileiras de 4 e 5 anos de idade, a taxa de escolarização é melhor do que entre as crianças mais novas. Em 2011, quase 77,4% das crianças nessa faixa etária frequentavam a escola, enquanto em 2001 esse percentual era 55,4%. Entretanto, a média brasileira ainda está baixo da dos países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é 90%.

Fonte: Agência Brasil


Cerca de 85% dos brasileiros separariam o lixo caso serviço de coleta seletiva estivesse disponível, aponta Ibope.

Por Camila Maciel, repórter da Agência Brasil



A maioria (85%) dos brasileiros que ainda não conta com coleta seletiva estaria disposta a separar o lixo em suas casas, caso o serviço fosse oferecido nos municípios, aponta pesquisa divulgada no dia 28 de novemvro, pelo Programa Água Brasil. Apenas 13% dos entrevistados declararam que não fariam a separação dos resíduos e 2% não sabem ou não responderam. O estudo, encomendado ao Ibope, entrevistou 2.002 pessoas em todas capitais e mais 73 municípios, em novembro do ano passado.

Apesar da disposição em contribuir para a destinação adequada dos resíduos sólidos, o percentual dos que não têm meios para o descarte sustentável chega a 64% dos entrevistados. A quantidade de pessoas que contam com coleta seletiva ou que têm algum local para deixar o material separado representa 35% da amostra.

Em relação aos produtos que costumam ser separados nessas casas, as latas de alumínios ficam em primeiro lugar, com 75%, seguidas pelos plásticos (68%), papéis e papelões (62%) e vidros (55%). Os eletrônicos, por outro lado, são separados por apenas 10% dos entrevistados. Cerca de 9% dos entrevistados não separam nenhum material mesmo que o serviço de coleta seletiva esteja implantado na sua região.

Dos que contam com o serviço de coleta seletiva, metade (50%) dos casos tem a prefeitura como responsável pelo trabalho. Catadores de rua (26%), cooperativas (12%) e local de entrega (9%) aparecem em seguida dentre os meios de coleta disponíveis.

O estudo aponta também que a proposta de uma tarifa relaciona ao lixo divide opiniões. A ideia de que quem produz mais resíduos deve pagar uma quantia maior é aprovada completamente por 13% dos entrevistados, 23% concordam parcialmente. Os que discordam completamente a respeito do pagamento da taxa somam 36%. Há ainda os que não concordam, nem discordam (16%) e os que discordam em parte, com 10%.

Na hora de consumir, práticas sustentáveis ainda são deixadas de lado. Preço, condições de pagamento, durabilidade do produto e marca lideram as preocupações do consumidor brasileiro. O valor do produto, por exemplo, é considerado um aspecto fundamental por 70% dos entrevistados. Características do produto ligadas à sustentabilidade, no entanto, como os meios utilizados na produção, o tempo que o produto leva para desaparecer na natureza e o fato de a embalagem ser reciclável, ficam em segundo plano.

Os entrevistados responderam ainda quais produtos devem ser menos usados em suas casas nos próximos três anos. O campeão foi a sacola plástica. O produto é comprado com frequência em 80% das residências, mas 34% dos entrevistados esperam reduzir o consumo. Em seguida aparecem os copos descartáveis (31%), bandejas de isopor (22%) e garrafas PET (21%). No fim da lista, entre os que devem permanecer com alto percentual de consumo, estão os produtos de limpeza perfumados. Apenas 9% estimam que irão reduzir o uso desses materiais.

O Programa Água Brasil é uma iniciativa do Banco do Brasil, da Fundação Banco do Brasil, da Agência Nacional de Águas (ANA) e da organização não governamental WWF-Brasil, com intuito de fomentar práticas sustentáveis no campo e na cidade.

Fonte: Agência Brasil



domingo, 25 de novembro de 2012

Conservação e reuso de água, práticas que crescem na indústria

Por * Ivanildo Hespanhol


Dono de 12% das reservas de água doce do mundo, a questão da água não era um problema no Brasil até pouco tempo atrás, com exceção das regiões semiáridas. Não havia a preocupação em mapear o consumo de cada setor da economia. Também não existia o entendimento de que a água é um recurso finito, um bem econômico que precisa ser preservado para garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos.

Nos últimos anos, os problemas de escassez devido à demanda crescente, associados ao custo da cobrança pelo uso das águas e à poluição dos mananciais, levaram ao desenvolvimento de métodos opcionais de gestão, como a adoção de sistemas conservacionistas e de reuso de água, práticas que vêm se disseminando na indústria. O processo permite efetuar a gestão da demanda, controlando perdas e desperdícios e reaproveitar efluentes domésticos e industriais, convenientemente tratados.

A fim de diminuir o impacto da cobrança nos custos de produção, que pode resultar em perda de competitividade, a indústria paulista tem feito grandes investimentos para reduzir a captação de água e a geração de efluentes.

A indústria química, por exemplo, conseguiu diminuir em 24% o consumo e em 55% a emissão de efluentes entre 2001 e 2007. Na Bacia do Paraíba do Sul, o reuso é praticado por cerca de 50% das grandes indústrias. Dos 32 milhões de metros cúbicos captados, 25%, ou pouco mais de 8 milhões de metros cúbicos, são reutilizados, principalmente pelo setor metalúrgico.

Para incentivar o setor industrial e outros usuários sujeitos à outorga a economizar água e reduzir a carga poluidora, a Agência Nacional de Águas (ANA) instituiu, em 1997, a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, incluindo a captação de água e o lançamento de efluentes. Mas só nos últimos anos a lei foi implantada nos estados. Em São Paulo, onde a água de reuso equivale a aproximadamente 20% do consumo para fins não potáveis, a cobrança foi regulamentada em 2006. Ao dar uma dimensão econômica a esse recurso natural, que tende a ficar mais caro com a demanda crescente, o órgão regulador estimulou o uso racional e sustentável, inibindo o desperdício.

Além do fator econômico, as indústrias estão cada vez mais preocupadas em desenvolver novos conceitos ambientais tais como “eco-vantagem” e “eco-imagem”, cientes de que possam gerar retorno superior aos proporcionados por ações de propaganda e marketing. Diversas entidades de classe, como Fiesp, Fierj e Sinduscon-SP produziram manuais com orientação sobre conservação e reuso da água com o apoio do Centro Internacional de Referência em Reuso em Água – CIRRA/IRCWR, ligado ao Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados (Abiclor) estimulou a discussão sobre o tema durante a Acquasur 2000, evento que apresentou temas sobre viabilidade socioeconômica e ambiental do reuso da água. A gestão ambiental na indústria se constituía em tema que atraia pouco interesse da maioria dos empresários nacionais, o que mudou substancialmente nos últimos anos.

O aproveitamento de águas pluviais e o reuso reduzem a demanda exercida sobre os mananciais devido à substituição da água potável fornecida por concessionárias por água coletada nas próprias empresas e pelo tratamento e reuso de seus próprios efluentes. Muitas vezes, a qualidade das águas do sistema público é superior à qualidade necessária, com possibilidade de ser substituída por uma de qualidade inferior a um custo menor.

A água poluída pode ser recuperada e reusada para diversos fins desde que tratada. O tipo de tratamento recomendado está diretamente vinculado ao uso e aos critérios de segurança adotados. Geralmente, a água de reuso passa por um tratamento biológico, físico-químico e desinfecção com cloro ou outro desinfetante tais como dióxido de cloro, ozona ou radiação ultravioleta. Nos reservatórios, é conveniente manter a presença de cloro residual na água. Além disso, em se tratando de água de chuva, é necessário fazer a filtração e desinfecção com cloro ou outro desinfetante tais como dióxido de cloro, ozona ou radiação ultravioleta. Usos que demandam água com qualidade elevada exigem sistemas de tratamento e de controle avançados. Entretanto, mesmo que sejam efetuados grandes investimentos em sistemas de tratamento e reuso, os períodos de retorno do capital são geralmente reduzidos, mantendo-se, normalmente, em menos de três anos.

Embora ainda incipiente no país, o reuso urbano é indicado para a rega de jardins, campos de futebol e golfe, lavagem de ruas, desentupimento de galerias de esgoto, compactação de terrenos, descarga sanitária em banheiros, água de “make up” em torres de resfriamento de sistemas de ar condicionado, reserva de incêndio e sistemas decorativos. Na construção civil, a água de reuso pode ser utilizada para preparação e cura de concreto e para atingir a umidade ótima em trabalhos de compactação de solos. Na agricultura, um dos setores que mais consomem água, o reuso também apresenta um grande potencial de crescimento, mas no Brasil, está, ainda, muito pouco desenvolvido. Para fins agrícolas, o uso do esgoto tratado para irrigação gera economia para os agricultores, pois carrega matéria orgânica, nutrientes e macro nutrientes, dispensando, na maioria dos casos, a necessidade da utilização de fertilizantes sintéticos. Esgotos tratados têm sido, atualmente, utilizados para fins não potáveis, mas a prática mundial se encaminha, em futuro próximo, para fins potáveis, após o tratamento avançado de esgotos. Mas, qualquer que seja a forma de reuso empregada, é fundamental atentar para a preservação da saúde dos usuários, a preservação do meio ambiente, o atendimento consistente às exigências de qualidade conforme o uso pretendido e à proteção dos materiais e equipamentos utilizados.

Apesar dos avanços mais recentes, a prática de reaproveitamento da água no país ainda carece de uma legislação específica e realística, que oriente e defina os tipos de reuso, padrões e controle de qualidade, a fim de garantir a qualidade necessária para cada uso específico. É preciso, portanto, vontade política e um arcabouço legal para promover e estimular o reuso no país como instrumento de gestão dos recursos hídricos. É importante ainda que o governo ofereça algum tipo de subsídio às empresas que adotem a prática de reuso de água.



* Ivanildo Hespanhol é professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, diretor do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água – Cirra/IRCWD, Universidade de São Paulo.

Fonte: Envolverde



Especialistas dizem que Nordeste tem água, mas falta capilaridade na distribuição

Por Carolina Gonçalves


A fome, sede e as perdas agrícolas enfrentadas, anualmente, por quase 20 milhões de brasileiros que vivem no Semiárido nordestino, poderiam ser evitadas se existisse um programa de abastecimento de água para a região nos mesmos moldes do Programa Luz para Todos.

O defensor da proposta, João Abner Guimarães Júnior, especialista em recursos hídricos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), garante que o novo sistema solucionaria, inclusive, os impactos agravados em anos com estiagem mais prolongada como o atual.

As cidades nordestinas estão enfrentando desde o último mês de janeiro uma das maiores secas dos últimos 30 anos. As previsões meteorológicas indicam que as chuvas só devem cair no Semiárido a partir do ano que vem.

“Tem água para consumo humano e animal, tem água sobrando. Tem estoques de água suficiente para atender plenamente, mesmo nesta época como agora. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima do Rio São Francisco, em grandes reservatórios”, detalhou Abner. Segundo ele, um sistema adutor com capilaridade seria suficiente para atender a toda a demanda local, comprometendo menos de 20% da disponibilidade hídrica dos reservatórios.

Ao apresentar dados de armazenagem de água no Nordeste, durante audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados sobre o problema da seca na região, o pesquisador destacou que o Semiárido brasileiro é um dos sistemas ambientais mais chuvosos do mundo, mas o acesso à água não está democratizado.

“Os cerca de 60 mil açudes que têm hoje no Nordeste ficam lá, sendo reservados para consumo humano. Enquanto isso, 95% da água se perde em evaporação. Na hora que tiver um sistema integrado que traga água [das grandes barragens] para o abastecimento humano, você libera os pequenos açudes para a produção de feno”, disse, ao criticar a falência do sistema de abastecimento da região.

“A solução para o período de vacas magras tem que passar pelo aproveitamento do período de vacas gordas. Seria o [programa] água para todos, que representaria uma revolução também para a agricultura. Isso custaria cerca de R$ 20 por ano, por habitante. É um custo menor do que o custo do carro-pipa. É um terço do valor da transposição do Rio São Francisco”, afirmou.

A situação do Semiárido nordestino, segundo os especialistas, reflete falhas do cenário nacional. O Brasil concentra a maior parte da água escoada no mundo, mas enfrenta problemas de má distribuição: 72% estão na Região Amazônica; 19% no Centro-Oeste; 6% no Sul e Sudeste; e apenas 3% no Nordeste.

João Suassuna, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, lembrou que em períodos de estiagem mais intensas, metade da população local sofre com a seca e fome. “Oitenta por cento das secas do Nordeste ocorrem no miolão da região. E a seca não é por falta de água, mas pela má distribuição dessa água”, criticou.

Segundo ele, a solução para o problema da seca deve ser baseada em medidas de convívio com as condições climáticas características da região. Para Suassuna não serão grandes obras que apontarão o fim do sofrimento da população afetada. As barragens instaladas na região Nordeste têm potencial de armazenagem de 37 bilhões de metros cúbicos.

“Mas não tem uma política para captar essa água e levar para quem precisa”, criticou. “Há 18 anos sou contra a transposição [da Bacia do Rio São Francisco] porque vai chegar onde já é abundante. Vai abastecer represas nas quais as populações no entorno estão passando sede. Esta população vai continuar sofrendo com a seca e sendo abastecida por caminhões-pipa, mesmo depois da transposição”.

No Ceará, por exemplo, as 8 mil represas poderiam armazenar 18 bilhões de metros cúbicos, segundo Suassuna. Pelas contas do pesquisador, apenas o Açude Castanhão, a maior barragem do Nordeste, seria capaz de atender a todas as cidades cearenses. A capacidade de aproveitamento do recurso também está acima das expectativas nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Fonte: EcoDebate

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Inclusão social via resolução dos problemas estruturais ou via mercado?




A obsessão do governo atende por um nome: crescimento econômico. Dilma Rousseff persegue a continuidade do modelo de “inclusão via mercado” que se revelou um “sucesso” no governo Lula. O foco de Dilma é um só, dar continuidade ao crescimento da economia e dessa forma reeditar a Era Lula – a grande responsável pelo que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) denomina de “década da inclusão”.
Segundo o economista Marcelo Neri, atual presidente do Ipea, a partir de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2011), “o Brasil está hoje no menor nível de desigualdade da história documentada”. Houve um crescimento real na renda per capita das diferentes camadas sociais. Em dez anos (de 2001 a 2011), os 10% mais pobres tiveram 91,2% no crescimento de sua renda, enquanto a renda dos 10% mais ricos cresceu 16,6%.
O aumento da renda dos mais pobres está associado a dois movimentos. Aos programas de transferência de renda, particularmente o Bolsa Família, e ao aquecimento do mercado de trabalho como destacado em análise do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e de economistas de várias instituições de ensino e pesquisa.
Os dados do governo são otimistas e mostram que parte dos que vivem em favelas e contingente expressivo de negros, estão entre os que constituem a “nova classe média”.
Os dados, porém, de aumento de renda e de consumo convivem ao lado dos crônicos, históricos e permanentes problemas estruturais, particularmente na área da saúde/saneamento e educação. Problemas que podem ser ampliados com os temas da moradia, transporte coletivo, acesso à água potável e democratização da terra. Uma pequena amostra: Ao mesmo tempo em que cresceu vertiginosamente o acesso à internet, o acesso aos serviços públicos permanece estagnado. A rede de abastecimento de água, por exemplo, que era de 84,2% em 2009, passou para apenas 84,6% em 2011. A coleta de lixo, de 88,4% subiu irrisoriamente para 88,8%.
Essa morosidade na oferta de serviços públicos também se manifesta em outras áreas. Em dois anos, a proporção de domicílios atendidos pela rede coletora de esgoto aumentou de 52, 5% para irrisórios 54,9% e a de domicílios com fossa séptica ligada à rede coletora apenas de 6,6% para 7,7%”. Na educação, constata-se que dos 23% (45 milhões) da população brasileira, que correspondem aos que estão com idade entre 4 e 17 anos, 8% (3,8 milhões) estão fora da escola.
O caso do Nordeste serve como um exemplo do quanto ainda resta a fazer. É a região do Brasil que mais cresceu, contudo, num olhar mais focado verifica-se que ainda concentra mais da metade dos analfabetos e extremamente pobres do país. Na opinião do coordenador de Estudos Regionais do Ipea, Carlos Wagner, “temos dois problemas no Brasil: a distribuição de renda inter-regional – temos regiões ricas (Sul e Sudeste) e regiões pobres – e a distribuição pessoal de renda. Mesmo no Nordeste, que é uma região pobre, há pessoas muito ricas. A região tem uma parcela pequena da produção nacional e essa parcela é concentrada nas mãos de poucos”.
São evidentes os ganhos econômicos e a mobilidade social para cima, mas trata-se de uma inclusão efetivamente social ou de uma inclusão via mercado? De uma inclusão que se faz pelo acesso a saúde e educação de qualidade ou de uma inclusão pelo consumo? O sociólogo Sérgio Costa comenta que “os esforços do governo não tocam em alguns elementos estruturais da desigualdade no Brasil. As medidas que vêm sendo adotadas têm impacto de curto prazo, mas em longo prazo não permitem uma ascensão das classes mais baixas”.
Segundo ele, “não há investimento em outros tipos de medidas onde a ação do Estado é fundamental, como a promoção da educação pública de qualidade, do transporte público de qualidade”. O sociólogo argumenta que, ao frequentar escolas públicas ruins, os mais pobres são “condenados a permanecer na mesma condição de classe” e toma um exemplo na política alemã. “Na Alemanha, a ascensão se dá através de serviços para a população, que criam uma igualdade dentro da sociedade”, afirma. “Por isso, que no país ocorrem frequentes ondas de ascensão social. Por haver escolas gratuitas de qualidade. Nos anos 1960, por exemplo, muitos filhos de operários se tornaram médicos, engenheiros”, lembrou, acrescentando que no Brasil isso é mais difícil de acontecer.
O mesmo pensa a economista Lena Lavinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que lembra que as sociedades modernas promovem a igualdade através de uma infraestrutura social de qualidade, aspecto que tem sido deixado de lado na atual política federal. “O gasto social no Brasil é feito para transferir renda para as famílias e não para promover serviços”, sublinha. “O governo brasileiro é muito preocupado em transferir renda, o que é importante, mas insuficiente. Os mais pobres não precisam só de renda, mas de oportunidades”, destaca. “E os gastos públicos com educação, saúde, transporte e saneamento não crescem na proporção que deveriam”.
O sociólogo José de Souza Martins comentando o estudo da “década includente” do Ipea afirma que os “benefícios [as políticas sociais compensatórias] não deslocam necessariamente o eixo social de referência dos beneficiados, especialmente os pobres do campo, cuja economia pré-moderna é predominantemente baseada na produção direta dos meios de vida”.
Em seu livro Os sentidos do lulismo – reforma gradual e pacto conservador, André Singer reconhece os avanços da era Lula em relação aos anos de FHC, considerando a “ativação do mercado interno, aumento do crédito, aumento do consumo, aumento do emprego”, como elementos que vão à contramão do neoliberalismo. Contudo, mesmo sob essa ótica, Singer também aponta que “o Brasil tem um acúmulo de desigualdade tão grande que mesmo esta queda com enorme ritmo de avanço fica aquém”.

Fonte: EcoDebate/IHU on-line

domingo, 23 de setembro de 2012

Companhias transformam esgoto em água limpa


Por André Trigueiro


A água de reúso tem características que atendem a necessidade das indústrias. A Cedae, no Rio, criou o maior projeto de uso industrial de água tratada de esgoto do mundo.


O Brasil é um dos países que mais gastam água ao produzir bens de consumo, mas já existem iniciativas bem sucedidas para economizar.
O país precisa de muita água limpa para produzir. A quantidade não é pequena. No setor siderúrgico, por exemplo, para cada tonelada de aço são necessários 15 mil litros de água.
Uma simples calça jeans consome aproximadamente 11 mil litros de água, do plantio de algodão até a confecção. Um quilo de carne bovina, mais de 17 mil litros de água e um cafezinho leva, até chegar na xícara, 140 litros de água.
Como a água limpa se tornou um produto cada vez mais escasso e caro, a indústria investe em tecnologia e consegue reaproveitar o que antes jogava fora. O resultado vai além da economia.
O Canal do Cunha é um dos rios mais poluídos do Brasil. Além do forte mau cheiro e da água escura, no rio não há oxigênio, é um ambiente hostil à vida, mas é justamente do local que sai toda água utilizada numa fábrica de produtos químicos na zona norte do Rio de Janeiro.
São 80 milhões de litros de água por mês. O suficiente para abastecer uma cidade de 25 mil habitantes. O sistema alternativo de tratamento livrou a empresa da necessidade de comprar água potável. Em quase dez anos, a economia chegou a R$ 25 milhões. “Basicamente a gente tem uma economia de 30 a 40% na parte financeira”, diz o engenheiro de produção, Pedro Henrique Lemos.
O que é descartado volta para o rio e nem lembra aquela água suja. “A água é infinitamente melhor do que o que a gente captou porque dela já foi retirada toda a matéria orgânica, todos os sólidos em suspensão. Apenas ela carreia um pouquinho mais de sal do que a que a gente retirou”, fala o gerente operacional da Haztec, Dalva Santos.
Perto do local, fica uma das maiores estações de tratamento de esgoto do Brasil e também um dos mais inovadores projetos de reúso de água.
Pelo local passam dois mil litros de esgoto tratado por segundo, que seguem para o canal do Fundão e depois para a Baía da Guanabara. É água limpa, transparente, sem cheiro e inofensiva para o meio ambiente. Mas em breve toda a água terá outro destino. Mais nobre e rentável: o maior projeto de uso industrial de água tratada de esgoto do mundo.
O projeto da Cedae, Companhia de Águas e Esgoto do Rio de Janeiro, prevê a construção de uma adutora com quase 50 quilômetros de extensão que sai da estação de tratamento de esgoto da Alegria, no Rio de Janeiro, atravessa a Baía da Guanabara por debaixo do espelho d’água, até chegar ao Complexo Petroquímico, que está sendo construído pela Petrobras em Itaboraí, na região metropolitana. O contrato já foi assinado e prevê investimentos de R$ 1 bilhão. O sistema deve começar a operar em abril de 2015.
Mas antes de ser bombeada para o Complexo Petroquímico, a água ainda vai passar por outro nível de tratamento. “Qualidade excelente com o tratamento terciário, tratamento biológico, anaeróbico, aeróbico, com membranas, então é um modelo que, com um pequeno tratamento adicional poderia até ser bebido, afirma o presidente da Cedae, Wagner Victer.
O desafio de transformar esgoto tratado em água para as indústrias levou a Sabesp, a Companhia de Águas e Esgoto de São Paulo, a investir R$ 364 milhões em parceria com a iniciativa privada no projeto Aquapolo. Uma adutora levará, a partir do mês que vem, água tratada de esgoto da estação na capital paulista até o Polo Petroquímico do ABC. Dez indústrias receberão mil litros de água de reúso por segundo. Isso seria o suficiente para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes.
“A água de reúso tem características que atendem toda a necessidade das indústrias do Polo Petroquímico. É uma água pura, com muito poucos sais, e que não vai dar problema no produção industrial, na calderaria, é uma água, diria até que em determinados parâmetros são mais rigorosos que a água potável”, afirma o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato.
Em 2010 foram vendidos 800 milhões de litros de água de reúso Em 2011, 1,5 bilhão de litros. Para este ano, a previsão é de 1,7 bilhão de litros com um faturamento de R$ 3 milhões.

Na conta dos técnicos da companhia, quanto maior o uso de água tratada de esgoto, menor será a pressão sobre as nascentes e mananciais que abastecem São Paulo. “Nós não temos água suficiente para atender 20 milhões de habitantes e o crescimento anual de 200, 250 mil habitantes por ano nos faz buscar soluções cada vez mais distantes e cada vez mais caras.

Portanto, a água de reúso é uma solução que contribui para manter o abastecimento de água potável para 21 milhões de habitantes da Grande São Paulo”, explica Paulo.

Aos poucos, o Brasil vai descobrindo que a despesa com o tratamento de esgoto, poder virar receita. Um negócio com cara de século 21.

Fonte: Envolverde/Mundo Sustentável.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Norma para controle, uso e descarte de pilhas e baterias é fixada pelo Ibama.


Reportagem de Renata Giraldi, da Agência Brasil

O controle sobre a fabricação, o uso e o descarte de pilhas e baterias é fixado em decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (Ibama), por meio da Norma Instrutiva número 8, publicada ontem (4) no Diário Oficial da União. Pela norma, há uma série de regras para o descarte do material, o transporte, a reciclagem e o acondicionamento, assim como a determinação para que os fabricantes e importadores elaborem um relatório anual, informando em detalhes os procedimentos adotados.
Nas embalagens e manuais das pilhas e baterias, os fabricantes terão que informar sobre a adaptação às novas regras contidas na norma para o descarte e a reciclagem. O material deve ser descartado em coletas seletivas próprias, que podem ser encontradas em postos de vendas e em fábricas, mas jamais em lixos comuns.
No texto publicado hoje há uma ressalva sobre a necessidade de usar símbolos, como o “x” sobre os recipientes de lixo, para evitar o descarte do material nesses locais. Pela norma, a coleta de pilhas e baterias descartadas deve seguir uma série de regras, como o acondicionamento, a frequência do recolhimento do material, a destinação e as empresas envolvidas.
O rigor também existe para o transporte do material, informando sobre os envolvidos no processo e os locais de origem e destino. As empresas envolvidas na etapa da reciclagem também são submetidas à norma fixada pelo Ibama.
Devem ser informados os nomes das empresas fornecedora e responsável pela reciclagem, a destinação, o aterro utilizado pelas companhias e os procedimentos adotados no processo.
A preocupação das autoridades é com as ameaças à saúde e ao meio ambiente causadas pelas substâncias contidas nas baterias e pilhas. Nelas há, por exemplo, mercúrio, cádmio, chumbo, zinco-manganês e alcalino-manganês.
Há estudos que mostram que algumas substâncias podem levar à anemia, a problemas neurológicos e ao desenvolvimento de câncer. No meio ambiente, o descarte das pilhas e baterias pode atingir os lençóis freáticos, o solo e a alimentação.
Norma Instrutiva número 8 está publicada na Seção 1, páginas 153 e 154 do Diário Oficial.

Fonte: EcoDebate 05/09/2012

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Empresas veem lei como principal motivo para aplicar logística reversa, diz pesquisa.



Seis entre 10 empresas no Brasil consideram que atender as exigências legais é a principal motivação para aplicar a logística reversa, um dos principais mecanismos da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que prevê o recolhimento e descarte pelo fabricante dos resíduos pós-consumo (pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, eletroeletrônicos, embalagens, pneus e agrotóxicos para reciclagem).

A conclusão conta em levantamento do Instituto Ilos divulgado na quarta-feira, 22 de agosto, no Rio de Janeiro.
consciência ambiental e social foi o segundo fator mais apontado pelas empresas (47%) para a implantação da logística reversa. O levantamento também destaca que, embora alguns resíduos possam ser reutilizados na produção, apenas 21% dos entrevistados são fortemente motivados pela redução dos custos, enquanto 17% são impulsionados pelaaumento de receita.


De acordo com a pesquisa, apenas 23% das empresas nacionais têm iniciativas de coleta usando o consumidor para levar o resíduo ao ponto de entrega. Entre as companhias com esse tipo de iniciativa, mais da metade oferece algum incentivo ao consumidor para levar o resíduo a um ponto de coleta. Na maior parte das ações (42%), os resíduos devem ser entregues em pontos de venda do varejo, enquanto em 27% dos casos, os pontos de coleta são instalados na própria empresa.




questão geográfica está entre os principais obstáculos apontados pelas empresas para investirem na logística reversa. Elas alegam que, como o consumidor está espalhado pelo país, isso dificulta um pouco a operação e eleva custos, em razão da baixa escala de transporte.
A necessidade de instalação de pontos para a coleta dos resíduos foi apontada como barreira por 53% das companhias consultadas. Para 45%, falta mais apoio governamental para a coleta seletiva.
A consultora do Instituto Ilus, Gisela Sousa, informou ao EcoD que a pesquisa ouviu ao todo 101 empresas, situadas entre as 1.000 maiores do país. "Optamos por manter o sigilo quanto aos nomes dessas organizações para que elas se sentissem mais a vontade para fornecer as respostas", explicou a responsável pelo levantamento.



Outros pontos de destaque no estudo:
  • Para 39% das empresas consultadas, a maior motivação para implantar a logística reversa consiste em elevar o prestígio da marca e sua imagem com clientes;
  • Já para 32%, o principal fator é atender a demanda de ambientalistas;
  • Menos de 40% das indústrias do país possuem área específica para a logística reversa. Desse total, 60% estão pouco ou muito pouco dispostas a desenvolver essa área;
  • Cerca de 70% das consultadas querem gastar, “no máximo”, R$ 400 mil por ano para fazer uma operação de logística reversa.
Entenda a Logística Reversa

A gestão obrigatória de resíduos pós-consumo é um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010, e que estabelece a responsabilidade compartilhada entre governo, indústria, comércio e consumidor final pelo ciclo de vida do produto.

Pela lei, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes devem estruturar e implantar sistemas de logística reversa para o retorno de produtos e embalagens do consumidor, respeitando as características dos itens a ser descartados.

Os detalhamentos da implementação das medidas de logística reversa serão definidos nos editais previstos para serem publicados entre novembro e dezembro próximos, a partir da assinatura dos acordos setoriais com o governo.





sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Agrotóxicos e a poluição das águas



Maior parte dos agrotóxicos não atinge a praga alvo, contamina as águas subterrâneas e superficiais e traz graves riscos à saúde.


Por Larissa Stracci da Redação Ag Solve



A utilização de agrotóxicos é a 2ª maior causa de contaminação dos rios no Brasil, perdendo apenas para o esgoto doméstico, segundo dados do IBGE. Considerando que a agricultura é o setor que mais consome água doce no Brasil, cerca de 70%, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), pode-se dizer que além de sérios problemas para a saúde, os agrotóxicos também se transformaram em um grave problema ambiental no país.
De acordo com o engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Campinas, Mohamed Habib, “hoje o Brasil é o maior consumidor de agrotóxico do mundo, embora não seja o maior produtor”. Atualmente o Brasil utiliza 19% de todo defensivo agrícola produzido no planeta, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Além disso, mais de 99% dos venenos aplicados na lavoura não atingem a praga alvo. Então, pode-se dizer que mais de 99% dos agrotóxicos vão para os rios, para o solo, para o ar e para a água subterrânea”, afirma Habib.
Para o especialista em instrumentação ambiental e hidrológica, Mauro Banderali, “Embora a disponibilidade de água no Brasil seja imensa, é preciso garantir sua qualidade para as gerações futuras. Por isso, ao detectar o aparecimento de resíduos de agrotóxicos nas reservas de água subterrânea e superficial, é necessário tomar medidas para evitar o agravamento do problema. Quando a água é contaminada por defensivos agrícolas, sua detecção e descontaminação é mais difícil e custosa. De modo geral, esses químicos raramente são analisados ou removidos das águas, tornando-se uma ameaça à saúde de todos que a ingerem, particularmente para substâncias cumulativas”.
Consequências para a vida aquática
A água poluída com agrotóxicos irá prejudicar diretamente a fauna e a flora aquática. “A contaminação das águas pelos agrotóxicos tem efeito direto nos seres vivos que vivem na água, a biota de um modo geral. Se o veneno que chega nas águas for o herbicida, o efeito é direto e pode, por exemplo, matar as plantas aquáticas. Se o rio for contaminado por um veneno que mata animais, pode ocorrer a morte de algumas espécies de peixes menores”, explica o professor.
Além dos efeitos diretos, o carregamento de agrotóxicos pelos rios e lagos, também traz alguns efeitos indiretos para a biota aquática e para a saúde humana. “Alguns peixes armazenam os agrotóxicos no tecido adiposo e por isso, não sofrem danos diretamente. No entanto, quando nós compramos esse peixe contaminado com veneno e o ingerimos, algumas pessoas podem passar mal e sofrer algum tipo de intoxicação (envenenamento). Tem muita gente que compra peixes pequenos para dar para seu gato de estimação e o animal chega até a morrer”, alerta Habib.
Os compostos orgânicos, ao entrar em contato com a água, provocam um aumento no número de microrganismos decompositores. De acordo com o especialista Mauro Banderali, “além de estarmos criando um ambiente de restrição da vida, ainda criamos uma armadilha para as populações que se utilizam desta água, em razão de inúmeros defensivos agrícolas utilizarem em sua formulação compostos orgânicos altamente estáveis e lipossolúveis, depositando-se preferencialmente nas gorduras dos animais. Por ingestão da água ou de animais que dela dependem, estamos acumulando estes defensivos em gorduras do corpo que jamais serão eliminadas em vida”.
Ao serem carregados pelas águas superficiais, os agrotóxicos passam a fazer parte do do ciclo natural da natureza. Segundo o professor da Unicamp, “quando se trata de água corrente, o veneno vai fazer parte de um ciclo e um dia vai chegar ao oceano. Ainda hoje, análises nas geleiras polares mostram que naquele gelo existe DDT, um veneno proibido há muitos anos. Isso é pra se ter uma ideia do processo: saiu da lavoura através da chuva, passou pelos rios e mar e através das correntes marítimas, chegou às geleiras”, comenta Mohamed Habib.
O Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) foi o primeiro veneno moderno, sintetizado em 1874 e utilizado como pesticida a partir de 1939. Após a Segunda Guerra Mundial, foi usado em larga escala para combater os mosquitos da malária. O DDT foi banido de vários países na década de 70, após estudos comprovarem sua relação com casos de câncer. No Brasil, seu uso foi proibido na agricultura em 1984, porém sua produção em larga escala, uso como medicamento e exportação foram permitidos até 2009 ,conforme lei federal nº. 11.936 de 14 de maio de 2009. De acordo com o professor Mohamed Habib, “alguns tipos de venenos como é o caso dos organoclorados, venenos utilizados antigamente por produtores rurais, apesar de serem proibidos, continuam sendo aplicados e usados ilegalmente”. Os organoclorados são os inseticidas que mais persistem no meio ambiente, chegando a permanecer por até 30 anos.
Segundo o especialista em instrumentação ambiental, Mauro Banderali, é preciso conhecer a qualidade das águas nas regiões influenciadas pela agricultura. “Uma das maneiras de avaliar os impactos dos defensivos agrícolas nos recursos hídricos consiste no monitoramento desses resíduos. Atualmente, já existem tecnologias que monitoram e mensuram parâmetros físico-químicos na água e são aplicados no monitoramento geral da sua qualidade, porém moléculas químicas específicas, se faz necessário o apoio de laboratórios especializados para sua detecção.
Problema brasileiro
Para Mohamed, o Brasil é um país sem conscientização do problema em relação aos demais. “Estamos falando de países com uma situação melhor que a nossa: Europa, América do Norte e alguns países asiáticos como o Japão. Esses países têm consumidores muito mais conscientes em relação à utilização de agrotóxicos que cobram essa postura de seus governos. Portanto, os governos também são mais conscientes, não formam lobbys como no Brasil. O setor industrial também é mais consciente, não é como o Brasil que faz de conta que não está acontecendo nada e continua abusando da utilização dos agrotóxicos”, comenta o professor.
Segundo Habib, a utilização de agrotóxicos hoje é uma prática condenada, “porque a ciência coloca à disposição vários outros métodos de produção. Basta investir. Basta a sociedade humana valorizar um pouco mais a vida, pois hoje estamos pagando muito caro pelas irresponsabilidades do passado”.
Ingestão de agrotóxicos e saúde
Pela água ou através do próprio consumo de alimentos, a ingestão de venenos agrícolas pode ocasionar diversos tipos de doenças, seja ela em grandes ou pequenas quantidades. Conforme explica o professor da Unicamp e engenheiro agrônomo, Mohamed Habib, “dependendo do tipo de veneno, os efeitos para a saúde humana são morte, envenenamento estomacal, problemas no sistema nervoso, convulsões, lesões nos rins e cânceres. Esse efeito pode ser agudo, imediato ou crônico, a curto, médio ou longo prazo. As consequências podem aparecer também nos filhos e netos dessa pessoa, principalmente quando se trata das doenças cancerígenas e tumores”.

Fonte: Redação Ag Solve/EcoDebate

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Manejo de resíduos pode gerar US$ 570 mi em créditos de carbono.


Além de possibilitar a redução de 54 milhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE) por ano, o manejo adequado dos resíduos sólidos no Brasil também pode render US$ 570 milhões em créditos de carbono, segundo um estudo feito na Universidade de Utrecht (Holanda), encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

O trabalho levou em conta o cenário de mudanças estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, na comparação com o padrão atual de descarte. A pesquisa considerou também as estimativas do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para as emissões do setor, e o padrão da composição dos resíduos sólidos no Brasil elaborado pela Abrelpe.

Em 2030, segundo projeção do estudo, 36% do "lixo seco" deverá ser reciclado, e 53% do lixo orgânico deverá ser compostado. O trabalho considera também o aproveitamento de 83% do gás gerado nos aterros para produção de energia elétrica. Com tudo isso, deixaria de ser emitido o equivalente a 54 milhões de toneladas de CO2 por ano - redução de 56% em relação à projeção se nada fosse feito.

"Além do ganho climático, essa diminuição geraria créditos de carbono que poderiam render US$ 570 milhões", destacou ao Estadão Carlos Silva, diretor executivo da Abrelpe. O trabalho também considerou um cenário mais ousado, com padrões semelhantes aos europeus: reciclagem maior, compostagem de 80% e incineração do que não for reciclado, gerando energia.

A redução poderia chegar ao equivalente a 82 milhões de toneladas de CO2 por ano, com ganho em créditos de US$ 1,3 bilhão. "E nesse cálculo nem foram considerados os ganhos com a venda da reciclagem. A ideia é que essas atividades poderiam gerar recurso para o próprio setor melhorar", ressaltou Silva.

Cenário sem mudanças

Em 2011, 51,4% dos resíduos brasileiros eram matéria orgânica (passível de compostagem), 31,9% eram recicláveis e 16,7% entravam na categoria outros (em geral rejeitos que não têm nenhum aproveitamento).

Esse quadro foi complementado com o dado de que 42,44% dos resíduos têm destino inadequado (vai para lixões) e só 3% são reciclados. Pelos cálculos dos pesquisadores, em uma projeção para 2030, mantidas essas condições, as emissões do setor seriam equivalentes a 95,5 milhões de toneladas de CO2 por ano.

Entenda os créditos de carbono

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), no qual os créditos de carbono estão inseridos, foi estabelecido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto com o objetivo de ajudar os países desenvolvidos (pertencentes ao Anexo I do documento) a atingir suas metas de redução dos gases causadores de efeito estufa.

Ao mesmo tempo, a iniciativa pretende beneficiar as nações em desenvolvimento que, ao colocarem em prática os projetos de MDL, podem vender os créditos de carbono gerados a partir de então para os governos ricos, aplicando as quantias no combate as mudanças climáticas.


Fonte: Redação EcoD

Taxa de urbanização no Brasil será de 90% em 2020, prevê relatório.



A taxa de urbanização no Brasil passará dos atuais 84,5% para 90% até 2020, segundo o estudo inédito Estado das Cidades da América Latina e Caribe, lançado na terça-feira, 21 de agosto, no Rio de Janeiro, e produzido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat).

No México e nos países da região Andino-Equatorial, o número atual não passa de 85%. O Caribe e a América Central têm taxas de urbanização mais baixas, mas o aumento é constante, com perspectiva de chegar a 83% e 75% da população urbana em 2050, respectivamente. De acordo com o estudo, a população urbana da América Latina chegará a 89% em 2050.

Além de informações sobre população e urbanização, o estudo apresenta dados sobre o desenvolvimento econômico, habitação, serviços básicos urbanos, meio ambiente, gestão de riscos e governança urbana.

Conforme o documento, a transição das pessoas para a realidade urbana na América Latina é caracterizada pela velocidade. "Proporcionar melhores condições de trabalho e de vida para amplos setores da população tem gerado um alto custo social, econômico e ambiental", adverte o texto.

“Para avançar é preciso um modelo de cidades mais sustentáveis e compactas, que dotem nossas zonas urbanas de maior mobilidade e eficiência energética. É preciso reafirmar o interesse coletivo pelo planejamento urbano, trabalhar em políticas de coesão social e territorial", defendeu o diretor executivo do ONU-Habitat, Joan Clos.

Outras conclusões do documento:

•A América Latina e o Caribe reúnem quase 80% de sua população (468 milhões de pessoas) em áreas urbanas e, desse número, a metade reside em cidades de menos de 500.000 habitantes;

•Mais de dois terços da riqueza da região procede das cidades. Ademais, cresce o potencial e a participação econômica de centros urbanos secundários;

•Em que a pese a diminuição das taxas de pobreza na região, uma em cada quatro pessoas das áreas urbanas é pobre e os índices de desigualdade estão situados entre os mais altos do mundo;

•O escasso planejamento e as limitações das políticas urbanas têm tido como consequência a expansão das cidades de forma insustentável, com ausência de espaços públicos acessíveis para todos, privilegiando o automóvel em detrimento do transporte comum e reforçando a segregação social;

•As cidades registram altos índices de violência e insegurança, que parecem ir além da capacidade de resposta dos governos. Ainda que a violência não seja registrada em todas as áreas e deixe de ser homogênea em uma mesma cidade, a gravidade de suas consequências exige esforços coordenados de todos os níveis de governo;

•São constatadas iniciativas importantes para a proteção ambiental, redução das emissões de gases de efeito estufa e prevenção e resposta aos desastres naturais. Contudo, existe pouca consciência de como a urbanização mal planejada aumenta o risco de desastres.

O relatório também assinala que, depois de décadas em que os governos pareciam incapazes de responder as demandas do crescimento urbano acelerado, uma nova transição é anunciada, na qual o desafio será tanto responder as necessidades em termos de quantidade, quanto de qualidade, equidade e sustentabilidade.

Ao destacar que existe abundante conhecimento e experiência na região para impulsionar políticas urbanas orientadas ao desenvolvimento econômico e inclusão social, o documento reforça que para avançar nessa direção é preciso investir mais esforços no monitoramento das cidades, além de adaptar os mecanismos de planejamento, gestão e governo às novas realidades do desenvolvimento urbano.


Fonte: EdoD

domingo, 19 de agosto de 2012

Quase a metade da população das 100 maiores cidades do Brasil ainda não conta com a coleta de esgotos

Pesquisa aponta que serviço de saneamento básico é precário em todo o país – Os novos prefeitos e vereadores irão enfrentar grandes desafios durante o mandato para melhorar a qualidade de vida dos moradores de suas cidades. Um dos maiores é o precário serviço de saneamento básico, problema comum a praticamente todos os 5.565 municípios brasileiros.


Por Marli Moreira



Quase a metade da população das 100 maiores cidades do Brasil ainda não conta com a coleta de esgotos. Os dados foram divulgados ontem (16) pelo Instituto Trata Brasil e referem-se a levantamento feito em parceria com a empresa GO Associados.

O Instituto Trata Brasil é uma OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – que tem o objetivo incentivar uma mobilização nacional para que o país possa atingir a universalização do acesso à coleta e ao tratamento de esgoto.

Segundo a pesquisa, diariamente, são despejados em torno de 8 bilhões de litros de fezes, urina e outros dejetos nas águas dos córregos, dos rios e do mar. E pouco mais de um terço ou 36,28% da coleta de esgoto passa por tratamento.

Com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto Trata Brasil informou que nessas 100 cidades vivem 40% dos habitantes do país ou 77 milhões de um total de 191 milhões de pessoas. Mais de 31 milhões moram em lugares onde o esgoto corre a céu aberto.

Embora esse volume seja expressivo, o nível de cobertura supera a média nacional com a coleta existente em 59,1% dos 100 municípios ante 46,2% quando se inclui as demais cidades brasileiras. Em 34 cidades, mais de 80% da população têm o esgoto coletado e entre estas cinco atendem todo o município: Belo Horizonte (MG), Santos (SP), Jundiaí (SP), Piracicaba (SP) e Franca (SP).

A pesquisa aponta que em 32 municípios, a coleta varia entre 0% a 40% e em 34, de 41% a 80%. Quanto ao esgoto tratado foi verificado que em 40 cidades, este serviço não ultrapassa a 20% da coleta. Já o nível de excelência ou acima de 81% só existe em seis localidades: Sorocaba (SP), Niterói (RJ), São José do Rio Preto (SP), Jundiaí (SP), Curitiba (PR) e Maringá (PR).

Em outras nove, o índice supera os 70%: Ribeirão Preto (SP); Londrina (PR), Uberlândia (MG), Montes Claros (MG), Santos (SP), Franca (SP), Salvador (BA), Petropólis (RJ) e Ponta Grossa (PR).

Na média, os 100 municípios destinaram 28% de sua receita em obras de saneamento a maioria num total de 60 não chegou a utilizar 20% dos recursos na ampliação dos serviços. E entre as oito cidades que aplicaram mais de 80% da verba os destaque são : Ribeirão das Neves (MG), Recife (PE), Teresina (PI), Praia Grande (SP) e Vitória (ES).

Em relação à distribuição de água tratada, o serviço é oferecido por 90,94% das cidades, acima da média nacional (81,1%). Mas a pesquisa mostra que ainda faltam melhorias porque em 11 cidades, o atendimento está abaixo de 80% da população.


Fonte: Agência Brasil/EcoDebate



domingo, 5 de agosto de 2012

Água dura e seus riscos



Água com alto teor de cálcio e magnésio pode causar danos à saúde; e trazer problemas para a indústria, mas tecnologia permite identificação e tratamento





A utilização da água dura, água que contém elevada quantidade de sais, pode trazer diversos problemas tanto para a saúde da população quanto para o uso industrial. São classificadas como duras as águas que contém elevada concentração de íons minerais de cálcio e magnésio dissolvidos. Os íons são provenientes de depósitos subterrâneos, como calcário ou dolomita que agregam à composição da água uma quantidade excessiva de cálcio e magnésio, na forma de bicarbonatos, nitratos, cloretos e sulfatos. Em menor importância, o zinco, estrôncio, ferro e alumínio também podem ser levados em conta na aferição da dureza. Considera-se água dura aquelas com teores acima de 150 mg/l de cálcio e magnésio e água mole, as que possuem concentrações abaixo de 75mg/l.

De acordo com o Gerente da Divisão de Qualidade das Águas e do Solo da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), Nelson Menegon Júnior, a principal fonte de dureza nas águas é quando ocorre a passagem pelo solo e acontece a dissolução da rocha calcária pelo gás carbônico da água, “desta forma, as águas subterrâneas geralmente apresentam dureza mais elevada do que as águas superficiais”. Segundo Menegon, “O mapa geológico do território brasileiro permite constatar solos com características de dureza no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, mas o problema é muito mais grave nos Estados Unidos e Europa, onde muitas regiões estão sujeitas a graus bastante elevados de dureza nas águas devido à composição do solo”.

Conforme explica a engenheira química do Setor das Águas Subterrâneas e do Solo da Cetesb, Márcia Sayuri Ohba, a dureza elevada afeta principalmente a eficiência de limpeza dos detergentes e sabões, exigindo seu consumo excessivo nas lavagens domésticas. Além do produto final, esta característica também afeta o processo de produção das fábricas. “Para o abastecimento industrial, a dureza na água pode causar problemas nos sistemas de água quente como caldeiras e trocadores de calor, pois com o aumento da temperatura os carbonatos precipitam-se e incrustam na tubulação, que necessita de maior manutenção. Caso contrário, essa incrustação pode causar entupimentos, perda de eficiência e pode chegar até mesmo a explodir. Portanto, o correto é realizar o tratamento de águas muito duras, antes de sua utilização”, afirma Márcia.

Segundo a engenheira química da Cetesb, não existem estudos científicos conclusivos relacionando a dureza da água com problemas de saúde humana. “No entanto, existem indícios de que o consumo de água dura possa causar uma maior incidência de casos de cálculo renal”. De acordo com Josi Tomaz, engenheira química da empresa Geoaqcua, as concentrações elevadas de cálcio e magnésio produzem na água um gosto salobro e efeitos biológicos adversos, não eliminam a sede e podem ter efeitos laxativos. “As pessoas expostas a quantidades de magnésio maiores do que estão acostumadas podem sofrer distúrbios intestinais temporários”, explica ela.

Em relação ao padrão de potabilidade para a dureza da água, segundo Menegon, “a portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde estabelece como padrão, na somatória das concentrações de cálcio e magnésio, o valor máximo permissível de 500 mg/l”. Josi Tomaz afirma que em uma boa água potável contém apenas até 50 mg/l. “Dependendo da concentração, a água passa a ser classificada como água branda (0 – 40 mg/l), água moderada (40 – 100 mg/l), água dura (100 – 300 mg/l), água muito dura (300 – 500 mg/l) e água extremamente dura (com teores acima de 500 mg/l)”, detalha a engenheira química.

Tratamento

Com a tecnologia disponível já é possível identificar e tratar a dureza da água. Para identificar o cálcio e magnésio, a Ag Solve disponibiliza as sondas multiparamétricas da linha Aquaread, capazes de medir a quantidade de elementos presentes na água. “O Aquaread pode contribuir para identificar e monitorar com excelência a água dura com os sensores de TDS (Totais de Sólidos Dissolvidos) e salinidade”, garante Josi. As sondas AP 2000 e AP 7000 podem ser utilizadas para monitoramento portátil, semi-fixo ou telemétrico da qualidade da água. “Por meio dessa tecnologia é possível avaliar de 11 a 17 variáveis, dependendo da configuração, e assim medir diversos outros parâmetros (turbidez, clorofila A, algas azuis, amônio e amônia, cloretos, fluoretos, nitratos, etc)”, explica a técnica da Geoacqua.

O tratamento para retirar a água dura é conhecido como abrandamento (descalcificação) e consiste na passagem da água por resinas trocadoras de íons que capturam os cátions Ca+2 (cálcio) e Mg+2 (magnésio). Segundo Josi Tomaz, engenheira química da GeoAcqua, “os descalcificadores são equipamentos semelhantes aos filtros mas que possuem em seu interior resinas permutadoras que retém o cálcio e o magnésio”.

Fonte: AgSolve.



quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cemitérios como Fonte de Contaminação Ambiental

Infraestrutura superada dessas unidades pode afetar recursos hídricos e disseminar microrganismos ameaçadores para a saúde


por Pedro Kemerich, Fernando Ernesto Ucker e Willian F. de Borba


Em razão do crescimento da população e contaminação das águas superficiais, o que compromete os padrões de potabilidade a custos razoáveis, o abastecimento de regiões quase sempre de maior densidade demográfica é um desafio crescente e de alto investimento, limitando a exploração de fontes hídricas subterrâneas.

O aumento populacional também exige áreas cada vez maiores para sepultamento de corpos humanos. Assim, áreas destinadas à implantação de cemitérios geralmente são escolhidas entre as de baixa valorização econômica, quase sempre em regiões de reduzido desenvolvimento socioeconômico. Essas áreas muitas vezes têm características geológicas e hidrogeológicas não avaliadas devidamente, o que pode levar a problemas sanitários e ambientais de enorme complexidade. Cemitérios são áreas que geram alterações no meio físico e por isso devem ser considerados fontes sérias de impacto ambiental.

No Brasil, a maioria dos cemitérios é muito antiga e, exatamente por isso, descompassados em termos de estudos técnicos e ambientais. Considerando essa situação, o Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou, em 3 de abril de 2003, a Resolução nº 335 estabelecendo que todos os cemitérios horizontais e verticais deverão ser submetidos ao processo de licenciamento ambiental. Mas que impactos podem ser produzidos por cemitérios?

CONTAMINAÇÃO DO SOLO

Os cemitérios, como qualquer outra instalação que afete as condições naturais do solo e das águas subterrâneas, são classificados como atividade com risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o solo em que estão instalados funciona como um filtro das impurezas depositadas sobre ele. O processo de decomposição de corpos libera diversos metais que formam o organismo humano, sem falar nos diferentes utensílios que acompanham o corpo e o caixão em que ele é sepultado. O principal contaminante na decomposição dos corpos é um líquido conhecido como necrochorume, de aparência viscosa e coloração castanho-acinzentada, contendo aproximadamente 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substancias orgânicas degradáveis.

Em solos com alta umidade há um processo conhecido como saponificação pelo qual ocorre a quebra das gorduras corporais e a liberação de ácidos graxos. Esse composto liberado exibe alta acidez, o que inibe a ação de bactérias putrefativas, retardando assim o mecanismo de decomposição do cadáver e tornando o mecanismo tanto mais duradouro quanto mais contaminante.

Urnas funerárias confeccionadas em madeira estão fora das fontes signifi cativas de contaminação do solo, ao contrário do que ocorre com as metálicas. A menos que conservantes da madeira contenham metais pesados, principalmente cromo, ou substâncias do grupo dos organoclorados, como pentaclorofenol ou tribromofenol. Os caixões construídos com madeiras não tratadas se decompõem em curtos períodos, permitindo uma rápida disseminação de líquidos da putrefação dos corpos. Caixões de metal, pouco utilizados, no entanto, podem provocar contaminação do solo por metais como ferro, cobre, chumbo e zinco. Outra fonte significativa de impactos contaminantes por caixões funerários é a prata, com frequência utilizada nas alças. Na decomposição ela é liberada no ambiente.

Além dos metais convencionais, outro contaminante significativo é a radioatividade. Corpos que, antes da morte, ou mesmo depois dela, passaram por aparelhos com emissão de radiação podem estar contaminados. Nesse caso essa radioemissão também é liberada no solo.

Durante o processo de decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns tipos de gases, entre eles principalmente os característicos da decomposição anaeróbica, como o gás sulfídrico (H2S), identifi cados popularmente como cheiro de “ovo podre”, incluindo dióxido de carbono, gás carbônico (CO2), metano (CH4), amônia (NH3) e hidrato de fósforo, a fosfina (PH3). Além desses elementos característicos, outros gases são emitidos, caso dos óxidos metálicos (titânio, cromo, cádmio, chumbo, ferro, manganês, mercúrio e níquel entre outros) lixiviados dos adereços das urnas mortuárias, incluindo formaldeído e metanol utilizados na prática do embalsamento.



Fonte: Uol/ScientificAmericanBrasil/Duetto,edição 123 - Agosto 2012






Mais de 90% dos municípios podem ficar sem recursos federais para saneamento e limpeza urbana.


Por Carolina Gonçalves, da Agência Brasil


Até o dia do prazo final definido pela Lei 12.305/2010, menos de 10% dos municípios brasileiros entregaram o Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, prevendo formas de manejo do lixo em cada cidade. A partir de hoje (2), os repasses de recursos federais para as áreas de saneamento e limpeza urbana serão suspensos para as cidades que não apresentarem o plano.

A obrigatoriedade está prevista na lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010. Apesar do prazo de dois anos, apenas as prefeituras de 400 cidades e os governos de nove estados e do Distrito Federal conseguiram entregar o planejamento.


Segundo o Ministério do Meio Ambiente, do total de planos entregues até hoje, 291 já foram aprovados e contratados. Neste total, estão incluídos os planos estaduais que foram concluídos pelos governos de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, de Mato Grosso, Sergipe, da Bahia, de Santa Catarina, do Amazonas, de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal.

Com a aprovação e contratação dos planos, o repasse de recursos federais permanece normalizado. Outros 197 planos municipais ainda estão em análise.

Os planos de gestão de resíduos devem incluir, por exemplo, a previsão de audiências públicas com a comunidade local para discutir questões relacionadas ao lixo e a estratégia para a erradicação dos lixões e construção de aterros.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos também obriga a desativação de todos os lixões do país até 2014. Como alguns municípios enfrentam dificuldades na execução dessa norma, justificadas, principalmente, pela falta de recursos e burocracia, o modelo de planos intermunicipais têm sido incorporado por alguns estados que optaram pelo estabelecimento de consórcios entre duas ou mais cidades.

Dados do governo federal apontam que mais da metade dos 5.564 municípios brasileiros do país não dão destinação correta para o lixo.



Fonte: EcoDebate

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sistema combina dupla filtração, oxidação e adsorção para remover cianotoxinas que contaminam água




Combinação de dupla filtração, oxidação e adsorção retira toxinas não removidas por processos convencionais.


Por Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias


O abastecimento de água vem sendo afetado pela eutrofização, processo em que a ocupação das áreas de mananciais gera resíduos líquidos e sólidos que são fontes de nutrientes para cianobactérias produtoras de toxinas que iniviabilizam o uso para consumo humano. Para enfrentar esse problema, pesquisa da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP desenvolveu e avaliou um sistema de tratamento baseado nas técnicas de dupla filtração, oxidação e adsorção. O método testado pelo engenheiro e professor Marco Antonio Calazans Duarte conseguiu maior eficiência na remoção de toxinas adequando a qualidade da água às exigências do Ministério da Saúde.

“A ideia foi criar um processo com tecnologias simples e robusto, a custo acessível, pois o uso de uma única técnica não consegue remover as cianobactérias e suas toxinas (cianotoxinas) em sua totalidade”, diz o engenheiro. Antes da dupla filtração é realizada uma pré-oxidação, em que é adicionado um oxidante (na pesquisa utilizou-se cloro, mas também podem ser adotados o dióxido de cloro, ozônio e permanganato de potássio) que reage com a matéria orgânica e toxinas presentes na água.

Em seguida, acontece o processo de coagulação, que visa neutralizar as cargas elétricas das partículas sólidas existentes, para facilitar a atração entre elas. “Depois da pré-oxidação e da coagulação, a água passa por um filtro de pedregulho, em fluxo ascendente, para a remoção de resíduos sólidos grosseiros, e por outro filtro, de areia, em fluxo descendente, sendo então encaminhada para a oxidação intermediária ou adsorção em carvão ativado”, conta o professor. A pesquisa teve a orientação dos professores Luiz Di Bernardo e Ruth de Gouvêa Duarte, da EESC.

Na etapa de adsorção, a água passa por um filtro de carvão ativado, feito com casca (endocarpo) de côco, e atrai as toxinas que não conseguem ser removidas pelos métodos convencionais de tratamento. “Por uma questão de facilidade operacional, é recomendado o uso do carvão ativado granulado, com grãos de tamanho entre 0,5 e 1 milímetro”, aponta Calazans Duarte. “No entanto, cabe lembrar que o com carvão ativado pulverizado, com grãos menores, também foram observados excelentes resultados”.

Toxinas

De acordo com o professor, o problema da eutrofização da água atinge todo o Brasil, motivado por causas relacionadas com as atividades antrópicas, como urbanização, agropecuária, descarte de resíduos sólidos (lixo urbano) e desmatamento, entre outras. “Esses fatores favorecem o desenvolvimento de cianobactérias, que são microalgas com grande capacidade de sobrevivência”, diz o engenheiro. “Apesar de produzirem oxigênio, o que beneficia o ecossistema aquático, para se proteger de predadores herbívoros elas lançam nas águas as cianotoxinas, substâncias que provocam problemas de saúde em seres humanos e animais”.

Os processos avaliados na pesquisa conseguiram atingir os níveis de qualidade da água para consumo humano exigidos pelo Ministério da Saúde na Portaria 2914/2011. “Antes do tratamento, a água bruta estava totalmente inadequada, devido a presença das toxinas e outros resíduos”, afirma Calazans Duarte.

O sistema pode ser implantado nas estações de tratamento de água por intermédio de pequenas reformas. “Muitas instalações estão em funcionamento há mais de 20 ou 30 anos sem passar por mudanças e, mesmo com a maior degradação dos mananciais causadas pela ocupação humana, a dupla filtração pode ser implantada com custos inferiores aos processos convencionais”.

Para testar o método, uma estação de tratamento de água em escala reduzida foi montada no Açude Gargalheiras, represa localizada na cidade de Acari, sertão do Rio Grande do Norte. Construída em 2007 e 2008, a estação operou com vazões entre entre 175 e 1050 litros de água por hora até 2009. “Esse experimento permite extrapolar os dados para estimar os resultados de um projeto em escala real”, ressalta o engenheiro. “A iniciativa deverá ser utilizada na melhoria de estações de tratamento no Rio Grande do Norte e em outros Estados, cujos mananciais tenham características semelhantes às que foram verificadas no estudo”. Após a pesquisa, a estação foi transferida para a cidade de Extremoz, próxima a Natal, capital do Rio Grande do Norte, para estudos da utilização do sistema nos mananciais da região.


Fonte: EcoDebate