sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Destinação incorreta de pneu e óleo pode contaminar água.

Os pneus inservíveis, isto é aqueles que estão “carecas” ou sofreram algum tipo de dano que inviabiliza o uso com segurança, transformaram-se nos últimos anos em um grande passivo ambiental devido à irresponsabilidade de diversos agentes desta cadeia, que deixaram pneus em margens de rios, lagos, estradas, entre outros locais.
De acordo com Bruno Zanatta, especialista em engenharia ambiental da DPaschoal, o pneu é um grande vilão em questões ambientais. Sua queima, quando não controlada, libera diversos poluentes e componentes químicos pesados na atmosfera, sendo que alguns são classificados como os mais tóxicos já produzidos pelo homem. “No local onde foram queimados além das cinzas, vai permanecer uma parte líquida, que pode contaminar águas subterrâneas. Outro ponto que merece destaque na destinação incorreta é o abandono de pneus em lugares públicos, como beira de estradas e terrenos baldios, onde estará sujeito a criação de vetores de doenças, como a dengue”, afirma ele.
Mas além dos pneus, devemos nos preocupar com o descarte incorreto de óleos lubrificantes. Você sabe qual o destino do óleo retirado do seu veículo? Sabe qual o impacto para o meio ambiente? O óleo ao cair no solo pode impactar negativamente ao inutilizar totalmente uma agricultura, pode ainda atingir lençóis freáticos e aquíferos. Apenas uma gota de óleo pode chegar a contaminar até 1.000 litros de água.
O engenheiro ambiental, Bruno Zanatta, dá dicas sobre como o consumidor pode contribuir pelo meio ambiente.
– Tanto para a troca de óleo quanto para os pneus de seus veículos, os consumidores, devem buscar empresas que tenham uma preocupação não só com a venda do produto, mas também com todo o ciclo da logística reversa dos resíduos gerados no processo. A logística reversa é o conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação. O prestador de serviço deve ter como parceiras, empresas devidamente homologadas pelos órgãos competentes para a destinação final destes.
-Para a troca de óleo, recomenda-se que os consumidores observem o manual do veículo, onde consta a periodicidade da troca e o lubrificante específico do carro. O acompanhamento do nível do óleo, pode ser feito a “olho nu”, com a vareta de óleo, onde a marcação do produto deve estar acima da indicação mínima.
-Em relação aos pneus, a principal recomendação é observar o índice de desgaste do pneu, o TWI. O TWI é como um pequeno degrau entre as ‘faixas de borracha’ e que informa se o pneu está precisando de troca ou não. Se a medição marcar 1,6 mm, é sinal que está na hora de substituí-lo. Outros pontos que podem ser observados para a troca é se as regiões dos ombros dos pneus (regiões laterais) estão desgastadas, provavelmente indicando que o pneu rodou com uma baixa pressão, e também se um lado do pneu está mais desgastado que o outro, apontando um desalinhamento do veículo.
Com o advento de legislações ambientais, a questão tornou-se um pouco mais complexa e controlada. A principal é a CONAMA 416/2009, na qual é exigida a comprovação da destinação ambientalmente correta de 70% dos pneus produzidos ou importados (30% é considerado como um fator de desgaste do pneu), ou seja, se um fabricante produzir ou um importador (adquirir ou comprar) importar 1000 quilos de pneus, ele será obrigado, em um prazo máximo de 3 meses, comprovar a destinação de 700 quilos de pneus.
No Relatório de Pneumáticos 2014, disponibilizado pelo IBAMA e que contempla dados consolidados de 2013, esperava-se a destinação nacional de 535.267.800 quilos, mas os fabricantes e importadores comprovaram a destinação de 491.653.020 quilos, não atingindo a meta. A Dpaschoal, maior empresa de varejo e distribuição de produtos automotivos do país, tem um compromisso com a sociedade, mesmo antes da obrigatoridade da comprovação de destinação há 24 anos, já tendo destinado mais de 3.000.000 de pneus. No ano de 2013, cumpriu 100% de sua meta perante o IBAMA, destinando 2.164.199 quilos.
“O último relatório de pneumáticos disponibilizado pelo IBAMA nos mostra que desde que criado (em 2010), os fabricantes vem cumprindo sua meta, enquanto que os importadores não chegaram a 100% em nenhum destes anos. Ainda podemos observar uma grande queda na destinação nos últimos dois anos dos importadores (de 79,58% para 62,70%), o que provavelmente acarretará em uma fiscalização intensa nestes por parte do IBAMA neste ano de 2015”, completa Bruno.
No Brasil são mais de 40 empresas homologadas pelo IBAMA para realizar diversos tipos de destinação dos pneus. Como tecnologias de destinação ambientalmente adequadas, o IBAMA considera a utilização da borracha como combustível em fornos de cimenteiras (54,40%), granulação da borracha para ser comercializada como matéria-prima (33,68%), laminação dos pneus para utilização com cintas de sofá e outras utilizações (8,92%) e outras como industrialização do xisto, pirólise, regeneração da borracha (3%).
A fiscalização da destinação do óleo também é legalizada pelo CONAMA, artigo 11º nº 363, que obriga o Ministério do Meio Ambiente a manter e coordenar um grupo de monitoramento permanente. Além disso, há o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Lubrificantes (PMQL).
O pneu e a Dengue
Segundo dados da Revista Exame, os casos de dengue triplicaram no mês de janeiro em São Paulo. É fundamental que toda a população tome alguns cuidados com relação ao pneu descartado:
* Verifique se no jardim ou quintal de sua casa ou na área comum do préidio há pneus descobertos;
* Procure descobrir se há algum terreno baldio no entorno de sua residência, com pneus abandonados
Em caso positivo é necessário agir
* Fure os pneus para que não acumule água dentro
* Descarte os pneus em locais adequados que se preocupem em dar uma destinação correta ao produto
São medidas simples que vão colaborar para a preservação do meio-ambiente

Fonte: EcoDebate

Crise hídrica: “São Paulo está sentada em água e nós ignoramos nossa história”

por Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz

Com o fim do verão, se aproxima a seca típica dos meses de outono e inverno. Se as chuvas que caíram acima da média nos últimos meses aliviaram o estresse hídrico do Sistema Cantareira, o prognóstico é que, nos próximos meses, sem as águas de março, faltará água e São Paulo estará diante de um colapso inédito: uma cidade de mais de 10 milhões de habitantes ficará sem seu recurso mais fundamental.
O governo do Estado, depois de passar meses – coincidentemente eleitorais – negando o racionamento, já anuncia que poderão começar rodízios de 5 dias sem abastecimento para dois com, o temido 5×2. Toda a cidade já sente os efeitos da falta d’água, sendo que nas periferias, é ainda mais acentuado. Diante deste cenário, o que foi feito e o que resta fazer? Para começar a responder a algumas dessas perguntas, a Aliança pela Água e Assembléia Estadual da Água, realizaram, na noite de terça-feira (24/2), no vão livre do Masp, a Aula Pública “Água: Crise, Soluções e Mobilizações Sociais”.
Ponto positivo
Lembrando o velho dito de que as crises também são momentos de oportunidade, Cesar Pegoraro, da ONG SOS Mata Atlântica perguntou ao público, de cerca de 150 pessoas, se eles agora sabiam de onde vinha a água que os abastecia. Diante da resposta afirmativa da maioria, reforçou que hoje a relação das pessoas com a água na cidade mudou.
“Nós estamos sentados entre a nascente do Saracura e do Iguatemi, dois córregos que nós tapamos, matamos. São Paulo está sentada em água e nós ignoramos nossa história, não aprendemos a respeitar a água. A nossa legislação prevê rios de tipo 4, ou seja, que são usados para gerar energia e diluir esgoto. O desrespeito está previsto em lei”, avalia.
Para ele, a crise poderia ser usada para investimento público em cisternas residenciais, que diminuiriam o consumo residencial, e para aumentar a participação popular na gestão da água. “Nós não temos que buscar água cada vez mais longe. Temos que restaurar a qualidade aqui dentro. São Paulo tem um número enorme de nascentes: porque elas nunca foram aproveitadas para uso da população?”, questiona.
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Mananciais e habitação popular

Na zona sul de São Paulo, uma área com quase um milhão de metros quadrados, conhecida como Parque dos Búfalos, enfrenta uma batalha e um grande dilema: foram anunciadas a construção de 193 torres de habitação popular em cima da área que serve como o único parque da região para mais de 500 mil pessoas e que abriga sete nascentes e mata atlântica originária e preservada. Essa luta já foi retratada pelo jornal El País. Para Wesley Rosa, morador da região e ativista do Parque dos Búfalos, a construção dos conjuntos seria um contrassenso na época de crise hídrica.
A visão de Wesley é reforçada pela urbanista e professora da Faculdade de Urbanismo e Arquitetura da USP, Paula Santoro. Segundo ela, há que se haver um esforço para preservação das áreas verdes da zona sul, que deve caminhar em conjunto com a oferta de melhores condições de vida das mais de um milhão de pessoas que vivem em situação precária naquela zona.
“Essa ideia de sempre ir levando para longe as habitações populares sempre foi criticada por nós urbanistas. Temos o centro com muitas habitações ociosas: porque não trazer para o centro e preservar a área de mananciais? O centro não pode ter só shopping”, defende Santoro, ressaltando é preciso reconhecer o direito à moradia das pessoas. “É uma Guarulhos que vive lá. Tem que haver uma política que reconheça essas áreas e dê condição para que se produza água com quantidade e qualidade, preservando as fontes”, afirma a urbanista.
Colapso e repressão
Com fogo se chama água? Essa foi uma das soluções dos moradores da periferia de Itu para enfrentar, no último ano, o racionamento. Após muitas reclamações e abastecimento deficitário nas áreas pobres, foi apenas com o recurso de barricadas de fogo que os moradores conseguiram que a Prefeitura atendesse as demandas dos moradores da cidade do interior de São Paulo.
“Para começo de conversa há que se falar que, como em São Paulo, nossa gestão de água foi privatizada”, aponta Pedro Scavacini, do Movimento Itu Vai Parar, “e a concessionária, que deveria sanar a falta d’água, nunca cumpriu esse papel”. Ele relata que, em 2013, começaram os primeiros cortes e a água ia para as casas a cada 72 horas. “Isso quando chegava”.
“A falta d’água alterou drasticamente o cotidiano da cidade. As pessoas não tinham como suprir as necessidades mais básicas e corriqueiras. A água encareceu, os caminhões pipa escacearam. Isso gerou, numa cidade pacata, conservadora e católica, enormes manifestações que foram iniciadas por idosos, mulheres e crianças. E essas mesmas manifestações foram duramente reprimidas”, relata Scavacini.
O que farão dez milhões de sedentos?
“As situações que a gente viu em Itu serão muito mais graves numa metrópole com 10 milhões de pessoas. Estamos falando de saque, desagregação social, violência. Enfim, estamos falando de uma situação que nunca foi vista no mundo”, analisou o professor de Gestão Pública da Universidade de São Paulo, Pablo Ortellado.
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Segundo ele, na falta de um movimento capaz de organizar essa revolta, como o Movimento Passe Livre, na questão da mobilidade, ou o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, no campo da moradia, é preciso elaborar objetivos políticos que canalizem em ação consciente a insatisfação civil.

Para ele, a solução da crise está no longo prazo, mas é necessário pensar em demandas e paliativos urgentes para atender a população. “Precisamos, por exemplo, dividir o ônus dessa crise. Não é segredo para ninguém que temos um rodízio branco, onde os pobres pagam o peso do descaso e bairros ricos não sofrem nenhum revés. Comprar caixas d’água para a população, garantir o direito à agua para todos e impedir a remessa de lucros para os acionistas da Sabesp são algumas dessas ações.”
Ortellado também defende a responsabilização dos gestores pela má condução dessa crise, que deveriam ter decretado um rodízio responsável enquanto havia tempo, mas não o fizeram para evitar o ônus eleitoral dessas medidas. “O governador não tocou nesse assunto durante a campanha porque sabia que sua imagem poderia ser manchada, assim como sua popularidade. Mas agora é inevitável”, aponta.
Sentados no local onde há quinze dias um protesto pela questão da água foi impedido de sair pela Polícia Militar, Ortellado afirmou ao público que teme pela escalada da violência policial e lançou um alerta: “A forma como nós vamos lidar com isso será observada pelo mundo inteiro, que passa por mudanças climáticas. Temos uma enorme responsabilidade”, finaliza. 
Fonte: (Portal Aprendiz/Envolverde)