segunda-feira, 28 de abril de 2008

ÁGUAS NO BRASIL

O Brasil em termos hidrológicos é um país-continente. Mais de 90% do território brasileiro recebe chuvas entre 1000 e mais de 3000 mm/ano. No semi-árido do Nordeste, as chuvas são mais escassas (entre 400 e 800 mm/ano) e mais irregulares. Os rios do semi-árido nordestino têm regimes temporários, ou seja, secam durante os períodos sem precipitações de águas atmosféricas nas bacias hidrológicas.

Em 1965, aconteceu em Washington, o 1º Simpósio Internacional sobre Dessalinização da Água, o que significou o começo da cooperação internacional no setor de Recursos Hídricos. Em 1977, foi realizada em Mar del Plata (Argentina), a 1ª Conferência sobre água, que teve como objetivo planejar maneiras mais eficientes de utilizar e conservar as reservas de água no mundo.

O Brasil é classificado com país rico em água doce. Além disso, têm-se as águas subterrâneas, cujo volume estocado até a profundidade de 1000 m é estimado em 112.000 Km3. A contribuição dos fluxos subterrâneos às descargas de base dos rios, varia entre 11 mm/ano nas bacias hidrográficas das rochas cristalinas subaflorantes do Nordeste semi-árido. O valor médio das descargas das águas subterrâneas, no Brasil, é estimado em 3144 Km3/ano.

Á medida que cresce a população, as fábricas e irrigações consomem sempre mais. Desta forma, para se conseguir um equilíbrio entre oferta e demanda é preciso aumentar a oferta e dar um uso eficiente à água.

O Brasil é dividido em 12 regiões hidrográficas. Nesta divisão foram consideradas as bacias dos rios temporários do Nordeste Setentrional e a dos rios perenes do Nordeste oriental. Os rios que drenam o Nordeste Oriental são perenes, sobretudo nos seus médios e baixos cursos, onde há maior densidade demográfica e a falta de saneamento básico é um problema grave o que facilita a ocorrência de doenças hídricas. Os problemas de abastecimento de água nessa área são muito mais de eficiência da oferta e de usos. As empresas estatais de abastecimento de água no Nordeste não coletam sequer os esgotos que geram e apresentam índice de perdas totais – perdas físicas em razão dos vazamentos de água nas redes de distribuição e perdas financeiras, devido as ligações clandestinas e roubo de água que é captada, tratada e injetada nas redes de distribuição.

O Programa de Uso Racional de Água – PURA, mostra que na Região Metropolitana da Grande S. Paulo os desperdícios atingem cerca de 70% da vazão que chega ao usuário. Neste caso o problema não é de falta de água, mas de um uso mais eficiente. O desperdício na agricultura deve-se aos métodos de irrigação, considerados menos eficientes do mundo, tais como espalhamento superficial, aspersão convencional e pivô central. O uso eficiente da água nos rios do Brasil significa a possibilidade de suprir as necessidades humanas básicas, garantir o crescimento econômico e social com proteção ambiental.

O uso racional do manancial subterrâneo como solução mais barata para o abastecimento humano decorre do fato da água subterrânea ocorrer de forma extensiva e está protegida dos agentes de poluição. Devido a falta de controle na extração, recarga e monitoramento da água subterrânea, não se tem uma avaliação segura do número de poços já perfurados, tanto no mundo quanto no Brasil. As águas subterrâneas no Brasil são extraídas livremente por meio de poços de qualidade técnica duvidosa, para abastecimento de hotéis, hospitais, indústrias e condomínios, o que pode provocar casos de contaminação das águas extraídas: por esgotos domésticos, vazamento de combustíveis e de estoques de produtos químicos, percolação de líquidos domésticos e industriais.

A região relativamente pobre de água subterrânea no Brasil é a do semi-árido do Nordeste. Nesta área a capacidade específica dos poços, é inferior a um m3/h por metro de rebaixamento.

Além das águas que fluem pelos rios, a alternativa de abastecimento humano com água subterrânea precisa ser considerada. Pelo fato da água subterrânea poder ser captada no próprio lote do condomínio, da indústria ou no perímetro irrigado e ter, em geral, qualidade adequada ao consumo humano, não tem os custos de transporte ou de tratamento. Por sua vez a sua extração desordenada poderá produzir impactos nas descargas de base dos rios, nos níveis mínimos dos reservatórios, e recalques nos terrenos.









Referência Bibliográfica:
Rebouças, Aldo. Uso Inteligente da água. S.Paulo: Escrituras Editora, 2004

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Os desafios do saneamento

Mais do que no aprimoramento das tecnologias, setor deve investir na gestão dos serviçosA tecnologia utilizada no saneamento básico urbano nos últimos 120 anos, particularmente no Brasil, muito pouco foi modificada. As técnicas empregadas até o final do século passado garantiram a proteção da saúde da população onde os serviços são prestados e suportaram o crescimento econômico e social das cidades. O desenvolvimento tecnológico nesse período foi mais aprofundado no conhecimento e no funcionamento dos filtros rápidos, na utilização dos produtos químicos e nos processos de sedimentação e flotação, sempre buscando a melhor eficiência e produtividade no tratamento da água. Os processos de tratamento dos esgotos também apresentaram avanços, a despeito de o índice de esgoto tratado no Brasil ainda ser muito baixo. O conhecimento importado ou desenvolvido aqui indica que o atraso em relação à universalização do tratamento de esgoto no país se deve muito mais a questões de recursos financeiros, de gestão e de prioridades políticas.O ambiente atual remete o saneamento básico a uma nova realidade. A escassez de água, as restrições ambientais, as questões relacionadas às mudanças climáticas, a percepção dos clientes referentes à prestação dos serviços (aqui incluído o preço e sua qualidade) e ao meio ambiente, além do custo de capital, são ingredientes a serem considerados pelos prestadores dos serviços. Fazer mais com menos, adotar tecnologias apropriadas, desenvolver tecnologias e incorporar os benefícios da informática em todos os processos da prestação do serviço para melhor atender o cliente, com qualidade, eficiência e eficácia, é fundamental.Voluntariamente ou forçosamente, os prestadores de serviços no Brasil terão de mudar de comportamento. A Lei n° 11.445, de 5 de janeiro de 2007, tem como alguns de seus objetivos fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico e a difusão dos conhecimentos de interesse para o saneamento básico. Além desse viés explícito do desenvolvimento tecnológico, essa lei aponta para a universalização do saneamento com uma prestação de serviços regulada. Esses conceitos inseridos na lei criarão uma nova dimensão no saneamento e no mercado de saneamento, que vai ensejar uma saudável comparação e fomentar a concorrência – a despeito de o setor ser um monopólio natural.O desenvolvimento e a ampliação da prestação do serviço em novos padrões trazem como benefício uma evolução tecnológica e uma ampliação do mercado. Assim, todos os processos do saneamento deverão evoluir. O tratamento dos esgotos precisará incorporar, para o seu desenvolvimento, os negócios e oportunidades envolvidos sob uma ótica da gestão dos resíduos regional. O aproveitamento da água de reúso, a utilização do biossólido na agricultura, a geração de energia com a biomassa e o biogás, além da possibilidade da obtenção dos créditos de carbono, serão elementos decisivos na formatação do equacionamento da eficiência dos prestadores e na ampliação do atendimento nesse quesito.O monitoramento, os cadastros técnicos e comerciais informatizados de forma amigável são suportes aos serviços de operação, manutenção e comerciais e dão velocidade, confiabilidade e satisfação desejada aos clientes. O combate às perdas reais e aparentes, de modo contínuo e com tecnologia avançada, permite obter melhores resultados e será um diferencial em um mercado competitivo.Atualmente, a maior crise do setor é da gestão dos serviços. Os prestadores deverão investir na qualidade da gestão, utilizando ferramental moderno de controle em todos os processos de suas administrações para superar as suas deficiências, e não apenas nos processos técnicos.*Lineu Andrade de Almeida é presidente da Seção São Paulo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).