segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Água e Saneamento: Avançando, apesar dos preconceitos

Washington Novaes



Numa hora em que tantos setores de governos parecem obcecados com o caminho das megaobras e seus supostos efeitos no crescimento do produto bruto nacional, o PIB (como se esse conceito já não estivesse em questão no mundo todo), pode ser animador lembrar algumas outras iniciativas, que até aparentam modéstia, mas podem ter efeitos importantes.

Pode-se começar pelo anúncio da Caixa Econômica Federal (CEF) de que a partir deste mês não mais financiará a construção de casas em bairros sem redes de água e esgotos. Pode parecer pouco, mas basta recorrer a um exemplo – o da comunidade da Vila Dique, em Porto Alegre – para verificar a importância da iniciativa. Ali, de 2008 a 2011, os esgotos domésticos deixaram de ser descartados num córrego, com a transferência de toda a comunidade para um novo bairro provido de rede de água e esgotos (Tratabrasil, 17/8), com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nesse período, a porcentagem de pessoas que acusavam alguma doença caiu de 19% para 8%, menos da metade. As hospitalizações diminuíram 75%. E a leptospirose e a hepatite baixaram para menos da metade.

Quanto isso não terá significado em redução nos custos de saúde, que não é contabilizada pelo PIB? Quanto terá significado para as pessoas? E quanto terá valido a melhor qualidade da água na redução da mortalidade infantil no Estado de São Paulo, em 20 anos, de 31,8 crianças mortas antes de 1 ano de idade em cada mil crianças nascidas vivas para 11,9 (menos 61,8%)?

Outro exemplo: o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) decidiu conceder o prêmio “Água e Saneamento” ao programa de cisternas de placa no Semiárido brasileiro (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 24/8), ação conjunta do governo federal e de uma rede de instituições, que já implantaram ali várias centenas de milhares de cisternas e pretendem chegar a 1 milhão. Cada uma delas, com custo mínimo, capta nos telhados água de chuvas e a conduz para um poço revestido por placas (para evitar a infiltração da água), onde cada pessoa chega a ter 20 litros por dia na estiagem, sem precisar caminhar quilômetros para buscar em latas água suja de barreiros.

Esse é o caminho real para fornecer água às populações em localidades isoladas – não o da transposição de águas do Rio São Francisco, que, embora gastando bilhões de reais, a elas não chegará (só a grandes projetos de agricultura de exportação e abastecimento de grandes cidades, onde a perda nas redes continua alta).

Outro ainda: o Japão financiará com R$ 650 milhões um programa de redução de perdas nas redes de água em São Paulo. Com ele, até 2019, essas perdas serão reduzidas de 26% para 13% (a média de perda no Brasil, entre a água que sai das estações de tratamento e a que chega aos consumidores, é de 37,4%; no Japão, de 3%); e recuperar um litro de água custa algumas vezes menos do que construir novas barragens, adutoras e estações de tratamento, em lugar de conservar a rede de distribuição. O projeto total da Sabesp é de R$ 4,3 bilhões, dos quais R$ 2,7 bilhões para a Região metropolitana de São Paulo (Sabesp, 4/7). Entre 2006 e 2010, as perdas já baixaram de 32% para 26%, uma redução suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas.

Isso conta no PIB? Aumentará o PIB o custo de R$ 1 bilhão para buscar água a 80 quilômetros de São Paulo, no Vale do Ribeira, “dando cotoveladas nos vizinhos”, como disse uma especialista? Reduzirá o PIB o custo da energia para elevar a água em centenas de metros? Não seria melhor para a sociedade os governos deixarem de pensar em megaobras ao custo de bilhões – como trem-bala, superestádios, mega-hidrelétricas, etc. – e cogitarem de caminhos como o da coleta de esgotos pelo sistema condominial, que barateiam muito o preço?

Nessa mesma linha, é precioso o alerta da Agência Nacional de Águas (Estado, 20/7) de que é fundamental dar mais atenção ao setor de irrigação de lavouras no País, que responde por 69% do consumo total de água (animal, 12%; abastecimento urbano, 10%; industrial, 7%; rural, 2%). Com o uso ainda intensivo de equipamentos antigos de irrigação, a perda de água é muito forte na aspersão convencional, chega a mais de 50% e contribui para a compactação do solo, a perda de nutrientes naturais da terra, carreados para os rios, a poluição dos cursos d”água por insumos químicos, etc. E já há sistemas e equipamentos que poupam água, como a irrigação por microaspersão ou gotejamento. Os financiamentos oficiais deveriam limitar-se a esses sistemas.

É preciso dar muito mais atenção e recursos adequados ao setor hídrico. A qualidade da água já é “ruim ou péssima” em 9% dos pontos (1.747) monitorados pela Agência Nacional de Águas, principalmente nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Campinas e Juiz de Fora. Como contabilizar os prejuízos daí decorrentes? Só 4% dos recursos hídricos são de qualidade “ótima”. Como observou este jornal em editorial (5/8), se não houver investimentos suficientes, 55% dos municípios brasileiros poderão enfrentar problemas de escassez até 2015.

E as notícias são preocupantes. Um balanço do PAC mostra que em 2009 mais de 70 municípios com mais de 50 mil habitantes foram selecionados para receber investimentos de R$ 2,9 bilhões em saneamento básico, mas só 57% desses investimentos estão em andamento e em 15 municípios as obras nem começaram. Neste ano e no próximo deverão ser R$ 6 bilhões (contratados, R$ 369,8 milhões), quando o Plano Nacional de Saneamento Básico afirma que o setor precisa de R$ 420 bilhões para universalizar o abastecimento de água e a coleta e o tratamento de esgotos.

Por que será tudo tão lento? Porque não se trata de megaobras? Ou, como dizem no interior, porque nesse setor todas as obras ficam debaixo da terra, ninguém vê, não dão prestígio político nem votos?

Fonte: EcoDebate

Saneamento em loteamentos

Por Roberto Naime


Dentre as características da crise do mundo globalizado estão a degradação ambiental, o risco de colapso ecológico e o avanço da desigualdade e da pobreza.

A ausência de sustentabilidade é uma falha fundamental na história da humanidade. A sustentabilidade é um conceito do nosso tempo, do final do sécula XX e da passagem para o terceiro milênio, da transição da modernidade truncada e inacabada para uma pós-modernidade incerta, marcada pela diferença, pela diversidade, pela democracia e pela autonomia (LEFF, 2001).

A crise ambiental tem muitas causas relacionadas, tais como a emissão de gases causadores do efeito estufa, a agro-pecuária extensiva com a diminuição da biodiversidade, os desmatamentos e as queimadas de florestas, a mortandade de animais silvestres e a contaminação de corpos hídricos superficiais e subterrâneos. Estes fenômenos são caracterizados em decorrência do aumento demográfico desordenado acentuado e geram uma diminuição drástica da qualidade ambiental na vida das populações.

A necessidade de morar é um direito individual ganhando uma dimensão jurídica em função do abrigo constitucional que é dado a este princípio. É uma necessidade básica para a sobrevivência humana, principalmente nas regiões frias do sul do país, onde a habitação é sua proteção física contra os efeitos climáticos acentuados. Podemos dizer que é também o refúgio do ser humano e de sua família, onde busca o conforto e a introspecção afetiva, necessidade básica para uma vida sadia e digna.

O uso e ocupação irregular dos terrenos é problema típico de cidades que conheceram um crescimento súbito da população motivado pela industrialização, pelo êxodo rural, pela migração e pela explosão demográfica. A demanda por moradias nunca foi atendida por uma oferta proporcional. O rápido crescimento da população urbana agravou o quadro de déficit habitacional.

Considerando apenas os 51 anos entre 1940 a 1991, a população urbana do Brasil cresceu de 12.880.182 para 110.875.826 de habitantes. As cidades brasileiras não estavam preparadas para receber subitamente tamanho acréscimo populacional. Não houve e podemos afirmar que de certa forma continua inexistindo planejamento ou política habitacional sistematizada e permanente em nossas cidades. Somente este mecanismo poderia suprir a imensa demanda verificada, onde o rápido processo de urbanização tem como contraponto um meio urbano incompleto e imperfeito, pouco favorável à vida humana, sendo mesmo o criador de graves dificuldades para uma elevada percentagem da população.

As favelas, mocambos e cortiços são áreas de densidades demográficas muito elevadas, com a utilização anárquica do meio físico, insuficiência dos serviços urbanos (redes de água, esgoto, luz e telefone), insuficiência nos transportes, dificuldades no setor da instrução, ausência de centros comunitários e de lazer, deficiência nos serviços sociais e de assistência sanitária.

Ainda se agregam a este quadro serviços comerciais e de abastecimento excessivamente caros e ineficazes, caracterizando completa deterioração do meio urbano e se caracterizando como a conseqüência mais visível do processo de crescimento rápido e desordenado que sofreram a maioria das cidades brasileiras (JUNIOR, 2006).

Muitas vezes e feita a distinção entre loteamentos “irregulares” e loteamentos “clandestinos”. Os primeiros seriam aqueles que iniciaram algum processo administrativo de regularização ou licenciamento e por algum motivo não foram executados completamente ou foram executados fora dos critérios aprovados. Na prática ambos são ocupações desordenadas.

Nos dois casos os moradores não são proprietários de seus terrenos, mesmo quando o loteador é o proprietário da gleba original. Isso ocorre porque a regularidade urbanística do empreendimento é sempre uma condição para seu registro em cartório, momento em que são individualizados os lotes, mediante abertura das respectivas matrículas. Antes do registro, os lotes ainda não existem juridicamente e, portanto não constituem objeto suscetível de ser alienado.

A desarticulação do sistema viário dificulta o acesso de ônibus, ambulâncias, viaturas policiais e caminhões de coleta de lixo. Os bairros são formados mesmo estando sujeitos a ocorrências de erosão e alagamentos. Com frequência ocorre assoreamento dos rios, lagos e mares e ausência de espaços públicos para implantação de equipamentos de saúde, educação, lazer e segurança.

A energia elétrica é comprometida, resultando em riscos de acidentes e incêndios. Ocorre ainda expansão horizontal excessiva da malha urbana, ocasionando elevados ônus para o orçamento público (PINTO, 2006).

A falta de desta infra-estrutura básica resulta na falta de saneamento básico que hoje é um dos mais importantes aspectos da saúde pública mundial. Estima-se que 80% das doenças e mais de 1/3 da taxa de mortalidade em todo o mundo decorram da má qualidade da água utilizada pela população ou falta de esgotamento sanitário adequado. E isto ocorre de forma relevante nas ocupações desordenadas que constituem realidade expressiva e relevante no pais.

Ocorrem patologias como hepatite A, dengue, cólera, diarréia, leptospirose, febre tifóide e paratifóide, esquistossomose, infecções intestinais, entre outras, que afetam particularmente crianças de até 5 (cinco) anos. São conhecidas no meio médico, cruelmente, como “doenças de pobre” ou “doenças do subdesenvolvimento”. No Brasil, estima-se que quase 24% da população não têm acesso à água tratada, isto sem contar as áreas rurais da região norte (BARROSO, 2002).

Segundo Moraes e Jordão (2002) a cada 14 segundos morre uma criança no mundo vítima de doenças derivadas de veiculação hídrica, indicando os esgotos e excrementos humanos como a causa principal, devido a contaminação de águas de poços superficiais. Outras causas seriam as contaminações por excrementos bovinos e suínos e efluentes agrícolas e industriais. Um dos fatores principais para tais ocorrências é que a água é um meio de sobrevivência para diversos agentes biológicos que causam infecções que, assim, se disseminam a longas distâncias.

Não existe infra-estrutura como abastecimento de água potável e tratamento com disposição adequada de esgotos sanitários domiciliares. O suprimento de água com frequência é feito por poços rasos que acabam também contaminados e constituem importante fonte de disseminação de doenças e redução de qualidade de vida das populações

Fonte:Ecodebate

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Consumo de água no Brasil está estabilizado na faixa de 150 litros por habitante/dia

Por Alana Gandra/da Agência Brasil


consumo médio de água no Brasil, envolvendo os setores comercial, residencial, público e industrial, está estabilizado na faixa de 150 litros por habitante/dia. Em 2007, o consumo per capita foi 149,6 litros diários, subiu em 2008 para 151,2 litros e baixou em 2009 para 148,5 litros, de acordo com pesquisa divulgada pelo Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades.

“Para a média nacional , é um consumo bom. Não indica mau uso da água”, disse à Agência Brasil o coordenador do Snis, Ernani Ciríaco de Miranda. O resultado não demonstra, entretanto, que o brasileiro, de modo geral, está mais conscientizado em relação à necessidade de preservar esse recurso natural.

Miranda explicou que vários fatores contribuem para o consumo per capita mais elevado em alguns estados, como o Rio de Janeiro (189,1 litros/dia), Mato Grosso (168,2 litros) e São Paulo (177,8 litros). Ele citou, entre esses fatores, o excesso de temperatura, o clima mais desfavorável. “Ou pode ser, também, uma indicação de consumo perdulário”, acrescentou.

No caso do Rio, em especial, onde foi registrada queda de 20% no consumo per capita em 2009, em relação a 2008 (236,3 litros/dia), o coordenador do Snis avaliou que o índice “está se aproximando de um patamar de consumo adequado, mais próximo da média nacional”. Em 2007, o consumo per capita no estado foi 205 litros diários. “É uma boa sinalização”, disse Miranda.

Para ele, ainda há situações preocupantes no país. Os estados de Alagoas e Pernambuco, por exemplo, mostram consumo muito baixo (86,8 litros/dia e 90,9 litros/dia, respectivamente, em 2009). “Consumo abaixo ou na faixa de 100 litros/habitante/dia pode indicar uma demanda reprimida”, ou seja, a população está conectada, mas não está recebendo a água na quantidade ideal. “São soluções técnicas que têm de ser feitas”.

Outro problema, de acordo com o coordenador do Snis, é o consumo mais alto, que pode indicar “um consumo perdulário ou uma situação isolada”.

Fonte:EcoDebate

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A água como arma de guerra

Por Ana Echevenguá

Muito além das questões religiosas, os conflitos no Oriente Médio fulcram-se na escassez de água regional. Apesar do inconcebível silêncio a respeito do tema, o mundo sabe que são os recursos hídricos que provocam e/ou contribuem para o acirramento dos conflitos. O exemplo clássico é a invasão por Israel das colinas de Golã, na Jordânia, onde está a nascente do rio Jordão.
É sabido que israelenses, palestinos e jordanianos disputam os recursos hídricos do rio Jordão. Então, toda vez que pensarmos em invasão de terras no Oriente Médio, devemos relacioná-la com invasão de terras com água – superficial ou subterrânea.
Desde 1948, Israel prioriza projetos, inclusive bélicos, para garantir o controle de água na região. Dentre estes:
- a construção do Aqueduto Nacional (National Water Carrier);
- nos anos 60, anexou os territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia e tomou da Síria as Colinas do Golã, para controlar os afluentes do Rio Jordão.
- em 2002, a construção do ‘Muro de Segurança’ viabilizou o controle israelense do Aqüífero de Basin, um dos três maiores da Cisjordânia, que fornece 362 milhões de metros cúbicos de água por ano. Antes do muro, o Aqüífero fornecia metade da água para os assentamentos israelenses. A destruição de 996 quilômetros de tubulação de água deixou a população palestina do entorno do muro sem água para beber;
- antes de devolver (apenas simbolicamente) a Faixa de Gaza, Israel destruiu os recursos hídricos da região. A Faixa – o que foi estipulado como território palestino – conta com 1,5 milhão de habitantes para uma área de 360 km², sem água.
Por que a água nunca aparece de forma explícita nas discussões e negociações políticas da região?
A água, na região, é vendida para o consumo humano e animal. É mercadoria vital: ou se compra água do vizinho ou se morre de sede.
Imagino que não seja conveniente trazer este assunto à tona. Principalmente porque, ali, os rios ultrapassam fronteiras. A água sempre foi um bem precioso naquela região. Hoje, ela é mais preciosa do que petróleo. É questão de segurança nacional. Daí a disputa pelaposse de território que possua recurso hídrico.
As regras internacionais para o uso compartilhado dessas águas, que são chamadas de transfronteiriças, não são cumpridas porque os tratados existentes não prevêem mecanismos de coação ou de coerção. Assim, os tratados que obrigam Israel a fornecer água potável aos palestinos. O Acordo de Paz de Oslo de 1993, por exemplo, estipulou que os palestinos deveriam ter mais controle e acesso à água da região. Mas tais regramentos – lex partibus – não são cumpridos.
E o Tribunal Internacional de Justiça, até hoje, condenou apenas um caso relacionado com águas internacionais.
Rio Jordão
Das principais fontes de obtenção de água no Oriente Médio – as bacias dos rios Jordão, Tigre e Eufrates -, o foco principal é o rio Jordão, disputado por Israel, Líbano, Síria e Jordânia. Um rio, afetado pela seca e poluição, que supre em torno de 1/3 da água consumida por Israel, além do consumo da Jordânia, Síria, Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
A falta de saneamento básico e o despejo de resíduos já poluiu o rio Jordão de tal modo que os rituais de batismo serão impedidos ali, conforme relatou a jornalista Jess Leber.
E, embora Israel tenha sérios problemas com recursos hídricos, tornou-se – com as sucessivas invasões -, o detentor do controle dos suprimentos de água; tanto seu como da Palestina.
O detentor da água detém o poder
Além de restringir o uso d’água, Israel luta pela expansão do seu território para obter mais acesso e controle deste recurso natural. São suas as águas superficiais: bacia do rio Jordão (incluindo o alto Jordão e seus tributários), o mar da Galiléia, o rio Yarmuk e o baixo Jordão; e as águas subterrâneas: 2 grandes sistemas de aqüíferos: o aqüífero da Montanha (totalmente sob o solo da Cisjordânia, com uma pequena porção sob o Estado de Israel), aqüífero de Basin e o aqüífero Costeiro que se estende por quase toda faixa litorânea israelense, até Gaza.
Não obstante, Israel possui a maior usina de dessalinização por osmose reversa do mundo, inaugurada no ano passado. A expectativa é produzir 127 milhões de metros cúbicos de água por ano, para abastecer 1/6 da população israelense.
E está investindo também na reciclagem de águas servidas e poluídas. Há também a produção artificial de chuva (com bombardeio de nuvens). Creio que cerca de 15% das chuvas no norte de Israel são produzidas desta forma.
A importação de água também é uma das práticas da região. E, isso, particularmente, me assusta ao pensar que vivemos no Brasil das águas e que eu moro sobre o Aqüifero Guarani.
Eufrates e Tigre
As nascentes do Eufrates e do Tigre – que se situam na Turquia – também são alvo de problemas hídricos com a Síria e Iraque.
A Turquia construiu várias represas, ao longo do Eufrates, Tigre e afluentes, destinadas à irrigação ou à produção de energia.
É óbvio que a Síria e o Iraque – que também são atravessados pelo Tigre e Eufrates – não concordam com essa situação. Aliás, há quase trinta anos, as águas da antiga Mesopotâmia são objeto de uma batalha diplomática entre a Turquia (que detém as fontes) e seus vizinhos, que brigam por um “tratado internacional de gestão compartilhada” para o Tigre e o Eufrates.
Em Israel, o consumo médio diário de água por pessoal é de 350 litros. A Jordânia, pouco menos do que isso. Agora, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, o uso representa 1/10 da quantidade utilizada na Jordânia. São dados constantes do Relatório do Conselho Nacional e Pesquisa dos Estados Unidos (NRC).
O crescimento das populações locais pode agravar o problema?
Sim. Em Israel, a população que hoje é em torno de 7,7 milhões deve aumentar, até 2020, para 8,5 milhões.
A ONU, em 2009, já alertava que o crescimento da população mundial – com cerca de 80 milhões de nascimentos por ano – já exige políticas públicas para água. Esses números resultam num acréscimo anual de 64 bilhões de metros cúbicos na demanda dos recursos hídricos. E é afetado pelas mudanças dos hábitos alimentares, que também aumenta o consumo de água.. Para a produção de um quilo de carne, por exemplo, são necessários entre 800 e 4 mil litros de água.
Outra questão importante – e da qual ninguém fala – é do confinamento das pessoas. Quando Israel foi fundado em 1948, cerca de 750 mil palestinos foram expulsos de suas terras. Hoje, seus descendentes chegam a 4,5 milhões de pessoas, que sobrevivem precariamente em acampamentos de refugiados. Só na Cisjordânia e Faixa de Gaza, por exemplo, vivem mais de 2 milhões de refugiados. Não podem ocupar outros territórios devido à diáspora imposta pelo Estado de Israel.
Como a questão palestina se coloca nesse aspecto?
Em um documento apresentado na Assembléia Geral das Nações Unidas, em 2010, o observador permanente da Palestina para a ONU, Riyad H. Mansour, disse que, durante 42 anos, os territórios ocupados sofreram “todo tipo de crueldade, destruição e abuso nas mãos de Israel, a potência ocupante, que foi contra a vida, o sustento e os recursos dos palestinos”. Inclusive a violação ao direito dos palestinos de acesso à água, desde a ocupação, em 1967, quando Israel assumiu o controle de todos os recursos hídricos.
Freqüentemente, surgem notícias sobre destruição e bombardeio de poços de água dos palestinos, na luta diária pela posse da água. Os israelenses bombardeiam tanques d’água, grandes ou pequenos (muitas vezes construídos nos telhados de suas casas), confiscam as bombas d’água, destroem poços… Estes, para serem abertos, precisam de autorização da administração militar de Israel. Na Cisjordânia (território palestino ocupado desde 1967), por exemplo, são raras as licenças para este tipo de exploração. Em 2003, contava com cerca de 250 fontes ilegais e a Faixa de Gaza, com mais de 2 mil).
Israel irriga 50% das terras cultivadas, mas a agricultura na Palestina exige prévia autorização. Então, furto de água das adutoras de Israel é comum naquela região.
A proposta do novo Estado palestino independente – que está na ONU e poderá ser decidida este ano – prevê, para este novo estado, menos de 20 % da área da Palestina histórica. Com isso, Israel se livrará de 3,5 milhões de palestinos. Ou seja, a Autoridade Palestina terá uma superpopulação de palestinos em um território minúsculo. E, repito, sem água.
Alerta final
Foi importante a participação de Shaddad Attili, diretor da Autoridade de Água Palestina, na Semana Mundial da Água, em Estocolmo, ocorrida em agosto de 2011. Ele confirmou o que todos já sabem: a água é usada como arma de guerra.
E Attili foi corajoso ao lançar o seguinte alerta: “Não se enganem, pois não haverá um Estado palestino viável sem que possa acessar, controlar e administrar suficientes recursos hídricos para cobrir suas necessidades internas, presentes e futuras, agrícolas e industriais”.
Para ele, os desafios dos palestinos em relação à água são os mesmos, ou similares, aos que enfrentam muitas outras nações.
Por isso, devemos dar atenção especial aos recursos hídricos brasileiros, que são abundantes. E alvo de interesses econômicos de muitos.

Ana Echevenguá, advogada ambientalista e jornalista, presidente do Instituto Eco&ação e da academia Livre das Águas.

Fonte:EcoDebate

domingo, 4 de setembro de 2011

Palha de árvores nativas vira fonte de renda para mulheres sergipanas.


A artesã Maria José Santos, mais conhecida como Zezinha, decidiu, certa feita, colocar em prática uma tradição herdada da mãe: a produção de cestas a partir da palha de ouricuri, árvore típica da região onde mora - Neópolis (SE), município situado a 121 km de Aracaju.

Juntamente com um grupo de artesãs do Povoado Passagem, ela deixou de se dedicar apenas aos afazeres domésticos para obter uma fonte de renda, por meio da utilização das palhas das árvores nativas. Boa parte dessas trabalhadoras são esposas de operários da indústria têxtil.

A trajetória delas teve início em 2003, quando cansadas da rotina, que incluía muitas vezes a produção e comercialização de pequenos bordados na feira livre do município, decidiram que era chegada a hora de dar novo rumo às suas vidas. A partir de então, as peças construídas de maneira rústica passaram a ser vendidas nas feiras e despertaram a atenção dos consumidores.

Sem ter como atender aos inúmeros pedidos que chegavam, Maria José convidou algumas de suas vizinhas para aderir à nova atividade. “No início, muita gente ficou desconfiada, achando que não daria certo. Aos poucos, fomos convencendo as mulheres e conseguimos aumentar a produção. Porém, surgiu um problema, já que não tínhamos local para armazenar as peças”, explicou Zezinha à Agência Sebrae.

Capacitação e desenvolvimento

Com a ajuda de uma indústria, as artesãs conseguiram espaço para fabricar e guardar os produtos. A inclusão de novas pessoas à atividade, entre elas os maridos de algumas das mulheres, ajudou o grupo a diversificar a produção, incluindo bolsas, jogos americanos, tapetes e cestas com formatos diferentes.

Decididas a melhorar ainda mais a qualidade das peças, as artesãs decidiram procurar ajuda. Por meio de um apicultor de Santana do São Francisco, município vizinho, buscaram auxílio junto ao Sebrae em Sergipe. A instituição promoveu um levantamento das condições e do planejamento do grupo e decidiu ajudar. Começaram a ser realizadas capacitações para melhorar o sistema de produção.

Incentivadas em 2005, as artesãs decidiram criar informalmente uma associação e já no ano seguinte passaram a fazer parte do Projeto de Trançado da Palha da entidade, que já era desenvolvido nas cidades de Pacatuba, Pirambu e Japoatã.

Com as sugestões dos instrutores do Sebrae, elas passaram a incorporar novos elementos às peças e a utilizar a palha de outras árvores, como a taboa e a bananeira. O resultado veio logo em seguida. Os produtos começaram a ser vendidos para Brasília, São Paulo, Curitiba e Salvador. Atualmente, os produtos das artesãs são comercializados com apoio da Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e Desenvolvimento Social (Seides), no Centro de Cultura e Arte J. Inácio, na Orla de Atalaia.

Fonte:Ecodesenvolvimento.org.



Petróleo e Sustentabilidade: Reciclagem de óleos lubrificantes.

Por Marcus Lofti


Em todo o mundo, são gerados anualmente mais de 20 bilhões de litros de óleos
lubrificantes usados. Se for considerado, com otimismo, que 60% desse volume é coletado e adequadamente utilizado, ainda existirão 8 bilhões de litros não coletados anualmente e sendo lançados nos lagos, rios, mares, oceanos, subsolo e atmosfera, poluindo a água potável e o ar que se respira.
Além da poluição que pode causar ao meio ambiente, o óleo usado é um recurso que, se reciclado adequadamente, pode retornar à cadeia produtiva por ilimitadas vezes, sofrendo apenas as perdas de cada processamento, gerando consideráveis vantagens econômicas e poupando divisas, no caso de países, como o Brasil, que são importadores de básicos para lubrificantes.

Os parágrafos acima foram retirados do estudo: “O processo de reciclagem do óleo lubrificante”, de José Américo Martelli Tristão, Elias Frederico e Rosemari Fagá Viégas. A publicação mostra que, mais uma vez, sustentabilidade é lucro e não custo e mais ainda, que petróleo e sustentabilidade podem andar juntos.

A não reciclagem de lubrificantes é um desperdício absurdo, uma vez que, segundo o estudo, para se fazer apenas um litro de óleo básico virgem, são precisos 84 litros de óleo cru, segundo a média realizada pela API (American Petroleum Institute). Os mesmos 84 litros de óleo cru, de acordo com a Evergreen Oil Refinary – Califórnia – EUA, podem produzir 55 litros do óleo reciclado, proveniente do que se denomina rerrefino.

O estudo aborda com dados bastante concretos a viabilidade deste processo, mas exibe como obstáculo principal a coleta do óleo usado para seu rerrefino. A coleta em si já é uma economia, uma vez que o óleo coletado deixa de ser despejado nos oceanos, rios, lagos e onde mais possa poluir.

O óleo, inlcusive, de acordo com a NBR 10.004, que trata de resíduos perigosos de fonte não especificada, é tratado como um resíduo perigoso, cujo contato direto ou indireto, através de seus componentes pode causar inúmeros problemas de saúde, entre eles o câncer.

A economia direta e indireta dá um vulto enorme à importância de se reciclar os óleos lubrificantes. O óleo rerrefinado tem, inclusive, qualidade superior e sua produção exige menos energia que a do óleo virgem.

Sob uma perspectiva econômica, podemos dizer que o empregador/gerador perde dinheiro sem não uma política de destinação final e coleta destes resíduos, mas sem uma cultura, uma consciência de descarte. Se formos contabilizar cada real perdido no pagamento de multas, escritórios de advocacia, processos, sem contar os custos adjacentes à má destinação, não é difícil chegar à conclusão de que tratamos de um investimento, não de um custo.


Fonte: Portal Marítimo