quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sucata eletrônica: o mal do século gera negócios .

Dar destinação correta à montanha de lixo eletrônico produzida pela vida moderna é um problema complexo e de difícil solução. O Greenpeace calcula que o volume de descarte mundial gire em torno de 50 milhões de toneladas por ano. Mas esse problemão também pode gerar oportunidades de negócio para quem resolve encarar o desafio. Uma das empresas habilitadas a tratar desse assunto é a recém-criada Descarte Certo, que presta serviços para fabricantes e consumidores de eletroeletrônicos. Além de recolher os aparelhos fora de uso em escritórios e residências, a Descarte Certo gerencia toda a logística reversa do novo ciclo de vida do produto, processo altamente sofisticado e que inclui o desmonte e a venda dos componentes reaproveitáveis – feito por empresas credenciadas por eles.

Encaminhado para um armazém, onde passa por triagem de acordo com sua categoria, o aparelho segue depois para a linha de desmontagem. Lá, é decomposto por tipos de material, visando o reaproveitamento de seus componentes. Assim, o plástico é destinado para empresas que reciclam plástico, o ferro, para empresas que reciclam ferro e assim por diante.

O serviço não é barato. Pagam-se R$ 152 pela retirada de uma geladeira, por exemplo. Mas o custo se dilui, se for levado em conta o tempo de vida útil do aparelho. E também pela garantia de que os restos daquele monitor de vídeo, completamente fora de moda e recheado de substâncias tóxicas, não vai parar num aterro a céu aberto. Ou seja, não vai poluir o lençol freático nem contaminar o catador de lixo.

“Fizemos uma pesquisa perguntando às pessoas se estariam dispostas a arcar com os custos desse tipo de reciclagem. Uma em cada dez respondeu que sim. O número subiu para seis propúnhamos retirar o aparelho na casa delas”, conta Lucio Di Domenico, especialista em marketing, tecnologia e administração e um dos sócios fundadores da Descarte Certo.

Desde novembro, os clientes da rede de supermercados Carrefour, com quem a empresa fechou parceria, podem optar pelo serviço. A exemplo de uma garantia estendida, o consumidor paga uma taxa extra pelo descarte correto no ato da compra. E assim consegue se livrar daquela máquina de lavar plantada na área de serviço antes de receber a nova. A empresa fornece um certificado para que o cliente acompanhe pelo site o estágio em que se encontra a reciclagem do seu aparelho.

Componentes perigosos

Os resíduos de equipamentos elétricos e eletroeletrônicos (REEE), aparelhos maravilhosos que tornam nossa vida mais confortável, contêm elementos tóxicos e cancerígenos. Daí a importância de serem manipulados corretamente. “As substâncias mais problemáticas, do ponto de vista ambiental, são os metais pesados (mercúrio, chumbo, cádmio e cromo), os gases de efeito estufa, as substâncias halogenadas, como os clorofluorcarbonetos (CFC), as bifenilas policloradas (PCBs), o cloreto de polivinila (PVC) e retardadores de chama bromados, assim como o amianto e o arsênio 8”, afirma a pesquisadora Ângela Cássia Rodrigues, doutoranda no assunto pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.

Ainda não existe um consenso sobre a quantidade média de REEE gerada no Brasil. De acordo com o Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), os brasileiros produzem cerca de 500 mil toneladas anuais de sucata eletrônica. Só em 2008 foram vendidos no país 12 milhões de computadores. A base instalada de PCs, incluindo as vendas projetadas para 2009 (também de 12 milhões), é de cerca de 55 milhões, informa a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). “A vida útil deles é, em média, de três a quatro anos. Calculamos que mais de 5 milhões sejam descartados anualmente”, diz Domenico, para quem a produção nacional de REEE gira em torno de 100 milhões de unidades por ano.

Ele também calcula em 170 milhões de aparelhos a base instalada de celulares no país – praticamente um por habitante. Número semelhante ao de televisores, presentes em 92% dos lares brasileiros. “Somos 180 milhões de pessoas e as vendas anuais de TV chegam a 10 milhões de unidades”, afirma. Imagine quantas delas serão trocadas pelas de tela plana ou LCD nos próximos anos, agravando o risco de danos ambientais? Os televisores e monitores de computadores antigos são verdadeiras bombas-relógio: seus tubos de raios catódicos contêm entre 2 e 4 quilos de chumbo, além de fósforo, bário e cromo.

Coletor de pilhas

Trata-se de um mercado promissor para empreendedores de visão. Um dos pioneiros em soluções de logística é o administrador de transportes Adalberto Panzan, que em 1998 fundou em São Paulo a ADS. O grande salto da empresa aconteceu em julho de 2006, quando ajudou a conceber e estruturar um projeto de recolhimento de pilhas destinadas ao reprocessamento – o Papa-Pilhas. Programa do Banco Real, ele foi tão bem sucedido que acabou encampado pelo Grupo Santander.

“Começamos com 31 pontos, em agências do banco localizadas em João Pessoa (PB), Campinas (SP) e Porto Alegre (RS)”, recorda Panzan. Hoje há 2.067 pontos ativos de coleta de pilhas, baterias, carregadores e aparelhos celulares em 24 estados brasileiros. Em 2007, o programa coletou 34 toneladas. Em 2008 foram 127 toneladas e a estimativa para 2009 é de 167 toneladas.

Márcio Barela, especialista em sustentabilidade e responsável pelo Papa-Pilhas no Grupo Santander, elogia a eficiência do processo. “A ADS é uma parceira muito importante e o sistema que construímos juntos permite um monitoramento integral do processo. É fundamental ter uma gestão perfeita, porque constantemente somos questionados em relação à segurança e temos também de prestar contas aos órgãos ambientais”, explica Barela.

A ADS desenvolveu o display onde os consumidores depositam o material – os coletores são certificados – e se encarrega do transporte seguro até a sede da Suzaquim Indústrias Químicas, em Suzano (Grande São Paulo), responsável pela reciclagem. Na Suzaquim, as pilhas e baterias são desencapadas e os metais queimados em fornos industriais – todos dotados de filtros que impedem a emissão de gases poluentes. No processo, são obtidos sais e óxidos metálicos, que servem de matéria-prima para a indústria de refratários, vidros, tintas e cerâmica, entre outros.

A cada lote que retira, a ADS emite para o banco um certificado de reprocessamento e, do computador do escritório, Panzan acompanha em detalhes essa sofisticada operação de logística reversa. Na tela do computador, o sistema registra os locais onde as coletas foram feitas, os volumes coletados e o destino de cada lote. As pilhas são transportadas em cilindros de papelão rijo, homologados pelo Inmetro.

De todo o Brasil, quilos e quilos de pilhas aterrissam no galpão da ADS, que depois as envia para a Suzaquim. “Contratamos uma empresa especializada em cargas perigosas para fazer o transporte”, explica Panzan, acrescentando que a operação tem 100% de rastreabilidade.

Alto custo

Enquanto a Política Nacional de Resíduos espera pela aprovação do Congresso, a demanda por logística reversa aumenta, uma vez que alguns Estados, como São Paulo, exigem que a destinação dos resíduos eletroeletrônicos fique a cargo dos fabricantes. Para pilhas, no entanto, já existe regulamentação, embora funcione pouco, porque o consumidor é mal-informado. Apenas uma minoria se preocupa em devolvê-las ao fabricante. Portanto, a maior parte das pilhas velhas é jogada nos lixões, contaminando o meio ambiente com seus altos índices de cádmio e mercúrio.

Para complicar o cenário, a Abinee calcula que 40% do 1,2 bilhão de pilhas consumidas todos os anos no país sejam produtos falsificados – e esses têm maior teor de metais prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Fabricantes não se mexem porque a logística para o recolhimento é cara e complicada e porque falta educação ao consumidor. “O brasileiro não lê nem manual de instrução. Vai ler embalagem recomendando lugar de descarte?”, argumenta a engenheira ambiental Fátima Santos, gerente técnica e comercial da Suzaquim. Licenciada desde 1997 para reprocessar sucata eletrônica – de computadores a pilhas –, a empresa cresceu nos últimos quatro anos, mas opera abaixo de sua capacidade. Poderia processar até 700 toneladas de REEE por mês, mas só recebe 250 toneladas (30 toneladas só de pilhas).

Por Denise Ribeiro (Envolverde) / Edição de Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Poço contaminado com radiação permanece aberto em Caetité.

Mesmo após notificação da Secretaria de Saúde da Bahia e do Inga (Instituto de Gestão das Águas e Clima), água segue sendo consumida pela população.


Por Greenpeace

Ativistas do Greenpeace protestaram em frente ao prédio da Secretaria de Recursos Hídricos de Caetité, município do sudoeste da Bahia que abriga uma mina de urânio operada pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), pelo descaso das autoridades locais em relação à saúde da população rural do município.

Na última quinta-feira, dia 21, a prefeitura de Caetité e a estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil) foram notificadas para suspender imediatamente o uso de água de três pontos (entre eles um poço em Barreiros, zona rural da cidade), onde detectou-se a presença de radioatividade além do permitido pelo Ministério da Saúde.

A INB não deu qualquer satisfação sobre que atitudes tomou acerca dos dois pontos de água radiotiva que foram encontrados no terreno de sua mina. Quanto à prefeitura, ela simplesmente não moveu sequer um dedo para impedir o acesso ao poço de Barreiros e fornecer fontes alternativas de água à população local. Essa foi a razão do protesto do Greenpeace, realizado em frente à Secretaria de Recursos Hídricos do município.

A estrela da manifestação foi o Caveira Guy, anti-herói nuclear brasileiro. Enquanto ele oferecia às autoridades locais, em uma barraquinha improvisada, água coletada no poço de Barreiros e acondicionada dentro de garrafas com o rótulo "Água INB, Gostosa de Morrer", ativistas do Greenpeace, dentro do prédio, convidavam o Secretário de Recursos Hídricos a matar a sede com o líquido contaminado.

Afinal de contas, se não fechou o poço, pode-se supor que ele acredita que análise da água feita pelo Instituto de Gestão de Águas e do Clima do estado está errada. Portanto, não havia razão para que não consumisse a mesma água que a população de Barreiros bebeu e ainda está bebendo.

O secretário Nilo Joaquim de Azevedo, no entanto, demonstrou maior cuidado com sua saúde do que com o bem estar dos eleitores e recusou-se a beber a água contaminada. Nenhuma outra autoridade local apareceu para tomar o líquido.

O poço da comunidade de Barreiros foi aberto em 2007 e fornece água para toda aquela região. Dados oficiais apontam que 15 famílias fazem uso da fonte. Mas uma equipe do Greenpeace foi até o local e constatou que, além de continuar aberto, o poço é utilizado pelo dobro de famílias. Na água, o Inga detectou um índice de radioatividade de 0,3 bq/litro*. O máximo permitido de acordo com a portaria 518 do Ministério da Saúde é de 0,1 bq/litro.

Os outros dois pontos onde o Inga detectou contaminação por urânio ficam na área interna da mina operada pela INB. Num poço, o índice de radioatividade, de 4,07 bq/ litro*, está 40 vezes acima do que é permitido. No outro ponto de contaminação dentro do terreno da INB, um tanque de acumulação de água, a radiotividade detectada foi de 0,23 bq/litro.

A suspensão imediata do uso da água nestes três pontos foi determinada pelo diretor geral do Inga, Julio Rocha, logo após o recebimento dos resultados da última análise realizada pelo órgão na região. A presença de contaminação por urânio acima dos níveis considerados seguros para humanos em poços na área rural do município foi detectada pela primeira vez em 2005.

Em fins de 2008, o Greenpeace conduziu uma análise independente em sete pontos na região e constatou índices de contaminação elevados em dois deles. O Greenpeace levou os resultados para o Ministério Público Federal, que moveu uma ação civil pública contra a INB, e para o Ingá, que decidiu analisar as fontes de água na região.

A INB opera a mina de urânio de Caetité desde meados da década de 90 e apesar de garantir que faz análises periódicas da água em poços do município, não se tem notícia de que elas detectaram qualquer grau de radiotividade nocivo à saúde humana nos pontos analisados - que por sinal ninguém fora da empresa sabe quais são.

Depois que exames independentes registraram a presença da contaminação, a estatal mudou o discurso. Parou de bater na tecla de que o consumo da água local era seguro e passou a dizer que a extração de minério não tem nada a ver com isso e que a radioatividade encontrada na água que serve a centenas de famílias em Caetité é fruto do alto teor de urânio presente no solo da região. Em outras palavras, a INB deu uma de Pôncio Pilatos e lavou as mãos.

O ônus de provar que sua mineração de urânio não tem nada a ver com o problema permanece no colo da INB. A empresa é uma estatal financiada às custas do contribuinte. É portanto inconcebível que ela continue a tratar com tamanho desleixo a saúde não apenas de quem lhe paga as contas, mas que em última análise são também seus acionistas.

Mesmo que ela consiga um dia provar sua inocência na contaminação, isso não a exime, como a principal especialista em questões de urânio em Caetité, a orientar as autoridades e população locais sobre a necessidade de evitar o consumo da água contaminada. Mas a INB nunca se pronunciou sobre o assunto - a não ser para dizer que o problema não é seu. E nenhuma família jamais foi orientada de forma oficial sobre o caso. As informações que a comunidade ameaçada de contaminação possui foram obtidas através da imprensa.

Greenpeace/EcoAgência

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Reduzir perdas de água será desafio do século 21 .

Universalizar a distribuição da água sempre foi objetivo das companhias de saneamento. Muitos avanços foram feitos, grandes metrópoles no Brasil contam com suprimento de água para quase toda a população. No entanto, o setor de saneamento depara-se de forma crescente com o desafio de reduzir perdas no sistema. A perda física de água ao longo da cadeia de captação, tratamento e distribuição soma-se à perda comercial, causada por problemas de medição e fraude, gerando números preocupantes. As estimativas são de que pelo menos 45% da água distribuída no Brasil seja perdida pelo caminho.

Essa nova estimativa foi feita pela Associação Brasileira das Concessionárias Privadas dos Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon). Mas seu presidente, Yves Besse, afirma que a avaliação é conservadora, pois os dados são escassos. “Acho que na realidade o número é maior. As empresas simplesmente não medem suas perdas”, diz . Reportagem de Gustavo Faleiros, no Valor Econômico.

O engenheiro Nilson Taira, do Instituto Pesquisa Tecnológica (IPT), explica que a dificuldade em medir as perdas se deve à própria infraestrutura de produção das empresas. As instalações são velhas e não apropriadas para medição. “No século passado, por exemplo, não havia necessidade de se fazer medição. O desafio do século XXI vai ser fazer a água ser distribuída com eficiência.”

Besse observa que as perdas se tornaram um dos melhores indicadores de eficiência de uma empresa de saneamento, onde envolvem diferentes áreas. A capacidade operacional precisa estar presente não apenas na produção e distribuição de água, mas também na área comercial. O presidente da Abcon avalia que hoje, no Brasil, as perdas dividem-se igualmente entre físicas e comerciais. O problema é que quanto menos se mede a cobrança mais se incentiva o uso abusivo do recurso hídrico .”Mais ineficiente na gestão comercial, mais desperdício.”

A Sabesp, a maior companhia de saneamento do país, orgulha-se de sua batalha contra as perdas. De 2006 a 2009 reduziu suas perdas de 32% a 26% De acordo com informações da assessoria de imprensa, o volume recuperado seria o suficiente para abastecer uma cidade de 586,6 mil habitantes. Em 2010, a meta é chegar a 24%. E em 2013 a 19%. Um planejamento de dez anos foi criado. Batizado de Eficaz, o programa vai investir, até 2019 um total de R$ 3,3 bilhões (R$ 2,3 bilhões para redução das perdas reais, R$ 900 milhões para redução das perdas aparentes e R$ 100 milhões para gestão).

A taxa ideal ainda parece ser um assunto aberto. O número de referência citado por muitos é de um estudo do Banco Mundial que recomenda no máximo 25%. Nilson Taira lembra, entretanto, que as melhores empresas de saneamento são consideradas aquelas que já atingiram uma taxa de perdas de 10%. No IPT, o pesquisador trabalha em diversas “frentes” para atacar o problema . Segundo ele há um trabalho de desenvolver metodologias e capacitar as empresas em usá-las. Paralelamente, o instituto desenvolve tecnologias apropriadas para as instalações brasileiras. “Não é fácil, não existe milagre, o medidor feito em outro país pode não funcionar em condições locais”, ele explica.

A tecnologia por trás da redução de perdas é um campo em crescimento. Só neste ano acontecem os dois maiores eventos já realizados sobre o tema. Na semana que vem ocorre o Global Leakage, em Londres, e em junho, em São Paulo, o World Loss. Em ambos, os principais especialistas da área vão se reunir e apresentar trabalhos técnicos e conhecer novos produtos para o setor. Grandes empresas como a ABB estão entre as principais patrocinadoras. “Há vinte anos, a medição de perdas era baseada muito mais em estimativas do que um processo científico”, observa o britânico Malcolm Farley, um dos organizadores de ambos os eventos.

Segundo ele, um dos fatores que impulsionou a mudança foi a pressão exercida sobre as empresas pela regulação de saneamento no Reino Unido. As companhias, diz, estão investindo pesado nos últimos 15 anos e conseguiriam atingir taxas entre a 15% a 25%. São bons números, afirma Farley, mas se comparados com países como Singapura, Holanda e Japão, onde a perda fica na casa 10%, percebe-se que ainda pode ser melhor.

A questão no Brasil também pode ser resolvida por regulação. Nilson Taira, do IPT, faz um paralelo com a indústria de gás e petróleo, que também enfrenta uma batalha constante para reduzir perdas, e onde houve uma regulação forte pela Agência Nacional do Petróleo que está mudando o cenário. No setor de saneamento, por outro lado, a regulação ainda caminha lentamente seja através de agência regionais, como a de saneamento no estado de São Paulo, ou mesmo os comitês de Bacia.

MercadoEtico/EcoDebate

Uso excessivo de ar-condicionado pode ser ‘vilão’ da saúde.

Para garantir conforto e bem-estar, principalmente no verão, as pessoas acabam passando a maior parte do tempo em ambientes com ar-condicionado, seja em casa, no trabalho ou no carro. Mas o que a maioria não sabe é que essa sensação de alívio pode ser acompanhada de consequências perigosas. “O uso de equipamentos para resfriar o ar pode favorecer a proliferação de fungos e de bactérias que contribuem para o surgimento ou para o agravamento de doenças respiratórias”, alerta o Dr. Ubiratan de Paula Santos, pneumologista do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Estado da Saúde.

De acordo com o médico, isso acontece devido à falta de limpeza desses equipamentos na periodicidade adequada ou do modo correto. A exposição prolongada das pessoas a esses ambientes pode desencadear ou agravar alergias respiratórias, como rinite e asma, e infecções, como pneumonia e pneumonite por hipersensibilidade. Alguns desses problemas respiratórios podem evoluir para fibrose pulmonar, doença grave que pode levar o indivíduo à morte.

“A limpeza e a manutenção do filtro do equipamento de ar-condicionado devem ser rigorosas, para evitar o acúmulo de água e a concentração de microorganismos e de micropartículas”, diz Dr. Santos. Além disso, explica o médico, é preciso estar atento a outros fatores.

Aparelhos de refrigeração de ar localizados em ambientes com carpetes, máquinas de reprografia, impressoras e fogões devem receber cuidados especiais. Isso porque esses objetos e equipamentos liberam substâncias químicas nocivas à saúde. Nesse caso, é preciso aumentar a taxa de renovação do ar ambiente.

Essa medida preventiva deve ser adotada mesmo quando o sistema de refrigeração do ambiente é central, fato bastante comum em prédios.

Os veículos também requerem cuidados especiais, principalmente nas grandes cidades. Isso porque, devido ao trânsito intenso, a maioria das pessoas fica muitas horas dentro dos carros, ou seja, mais expostas aos riscos. “O filtro do ar-condicionado do automóvel precisa ser limpo regularmente, pois, com o uso, as impurezas captadas no ambiente externo saturam o filtro e contaminam o ambiente interno”, explica o pneumologista.

Nos carros, também é necessário estar atento à renovação do ar, isso porque o gás expelido pelo motor pode contaminar o ambiente interno do veículo – fora isso, quanto maior for o número de pessoas dentro do carro, maior será a saturação da qualidade do ar. É recomendado, além da manutenção e regulagem adequada do sistema, abrir as janelas por alguns momentos, alternando o modo de ventilação periodicamente. “Com essa medida simples, evita-se o acúmulo de impurezas no ar e no próprio motor”, esclarece o médico.

A baixa umidade do ar é outro problema que pode ocorrer com a utilização contínua de aparelhos de ar-condicionado, mesmo que a manutenção dos equipamentos seja adequada. O ar-condicionado ligado por muito tempo num ambiente fechado, explica o médico do Incor, diminui a umidade do ar. Com isso, há ressecamento das vias aéreas (brônquios), o que provoca irritação no nariz e garganta e facilita o agravamento de doenças respiratórias como asma e DPOC. O médico fala que o índice de umidade do ar em qualquer ambiente deve estar acima de 30% – abaixo disso, considera-se estado de alerta.

Informe da Secretaria de Estado da Saúde, São Paulo, publicado pelo EcoDebate, 25/01/2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eletronuclear indicará até fevereiro regiões para construção de novas usinas nucleares.

A Eletronuclear deve enviar até o próximo mês ao Ministério de Minas e Energia um estudo apontando as regiões em que serão construídas as próximas usinas nucleares no país. A informação foi dada na segunda-feira (18) por Leonam Guimarães, assistente da presidência da Eletronorte.

Segundo Guimarães, serão indicadas, inicialmente, cinco microrregiões nos estados da Bahia, de Alagoas, de Sergipe e de Pernambuco e, até o fim do ano, após a conclusão de outros levantamentos, o governo deve definir os locais exatos em que serão construídas as usinas.

Ele informou que atualmente estão sendo estudadas microrregiões nas quais é possível instalar uma central, com uma análise do litoral e dos vales dos grandes rios, como o São Francisco e o Sergipe. “Até fevereiro, vamos enviar ao governo (as conclusões do estudo)”, disse Guimarães, que participou nesta segunda-feira, no Rio, do Seminário Nacional de Energia Nucelar.

De acordo com o representante da Eletronuclear, nas próximas etapas serão feitos levantamentos mais aprofundados, incluindo pesquisa de campo de cada uma das microrregiões apontadas, além do desenvolvimento de relatórios de impacto ambiental. Ao fim de todo o processo, o governo, “a quem cabe a decisão política”, se encarregará de escolher os locais específicos para construção das usinas.

Ele informou que a Eletronuclear deve iniciar neste ano estudos para a construção de outras usinas na Região Sudeste. Para tanto, a estatal negocia um novo contrato com a Coordenadoria dos Projetos de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) para elaboração das pesquisas. “Ainda não começamos, mas vamos começar a estudar (essa região) neste ano. Espero que no ano que vem tenhamos condição de apontar os locais”, concluiu.

Na opinião de especialistas, a energia nuclear é uma alternativa economicamente viável e ambientalmente sustentável para suceder os combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão. Segundo o Ministério de Minas e Energia, com apenas um terço do território prospectado, o Brasil detém a sexta maior reserva de urânio do mundo. O país está entre as sete nações que têm conhecimento e meios para gerar energia elétrica de fonte nuclear.

Fonte: AmbienteBrasil/Agencia Brasil

Clima de micose.

A paracoccidioidomicose (PCM) é a micose sistêmica (isto é, que ataca órgãos internos do corpo) mais prevalente na América Latina. Mas, ainda que a PCM seja conhecida há mais de um século – o primeiro caso foi descrito em 1908 pelo médico Adolfo Lutz (1855-1940) –, até hoje pouco se conhece sobre a ecologia do fungo que causa a doença.

Utilizando dados epidemiológicos e climáticos, um grupo interdisciplinar de pesquisadores paulistas aplicou métodos estatísticos para criar um modelo capaz de avaliar a influência do clima na variabilidade da doença.

O trabalho se baseou em casos ocorridos entre 1969 e 1999 na região de Botucatu (SP), que é uma área considerada hiperendêmica. A PCM, também conhecida como blastomicose sul-americana, ou doença de Lutz-Splendore-Almeida, é endêmica na América do Sul.

A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista International Journal of Epidemiology, da Universidade de Oxford, concluiu que a presença do fungo cresce, a longo prazo, quando há um aumento da armazenagem de água no solo. E, a curto prazo, há maior liberação de esporos quando aumenta a umidade absoluta do ar. A PCM afeta especialmente trabalhadores agrícolas e indivíduos que lidam diretamente com a terra contaminada com os esporos do fungo.

De acordo com a primeira autora do artigo, Ligia Barrozo, professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), da Universidade de São Paulo (USP), o agente da PCM, o Paracoccidioides brasiliensis, raramente tem sido identificado na natureza e não havia estudos correlacionando a incidência da doença com variáveis climáticas.

“Existem evidências de que as pessoas adquirem a doença por inalação dos esporos do fungo provenientes do solo. Mas há grande dificuldade para se isolar o fungo do solo e, por isso, não conhecemos muito bem a ecologia desse agente, ou seja, não sabemos quais são os ambientes mais favoráveis para seu desenvolvimento e por que algumas regiões têm incidência maior, por exemplo”, disse Ligia à Agência FAPESP.

Segundo ela, a doença, em sua forma crônica, pode demorar várias décadas para se manifestar, o que dificulta os estudos, já que um indivíduo infectado pode ter adquirido a micose em outra época, em locais muito diferentes. Por isso o estudo foi focado na forma aguda, que se manifesta no máximo em 11 meses.

“Utilizamos dados epidemiológicos de uma região endêmica importante, que é a de Botucatu, e analisamos 91 casos ocorridos em 40 anos. A partir das datas das ocorrências, procuramos correlações com diversas variáveis que estavam disponíveis no período estudado: precipitação, temperatura do ar, armazenamento de água no solo e umidade absoluta e relativa do ar”, afirmou.

Com isso, os cientistas chegaram a um modelo que explica, em 49% dos casos, a variação de incidência, tendo em conta a umidade absoluta do ar e o armazenamento de água no solo nos dois anos anteriores às infeccções. “Há uma série de outros fatores, além do clima, que explicam a ocorrência da doença. Portanto, a correlação da ocorrência da doença com os fatores climáticos em 49% dos casos foi algo estatisticamente bastante significativo”, explicou Ligia.

Alterações climáticas - A partir do modelo, a equipe procurou explicar qual seria o significado biológico, para o fungo, da correlação entre a incidência e as condições climáticas. “Vimos que o aumento da umidade absoluta do ar no ano da infecção é importante para a liberação de esporos do fungo. Mas, quando há um aumento da precipitação dois anos antes da infecção, a umidade no solo cresce e o fungo se desenvolve ainda mais”, disse.

Segundo Ligia, a principal contribuição do desenvolvimento do modelo consistiu em verificar que mudanças ambientais rotineiras podem alterar a incidência de doenças como a PCM.

“Há estudos mostrando, por exemplo, que as mudanças climáticas têm impacto sobre a dengue e a malária. Nosso trabalho indica que alterações climáticas também podem modificar a incidência de doenças menos conhecidas, que não são transmitidas por vetores específicos, como as micoses endêmicas”, disse.

O artigo mereceu um comentário na mesma edição do International Journal of Epidemiology, feito por Dennis Baumgardner, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.

Segundo o cientista norte-americano, o trabalho brasileiro “fornece evidências de que os fenômenos climáticos e as atividades humanas no nível ‘macro’ agem de forma integrada com fatores ecológicos em nível ‘micro’, afetando o crescimento, a disseminação e a infecção humana por fungos sistêmicos”.

Baumgardner afirma ainda que estudos como esse, “se não obtiverem sucesso definitivo, no futuro, em termos de previsão e mitigação da doença, podem servir para orientar a seleção de amostras ambientais e contribuir para resolver os mistérios que cercam os nichos ecológicos desses importantes fungos”.

Além de Ligia, participaram do estudo mais dois pesquisadores da USP: a meteorologista Maria Elisa Siqueira Silva, também do Departamento de Geografia da FFLCH, e Gil Bernard, do Laboratório de Pesquisa Médica em Dermatologia e Imunodeficiências e do Laboratório de Micologia Médica da Faculdade de Medicina.

Os outros autores são da Universidade Estadual Paulista (Unesp): Eduardo Bagagli, do Departamento de Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biociências de Botucatu, Rinaldo Mendes, do Departamento de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina de Botucatu, e Silvio Marques, do Departamento de Dermatologia e Radioterapia.

(Fonte: AmbienteBrasil)

Petrobras vai usar gás que será extraído de aterro sanitário no Rio de Janeiro.

O gás resultante da decomposição do lixo no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, o maior da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, será usado como combustível. Um acordo assinado na segunda-feira (18) entre empresas, a prefeitura do Rio e o governo do estado prevê que 200 mil metros cúbicos diários de gás metano sejam utilizados como fonte de energia pela Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras.

A empres Gás Verde processará o gás que será retirado da montanha de lixo. Ela vai separar o gás carbônico do metano. Um duto de 6 quilômetros levará o combustível até a Reduc. A previsão é que a produção se inicie até o final deste ano. Segundo a Gás Verde, a reserva de gás do aterro deverá durar pelo menos 15 anos.

O uso do gás, que iria parar na atmosfera, também renderá créditos no mercado internacional de carbono. Segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, parte do dinheiro obtido com a venda do gás será revertida para as prefeituras de Duque de Caxias e do Rio de Janeiro (operadora do aterro), a projetos ambientais e a um fundo para catadores de lixo do aterro sanitário.

“O Jardim Gramacho é um dos maiores aterros da América Latina. Durante 30 anos, mais de 9 milhões de pessoas colocaram lixo lá. Isso é um dos emissores de gás do efeito estufa da Região Metropolitana. Ao capturar isso e transformar em gás natural, vamos deixar de emitir centenas de milhares de toneladas de CO2”, disse Minc.

Segundo o ministro, essa é a primeira grande ação brasileira de combate ao aquecimento global, desde a sanção da Lei do Clima, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2009. Segundo a Comlurb, empresa de limpeza urbana do Rio e responsável pelo aterro, o Jardim Gramacho deverá ser fechado em dois anos, mas a produção de gás continuará depois disso, devido ao acúmulo de lixo por anos.

(Fonte: AmbienteBrasil)

Estudo relaciona composição química da água a alta infestação por larvas do mosquito da dengue.

Água que atrai mosquito – Estudo realizado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo apontou uma relação direta entre a composição físico-química da água e a infestação por larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.

O trabalho foi realizado entre julho e agosto de 2009 em Potim, município do Vale do Paraíba onde foi constatado o maior Índice de Breteau (valor que define a quantidade de insetos em fase de desenvolvimento encontrada nas habitações humanas) no Estado de São Paulo.

Pesquisadores da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), órgão da Secretaria responsável pelo auxílio aos municípios no trabalho de controle da dengue, ficaram intrigados pelo fato de que as ações de combate ao mosquito não estavam surtindo o efeito desejado e que a infestação permanecia alta, chegando a atingir 25,85 em 2003 e 19,2 na última medição feita pelo município. (está certo esse índice? Parece que falta um elemento de comparação) O índice recomendado é inferior a 1.

Além disso, foi detectado que as caixas d’água das residências de Potim, abastecidas pela prefeitura local por meio de coleta de água em poços profundos, que recebe cloração e fluoração, apresentavam altos índices de positividade em relação à presença de larvas do Aedes aegypti, enquanto nas moradias que usavam água de poços rasos ou cacimbas esse problema não existia.

Para desvendar o mistério, os pesquisadores realizaram um experimento em laboratório usando três gaiolas com 50 fêmeas e 100 machos do Aedes aegypti. Colocaram, em cada uma delas, recipientes com 100 ml de água coletada em Potim e em Taubaté, além de água destilada, utilizada como controle. Os recipientes foram mudados de local em sentido horário durante 31 dias e as soluções de água trocadas a cada 24 horas. Além disso, foram realizados exames semanais de análise físico-química das amostras de água coletada.

Os resultados apontaram que, durante o período de um mês, foram depositados pelo mosquito 3,6 vezes mais ovos nos recipientes com água de Potim do que na de Taubaté e 3,2 vezes mais em relação ao recipiente de controle. Enquanto a água de Potim apresentou índice de atividade de oviposição de 0,54, a de Taubaté registrou índice negativo de -0,03.

Na análise físico-química, a concentração de nitrogênio amoniacal da água de Potim ficou em 1,93 mg/l (o máximo permitido em portaria do Ministério da Saúde é 1,5 mg/l), enquanto a de Taubaté foi inferior a 0,03 mg/l.

“O estudo indicou que a alta concentração de nitrogênio amoniacal atraiu o Aedes aegypti para a oviposição. A volatilização dessa substância provavelmente foi o atrativo químico responsável pela orientação do voo das fêmeas grávidas em direção aos recipientes onde colocaram seus ovos”, disse Gisela Rita Alvarenga Marques, pesquisadora da Sucen responsável pelo estudo.

Segundo ela, o resultado da pesquisa aponta a necessidade de os municípios com captação de água de poços profundos mudarem a forma de abastecimento por intermédio da implantação de estações de tratamento de água de superfície, visando a oferecer água de melhor qualidade para a população e reduzindo os riscos de proliferação do mosquito transmissor da dengue.

Fonte: Ecodebate

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Lei de 2007 previa que todos os municípios deveriam apresentar um plano básico de infraestrutura até o fim do ano.

Daniela Almeida



Os índices divulgados pelo Ministério das Cidades assustam. A coleta de esgoto chega a apenas 42% da população brasileira. E, do baixo percentual coletado, apenas 32,5% é tratado. O restante é despejado in natura em rios, mares e lagos. Se ainda assim fica difícil visualizar a gravidade da situação sanitária do país, um estudo sobre a diarreia divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em outubro do ano passado é bem ilustrativo. Há, no Brasil, pelo menos 18 milhões de pessoas sem banheiros ou fossas. Ainda assim, os números parecem não ser suficientes para mobilizar as prefeituras do país. E, diante da incapacidade dos municípios em elaborar planos de saneamento básico, o projeto de universalização do serviço no Brasil será adiado pelo governo federal.

Lei publicada em 2007 estabeleceu as diretrizes para ampliar o prestação de saneamento básico no país. Na tentativa de pressionar as prefeituras a abraçar a causa, a norma previu que todos os municípios deveriam apresentar um plano de saneamento para nortear os trabalhos até o fim deste ano. Quem não cumprisse a ordem ficaria impedido de receber recursos federais destinados à área. Mesmo com a promessa de restrição, de lá para cá pouco foi feito.

Alegando falta de capacidade técnica e financeira, os municípios pediram mais tempo. E a prece deverá ser atendida pelo governo. A regulamentação da lei que está em fase final de análise deverá ser publicada pelo Palácio do Planalto até fevereiro prevendo a ampliação de prazo para a elaboração de planos de saneamento municipais até o ano de 2012.

Alguns estados até iniciaram uma corrida para conseguir finalizar planos municipais de saneamento até o fim deste ano. Caso de Santa Catarina, onde o governo estadual decidiu pagar pela elaboração dos planos de municípios com menos de 50 mil habitantes. “Noventa e cinco por cento dos municípios não têm condições, nem técnicas nem financeiras, de elaborar os estudos”, explicou o secretário de Desenvolvimento Sustentável do estado, Onofre Agostine. Na avaliação de especialistas, são apenas movimentos isolados. “Não tinha a menor dúvida de que o prazo iria ser prorrogado. A lei é de 2007 e ninguém fez nada. Mas o governo vai ter que estudar uma forma de fazer a lei ser cumprida. Não adianta prorrogar o prazo, para, em 2012, descobrir que a política de saneamento não saiu do lugar”, criticou o presidente do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho.

Os tais planos municipais devem abordar o saneamento em quatro pontos principais: abastecimento de água, coleta de esgoto, drenagem de águas pluviais e tratamento dos resíduos sólidos. Entre esses, o Brasil pode declarar algum sucesso apenas no que diz respeito ao abastecimento, já que a cobertura de água encanada chega a 80,9% da população. Nos outros quesitos, o país ainda patina. “Nos anos 1960 e 1970, quando o Brasil começou a tratar dessa questão, a prioridade foi levar água encanada à população. Hoje, nós vemos que isso foi um erro. Estamos correndo para elevar os patamares da coleta e do tratamento do esgoto”, explicou o diretor de Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Saneamento do Ministério das Cidades, Sérgio Gonçalves.

Nos últimos anos, o governo federal elevou os investimentos no setor. De 1998 a 2002, segundo Gonçalves, cerca de R$ 1 bilhão era investido por ano em saneamento. De 2002 a 2007, a média dos investimentos triplicou, chegando a R$ 3,3 bilhões ao ano. Com o PAC, elevou a previsão para os anos de 2007 a 2010 ao patamar de R$ 10 bilhões anuais. Ainda assim, é pouco. A fim de universalizar o serviço no país seria preciso investir pelo menos, nos cálculos do Ministério das Cidades, R$ 180 bilhões. Se o nível dos investimentos for mantido, é um trabalho para pelo menos 18 anos.

Acontece que as estimativas do governo ainda são muito otimistas. Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 18% dos recursos do PAC para saneamento — o equivalente a R$ 4,5 bilhões — foram executados até dezembro. Nesse ritmo, o caminho para a universalização poderia demorar até 40 anos, levando em conta os R$ 180 bilhões que o governo calcula — nas contas do instituto, os investimentos teriam de ser ainda maiores: R$ 270 bilhões.




Futuro melhor
Segundo dados do Sistema Nacional de Informação do Saneamento — utilizado pelo Ministério das Cidades — a cobertura de água encanada no país atinge 80,9% da população. Nas áreas urbanas, esse número sobe para 94,2%. Já a coleta de esgoto chega a 42% da população total do país, sendo que nas áreas urbanas o índice sobe para 49,1%

Do total de esgoto coletado, apenas 32,5% é tratado. Nas áreas urbanas, o índice de tratamento de esgoto coletado está em 75%

As estatais dominam 93% da prestação de serviços de saneamento básico, o restante, 7%, está nas mãos de empresas privadas

Além de prever o corte de recursos para os municípios que não apresentarem planos de saneamento, a lei que estabelece diretrizes para o setor também determina a revisão dos planos de quatro em quatro anos, no máximo

O Ministério das Cidades prepara uma cartilha para auxiliar municípios na elaboração dos planos, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai apresentar no segundo semestre deste ano a Pesquisa Nacional do Saneamento Básico. A pesquisa vai subsidiar a elaboração do Plano Nacional de Saneamento Básico, que o governo federal espera entregar até o fim do ano. Um consórcio formado por três universidades federais — a de Minas Gerais (UFMG), a da Bahia (UFBA) e a do Rio de Janeiro (UFRJ) — trabalha na elaboração das peças técnicas que serão utilizadas para elaborar o plano nacional


Falta vontade política
Além das barreiras técnicas e financeiras, a universalização do saneamento ainda tem que vencer barreiras políticas. A mística de que investimentos no setor não rendem votos ainda é uma realidade no Brasil. “Aquela coisa de que saneamento é obra enterrada, que ninguém vê que melhorou, mas ainda existe. O político na hora de escolher entre fazer uma avenida ou uma rede de esgoto, vai fazer a avenida”, aposta o presidente do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho.

E, se por um lado, falta vontade do poder público, o setor de saneamento é um dos que as empresas privadas mais têm dificuldade para penetrar. Para se ter uma ideia, em 2009, nenhum contrato de concessão foi fechado no país. “Há essa crença de que a água é um bem público, e que não pode gerar lucro. Eu até concordo, mas pergunto: A água do Tietê é um bem público? Não é, e precisa ser tratada”, pondera Pinho.

A prova de que o saneamento ainda não emplacou entre as empresas privadas é o testemunho do diretor de Articulação Institucional do Ministério das Cidades, Sérgio Gonçalves. “No PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), o único lugar em que sobram recursos é no dinheiro de saneamento destinado a financiar empresas privadas”, afirma. Segundo ele, estavam previstos no plano a liberação de R$ 8 bilhões para financiar o setor privado — com as mesmas condições de benefícios oferecidos às estatais. Desse total, apenas R$ 2,2 bilhões foram usados. “Outros R$ 2,4 bilhões nós repassamos para o financiamento das empresas públicas, porque não haviam sido usados”, completou.

No entanto, é consenso que, sozinho, o setor público não conseguirá arcar com a universalização do saneamento básico. “A empresa privada quer lucro, e via de regra falta saneamento em locais pobres, onde eles não vão. Portanto, essas empresas também não resolvem o problema. Sabemos que é preciso um esforço conjunto: governos federal, estadual, municipal, estatais e empresas privadas. Sozinho, ninguém vai dar conta”, finalizou. (DL)

Correio Braziliense

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Projeto da UnB vai produzir asfalto a partir de material reciclado.

Com a utilização do material reciclado, espera-se uma queda de 50% nos custos.

Uma nova pesquisa do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes (Ceftru) da UnB pretende encontrar a melhor maneira de aproveitar materiais reciclados em pavimentação de rodovias. Intitulado Materiais Reciclados para Utilização em Pavimentação, o projeto acaba de receber um financiamento de R$ 1,119 milhão do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex).

O coordenador do projeto, professor Márcio Muniz, explica que dois tipos de material serão estudados inicialmente, mas há espaço para a análise de outros no futuro. A ideia é trabalhar com o asfalto fresado, que é retirado do revestimento das rodovias quando já está desgastado e com fissuras. “Existem milhares de toneladas desse material nos pátios de empresas e instituições que trabalham com pavimentação”, conta.

Outra possibilidade de reciclagem são os materiais de demolições e os desperdiçados da construção civil. Segundo a Associação de Empresas Coletoras de Entulhos e Similares (Ascoles), a construção civil despeja mensalmente 150 toneladas de resíduos no DF, o que equivale a 70% do peso de todo o lixo recolhido aqui. “Além de ser muito lixo, ainda reduz a vida útil dos aterros sanitários, que suportam peso até certo limite”, explica Muniz.

Um quilômetro novo de rodovia com faixa simples e sete metros de largura, fora do perímetro urbano, custa hoje, em média, entre US$ 400 mil e US$ 500 mil. A recuperação desse mesmo quilômetro, que costuma acontecer a cada dez anos, custa US$ 100 mil. Com a utilização do material reciclado, espera-se uma queda de 50% nos custos.

Soluções

A pesquisa pretende buscar soluções para os problemas ambientais, técnicos e financeiros relacionados à construção de rodovias. “É um conjunto. Não vamos, por exemplo, recomendar o uso de alta porcentagem de material reciclado só para resolver o problema dos resíduos ambientais, se não for viável do ponto de vista econômico e técnico”, ressalta.

Na primeira etapa do projeto, os pesquisadores vão quantificar o material para reciclagem e identificar onde está disponível. Em seguida, vão analisar o que o compõem e como pode ser utilizado. Os resíduos da construção civil, por exemplo, podem conter telha, que é um material poroso e quebra muito. “Qual a porcentagem que pode haver de telha no asfalto reciclado? Quanto de água pode ser adicionado na hora de dar a liga no cimento? Essas serão algumas da perguntas respondidas com o estudo”, revela Muniz.

Por fim, o asfalto reciclado será testado em laboratório e, posteriormente, em vias do Distrito Federal. “Já temos acordo com a Novacap para iniciar os testes em três anos”, conta. Após a aplicação, o asfalto será monitorado para avaliar os resultados.

A técnica da reciclagem já é usada em outros países, mas no Brasil é utilizada de forma empírica, sem muito estudo. O coordenador da pesquisa explica que o objetivo é racionalizar o processo e reduzir os custos.

Financiamento

O edital do Pronex é lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP/DF). É o maior edital para pesquisa no DF e um dos maiores do Brasil. Dos R$ 1,119 milhão destinado ao projeto, 90% será usado para a compra de equipamentos para o Laboratório de Engenharia Rodoviária (LER) do Ceftru, que é o terceiro melhor do país.

Além do professor Márcio Muniz, o projeto deve contar com a participação de outros 14 pesquisadores da UnB. Também estão envolvidos pesquisadores da USP, UFRJ, UFG e Novacap.

Fonte: RTS/UnB

Mudança de agente da diarreia.

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Um estudo epidemiológico realizado durante dois anos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) com crianças de João Pessoa (PB) sugere que os patógenos causadores da diarreia no Brasil estão mudando. A pesquisa mostrou que o mais prevalente dos agentes associados à doença é a bactéria Escherichia coli e não mais a Salmonella, que causava a maior parte dos casos há algumas décadas.

A pesquisa, cujos resultados foram publicados na revista Diagnostic Microbiology and Infectious Disease, foi coordenada pela professora Marina Baquerizo Martinez, do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (FBC) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP.

Segundo Marina, autora principal do artigo, o estudo analisou amostras de soro extraídas de 290 crianças com diarreia e 290 crianças saudáveis (grupo de controle). A Escherichia coli foi o patógeno mais prevalente associado à diarreia aguda, correspondendo a 47,4% dos microrganismos isolados. A variedade enteroagregativa foi a mais comum: 25%. Apenas 7,9% dos patógenos isolados eram Salmonella.

“Temos estudos feitos nas décadas de 1980, 1990 sobre a etiologia – ou fatores causais – da diarreia. Comparando o estudo feito na Paraíba com essa série histórica, podemos observar que na década de 2000 houve uma diferença acentuada em relação ao microrganismo que mais incide na população. Até agora, a Escherichia coli enteroagregativa não havia sido identificada no Brasil como agente principal”, disse Marina à Agência FAPESP.

Realizada entre 2004 e 2006, a pesquisa teve seus resultados aceitos para publicação em 2008, mas veiculados apenas em janeiro de 2010. Marina explica que, para estudos epidemiológicos, os dados podem ser considerados atuais.

“É importante fazer esse tipo de pesquisa porque, quando a criança com diarreia é atendida por um médico, o exame para identificação do agente causador da doença não faz parte da rotina. O estudo epidemiológico permite saber quais são os patógenos em circulação no país. Isso é relevante, pois o fator de virulência pode mudar muito”, disse a pesquisadora, que atualmente coordena três projetos de Auxílio à Pesquisa – Regular apoiados pela FAPESP.

De acordo com a professora, vários agentes emergentes têm sido identificados nos últimos anos, como o rotavírus. “Nas décadas de 1970 e 1980 o agente mais importante era a Salmonella. Mais tarde o rotavírus passou a ser um agente causador importante – tanto que a vacinação para esse microrganismo passou a ser oferecida na rede pública. Agora temos a prevalência da Escherichia coli”, explicou.

Os estudos epidemiológicos visando a identificar a virulência dos patógenos em circulação e as pesquisas sobre a etiologia mudaram, gradualmente, o tratamento da doença.

“Na década de 1980 muitas crianças eram internadas com diarreia causada por Salmonella. Hoje, graças a estudos sobre a etiologia da doença, foi possível tratá-la de forma mais global e passou-se a divulgar a necessidade de hidratar a criança o mais cedo possível. O resultado disso é que hoje as crianças não são mais internadas nesse caso”, explicou.

A pesquisadora afirma que o grupo se surpreendeu com a prevalência da Escherichia coli. “Achávamos que no Nordeste brasileiro a etiologia da diarreia permanecia a mesma, com predominância da Salmonella. Foi uma surpresa ver que a região tinha esses agentes atípicos como causa da diarreia aguda”, disse.

Questão de pobreza

O grupo liderado por Marina atualmente realiza um estudo da etiologia da diarreia no Hospital Universitário (HU) da USP, também com apoio da FAPESP.

“Estamos colhendo material para o projeto, que tem término previsto para março de 2011. A ideia é analisar a etiologia da diarreia em São Paulo para comparar com os dados dos estudos feitos na região nas décadas de 1980 e 1990”, disse.

A professora explica que a diarreia é uma doença infecciosa autolimitante – isto é, os sintomas desaparecem espontaneamente com o tempo. “Apenas em alguns casos muito graves há necessidade de tratamento e internação, por exemplo, quando as diarreias causadas por Salmonella geram febres muito altas e infecções no sangue”, afirmou.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a diarreia está entre as principais causas de mortalidade infantil, matando cerca de 2 milhões de crianças a cada ano em todo o mundo – especialmente nos países em desenvolvimento. No Brasil, a doença também é uma das maiores causas de mortes de crianças.

“Em São Paulo o quadro é parecido com o dos países desenvolvidos. Mas temos incidência e mortalidade bastante altas tanto no Norte como no Nordeste. A diarreia é, principalmente, uma questão de pobreza”, disse Marina.

O artigo Etiology of childhood diarrhea in the northeast of Brazil: significant emergent diarrheal pathogens, de Marina Baquerizo Martinez e outros, pode ser lido por assinantes da Diagnostic Microbiology and Infectious Disease em www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18508227.

Agência FAPESP

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Primeira avaliação de 2010 revela índice estável de proliferação da dengue.

O primeiro Levantamento de Índice Rápido de Infestação do Aeds aegypti (Lira) de 2010 em Aracaju apontou resultados positivos se comparados ao ano de 2009. O índice geral foi de 1.6 e pode ser considerado favorável por se relacionar a um período do ano em que é esperado um aumento no número de focos do mosquito.

Apesar de o índice ter se mantido estável, a coordenadora da Vigilância Epidemiológica (Covepi) e do Programa de Combate a Dengue de Aracaju, Taíse Cavalcante, informa que este ainda é um índice de estado de alerta. O índice que varia entre 1.0 a 3.9 aponta que é necessário nos fazermos atentos ao risco de infestação pelo mosquito da dengue. E por isso a Prefeitura está sempre alerta e orienta a população a permanecer com os mesmos cuidados para evitar o acúmulo de água parada, que propicia a proliferação das larvas do Aedes aegypti, observou a coordenadora.
Este primeiro Lira de 2010, cuja avaliação foi encerrada na última sexta-feira, 8, avalia os trabalhos de combate a dengue efetuados pelo município no sexto ciclo do ano de 2009, que corresponde aos meses de novembro e dezembro do referido ano. O Lira é realizado a cada dois meses e mede o índice de proliferação dos focos do Aeds aegypti nos bairros aracajuanos, indicando as áreas com risco maior de índice de infestação. Este levantamento permite ao Programa Municipal de Combate a Dengue de Aracaju fazer um diagnóstico das ações adotadas e poder direcionar seus trabalhos de acordo com as necessidades específicas de cada bairro.

Taíse Cavalcante destaca que os resultados do último Lira mostram que este ano nenhum bairro aracajuano apresentou alto grau de risco de infestação. De acordo com o método de avaliação do Programa Nacional de Combate a dengue, se comparado ao ano passado, onde o primeiro Lira do ano apontou quatro bairros com alto Índice de infestação do mosquito, nesta ano alcançamos uma grande vitória. Nenhum bairro de Aracaju se enquadrou neste grau de risco, divulgou Taíse.

Em contrapartida, observou-se nos resultados dos últimos três Liras, ainda segundo Taíse, um aumento crescente no tocante aos pequenos criadouros de depósitos fixos. As calhas d´água, ralos e sanitários em desuso são os principais reservatórios de água onde as larvas mais se desenvolvem. Estes são locais onde os agentes de endemias não utilizam o produto químico de tratamento mecânico, cabe ao dono da casa fazer a limpeza e estar atento a limpeza destes depósitos.

A coordenadora do Programa de Combate a Dengue de Aracaju ressalta que o acúmulo de água nestes pequenos criadouros de depósitos fixos resultaram em um aumento de 37.5% na taxa de proliferação do Aeds aegypti. Outro grave problema neste sentido são as lavanderias e grandes reservatórios de água, que repercutiu num aumento de 61% dos focos de dengue. Por isso, pedimos a população que efetue a limpeza dos quintais de modo que não venha a permitir os depósitos de água parada aonde o mosquito se reproduz, reforçou Taíse Cavalcante.

Faxaju

domingo, 3 de janeiro de 2010

Contaminação do solo será controlada e gerenciada.

Um conjunto de normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) passa a valer, a partir de agora, para o gerenciamento de áreas contaminadas no País onde vivem mais de dois milhões de brasileiros, atualmente expostos a contaminantes químicos. Além de determinar o controle dessas áreas, a Resolução do Conama vai uniformizar os procedimentos a serem adotados pelos órgãos ambientais em todos estados e municípios, para verificação da qualidade do solo, níveis de contaminação e medidas de gestão adequadas.

Os principais poluentes que prejudicam o solo e expõem as pessoas a doenças são os agrotóxicos (20%), derivados do petróleo (16%), resíduos industriais (12%) e metais (12%). Além de sua presença nos solos, os agentes tóxicos, patogênicos, reativos, corrosivos ou inflamáveis podem ser encontrados em águas subterrâneas ou em instalações, equipamentos e construções abandonadas, em desuso ou não controladas.

De acordo com levantamento realizado pelo Ministério da Saúde de 2004 a 2008, das 2.527 áreas contaminadas existentes no Brasil, três estados concentram o maior número de pessoas potencialmente expostas. São eles São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro.

Segundo dados do Ministério da Saúde, a situação dos contaminados representa um desafio para o Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente com relação à definição de como cuidar da saúde integral das pessoas expostas a contaminantes. E também de como o setor de saúde deve se articular de forma intersetorial, especialmente com os órgãos ambientais e de infraestrutura e até de Justiça, como forma de melhor atender a essa população. A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirma que 24% a carga global de doenças e 23% dos óbitos prematuros estão relacionados a problemas ambientais.

A Resolução aprovada pelo Conama ficou três anos em tramitação dentro do Conselho e outros quatro em análise no MMA. De acordo com ministra interina do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, sua aprovação concluiu um ciclo estruturante dentro do Conama, se juntando à definições que tratam da qualidade do ar e da água, desde a década de 80.

A Resolução aprovada determina que o gerenciamento de áreas contaminadas terá como princípios básicos a geração e disponibilização de informações; a articulação, cooperação e intergração interistitucional entre os órgãos da União,dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, os proprietários, os usuários e demais beneficiados ou afetados; a gradualidade na fixação de metas ambientais, como subsídio à definição de ações a serem cumpridas; a racionalidade e otimização de ações e custos; a responsabilização do causador pelo dano e suas consequências e a comunicação do risco.

Para o gerenciamento das áreas serão procedimentos e ações deverão estar voltados ao atendimento da eliminação do perigo ou à redução do risco à saúde humana; da eliminação ou minimização dos riscos ao meio ambiente; para evitar danos aos demais bens a proteger; evitar danos ao bem estar público durante a execução de ações para a reabilitação; e possibilitar o uso declarado ou futuro da área, observando o planejamento de uso e ocupação do solo.

O órgão ambiental responsável pelo gerenciamento da área deverá instituir procedimentos e ações de investigação e de gestão seguindo etapas determinadas de Identificação, Diagnóstico e Intervenção.

Na primeira etapa, quando forem identificadas áreas contaminadas, deve ser realizada uma investigação confirmatória, com custos para o responsável, seguindo normas técnicas e procedimentos vigentes. O diagnóstico tem por objetivo subsidiar a etapa de intervenção, caso a investigação confirmatória tenha identificado substâncias químicas em concentrações acima do valor de investigação. A intervenção prevê a execução de ações de controle para a eliminação do perigo ou sua redução a níveis toleráveis, bem como o monitoramento da eficácia das ações executadas, considerando o uso atual ou futuro da área.

AmbienteBrasil