quinta-feira, 28 de abril de 2011

Responsabilidade Social e consumo consciente – o outro lado da moeda

Melissa Pimentel*, especial para o SESI

De qual forma a responsabilidade social praticada pelas empresas impacta nosso dia a dia? O que o consumidor percebe destas ações praticadas pelas empresas? Faz alguma diferença na opção de compra do consumidor final o modo como a companhia se comporta em relação às dimensões ambientais e sociais de seu negócio? Como o comportamento de compra impacta no desenvolvimento sustentável de nossa sociedade? Qual o papel do governo, das corporações e do consumidor?

A pesquisa Responsabilidade Social das Empresas & Percepção do Consumidor Brasileiro, elaborada pelo Instituto Akatu e pelo Instituto Ethos, no final de 2010, busca compreender e monitorar a percepção do consumidor brasileiro sobre a responsabilidade social das empresas (RSE). A idéia também foi buscar indicações de como tornar mais efetivas as estratégias utilizadas para a sensibilização e mobilização deste consumidor, para que ele possa utilizar seu poder de compra como forma de “pressão” para que as empresas transformem suas atividades incorporando diretrizes alinhadas às boas práticas sociais e ambientais de um negócio. Da mesma forma, busca sinalizar tendências das ações das empresas no campo da responsabilidade social, de forma a estimular a ampliação desse movimento no meio empresarial.

Uma das informações mais relevantes da pesquisa mostra que, em relação aos dados obtidos em 2006, houve um aumento de consumidores “indiferentes” ao consumo consciente (de 25% para 37% do total), ao mesmo tempo em que o percentual de consumidores “conscientes” manteve-se inalterado no patamar de 5%. Para avaliar a evolução das práticas de consumo consciente pela população foram analisadas mais de uma dúzia de comportamentos utilizados para classificar os consumidores em quatro grupos indicativos de maior ou menor grau de assimilação: os indiferentes; os iniciantes; os engajados e os conscientes.

Considerando o aumento populacional do período, 5% equivalem a cerca de 500 mil consumidores aderindo a valores e comportamentos mais sustentáveis, o que pode ser avaliado como bastante positivo. Com o crescimento e a estabilização da economia brasileira, o aumento da renda dos trabalhadores e o acesso a crédito, as classes mais baixas se viram capazes de almejar bens e serviços que antes não tinham acesso, inclusive de itens que são usados tradicionalmente para qualificar a classe social de uma família. A classe média brasileira já teve nos últimos anos um avanço significativo e passou de 18% para 30% da população total no período entre 1990 e 2004. A classe C tem 46% da renda nacional e a tendência é continuar crescendo e chegar a cerca de 60% em meados do século, aproximando-se do patamar dos países desenvolvidos.

Foram analisadas também práticas que fornecem dados sobre adesão aos comportamentos de consumo consciente que podem ser agregadas em quatro grupos: práticas de economia (de benefício direto ao indivíduo, focando o não-desperdício com retorno de curto prazo); práticas de planejamento (otimização racional de recursos que são melhor aproveitados com retorno de médio e longo prazos); práticas de reciclagem (ligadas ao descarte, reutilização e reaproveitamento de materiais com retorno imediato ou não); e práticas de compras sustentáveis (indicam consumo consciente e mobilização pelas causas ligadas à sustentabilidade e à responsabilidade social empresarial). Os grupos de comportamento economia e planejamento tendem a gerar mais impacto direto para o indivíduo, enquanto os comportamentos associados aos grupos de compra sustentável e reciclagem tendem a gerar impactos mais amplos e pressupõem maior nível de comprometimento com a causa. Os dados da pesquisa mostram que não houve mudanças significativas desde 2006. Vale destacar, entretanto, que os comportamentos de economia são praticados todos com percentuais acima de 60% de consumidores que “sempre os adotam”. Em contraposição, os comportamentos que pressupõem maior nível de consciência, ligados ao grupo de compras sustentáveis têm todos menos de 30% de consumidores que os praticam “sempre”.

Outro ponto que merece destaque no relatório é o baixo interesse sobre o tema de RSE. Além disso, e como decorrência desse fato, também se constata um percentual baixo de consumidores que buscam informações sobre o tema: apenas 16%, principalmente consumidores pertencentes às classes A e B.

Alternativamente, ecologia e meio ambiente despertam um interesse muito maior que RSE, e, mais ainda do que o “indecifrável” tema da Sustentabilidade. Concretamente, 84% dos consumidores não conhecem, ou não sabem definir, ou apresentam uma definição incorreta para o termo Sustentabilidade. Apenas 16% dos consumidores têm alguma ideia do seu significado, que se aproxima mais das dimensões ambientais da sustentabilidade.

O terceiro ponto interessante do relatório são os resultados da análise feita sobre as expectativas dos consumidores em relação às ações desenvolvidas pelas empresas. A grande maioria acredita que as companhias devem ultrapassar as demandas de compliance, ou seja, ir além do que está estabelecido pela legislação vigente. Boa parte deste grupo (60% do total) acredita que a atuação das empresas deve ser pautada também pelos potenciais benefícios que a sua atividade gera para a sociedade como um todo, além dos óbvios benefícios que busca obter para si. Outro grupo bastante representativo (25%) também acredita que as empresas devem ir além do estabelecido na lei na medida em que os benefícios destas ações possam ser repassadas aos clientes.

Mesmo assim, embora a expectativa seja grande, a percepção do consumidor sobre o que a empresa diz que faz está aquém do desejável. Quase a metade dos consumidores consultados (44%) não acredita no que as empresas divulgam sobre suas ações de RSE. Outros 40% acreditam que dependente de qual corporação ou qual o meio de divulgação da informação. As empresas e suas marcas estão constantemente presentes no dia a dia do consumidor e são percebidas e valorizadas por ele, ou não. A satisfação de um consumidor em relação ao seu fornecedor de produtos e serviços varia conforme a sua expectativa prévia, que pode estar fundamentada na satisfação de um desejo impulsivo, no valor do status que o bem ou serviço proporciona ou na satisfação de uma necessidade básica. As marcas e suas empresas estão presentes no cotidiano da comunicação, na TV, nas mídias impressas, nas redes sociais. Parece crucial divulgar as ações desenvolvidas pelas empresas de forma ética e transparente.

A análise da expectativa dos consumidores quanto ao papel das empresas também merece destaque. De forma geral o consumidor espera que haja imposição de responsabilidades sobre as empresas, e não apenas um estímulo a uma ação de adesão voluntária. Do total de entrevistados, pouco mais de 60% consideram que o governo deve obrigar as empresas a tornar a sociedade um lugar melhor para todos; que devem ser criadas leis que exijam que as fabricantes forneçam instruções claras sobre uso e descarte dos produtos, e, que é importante que o consumidor pressione as organizações para que evitem danos ao meio ambiente. Em relação ao processo de escolha de produtos e serviços, a pesquisa indica que as razões que influenciam com mais intensidade a decisão de compra estão ligadas à preocupação com a segurança do uso dos produtos para saúde (59%), a existência de programas de melhoria da educação e da saúde (53%), e, com o fato da empresa não fazer propaganda enganosa (53%). Os aspectos de maior impacto são os mesmos quando a pergunta se refere a ações que reduziriam o interesse em marcas de algum produto ou serviço.

Ao que parece, mesmo tendo pouco conhecimento sobre o tema em sua abordagem mais teórica, há uma expectativa clara de um posicionamento mais firme tanto de governos quanto das empresas no que se refere a mudanças de comportamento, principalmente nos temas ligados à saúde e segurança do uso de produtos, preocupação com os impactos ambientais do negócio e transparência na divulgação de informações. Mas o que as empresas fazem está alinhado com as expectativas do consumidor? Qual é a percepção do consumidor sobre a prática de responsabilidade social das empresas?

Para tentar responder a esta pergunta foi solicitado aos consumidores que assinalassem uma relação de 56 tipos distintos de práticas desenvolvidas pelas empresas, ordenadas de acordo com a percepção de importância do consumidor para uma corporação seja considerada socialmente responsável. As 56 práticas apresentadas foram divididas em seis dimensões: “Direito das Relações de Trabalho”, “Proteção das Relações de Consumo”, “Meio Ambiente”, “Relacionamento com seus Públicos”, “Ética e Transparência” e “Governança Corporativa”.

Notadamente, em praticamente todas as dimensões (exceto Governança Corporativa) é maior o percentual de consumidores que valoriza as práticas que o percentual de empresas que as pratica. Vale ressaltar também que as três dimensões mais importantes são as mesmas para os dois públicos. Meio ambiente aparece em terceiro lugar. Foram destacadas as 11 maiores prioridades do público pesquisado e, como esperado, seis das práticas mais importantes estão ligadas ao tema “Direito das Relações de Trabalho” e duas remetem à racionalização do uso de água e energia, ligadas ao tema “Meio Ambiente”. As outras três estão ligadas ao tema da “Proteção das Relações de Consumo”, principalmente nas áreas de saúde e segurança do consumidor e a outra está relacionada à divulgação de informações sobre os impactos sociais e ambientais do consumo.

Concluindo, o relatório apresenta vários dados que podemos considerar bastante positivos. Neste caso, vale ressaltar o crescimento do número absoluto de consumidores conscientes, a familiaridade com os temas de ecologia e meio ambiente, o reconhecimento das ações mais concretas e tangíveis, além do alto nível de expectativas sobre o impacto das ações das empresas e do papel do governo neste cenário.

Alternativamente, o grande crescimento do segmento de consumidores indiferentes ao tema, resultado da crescente explosão de consumo, o caráter hermético e conceitual da responsabilidade social e da sustentabilidade, a falta de confiança em relação às fontes e aos conteúdos da informação divulgada sobre RSE, e, o baixo alinhamento das expectativas do consumidor com as ações das empresas dificultam a disseminação do consumo consciente e de práticas de responsabilidade social.

Do ponto de vista das corporações o mais importante é desenvolver novas tecnologias e novos processos produtivos capazes de criar produtos e serviços inovadores, rentáveis e de baixo impacto social e ambiental, conhecer melhor as expectativas dos seus consumidores e divulgar mais e melhor as ações, de forma ética e transparente, buscando promover uma transformação efetiva do comportamento de compra do consumidor.

Do ponto de vista dos governos existe a expectativa de que haja mais do que mero estímulo a adesão voluntária das empresas para a implantação de diretrizes e programas de responsabilidade social, o que demanda uma atuação mais firme do poder público tanto no desenvolvimento de leis quanto na implantação de políticas públicas de longo prazo.

Vale a pena destacar o fato de que a explosão do consumo promovida pela ascensão social de grupos menos favorecidos significa, para as empresas, uma oportunidade de ampliação de mercados e de volume de negócios. Significa também para os consumidores o acesso a bens e serviços que representam a tal almejada “vida melhor” desfrutada pelos mais ricos. Mas quais as possibilidades de compatibilização do desenvolvimento sustentável com o consumo consciente, dado este novo contexto econômico e social? Certamente não serão considerações racionais ou apelos a comedimento no consumo que impedirão a “nova classe média” de comprar bens e serviços a que hoje têm acesso. Além do mais, seria leviano afirmar que a responsabilidade pelo comportamento insustentável do consumismo desenfreado é responsabilidade única e exclusivamente desta fatia da população.

A questão que hoje se coloca é como desenhar um modelo de desenvolvimento que, segundo Fritjof Capra, significa definir “modos de vida, tecnologias, e instituições sociais que prestigiam, apóiam e cooperam com a capacidade inerente da natureza de sustentar a vida humana na terra”. E esta não é uma questão recente e nem um dilema da primeira década do novo milênio. O Relatório de Bruntland, de 1987, já apontava que “a humanidade tem a capacidade de fazer o desenvolvimento sustentável e assegurar que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”.

Além da elaboração e implantação de políticas públicas e da busca por soluções tecnológicas inovadoras que reduzam os impactos da explosão de consumo, é necessário mudar o mindset da sociedade como um todo. É preciso desconectar felicidade e realização do consumo desenfreado, caso contrário buscar “inclusão social com sustentabilidade” se tornará uma meta inatingível. Somente assim, reconhecendo a responsabilidade e a possibilidade de contribuição de cada um dos setores da sociedade brasileira, será possível contribuir para a construção de um modelo de progresso econômico e social que permitirá que todos os brasileiros atinjam boas condições de vida — sem comprometer as condições de sustentabilidade.


Fonte: Mercado Ético

Destino do lixo nuclear, uma ‘herança’ para nossos filhos

País quer construir mais quatro usinas nucleares, mas não sabe o que fazer com resíduos radioativos.

A usina nuclear de Angra 1, no litoral do Rio, entrou em operação há 26 anos e a de Angra 2, há 9. O governo pretende inaugurar Angra 3 em 2015 e já concluiu estudos para a construção de mais quatro usinas, duas no Nordeste e duas no Sudeste. Mas ainda não sabe o que fazer com seu lixo nuclear, que permanece radioativo por cerca de 300 anos. Reportagem de Karina Ninni, em O Estado de S.Paulo.

“Existem algumas soluções, só que não temos a garantia de que sejam suficientes a longo prazo”, diz Ricardo Baitelo, engenheiro e coordenador de energia do Greenpeace. “O custo de construir os depósitos não está incluído nas tarifas da energia de Angra 1 e 2, mas teremos de pagar por ele de alguma forma.”

A geração de energia por fissão nuclear deixa dois tipos de resíduo: os de baixa e média radioatividade e os de alta. Por enquanto, o Brasil estoca tudo em depósitos (lixo de baixa e média) e piscinas (alta) nos prédios das usinas de Angra 1 e 2.

Como condicionante para a licença de operação de Angra 3, o Ibama estipulou que o País deve iniciar o processo de licenciamento de um depósito definitivo de resíduos de média e baixa radioatividade e apresentar o projeto de um depósito de resíduos de alta radioatividade.

Este último é o nó da questão, embora especialistas afirmem que o Brasil pode esperar cerca de 30 anos até definir uma solução. O governo parece se inclinar por uma saída intermediária. “Ainda não decidimos se vamos comprar serviços de reprocessamento ou se vamos tratar o combustível como rejeito radioativo e estocá-lo do jeito que está”, diz Laércio Vinhas, diretor de Segurança da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão federal que supervisiona o setor nuclear. “A Eletronuclear (estatal que constrói e opera usinas) e a CNEN estão fazendo um projeto de depósito de resíduo de alta no Brasil, mas ainda não é o definitivo. É um lugar onde os elementos combustíveis poderiam ficar por 200, 300 anos até que as novas gerações decidam o que querem fazer: tratá-los como rejeito ou reprocessar.” A previsão é de que esse depósito intermediário esteja operando em 2026.

O reprocessamento é um processo de “reciclagem” do combustível já usado nos reatores. Os poucos países que têm essa tecnologia, como França, Reino Unido e Japão, conseguem reaproveitar 95% do combustível. “O reprocessamento é politicamente complicado porque um dos elementos obtidos é o plutônio, usado para confecção de armamentos nucleares”, afirma o físico Luís Antônio Terremoto, pesquisador do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), vinculado à CNEN e à Universidade de São Paulo.

Tanto para ser reprocessado como guardado a seco, porém, o combustível deve ser resfriado em piscinas por períodos de, em média, cinco a oito anos. “As piscinas de Angra conseguem estocar os elementos combustíveis até 2020″, garante Leonam dos Santos Guimarães, assessor da presidência da Eletronuclear. Pesquisador da CNEN, Rogério Pimenta Mourão revela que há planos de construção uma piscina extra no complexo.

“Algum dia, todo país que produz rejeitos de alta atividade vai ter de ter um depósito”, diz Mourão. A tarefa não é fácil mesmo no Primeiro Mundo. A Suécia foi o primeiro país a licenciar um projeto de depósito definitivo, com operação programada para 2015. Os Estados Unidos vêm há anos tentando construir um na montanha de Yucca, em Nevada, orçado hoje em US$ 100 bilhões. “A diferença é que o consumidor americano paga por ele desde os anos 80″, diz Baitelo.

Fonte: EcoDebate.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Geração de lixo em 2010 foi seis vezes superior ao crescimento da população

Por Bruno Bocchini/ Agência Brasil


O Brasil produziu 60,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2010, quantia 6,8% superior ao registrado em 2009 e seis vezes superior ao índice de crescimento populacional urbano apurado no mesmo período.

Os dados, divulgados nesta terça-feira (26), são do Panorama dos Resíduos Sólidos, estudo feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O levantamento aponta que a média de lixo gerado por pessoa no país foi de 378 quilos (kg), montante 5,3% superior ao de 2009 (359 kg).

Mesmo com o aumento da geração de resíduos, o crescimento da coleta de lixo apresentou crescimento expressivo, superior à geração. Em 2010, das 60,8 milhões de toneladas geradas, 54,1 milhões de toneladas foram coletadas, quantidade 7,7% superior à de 2009.

O levantamento identifica ainda uma melhora na destinação final dos resíduos sólidos urbanos: 57,6% do total coletado tiveram destinação adequada, sendo encaminhados a aterros sanitários, ante um índice de 56,8% no ano de 2009.

Mesmo assim, a quantidade de resíduos encaminhados a lixões ainda permanece alta. “Quase 23 milhões de toneladas de resíduos seguiram para os lixões, em comparação a 21 milhões de toneladas em 2009”, afirmou o diretor executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho.

Em relação à reciclagem, o estudo mostra tendência de crescimento, mas em ritmo menor ao da geração de lixo. Em 2010, 57,6% dos municípios brasileiros afirmaram ter iniciativas de coleta seletiva, ante 56,6% em 2009. “É importante considerar que, em muitos casos, as iniciativas resumem-se à disponibilização de pontos de entrega voluntária”, ressaltou o diretor.

Fonte:AmbienteBrasil

Escassez de água deixa setor elétrico e produtores rurais do país em guerra

No sudoeste do Piauí, onde estão importantes nascentes para o Rio Parnaíba e para seu principal afluente, o Uruçuí-Preto, pequenos produtores rurais travam uma disputa cotidiana. Desde a entrada da fronteira agrícola da soja, que ocupa vales e chapadas com alta capacidade de drenagem, falta água para as pequenas plantações em uma região já marcada por períodos prolongados de seca. Técnicos ambientais que desenvolvem diagnósticos no Vale do Rio Uruçuí-Preto constatam um cenário de intenso conflito. Reportagem de Vinicius Sassine, no Correio Braziliense.

Antes, se dois agricultores conviviam pacificamente numa mesma área, agora só existe disponibilidade hídrica para um deles. O recurso utilizado por muitos desses produtores é trancar com corrente e cadeado as rodas d’água de proprietários que representam um risco na busca pela água. Essa disputa se estende a três assentamentos rurais na região. Não há abastecimento nem infraestrutura para tanto: cada assentado tem uma fonte própria, o que alimenta os conflitos.

Em outros estados do Nordeste, o foco dos problemas é a necessidade de uma grande quantidade de água para o consumo animal. A briga na região do Rio São Francisco abrangida pelo Cerrado é protagonizada pelas empresas que constroem usinas hidrelétricas e pelos grandes produtores rurais, dependentes de pivôs de irrigação. O setor elétrico duela por água — o principal oponente é o setor de transporte hidroviário — em pelo menos três bacias: São Francisco, Tocantins-Araguaia e Paraná.

O conflito pelo uso da água no Cerrado, percebido em diversas regiões, é o resultado mais irônico e mais prático do desmatamento sem controle do bioma. O Cerrado abastece 1,5 mil municípios brasileiros, fornece água para o Pantanal e a Amazônia, contribui para recursos hídricos até mesmo na costa brasileira. Ironicamente, as disputas por água se tornaram cada vez mais frequentes, assim como a exploração irregular e ilegal de poços profundos. Falta água na superfície. Para muitos, a saída mais apressada é a perfuração de poços sem autorização de órgãos competentes.

Duelos no DF
A realidade no Distrito Federal, uma região rica em nascentes e fornecedora de água para o restante do país, resume essa situação. Um levantamento da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) identificou 25 mil usuários irregulares de água superficial e subterrânea, tanto em áreas urbanas quanto na zona rural. A quantidade era bem maior: 5,5 mil se regularizaram nos últimos anos.

O período de seca — de maio a setembro — é de disputa por água, em especial na Bacia do Pipiripau, uma região permeada por nascentes. Foi necessário um decreto do Governo do DF, de setembro do ano passado, para disciplinar o uso da água e dirimir os conflitos.

Duelam pelas águas do Pipiripau, na divisa do DF com o município de Formosa (GO), grandes produtores de café, empresas de extração e lavagem de areia, os pequenos produtores do Canal Santos Dumont e a Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), que extrai a água para o abastecimento de Planaltina (DF). O Pipiripau já é fonte de abastecimento de Planaltina há 11 anos. Desde então, os produtores do Canal Santos Dumont — que produzem frutas, verduras e hortaliças no local há quase três décadas — precisaram mudar a maneira de plantar. A água que escorre pelo canal, construído para facilitar o abastecimento das propriedades rurais, tornou-se mais escassa. O racionamento do uso foi a única saída.

O decreto do GDF estabeleceu as regras do revezamento no uso da água. Para o Canal Santos Dumont, a vazão precisou ser diminuída em 100 litros por segundo. Em períodos de maior seca, a água chega dia sim, dia não ao canal, que tem mais de 15 quilômetros, levando-se em conta as ramificações. A associação dos produtores do local é responsável por fechar, com cadeados, as pequenas comportas ao longo do canal. Esse controle já ocorre há 10 anos. Em épocas mais críticas de falta de chuva e de secura do Pipiripau, os produtores chegaram a perder 60% do que foi plantado.

Antes de a Caesb começar a retirar água para o abastecimento de Planaltina, 570 litros de água chegavam ao Canal Santos Dumont a cada segundo. Agora, são 350 litros, quantidade que cai pela metade durante a seca. “A gente procura usar a água da maneira mais racional”, diz o produtor rural José Yeide Makiama, 49 anos. Seu Zezinho, como é conhecido, está na região há 20 anos. Planta limão, abacate, manga, chuchu, tomate e mandioca, a exemplo de outros 30 japoneses ou descendentes que estão no local. A partir de junho, começa o período da “cautela”, como diz.

Ele se lembra de uma ameaça do GDF de cortar pela metade o fornecimento de água aos produtores. “O governo alegou que a gente desperdiça água. Mas, aqui, o uso é controlado, com uma tecnologia mais econômica, e impermeabilização dos reservatórios”, conta. “Se não fosse a gente, isso aqui já teria virado um condomínio há muito tempo.” O Parque Piquizeiro, uma área preservada de Cerrado de 770 hectares, está localizado no núcleo rural do Canal Santos Dumont.

Fonte: EcoDebate.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Especialista brasileiro premiado por atuação em hidrologia diz que gestão da água no Brasil é ruim

Segundo Carlos Eduardo Morelli Tucci, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, só 15% da água usada no Brasil tem tratamento adequado, com eliminação de impurezas

Referência mundial na pesquisa científica sobre recursos hídricos, Carlos Eduardo Morelli Tucci, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e engenheiro civil por formação, anda às voltas na identificação dos principais problemas de recursos hídricos no Brasil. Para isso, tem entrevistado gestores e especialistas e já pode esboçar algumas estatísticas: do que se usa de água no país, só 15% têm tratamento, eliminação de impurezas.

E mais: o tratamento de esgoto deve chegar a 40% da água usada para esse fim. A falta de tratamento é o que mais afeta a disponibilidade hídrica, segundo Tucci, porque o esgoto contamina os próprios mananciais de abastecimento de água. Ele enfatiza: esse é um problema de governo. Afinal, água sem tratamento que volta para os rios traduz-se em doenças, principalmente quando ocorrem enchentes. Além disso, Tucci lembra: o mundo caminha para uma urbanização perto dos 70%. “A gestão urbana é a grande questão brasileira. Oitenta e oito por cento da população brasileira é urbana”, destaca o pesquisador.

Em julho, ele receberá o International Hydrology Prize 2011, por sua contribuição à ciência e à prática de hidrologia. O prêmio é outorgado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização Meteorológica Mundial (WMO) e a Associação Internacional de Ciências Hidrológicas (IAHS). A premiação será entregue em Melbourne, na Austrália.

O pesquisador tem quase 500 artigos científicos publicados e é consultor do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Nesta entrevista, Tucci fala à Agência Brasil sobre os problemas urbanos, em especial, da falta de tratamento de esgoto e dos problemas de gestão da água. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Agência Brasil – O Brasil tem um quinto água doce do mundo, mas há lugares no país em que a própria rede desperdiça 70% da água encanada. Essa é mais uma contradição nacional?
Carlos Tucci – Um país com perdas eficientes fica abaixo de 15%. A perda da ordem de 15% é considerada boa. Entre os países em desenvolvimento, a maioria está entre 36% e 40%. Isso depende muitas vezes da pressão, da topografia etc. Grande parte das perdas são [perdas] físicas. Nos condutos e sistemas que ficam velhos, é mais caro encontrar o vazamento do que fazer uma nova rede. Isso só ocorre quando há falta de água e os novos mananciais estão muito distantes e muito caros, aí começa haver uma preocupação em tornar o sistema mais eficiente. Como nós não cobramos pelo uso da água, ela é utilizada sem custos [abaixo do valor econômico], então não há busca pela eficiência. Há uma outra questão bem institucional. As empresas abastecedoras não são eficientes. Isso tem a ver com o fato de serem monopólios. O preço da água é subsidiado porque o Estado paga para a empresa mesmo que ela esteja funcionando mal. Ou então a empresa pode corrigir o preço da água como ela quiser. Ela não tem metas de eficiência. Este é o ponto fundamental, em que você poderia fazer reduzir perda.

ABr – Já existe engenharia em outros países para a criação de redes paralelas de reuso de água e reaproveitamento na própria residência. Por que isso é incipiente no Brasil?
Tucci – Tem “n” possibilidades de você aumentar a eficiência do sistema, mas o que adianta melhorar a eficiência nas residências, se a rede está perdendo grande quantidade de rede de água? O reuso é interessante, mas o reuso tem que ter alguns cuidados básicos, não pode reutilizar toda a água, por que ela é contaminada.

ABr – Há tecnologia e gente qualificada para fazer os sistemas de água mais eficientes?
Tucci – O Brasil tem um expressivo número de pesquisadores na área. Houve um investimento significativo na formação de pessoal no exterior. O Brasil formou um grande número de profissionais bastantes atualizados, o que, evidentemente, não quer dizer que tudo isso chegou à parte prática. Esse é um dos grandes desafios da ciência e da tecnologia: fazer com que o conhecimento adquirido se torne não um bem pessoal, mas um conhecimento adquirido para a sociedade.

ABr – O senhor já reclamou publicamente da burocracia para fazer pesquisa. Por quê?
Tucci – Parece que todo brasileiro é ladrão até que se prove o contrário. Só para se ter uma ideia, eu estou voltando a fazer o que fazia com 13 anos. Com aquela idade, eu ia ao banco, levava papéis. Agora, como coordenador de pesquisa, no nível máximo, eu sou obrigado a fazer o cheque de cada estudante bolsista. Na prestação de contas, não aceitam os extratos tirados na internet e, como eu não posso ter cartão, porque a conta não permite ter cartão, eu tenho que ir ao banco toda hora para tirar extrato assinado pelo banco. Quer dizer, isso, se você não está dizendo que todo mundo é ladrão, o que é? O país está perdendo com isso. Então, é uma burocracia insana e eu acho que nós vivemos numa era macartista [período que foi do final da década de 40 a meados da década de 50, em que os americanos eram perseguidos politicamente, acusados de serem comunistas]. Nós temos que provar todo dia que somos inocentes. Quando sai uma corrupção no andar de cima, todo o restante da sociedade paga por isso, em burocracia.

ABr – Voltando à água, como mudar a cultura do desperdício?
Tucci – Eu estou fazendo várias entrevistas [com gestores e especialistas] para identificar quais os principais problemas de recursos hídricos no Brasil e praticamente todos respondem a mesma coisa: falta de tratamento de esgoto. A falta de tratamento é o que mais retira disponibilidade hídrica, porque o esgoto contamina os próprios mananciais de abastecimento de água. O tratamento é menos do que 40%! As estatísticas são pouco confiáveis. Quando se diz que coleta de esgoto é de tanto, não significa que é tratado. Então ao coletar, o esgoto continua poluindo. Nas minhas contas, daquilo que nós usamos de água, tratamos e eliminamos as impurezas na ordem de 15% ou, no máximo, 20%. Isso é um problema de governo, de estabelecer o que vamos atingir em tal ano. É preciso estabelecer um plano estratégico para o tratamento de esgoto que defina o que vai ser feito: vou pegar as cidades menores; vou pegar as cidades maiores; onde eu vou incentivar as empresas para fazer tratamento de esgoto? Elas já cobram pelo esgoto na hora que coletam, então para que vão fazer tratamento?

ABr – Como assim?
Tucci – Elas cobram tudo que precisam cobrar de esgoto só por coletar, sem tratar. Está tudo errado nesse ponto.

ABr – Podemos dizer, então, que o Brasil domina apenas a tecnologia de transportar esgoto?
Tucci – Não faz tratamento, faz pouco tratamento. E, na grande parte do Brasil, nem transportar faz, eles jogam o esgoto na drenagem. Além de destruir o sistema de drenagem, cria outros problemas.

ABr – A consequência disso é a prevalência de doenças…
Tucci – Sem dúvida nenhuma. Há aí um potencial de doenças, principalmente quando inunda, mistura tudo e atinge as pessoas, como a leptospirose. Há outras doenças que vêm com a própria água pluvial [da chuva], que tem uma grande contaminação de metais, por causa da lavagem da superfície urbana.

ABr – O que está previsto no Programa de Aceleração do Crescimento [PAC] não é suficiente?
Tucci – Eu não conheço todos os detalhes dos investimentos [do PAC], mas me parece que são feitos por demandas específicas do município. Na minha opinião, deveria ser num plano estratégico nacional em que priorizassem a despoluição de determinadas cidades. O saneamento tem que começar do rio para a cidade e não da cidade para o rio. Ou seja, se define o que o rio precisa para estar despoluído e define o nível de tratamento que tem que ter a cidade, para reduzir, para chegar àquela meta de tratamento.

ABr – O governo [federal] já criticou os municípios pela falta de projetos dizendo que não faltam recursos…
Tucci – Sim, mas falta projeto porque o governo trabalha como se fosse um banco. Você acha que todos os municípios têm qualificação para fazer os seus projetos?

ABr – Como o senhor disse, mesmo que os municípios tenham qualificação, as companhias não ter ão interesse…
Tucci – Muitas vezes não têm. Em um programa estratégico, há capacitação, criação de incentivos econômicos. Você não pode sentar lá como se fosse um banco e falar assim: “estou aqui, vocês venham buscar dinheiro”. O sistema não funciona assim. Além disso, as obras do PAC geralmente são para canalização e só canalização aumenta o problema.

ABr – Por quê?
Tucci – Porque quando se canaliza, se transfere a enchente de um lugar para outro e com muito maior vazão. Aumenta a vazão e os custos geralmente sobem de seis a dez vezes.

ABr – O senhor pode explicar melhor?
Tucci – Por exemplo, há um local que está inundando, aí você canaliza. Essa vazão canalizada foi ampliada, só que, no rio abaixo, não houve ampliação da capacidade de recepção, então vai inundar mais abaixo. O custo de você canalizar toda a cidade é muito alto. No mundo inteiro, desde os anos 1970 não se faz mais isso.

ABr – O que fazer, então?
Tucci – Você tem que tirar o esgoto, dar uma solução para o lixo e fazer uma recuperação ambiental da área. Tem que ter terra e mecanismos de sustentabilidade. Em Seul [Coreia do Sul], um candidato a prefeito chegou em uma área que estava toda coberta de concreto. Tinha viaduto por cima, completamente fechado e ele prometeu que ia recuperar aquela área. Aí, ele ganhou a eleição. Em seis meses, eles fizeram um projeto de receptação do esgoto, retiraram todo viaduto do concreto de cima, porque não se pode admitir mais hoje fechar um rio. Isso é inadmissível ambientalmente! O prefeito recuperou tudo isso, arrumou o tráfego, pôs o transporte em gestão integrada e criou mecanismos de amortecimento de certos sistemas e tornou aquela área ambiental. Hoje , ele é o presidente da República da Coreia do Sul [Lee Myung-bak]. Isso dá voto também. Tem que haver uma busca de solução integrada: tirar o lixo, tirar o esgoto, amortecer o escoamento e fazer com que a água melhore de qualidade. Junto ainda, tem o tráfego e a urbanização. A gestão urbana é a grande questão brasileira. Oitenta e oito por cento da população brasileira é urbana e está ocupando 0,3% a 0,4% da superfície do país. Imagina o que é uma demanda de recursos naturais em um pouco espaço, imagine o caos que vai se formando…

ABr – A solução é desconcentrar a população e interiorizar o país?
Tucci – Isso não tem reversão. É a economia moderna, nós saímos da agricultura para a indústria. É o mundo dos serviços e os serviços estão nas cidades, o mundo vai chegar, em 2050, com 70% da população urbana, que hoje está em 50%. Todo mundo que nascer daqui para frente vai para a cidade e sem contar com os que vêm do campo, devemos ter uma distribuição urbana maior.

Entrevista realizada por Gilberto Costa, da Agência Brasil e publicada pelo EcoDebate.

População brasileira terá vacina contra dengue antes de vencer problema de saneamento básico

Cientistas esperam que a população brasileira possa, daqui a cinco anos, ser imunizada contra os quatro tipos de vírus da dengue. O prazo para resolver o problema epidemiológico é bem inferior ao tempo de que o país precisa para universalizar o saneamento básico, apontado como uma das causas para a prevalência da dengue. Segundo o governo federal, apenas em 2030, todos os brasileiros terão água encanada e rede coletora de esgoto em suas casas.

“Um dos problemas da dengue e outras doenças negligenciadas é que elas cresceram onde não há infraestrutura adequada. As pessoas têm que armazenar água, as prefeituras não conseguem recolher o lixo. Isso vai levar anos, talvez décadas para que a gente consiga resolver completamente”, afirma o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.

“Muitas dessas doenças negligenciadas são de pessoas negligenciadas”, assinala Barbosa, ao lembrar da incidência de tuberculose, hanseníase e de doenças parasitárias entre as pessoas que vivem em domicílios com pouco espaço e muitos moradores. “São pessoas que vivem em condições insalubres”, acrescenta, ao dizer que o tratamento médico gratuito não é suficiente para melhorar a vida das pessoas.

Na avaliação do secretário, a situação social torna a pesquisa em saúde ainda mais importante. Barbosa lembra que a pesquisa pode oferecer boas ferramentas de prevenção e controle de doenças. “Quando olhamos o panorama de doenças tropicais negligenciadas, as que persistem são aquelas em que as ferramentas disponíveis não são as melhores. E, por isso, o desenvolvimento científico e tecnológico é muito importante.”

“O desafio é desenvolver estratégias capazes de aumentar o acesso à saúde. Para isso, a gente também precisa de pesquisa operacional para ver qual a melhor estratégia para ver a maneira daquela população ser alcançada”.

Um quarto da pesquisa científica feita no Brasil é na área de saúde, o que torna o país referência mundial. “Temos desde pesquisas para buscar a modificação genética do mosquito da dengue até pesquisa para infectá-lo com um microrganismo que não faz mal para as pessoas e reduz a capacidade dele de se infestar com vírus da dengue”, diz o secretário de Vigilância em Saúde.

Segundo Barbosa, o país faz pesquisa básica, desenvolve ferramentas para atendimento à população, cria kits de diagnóstico, produz novos medicamentos e participa de testes e pesquisas operacionais para avaliar e implementar estratégias de imunização. “O Brasil tem um papel importante no campo da pesquisa de doenças tropicais. O país está procurando desenvolver sua vacina e está ajudando a testar a vacina que não é produzida aqui, mas, seguramente, será muito útil para o programa brasileiro de controle da dengue”, atesta Barbosa.

A pesquisa mais adiantada envolve o Núcleo de Doenças Infectocontagiosas da Universidade Federal do Espírito Santo, que participa dos testes clínicos de uma vacina desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur em 11 países tropicais. Além dessa pesquisa, o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; e o Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, trabalham na produção de vacinas em parceria com laboratórios internacionais.

Reportagem de Gilberto Costa, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ABRELPE defende modernização da gestão dos resíduos

Um dos principais pontos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde agosto de 2010, é que somente rejeitos poderão ser dispostos em aterros sanitários a partir de 2014. Para que se cumpra essa determinação, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) defende a modernização do setor com a adoção de novas tecnologias para a gestão de resíduos, integrando-as às soluções existentes no País.

Entre as tecnologias já empregadas com sucesso em outros países destacam-se a coleta mecanizada e as unidades de triagem e de recuperação energética de resíduos. Esses processos partem do princípio de que os resíduos, antes de serem disponibilizados para coleta pelo serviço público, devem ser separados pelos cidadãos em duas frações: orgânica e não orgânica, tal como já preceitua o decreto de regulamentação da PNRS.

O recolhimento dos resíduos sólidos por meio da coleta mecanizada consiste na distribuição estratégica de contêineres pelas ruas de uma cidade. Nesse modelo, cada munícipe leva seu lixo até o contêiner mais próximo de sua residência, evitando assim que os coletores tenham que recolher os sacos porta a porta. A coleta é feita por caminhões compactadores nos quais os contêineres são encaixados e basculados diretamente no veículo.

Ao chegar às estações de triagem, o lixo não orgânico é colocado em equipamentos automatizados que selecionam os materiais recicláveis, separando-os dos demais, por tipo de material, e possibilitando seu encaminhamento para as indústrias recicladoras, o que permite a reinserção dos mesmos, como matéria prima, em novos processos produtivos. O que não tem potencial para reciclagem é então direcionado às usinas de recuperação energética, que podem utilizar diferentes sistemas para processamento dos resíduos e geração de energia a partir dos mesmos. Atualmente, existem mais de mil empreendimentos dessa natureza no mundo, distribuídos na Europa, América do Norte e na Ásia.

“Atualmente o setor já dispõe de diversas opções para tratamento da parcela não reciclável dos resíduos sólidos com geração de energia. Nesse campo, a técnica mais difundida é a incineração, através da qual os resíduos são submetidos a altas temperaturas, que quebram as cadeias de carbono e geram vapor. Esse vapor é utilizado como combustível para diversos processos industriais e também para gerar energia elétrica”, explica Carlos Silva Filho, diretor executivo da ABRELPE, ao destacar tratar-se de um processo seguro e com controle das emissões, no qual mesmo as cinzas resultantes da queima dos resíduos, dependendo de sua composição, podem ser reaproveitadas.

Uma alternativa para tratar a parcela orgânica – cerca de 60% dos resíduos gerados no Brasil – são os biodigestores, tipo de equipamento pelo qual é possível acelerar a decomposição do lixo, resultando na geração de gás metano, que é captado e utilizado como combustível, por exemplo, em empresas, veículos e termoelétricas.

Deve-se destacar que, em qualquer caso, os aterros sanitários se farão sempre necessários, como solução para os rejeitos, parcela resultante dos processos de tratamento e recuperação energética ou para materiais que não apresentem viabilidade de serem submetidos a tais sistemas. “As afirmações de que os aterros sanitários estão em desuso e serão extintos são totalmente infundadas, uma vez que os mesmos são parte fundamental em todos os sistemas de gestão de resíduos, até mesmo nos mais avançados”, ressalta Silva Filho.



Fonte: Água online

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Ozônio é poluente que mais ultrapassa padrões de qualidade do ar

O ozônio é o poluente que mais ultrapassa os padrões de qualidade do ar na Grande São Paulo. É o que afirma a gerente da Divisão de Qualidade do Ar da Cetesb, Maria Helena Martins.

O ozônio está presente também nos carros. Cada vez que um veículo é ligado, o escapamento está jogando poluentes na atmosfera; quando ele é abastecido, também, já que os gases evaporam e se encontram com o oxigênio do ar. Junto com o calor do sol, forma-se o mau ozônio, um poluente que se forma numa altura de até 10 km e é o resultado da reação química de alguns gases poluentes com a luz do sol.

Um teste feito no Parque do Ibirapuera mostra que o nível de ozônio no local também está acima do ideal. “Os filtros expostos à poluição possuem uma concentração muito grande, cerca de 200 mg/m³. No parque você tem a formação de ozônio em proporções, mais ou menos, o dobro do aceitável. O aceitável é até 100 mg/m³”, diz a pesquisadora do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental, Ana Júlia Lichtenfels.

Problemas nas vias aéreas, asma, sinusite e rinite ocorrem, em partes, por causa da formação de ozônio. “Hoje ele é um poluente muito presente em São Paulo. Ele é um grande irritante de via aérea. Rinite, sinusite, descompensação de asma, criança com otite média. Favorece a pneumonia e também o aumento de mortalidade por doenças cardiovasculares”, diz o pesquisador Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição da USP.

Fonte: Ambiente Brasil/G1