quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cemitérios como Fonte de Contaminação Ambiental

Infraestrutura superada dessas unidades pode afetar recursos hídricos e disseminar microrganismos ameaçadores para a saúde


por Pedro Kemerich, Fernando Ernesto Ucker e Willian F. de Borba


Em razão do crescimento da população e contaminação das águas superficiais, o que compromete os padrões de potabilidade a custos razoáveis, o abastecimento de regiões quase sempre de maior densidade demográfica é um desafio crescente e de alto investimento, limitando a exploração de fontes hídricas subterrâneas.

O aumento populacional também exige áreas cada vez maiores para sepultamento de corpos humanos. Assim, áreas destinadas à implantação de cemitérios geralmente são escolhidas entre as de baixa valorização econômica, quase sempre em regiões de reduzido desenvolvimento socioeconômico. Essas áreas muitas vezes têm características geológicas e hidrogeológicas não avaliadas devidamente, o que pode levar a problemas sanitários e ambientais de enorme complexidade. Cemitérios são áreas que geram alterações no meio físico e por isso devem ser considerados fontes sérias de impacto ambiental.

No Brasil, a maioria dos cemitérios é muito antiga e, exatamente por isso, descompassados em termos de estudos técnicos e ambientais. Considerando essa situação, o Conselho Nacional do Meio Ambiente publicou, em 3 de abril de 2003, a Resolução nº 335 estabelecendo que todos os cemitérios horizontais e verticais deverão ser submetidos ao processo de licenciamento ambiental. Mas que impactos podem ser produzidos por cemitérios?

CONTAMINAÇÃO DO SOLO

Os cemitérios, como qualquer outra instalação que afete as condições naturais do solo e das águas subterrâneas, são classificados como atividade com risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o solo em que estão instalados funciona como um filtro das impurezas depositadas sobre ele. O processo de decomposição de corpos libera diversos metais que formam o organismo humano, sem falar nos diferentes utensílios que acompanham o corpo e o caixão em que ele é sepultado. O principal contaminante na decomposição dos corpos é um líquido conhecido como necrochorume, de aparência viscosa e coloração castanho-acinzentada, contendo aproximadamente 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substancias orgânicas degradáveis.

Em solos com alta umidade há um processo conhecido como saponificação pelo qual ocorre a quebra das gorduras corporais e a liberação de ácidos graxos. Esse composto liberado exibe alta acidez, o que inibe a ação de bactérias putrefativas, retardando assim o mecanismo de decomposição do cadáver e tornando o mecanismo tanto mais duradouro quanto mais contaminante.

Urnas funerárias confeccionadas em madeira estão fora das fontes signifi cativas de contaminação do solo, ao contrário do que ocorre com as metálicas. A menos que conservantes da madeira contenham metais pesados, principalmente cromo, ou substâncias do grupo dos organoclorados, como pentaclorofenol ou tribromofenol. Os caixões construídos com madeiras não tratadas se decompõem em curtos períodos, permitindo uma rápida disseminação de líquidos da putrefação dos corpos. Caixões de metal, pouco utilizados, no entanto, podem provocar contaminação do solo por metais como ferro, cobre, chumbo e zinco. Outra fonte significativa de impactos contaminantes por caixões funerários é a prata, com frequência utilizada nas alças. Na decomposição ela é liberada no ambiente.

Além dos metais convencionais, outro contaminante significativo é a radioatividade. Corpos que, antes da morte, ou mesmo depois dela, passaram por aparelhos com emissão de radiação podem estar contaminados. Nesse caso essa radioemissão também é liberada no solo.

Durante o processo de decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns tipos de gases, entre eles principalmente os característicos da decomposição anaeróbica, como o gás sulfídrico (H2S), identifi cados popularmente como cheiro de “ovo podre”, incluindo dióxido de carbono, gás carbônico (CO2), metano (CH4), amônia (NH3) e hidrato de fósforo, a fosfina (PH3). Além desses elementos característicos, outros gases são emitidos, caso dos óxidos metálicos (titânio, cromo, cádmio, chumbo, ferro, manganês, mercúrio e níquel entre outros) lixiviados dos adereços das urnas mortuárias, incluindo formaldeído e metanol utilizados na prática do embalsamento.



Fonte: Uol/ScientificAmericanBrasil/Duetto,edição 123 - Agosto 2012






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