terça-feira, 1 de março de 2011

Pediatra alerta sobre poder destruidor dos esgotos

O pediatra Anthony Wong, professor e diretor do Centro de Assistência Toxicológica do Instituto da Criança e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, não se cansa de alertar e de apontar sobre os riscos que a falta de coleta e tratamento de esgotos, e as doenças conseqüentes desse cenário podem causar na população. Apesar de lutar pela mudança nesse quadro há anos, o pediatra diz que ainda se surpreende com "o poder destruidor dos esgotos, sua capacidade de atuar em todo o território nacional e de se infiltrar em todos os níveis da sociedade".

O mais preocupante nesse quadro é o impacto da convivência com os esgotos a céu abertos para as crianças. Uma das doenças mais comuns causadas pela falta de saneamento são as diarréias, conforme comprovou o estudo do Instituto Trata Brasil (leia mais neste blog). No entanto, conforme explica o Dr. Wong, "após três ou quatro crises de diarréia, a criança cria imunidade, e então, desde que haja uma boa nutrição, as diarréias ficam menos importantes, uma vez que a criança se recupera bem".

Porém, conforme alerta o Dr. Wong, outras doenças causadas pela falta de coleta e tratamento dos esgotos prejudicam o desenvolvimento das crianças e condenam essas crianças em longo prazo. O quadro se torna ainda mais alarmante se pensarmos em crianças de até 5 anos: os danos sofridos durante esse estágio da infância são permanentes. "Tratam-se de doenças toxicológicas causadas pela contaminação por substâncias químicas vindas de causas e produtos diversos, tais como a lata de refrigerante, a lata de tinta, garrafas PET, óleo de cozinha, sacolas plásticas, entre outros objetos que são lançados diariamente nos rios e nos esgotos a céu aberto das comunidades carentes em todo o País", explica.

Tais substâncias afetarão a capacidade imunológica dos glóbulos brancos eliminarem as bactérias e de produzir anticorpos provocando alergias respiratórias, nasais, intestinais e de pele que vão permanecer com essa criança por muito tempo. Além disso, a criança terá também a sua função renal alterada podendo tornar-se hipertensa e seu rim pode vir a sofrer uma falência precoce.

Segundo o Dr. Wong, os danos em crianças de até 5 anos são permanentes porque elas ainda estão em fase de desenvolvimento corporal e do cérebro. "Essa é a fase mais importante do ser humano em termos de ditar a qualidade de vida como adulto, incluindo também os nove meses de gestação da mãe; é a fase mais crítica, ou seja, quando os órgãos estão se formando, pois eles estão extremamente sensíveis e suscetíveis a pequenas modificações ambientais ou de ingestão de substâncias", explica.

O pediatra chama ainda atenção para a visão míope dos governantes: "constroem estádios enormes e esquecem de investir em uma área que é fundamental, que representa um investimento, que no futuro irá refletir em uma economia enorme que é a de não ter que cuidar de uma criança com deficiência mental, intelectual, imunológica ou de saúde decorrente da exposição a substâncias químicas que permeiam o nosso país", conclui.

Fonte: Instituto Trata Brasil

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