segunda-feira, 4 de junho de 2012

Um breve panorama brasileiro da reciclagem de eletroeletronico.



O cenário da reciclagem dos eletroeletrônicos no Brasil evoluiu bastante nos últimos anos. E, levando-se em conta a implementação das políticas de resíduos sólidos nos níveis federal (PNRS), estadual e municipal, ainda podemos esperar muitas melhorias para o futuro próximo.

Os Resíduos de Equipamentos EletroEletrônicos (REEE), como outros resíduos, são definidos como responsabilidade compartilhada entre todos os atores envolvidos no consumo: fabricantes, distribuidores, comerciantes e consumidores. Em função do risco associado ao descarte incorreto dos REEE, eles foram tratados de forma especial dentro do PNRS e portanto também o serão nos outros níveis da federeção.

Nesse momento, os fabricantes, reunidos em suas associações, como Abinee e Eletros, discutem como estabelecer um plano em nível nacional.

Enquanto isso, diversos grupos sociais já se mobilizaram e criaram soluções parciais para o problema. Para se entender como estão organizados os atores envolvidos nessa cadeia, precisa-se primeiro compreender como se dividem as atribuições de cada um. A primeira etapa do que podemos chamar de “cadeia da reciclagem”, que é a mais complexa e onerosa, consiste na coleta dos produtos descartados. Basta imaginar que é necessário cobrir todo o território nacional, oferecendo pontos de coleta onde podem ser entregues quaisquer tipos de produtos, incluindo-se, por exemplo, TVs, geladeiras, computadores e telefones celulares. Em seguida, depois de se ter o descarte reunido, ocorre a manufatura reversa, que inclui a desmontagem de cada equipamento e a separação de partes e peças por tipo de cada matéria-prima que o compõe. Por fim, cada resíduo classificado é processado por um tipo de indústria, vindo a se tornar novamente matéria-prima que alimenta a indústria para novos produtos.

O mercado de resíduos, antes chamado simplesmente de lixo, sempre foi explorado por catadores e sucateiros. Esses grupos há muito tempo sabem transformar o que recebem ou coletam em materiais de valor, mesmo correndo riscos de saúde. Durante décadas as questões ambientais e de segurança do trabalho foram relegadas a segundo plano. No começo dos anos 2000 é que os impactos da indústria de eletroeletrônicos passaram a ser mais seriamente considerados, inclusive com estudos mais profundos4. Com o entendimento de que os REEE são resíduos perigosos para as pessoas e o meio-ambiente, empresas mais capacitadas para tratar de forma adequada dos resíduos começaram a ocupar o mercado, executando as atividades desde a coleta até a transformação em matérias-primas ou sua disposição final em locais adequados.

Alguns fabricantes de produtos com responsabilidade social e ambiental têm contratado os serviços desses recicladores capacitados para tratar de seus resíduos. Outras empresas, com nível menor de comprometimento ou recursos, têm se servido de recicladores que não apresentam qualificação adequada. Por fim, o cidadão comum, quando não sabe claramente como proceder, utiliza-se de entidades filantrópicas que aceitam seus produtos usados como doação ou simplesmente descarta em locais inadequados junto com o lixo orgânico.

Devido à presença de diversos elementos químicos prejudiciais à saúde humana, para a reciclagem correta dos REEE incorrem custos relevantes. As despesas estão relacionadas com o tratamento dos tubos dos monitores de computador (conhecidos como CRT) e também das TVs, que precisam ser descontaminados do chumbo e fósforo que os compõe. O custo desse processo é maior que o preço obtido com a venda das matérias-primas obtidas. Outra despesa considerável é provocada pela retirada correta dos gases CFC e correlatos, presentes nos refrigeradores e aparelhos de ar condicionado. Caso o procedimento correto não seja executado, os gases desprendem-se na atmosfera, aumentando a destruição da camada de ozônio. Esses gases precisam ser posteriormente neutralizados através de processos cujos custos são significativos.

As empresas fabricantes de eletroeletrônicos e responsáveis social e ambientalmente, exigem certificados de suas parceiras recicladoras, sendo que a geração de certificados também apresenta custos inerentes devido aos sistemas de informação e à mão-de-obra especializada. Não menos relevante em todo esse processo é uma considerável demanda por deslocamentos de material, outro fator representativo dos custos de operação. Por tudo isso, os recicladores responsáveis têm cobrado pelos seus serviços.

O mercado da reciclagem dos REEE está concentrado na região Sudeste, onde se encontra o maior mercado consumidor e, consequentemente, o maior descarte. Em seguida, vem a região Sul sendo que as demais regiões brasileiras estão bastante desasistidas, apresentando iniciativas pontuais. E, a maior parte do material a ser reciclado precisa ser enviado para a região Sudeste, provocando um claro impacto nas emissões de CO2 e aumento nos custos do processo.

O governo federal é também um grande gerador de REEE, possuindo um parque eletroeletrônico bastante considerável. Interessado em certificar as empresas de reciclagem para si e o mercado, o governo tem apoiado a criação de uma norma desenvolvida sob o guarda-chuva da ABNT. Ao obter a certificação em gestão ambiental para reciclagem de eletroeletrônicos, as empresas que atuam na “cadeia da reciclagem” poderão prestar serviços ao governo e outros interessados, simplificando processos de homologação e comprovação de idoneidade.



*Enio Blay, 46 anos, é empreendedor e inovador, sócio da renergia, empresa de reciclagem de eletroeletrônicos. Com 20 anos de experiência em redes de computadores e desenvolvimento de software, trabalhou em empresas brasileiras, multinacionais e institutos de pesquisa. É graduado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP e mestrado em Gerenciamento de Redes de Computadores pela UFSC. Atualmente cursa MBA em Sustentabilidade e TI no Laboratório de Sustentabilidade (LASSU) da Escola Politécnica da USP.


Fonte: Revista Sustentabilidade







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