*Por Mauro Banderali
O aumento da frequência das tempestades em grandes
centros urbanos reforça a ideia de que a formação das chamadas ilhas de
calor é fator determinante para a ocorrência desta alteração climática. O
fenômeno é atribuído a uma concentração de calor em microrregiões, em
função de uma ausência de cobertura vegetal e adensamento das mudanças
antrópicas em centros urbanos, que causam maior incidência de radiação
solar e menor disponibilidade de água em grandes extensões de área. Como
consequência, os eventos de chuva e ventos, em condições específicas,
são mais violentos quando comparados com os registros locais passados.
Dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que houve no
Brasil um aumento de 79% no número de dias de tempestades nos últimos 60
anos em comparação à primeira metade do século XX. A pesquisa
considerou dados de 14 cidades brasileiras, todas com mais de 500 mil
habitantes e que tiveram um expressivo aumento da população nos últimos
50 anos. De 1910 a 1951, havia 43 dias de tempestade por ano nestas
cidades, em média. Em 2010, esse número saltou para 77 dias. O aumento
foi observado em todas as regiões do Brasil e as cidades que
apresentaram dados mais relevantes foram São Paulo, Goiânia, Belém e
Manaus, com aumentos superiores a 100%.
Além dos prejuízos materiais e financeiros para a
própria sociedade, o aumento das tempestades e dos demais fenômenos
climáticos gera outra preocupação: a disseminação de doenças e uma maior
diluição de agentes poluentes. Isso porque a grande quantidade de
chuvas, aliada a fatores como impermeabilização do solo, canalização dos
cursos d’água e redução da capacidade de vazão das drenagens, faz com
que as grandes cidades enfrentem o desafio das enchentes com uma
frequência muito maior do que se via há alguns anos. Considerando que os
rios das grandes cidades estão cada vez mais poluídos, quando inundam
oferecem um grande risco à saúde da população. Sob efeito da água, os
contaminantes são arrastados seja pela erosão dos solos, diluição em
água ou ácidos fracos ou ainda expostos à ação dos ventos.
Para tentar prevenir e detectar alagamentos e
enchentes, primeiramente deve ser observada a questão da ocupação das
margens dos rios e corpos d’água pela população. Além disso, os gestores
municipais e estaduais devem monitorar o planejamento, construção e
operação de represas e barragens com o objetivo de compreender e
ponderar os efeitos de eventos extremos nas várias áreas que compõem uma
determinada região.
A utilização de equipamentos hidrometeorológicos para
coleta de dados pode antever estes eventos climáticos, planejar as
obras e ações necessárias e minimizar os danos trazidos por estes
eventos, além de alertar as comunidades atingidas sob estes efeitos. Com
a implantação de um conjunto de instrumentação para o monitoramento é
possível identificar os riscos de inundações e minimizar perdas humanas,
além de danos materiais e prejuízos financeiros.
Para amparar as decisões, a instalação de
equipamentos e sensores capazes de monitorar a hidrologia e meteorologia
da região pode ajudar a evitar este tipo de ocorrência catastrófica.
Quando instalados às margens de um rio, por exemplo, os equipamentos
podem formar uma rede de monitoramento pluvio-linimétricas, telemétrica
ou não, onde dados acumulados ano após ano formarão bases históricas,
evidenciarão as mudanças climáticas da região e auxiliarão não apenas as
decisões sob eventos extremos, mas servirão de apoio a decisões quanto à
ocupação de áreas para uso urbano, disponibilidade de água para a
comunidade e orientações para construções habitacionais, comerciais e
industriais. O trabalho de análise periódica dos dados permitirá a
avaliação temporal das condições do clima, do comportamento dos cursos
d’água e da frequência de emergências ao longo do tempo. A transmissão
das informações e o acompanhamento podem ser realizados tanto
remotamente quanto em tempo real.
Nunca se investiu tanto em recursos hídricos com
verbas federal e estadual no Brasil como tem ocorrido nos últimos anos.
Esperamos que os resultados destes investimentos sejam perenes na
operação e geração de informações pertinentes à sociedade, para que
possamos reverter o investimento em proteção à população, dentro e fora
de grandes centros urbanos.
*Mauro Banderali é especialista em instrumentação
hidro-meteorológica e diretor da Ag Solve, empresa especializada em
soluções tecnológicas para monitoramento nas áreas de hidrologia e
meteorologia
Fonte: AgSolve
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