Texto: Márcia Pacheco
Entulho de construção, resto de comida e lixo industrial: com uma máquina criada por um engenheiro mecânico sergipano, tudo isso vai virar carvão. Trata-se da primeira Indústria de Beneficiamento de Resíduos do Brasil, que será instalada em Sergipe. A atividade da indústria pode contribuir para acabar com dois problemas graves de uma vez só. Com o processamento do lixo, acaba a necessidade de criação de aterros sanitários e o resíduo da construção civil, o entulho, vai ser tirado das ruas e vai ter destino certo.
Há aproximadamente três anos, o engenheiro mecânico Railton Lima foi contratado por uma empresa de Minas Gerais para desenvolver um Forno de Carbonização, destinado a atender o setor de siderurgia. “De lá para cá, pesquisas vinham sendo feitas até que, por acaso, chegamos a esse ponto, que é o processamento dos resíduos de construção até resíduos urbanos”, conta Lima. Com a Indústria de Beneficiamento de Resíduo, tudo que hoje é considerado lixo pode ser transformado carvão vegetal e em outros produtos, que voltam para o público consumidor de maneira rentável.
Toda linha de produção desse processo envolve duas patentes: a primeira é o protótipo desenvolvido para aproveitamento de gases das indústrias – na qual coleta-se os poluentes emitidos na carbonização – e a segunda é um equipamento chamado briquetadeira. “Com essas duas patentes, chegou-se ao equipamento de beneficiamento de 100% dos resíduos, desde urbanos, a resíduos da construção civil”, diz o engenheiro. “O carvão pode ser utilizado nas fornalhas das indústrias, ou até mesmo no churrasquinho em casa”, acrescenta.
Segundo Lima, a indústria, que ainda está em fase final de projeto, será a primeira usina do planeta a beneficiar 100% dos resíduos. “Aproveitamos todo o resíduo. Para nós que fizemos o projeto, não vai existir aterro se houver esse equipamento. Aterro vira coisa do passado”, explica o engenheiro.
O projeto foi vendido inicialmente para fora do Estado. Uma indústria está sendo montada em Sete Lagoas, em Minas Gerais, e no município de Xinguara, no Pará. Em Sergipe, a Indústria vai ser implantada em Lagarto, centro-sul do Estado, em parceria com a prefeitura local. De acordo com Lima, o terreno já foi adquirido e compreende uma área de 32 mil metros quadrados. Para a sua operação, serão gerados 46 empregos diretos e mais 200 indiretos.
A apresentação da maquete deve acontecer em breve. “Esperamos esse ano resolver completamente o problema de lixo urbano na cidade”, diz o engenheiro. “Até o final de 2009, em Lagarto não teremos nenhum problema de resíduos. Aterro sanitário vai ser totalmente descartável”, completa. Nesse primeiro momento, a Indústria vai atuar apenas no município de Lagarto, mas a pretensão de Railton Lima é vender a idéia para todo Estado.
O município de Lagarto vai abrigar o projeto piloto da primeira usina a funcionar para cuidar dos resíduos públicos. “A cidade será vitrine para todo planeta”, coloca o empresário. Durante a semana, o Núcleo Tecno-Ambiental Railton Faz recebeu três equipes de empresários de fora de Sergipe, que vieram conferir como funciona o projeto, através de apresentação feita com o uso dos protótipos.
Transformação
A Indústria de Beneficiamento de Resíduos vai processar resíduos urbanos (entulho, poda de árvore), resíduo doméstico (resto de comida, sacos e garrafas plásticas) e resíduos industriais (tintas, solventes). Todos esses materiais, que seriam descartados e depositados na natureza, serão aproveitados.
A partir do que antes era considerado lixo ou entulho de construção, são originados cinco produtos. O primeiro – que é o principal objetivo da indústria – é a massa de carvão; o segundo é o óleo vegetal, que, segundo o engenheiro, com mais 10% de álcool seria a fórmula do biodiesel; o terceiro produto é a água ácida, utilizada pela indústria química; o quarto, o alcatrão, também consumido pela indústria química, de cosmético e de abrasivos; e o quinto e último produto é a lignina, aproveitada pela indústria de cosméticos. “Então, 100% desses produtos são comercializados no mercado, produtos esses originados dos resíduos urbanos, industriais e domésticos”, explica Lima. Ou seja, todos os produtos, originados do que seria simplesmente descartado na natureza, tem valor de venda e vai movimentar o mercado e a economia.
O carvão produzido a partir do lixo tem a mesma utilização daquele originado da madeira. O engenheiro explica que, na natureza, só existem três massas: massa mineral, massa vegetal e massa animal. De acordo com Lima, a massa que não carboniza nunca é a mineral – que compõe areia, pedra, vidro, metal, entre outros materiais. Mas as massas vegetais e animais carbonizam. “Uma vez carbonizadas, essas massas se tornam carvão vegetal como qualquer outro. Não há diferença entre o carvão vegetal originado de madeira de lei, de pinho, ou de eucalipto, e o carvão feito do lixão”, explica. A matéria é sempre a mesma, é massa carbonizada com teor de carbono fixo próprio para o consumo seguro.
Meio ambiente
A usina evidencia o crescente interesse do empresariado em promover o crescimento sustentável, tentando manter o equilíbrio entre as atividades do homem e a preservação da natureza. O primeiro grande benefício trazido com o processamento de resíduos é que não ocorrerá degradação do solo das cidades, a partir do momento que não terá aterro.
E uma vez o resíduo entrando na indústria, ele é processado de imediato, embora para a máquina, não importe o tempo. A usina a ser instalada no interior do Estado tem capacidade para processar 80 toneladas por dia. A média de produção de lixo de Lagarto é de 50 toneladas por dia.
Segundo o líder do projeto, as 30 toneladas de capacidade restantes vão ser utilizadas para processar a lixeira já existente na cidade, até que o terreno fique limpo. “O terreno vai ficar totalmente imune de resíduos e poluentes. Não há degradação de solo, não há degradação do meio ambiente, não há emissão de gases e as nossas nascentes, matas e florestas agradecem”, finaliza Lima.
Construção civil
Entre as principais preocupações do setor da construção civil está o destino do entulho resultante das obras. A gestão do resíduo da construção ainda é um desafio em Sergipe. Não é difícil se deparar com entulhos ou restos de construção amontoados em vias e logradouros públicos, apesar das rigorosas determinações das legislações municipais e estaduais, o que gera um problema sério para o meio ambiente.
Sejam das empresas do segmento da construção civil ou de reformas de imóveis particulares, as obras geram resíduos com os quais os responsáveis devem se preocupar.
Pensando em encontrar uma alternativa para o problema, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Sergipe (Sinduscon/SE) promoveu no último ano o Programa de Gerenciamento de Resíduos em Canteiros de Obras, promovido em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae/SE). De acordo com levantamento feito pelo projeto, em Aracaju se produz cerca de 500 toneladas de resíduo da construção civil por dia. O projeto não envolve indústria de processamento, mas articula parcerias entre empresas que precisam dos resíduos da construção para transformar em combustível para suas fornalhas. É o caso das cerâmicas. E em relação ao lixo reciclável, como plástico, papel, papelão e metal, a orientação é o encaminhamento do material para a Cooperativa de Agentes Autônomos de Reciclagem de Aracaju (Care).
O surgimento da indústria pode ajudar nesse processo de destinação de resíduo. De acordo com a engenheira Patrícia Menezes Carvalho, professora do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e diretora da MC Engenharia, a Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) e a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb) têm medidas rígidas para o controle do entulho produzido nas construções. “É preciso comprovar o destino dado aos resíduos da construção para a empresa obter a licença de funcionamento do empreendimento”, explica a engenheira. Segundo Patrícia, que orientou o projeto de gestão de resíduos, o estudo feito aponta que 70% de todo lixo produzido em Aracaju vem da construção.
Com a Indústria de Beneficiamento, telhado, concreto, sacos de papel, aparas de madeira, cerâmica, pó de serra, papelão, plástico, reboco: todo resíduo da construção pode ir diretamente para o processamento. Não importa em que estado chega lá. “Com sobra de areia, com cimento, não importa. Do jeito que o material chegar à indústria, o equipamento vai processar o resíduo”, explica Lima. Cada construtor, cada empresa de terceirização no município onde vai ser instalada a indústria será orientada a levar o resíduo direto para o processamento. O material vai ser transformado também em carvão.
Para Patrícia, essa é uma alternativa para evitar o depósito de entulho no meio ambiente, o que prejudica a cidade e os moradores, mas ainda não é o ideal para o setor da construção. “Muito do resíduo produzido pela construção civil é o chamado cascalho, que pode ser triturado, agregado e utilizado novamente pelo setor da construção. Esse tipo de indústria ainda não existe no estado”, coloca a engenheira. Segundo Patrícia, se transformado em material que possa ser utilizado pela construção, o benefício à natureza seria duplo, pois além de eliminar o acúmulo de resíduo no meio ambiente, ainda evitaria que fossem tirados da natureza areia e pedras, contribuindo para a preservação do meio ambiente.
Fonte: Jornal da Cidade - Sergipe
2 comentários:
Bom dia!
Meu nome é Maki, sou assessora de imprensa e trabalho com sustentabilidade.
Estou fazendo um mailing de blogs que envolvem o tema.Você poderia informar o seu?
Pode enviar para maki@gwacom.com
Obrigada,
Att,
Maki Maeda
Eles podem me dizer se a planta de Sergipe já está em operação e de geração de energia elétrica
Original
Pueden informarme si la planta de Sergipe ya está en funcionamiento y generando energía eléctrica
Postar um comentário