terça-feira, 10 de julho de 2012

Do lixo agroindustrial à riqueza produtiva


Setor produtivo investe no gerenciamento ambientalmente correto de resíduos sólidos e encontra novas formas de geração de recursos


Por Igor Augusto Pereira



Dois anos após a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), o cenário produtivo brasileiro começa a absorver os efeitos de uma nova cultura. A lei, que reformou dispositivo anterior, estabelece a obrigatoriedade de criar programas de logística reversa para uma série de produtos, normatizando a responsabilidade do gerenciamento de resíduos entre cadeia produtiva, distribuidores e poder público. Para o setor sucroenergético, embora a produção de açúcar e etanol crie diversos resíduos, estudos na área têm revelado que a maior parte deles já recebe tratamento e destinação adequados. Em outras palavras, o que antes era considerado um lixo agroindustrial agora gera riqueza para toda a cadeia produtiva.

“O subproduto pode se tornar a matéria-prima de outro produto ou até mesmo energia”, explica a gerente comercial da Ecoblending, Roberta Pacheco. É o que acontece com o bagaço, a torta de filtro (produto da clarificação do caldo da cana), as cinzas e a fuligem, por exemplo. Os materiais passíveis de reciclagem – como plástico, papel, vidro e sucatas metálicas – são encaminhados a empresas de reciclagem licenciadas. O gerenciamento ocorre por reciclagem, rerrefino (no caso do óleo usado), incineração (destruição térmica que gera cinzas, enviadas para aterro industrial) e coprocessamento (processo de queima de resíduos perigosos, que produz energia e matéria-prima para produção de cimento).

Segundo Roberta Pacheco, o destino do produto está relacionado à sua natureza e forma de utilização. “As etapas se iniciam na geração do resíduo. Há a necessidade de separar os resíduos em subclasses. Caso o resíduo não seja classificado como perigoso, é necessário tentar introduzi-lo novamente no processo”, explica. Mesmo com uma ampla gama de formas de destinação para os resíduos, conta Roberta, a reinserção no processo produtivo ainda é a mais avançada delas.

Um dos exemplos mais interessantes vem de Pernambuco, onde a Companhia Alcoolquímica Nacional, do grupo JB, e a empresa Cetrel desenvolveram projeto para geração de eletricidade a partir da vinhaça. Ainda em fase de demonstração, a tecnologia pode ser aplicada em grande parte das usinas brasileiras como fonte de energia alternativa. Atualmente, para cada litro de etanol produzido, são deixados cerca de 12 litros de vinhaça, que pode gerar gás e adubo orgânico.

“Em Goiás, percebemos que está sendo feito um correto gerenciamento de resíduos sólidos. Todos aqueles que podem ser reciclados ou reaproveitados, em sua grande maioria, têm tido destinação correta. Além disso, as usinas sucroenergéticas têm pressionado seus fornecedores a por em prática a logística reversa, possibilitando reaproveitamento de recursos e diminuição nos custos relacionados à destinação de resíduos perigosos”, avalia Patrícia Thieme Onofri Saiki, bióloga da Usina Goianésia e da Energética São Simão e coordenadora do Comitê Temático de Meio Ambiente dos Sindicatos da Fabricação de Etanol e Açúcar do Estado de Goiás (Sifaeg).

Os próximos passos para a melhoria no cenário devem ser dados pelo poder público. Os municípios têm até agosto deste ano para criar planos locais de gestão de resíduos e oferecer alternativas de tratamento adequado. As cidades que não apresentarem o documento em tempo não terão acesso a recursos federais destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo dos resíduos sólidos.

Investimentos variam

Para as empresas, os investimentos em gestão de resíduos sólidos variam conforme a classificação do produto, a tecnologia empregada para dar destinação correta e a quantidade de material gerado. “No caso das indústrias sucroenergéticas, os resíduos provenientes da cana-de-açúcar são muito diversos e, por isso, os valores desses serviços também podem ter diferenças”, explica Roberta. Os processos mais caros são aqueles relacionados a resíduos perigosos, que são coprocessados, e materiais de laboratório, cujo destino é a incineração e o descarte em aterro industrial.

Falta normatização internacional

Além de exemplo no reaproveitamento de resíduos, o Brasil é pioneiro na prática de logística reversa das embalagens vazias de defensivos agrícolas e recolheu, em 2011, mais de 34 mil toneladas do material para destinação ambientalmente correta. Entretanto, não existe um ranking para mensurar a posição do País no cenário mundial de gerenciamento de resíduos sólidos. Isso acontece porque, embora a norma internacional ISO 14000 trate da gestão ambiental e mencione o tema, não há uma definição uniforme para os termos “resíduo sólido” e “gerador”.

No Brasil, o PNRS classifica como resíduo sólido os materiais resultantes das atividades humanas “cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções térmica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”, seguindo parecer referendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.

Fonte: Canal Bioenergia

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