domingo, 16 de junho de 2013

Monitoramento Ambiental: Algas também contribuem na poluição da água, mas esse problema tem solução


*Por Mauro Banderali
 
 
Em 2013, ano em que a ONU definiu como Ano Internacional da Cooperação pela Água, a Sociedade Americana de Química (ACS) divulgou um dado, no mínimo, preocupante: de cada dez habitantes do planeta, seis não possuem acesso ao saneamento adequado. Segundo o estudo, 40% da população global utiliza formas improvisadas de saneamento, o que acarreta na poluição do meio ambiente e especialmente da água.
 
Uma grande parcela da contaminação dos rios, lagos e reservatórios ocorre em razão da falta de saneamento adequado. O esgoto doméstico não tratado é considerado a principal fonte de poluição dos corpos hídricos superficiais, especialmente em áreas urbanas.
 
A urbanização sem planejamento e o aumento populacional causam um impacto significativo às águas superficiais e subterrâneas, já que somente 38% de todo o esgoto gerado no Brasil recebe algum tipo de tratamento. (Dados: Instituto Trata Brasil, 2012 e SNIS - Sistema Nacional de informação sobre o Saneamento 2009).
 
O esgoto in natura é prejudicial à natureza por conter grande quantidade de nutrientes (fósforo e nitrogênio) e alta concentração de matéria orgânica. O problema se agrava se considerarmos que é um vetor de doenças na sociedade, sendo despejado nos corpos d´água que servem ao lazer e ao abastecimento da população ou escorrendo nas sarjetas como água pluvial. Assim, a objetividade das políticas de saúde e saneamento é obrigatória em qualquer sociedade organizada, dada a questão de saúde pública envolvida.
 
Uma vez despejado na sarjeta ou arrastado pelas águas da chuva até os reservatórios de água próximos a qualquer comunidade, o problema transparece pela proliferação de algas no ambiente. Em condições normais, as águas possuem poucos nutrientes que possam ser absorvidos pelas algas e à vida aquática. Porém com a carga adicional, os reservatórios começam a ganhar vida, com organismos unicelulares encontrando alimentos de forma mais fácil e abundante, multiplicando-se e, na cadeia da vida, essa oferta chega até os vegetais, crustáceos, e peixes.
 
O mecanismo da vida é um exercício eterno de equilíbrio entre a falta e o excesso. Assim, com esse excesso de alimentos nas águas superficiais, se inicia um novo patamar de ajuste: as águas ficam ricas de vida e nutrientes, porém não há como tantos organismos respirarem nesse meio. È quando então se inicia um ajuste de população, que começa pela morte dos organismos mais sensíveis à falta do oxigênio e a sua morte leva a decomposição, o que libera mais matéria orgânica, que gerará níveis ainda mais baixos de oxigênio disponível no meio.
 
As algas são organismos uni ou pluricelulares, que na presença de nutrientes e luz, convertem a matéria orgânica em mais matéria e ao decompor o gás carbônico devolve o oxigênio ao meio. Assim, em uma observação direta, a alga atua como qualquer planta que ao receber nutrientes e água se multiplica na capacidade que o ambiente a mantém.
 
Sendo um ambiente rico em nutrientes, sua multiplicação é veloz. Embora o processo ocorra de modo geral com todas as algas, aquelas que possuem pigmentos de Ficocianina e Ficoeritrina (caracterizadas pelas colorações azul, verde-oliva e até vermelho) são especialmente monitoradas pelas empresas de saneamento, pois acumulam no interior de suas células toxinas neurológicas e hepáticas que podem provocar problemas de saúde.
 
Enquanto vivas, as algas não oferecem riscos diretos à qualidade da água e ao meio ambiente, mas quando combatidas com algicidas ou outros métodos, as toxinas de sua composição são liberadas no meio. No detalhamento da população de algas em águas, estão disponíveis duas linhas gerais de monitoramento: a análise e contagem em laboratório de tais organismos ou o uso de sondas e outros dispositivos especiais que medem a quantidade dos referidos pigmentos no meio e retornam com respostas instantâneas das medições, podendo inclusive perfilar as medições em vários substratos de maneira fácil e efetiva.
 
Uma outra forma de contaminação muito menos visível, mas não menos agressiva, é a contaminação de águas subterrâneas também ocasionadas pela falta de saneamento. Poços tipo cacimba e poços artesianos, clandestinos ou não, abandonados em sites industriais, comerciais ou residenciais conduzem o esgoto diretamente a grandes volumes de água subterrânea, eliminando todo processo natural de filtragem pelas camadas de solo.
 
O contaminante se dissolve na água e geralmente nem mesmo é notado, sem uma análise química e biológica mais detalhada. Para a realização dessa análise, a tecnologia mais indicada são as sondas da qualidade da água AP 2000, AP 5000 e AP 7000, capazes de mensurar parâmetros físico-químicos e específicos, através dos sensores óticos e ISE o que inclui clorofila “a”, ficoeritrina e ficocianina em um sensor por variável. Desta forma podemos ver que as algas, ainda que sejam negativas, são reflexo de um corpo d’água que recebe cargas contaminantes muito acima das suas capacidades de decomposição sustentável à vida daquele ambiente.
 
Como resultado direto, obtemos um custo maior de adição de químicos no seu tratamento, custo esse marginal àquele necessário para resolver o problema com uma rede coletora eficiente e seu devido tratamento para que seja liberada em campo em níveis aceitáveis para uma purificação na natureza, sem a geração de um ônus à sociedade e à biota que cerca uma cidade.
 
*Mauro Banderali é especialista em instrumentação hidro-meteorológica e diretor da Ag Solve, empresa especializada em soluções tecnológicas para monitoramento nas áreas de hidrologia e meteorologia
 

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