sexta-feira, 1 de maio de 2009

Resíduos sólidos pedem melhores políticas públicas já

Caminhões de lixo chegam e despejam todo seu conteúdo sobre o solo, dia e noite. Seu movimento é seguido por pequenos tratores que compactam os dejetos e os cobrem rapidamente de terra. Esta atividade segue de domingo a domingo, sem parar, no aterro privado da Estre Ambiental, em Paulínia (SP), que recebe a coleta de 22 municípios da região metropolitana de Campinas e ainda os rejeitos industriais de 900 empresas, e demonstra o grande investimento necessário para lidar com eficiência com mais de 4.000 toneladas diárias de resíduos sólidos.


“Cuidamos para que o ponto em aberto do aterro, isto é, aonde chegam os materiais descartados, seja o menor possível. A compactação e cobertura imediatas evitam mau cheiro, presença de animais e riscos para a saúde”, explica Juscelino Dourado, responsável pela empresa. Em operação desde 2000, esta unidade já acumula 7 milhões de toneladas soterradas em camadas sobrepostas de 5 metros de altura e gera, atualmente, 500 mil litros por dia de chorume (líquido resultante da decomposição de materiais orgânicos), além de 5.800 m³ de gases por hora.


Evitar que esses elementos causem danos ambientais graves requer um trabalho intenso e especializado de engenharia e logística. Ele começa já na preparação do local do aterro, que é escavado em camadas, de forma a evitar desmoronamento das pilhas, e tem sua área totalmente isolada por mantas emborrachadas, para impedir a contaminação do solo e do lençol freático. Cada nível completo com resíduos é revestido com argila, de modo a impedir a penetração de água de chuva. Esta corre por canaletas e manilhas de concreto, sem entrar em contato com o lixo.


“Já o chorume é coletado por canos e armazenado num tanque de contenção, dali sendo enviado para tratamento pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e pela Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa)”, informa Dourado, acrescentando que o custo anual deste tratamento é de US$ 15 milhões. Os gases, principalmente o metano, são também recolhidos por tubos e queimados, transformando-se em CO2.


O metano colabora 21 vezes mais para o aquecimento global do que o CO2, o que torna urgente evitar sua liberação na atmosfera. Por isso, sua captura e queima foram aprovadas para geração de créditos de carbono, trazendo receita para os investimentos em pessoal e maquinários necessários para essa operação.


Todos esses cuidados com resíduos sólidos são raros no Brasil, onde ainda predominam os lixões a céu aberto. Segundo o IBGE, apenas 32,2% dos municípios brasileiros têm aterros sanitários e, destes, apenas 51,2% têm impermeabilização do solo e 21,6% tratam o chorume que geram.


Ainda assim, os planos da empresa vão além. A Estre quer aproveitar a queima de gás para gerar energia elétrica. “Hoje, poderíamos iluminar uma cidade de 40 mil habitantes”, diz Dourado. A empresa também abraçou com afinco a idéia de promover a conscientização ambiental no país.




Engajamento de todos


As instalações da Estre em Paulínia estão servindo como um campo de educação, mostrando na prática quantos materiais são descartados todos os dias e o desafio ambiental que isso provoca. Para atender os constantes pedidos de visitas, foi montado junto da unidade de operação um Centro de Educação Ambiental, que em seu primeiro ano de funcionamento recebeu mais de 14 mil estudantes, de todas as idades.


Para administrar o centro e ampliar o trabalho com professores e com a comunidade do entorno, foi criado o Instituto Estre, cujos focos de atuação são a coleta seletiva, o reflorestamento urbano e a educação ambiental. Em 2008, 1.033 professores de 19 municípios da região metropolitana de São Paulo participaram ali de capacitação e cursos, e o ano de 2009 começou com 9.000 alunos agendados para visitação ao aterro.


O material didático utilizado foi construído em conjunto com os professores, e uma maquete explicando todo o funcionamento do aterro, em oposição a um lixão, ajuda na compreensão dos desafios colocados pelo lixo.


O Instituto Estre também foca na inclusão social, apoiando iniciativas de coleta seletiva e de reciclagem de resíduos, contrapartidas exigidas para a operação do aterro. Em 2004, a Estre cedeu um galpão ao lado da sede do instituto para o funcionamento da cooperativa de reciclagem Cooperlínia, que separa e enfarda materiais recicláveis provenientes de Paulínia e de Valinhos (SP).


“Queremos influenciar políticas públicas de reciclagem e ampliar os programas de coleta seletiva”, declara Dourado. “Pode parecer um contrassenso, mas a separação de lixo ainda é tão pequena no Brasil que pode ser ampliada drasticamente sem, contudo, eliminar a necessidade de aterros”, esclarece o profissional. Como exemplo, cita que o material que chega para a Cooperlínia é de apenas 150 toneladas por mês, indicando o quanto ainda pode ser separado para reaproveitamento.


O atual aterro em operação em Paulínia tem capacidade para acolher um total de 14,5 milhões de toneladas, o que lhe projeta uma vida útil de mais sete anos – considerando a redução natural no volume dos resíduos enterrados. As instalações também abrigam galpões para a descontaminação de solo impregnado de óleo e petróleo, os quais recebem hoje 1.800 toneladas por dia desse material.


A área inclui ainda um espaço de reciclagem de entulhos, com uma máquina que os transforma em brita, pedrisco e areia. Hoje essa máquina fica a maior parte do tempo ociosa, pois não houve interesse por parte das construtoras de comprar o material reciclado. Este é outro campo a ser expandido, evitando-se assim a deposição incorreta ou a ocupação de terrenos por esse tipo de material.


Uma segunda área está reservada para um novo aterro quando o atual se esgotar. No total, são 62 hectares, já englobando a área de reflorestamento necessária para a compensação ambiental. É uma extensão considerável, que poderia servir a outros fins caso o ritmo de descarte de materiais sólidos diminuísse. Os aterros, no final de sua operação, devem permanecer 20 anos em descanso, fazendo antever que, sem o engajamento de todos na redução de lixo e na ampliação de sua separação para reciclagem, estamos num caminho que pode custar muito caro às futuras gerações.

Fonte: Assemae

Um comentário:

Read Aued Guirar disse...

Então, lá vai. É insistir até morrer. Não dá mais para fingir que não está acontecendo.
Como se pode esperar que os poluidores separem o lixo, no mínimo o orgânico do inorgânico, se HOJE a própria SABESP está propondo a construção de aterros sanitários por todo o Estado de São Paulo, Brasil e Exterior? Aterros com trinta anos de vida útil significando mais trinta, além dos trinta atrasados, para que a coleta seletiva e reciclagem entrem na rota da boa civilização.
Com todo o respeito... A manobra da SABESP em cumplicidade com o Governo do Estado foi assim:
em julho de 2007 - o governo estadual envia o Projeto de Lei Complementar nº48/2007, que permite a alteração dos estatutos da SABESP de modo que ela possa construir aterros sanitários.
Em dezembro de 2007 - o PLC48/2007 foi aprovado e SANCIONADA A LEI, autorizando a SABESP a "entrar no negócio bilionário do lixo" como comentou a Folha de S. Paulo no dia 17 de março último.
Em junho de 2008 - interdição pela CETESB de 4 lixões de uma só vez
Em julho de 2008 - a SABESP alterou seus estatutos.
Em janeiro de 2009 - O Prefeito de Itapecerica da Serra, eleito Presidente do Conisud anuncia que vai propor ao Governo do Estado parceria para a retomada do lixão.
Em 17 de março 2009 - o Governador do Estado autoriza protocolo de intenção entre a SABESP e a Prefeitura de Itapecerica da Serra, dando a partida ao "crime sócio ambiental", a primeira punhalada do esquema contra o meio ambiente e a sociedade de recicladores.
E o pior. Essa articulação foi engendrada desde antes de 2007 e só veio a público em março de 2009. Tudo aconteceu no mais tenebroso sigilo. Ninguém, a menos dos adormecidos deputados da ALESP que inadvertidamente aprovaram o PLC48/2007, sem corrigir o disfarçado subterfúgio da lei, ninguém, nem a grande imprensa ficou sabendo. Ou, se soube silenciou censurada pelo poder econômico, alienando a comunidade preservacionista ambientalista, e com isso impedindo-a de ao menos discutir o projeto de lei e tentar aprimorá-lo.
Não há porque construir aterros sanitários. Aterro sanitário é coisa do século passado neste século de logística reversa. E finalmente, disciplina ambiental se constrói como se constrói a educação nas escolas. Com aulas teórico-práticas (conceietos, leis e regras), exercícios, provas, notas que premiam com a aprovação e superação do grau de aprendizado, ou notas que punem com a reprovação e a repetição do ano escolar.

Quer dizer, disciplina ambiental se constrói com LEIS, REGRAS, informação, fiscalização, premiação e punição inapelável aos infratores.