O avanço das tecnologias de tratamento de água e esgoto abre espaço para soluções autônomas.
A implantação de sistemas de tratamento de água e esgoto próprios é hoje uma alternativa viável para condomínios – inclusive de pequeno porte –, empresas e instituições que dependem de grande consumo desse recurso natural. As novas tecnologias permitem a construção de estações menores, com diversas vantagens, entre elas a economia e a segurança.O consumo de água está entre os maiores custos de um condomínio, perdendo apenas para os gastos com pessoal, de acordo com Livio Salles, diretor da Biossistemas, empresa especializada em tecnologia para tratamento de águas e efluentes líquidos industriais e urbanos.Através do leasing o cliente financia a implantação da ETA ou ETE por um prazo de 60 mesesUma estação própria de tratamento de água e esgoto pode reduzir esses custos em até 30%. “Para um condomínio de mil habitantes, por exemplo, o sistema de saneamento tem um custo estimado de R$ 150 mil, o que significa um investimento de aproximadamente R$ 75,00 por condômino, para a geração de uma economia por tempo indeterminado”, afirma Livio Salles.As novas ETEs e ETAs são compactas e ocupam uma área reduzida ou até subterrânea. Isso, segundo Salles, viabiliza sua instalação mesmo em condomínios que não disponham de grandes áreas. Além disso, “a obra valoriza visualmente o entorno, não produz odores ou ruídos e, com relação à operação e manutenção, é extremamente simples, segura e econômica”, garante Salles.As instalações valorizam visualmente o entorno e não produzem odores ou ruídos durante o funcionamentoA Biossistemas firmou uma parceria com o Bradesco para a abertura de linha de crédito para o financiamento desses projetos, na modalidade de leasing. De acordo com Livio Salles, diretor da Biossistemas, a empresa, que até agora não oferecia esse produto, espera abocanhar boa parte desse mercado nascente nos próximos anos.Ele explica que a rápida elevação das tarifas de saneamento e a crescente preocupação com a sustentabilidade dos recursos naturais, ocorrida nos últimos anos, fazem das estações de tratamento de água compactas um ótimo negócio. Elas são uma alternativa econômica e sustentável, capaz de suprir a falta ou a baixa potabilidade de água, em diversos locais, além de oferecerem uma solução importante para a proteção eficaz dos recursos hídricos.“Resolve uma questão econômica e ambiental importante para as indústrias. Elas passam a ter uma estação própria para o tratamento, começam a reutilizar a água, e reduzem o consumo desse insumo em até 70%”, exemplifica Salles. O mesmo acontece no caso de condomínios residenciais e comerciais, que demandam um grande volume de água.Pela modalidade de leasing, a empresa ou condomínio pode financiar a implantação da ETA ou ETE por um prazo de 60 meses, com carência de até 12 meses e juros reduzidos. Ao término do contrato, a empresa ou condomínio torna-se proprietário da estação.Para Sérgio Pontremolez, vice-presidente da General Water, primeira concessionária particular de água do Brasil, as pequenas ETAs e ETEs vêm ganhando um papel cada vez mais importante no gerenciamento de recursos hídricos, especialmente em grandes metrópoles, como São Paulo, que sofrem com a disponibilidade de água. Ele destaca que não se trata de uma concorrência com as concessionárias públicas, que têm como prioridade o abastecimento público.A empresa atua com recursos próprios, desenvolvendo e implantando soluções completas de abastecimento de água para grandes consumidores – representados por empresas e empreendimentos de renome no cenário nacional e mundial.O sistema ajuda a elevar a disponibilidade hídrica nas grandes cidades com economia e segurança De acordo com Pontremolez, “no caso dos grandes consumidores privados, é possível usufruir de sistemas de abastecimento e gerenciamento seguros e econômicos, liberando as concessionárias públicas para o atendimento dos serviços essenciais e da população”, explica. Na avaliação de Pontremolez, “é preciso promover a reutilização da água, assim como o uso racional de fontes renováveis.Isso constitui uma importante ação contra o iminente cenário de escassez desenhado para o planeta”, completa.O setor privado também deve enfrentar esse desafio, observa o vice-presidente da General Water. “O objetivo da nossa empresa, ao implantar e gerenciar sistemas de abastecimento e tratamento de água baseados em padrões de excelência, é oferecer vantagens reais e expressivas para clientes exigentes, mas também preocupados com o meio ambiente”, explica ele.A General Water já implantou mais de 70 sistemas, com contratos de 10 a 15 anos, somente na Grande São Paulo. Mas há clientes que com oito anos já nos procuram para renovar o contrato. “No Shopping ABC, em Santo André, utilizamos um sistema canadense, com a instalação de uma estação ultracompacta na qual o esgoto é tratado e volta como água de reúso. Essa água tem uma coloração azul, para as pessoas não beberem.” Nesse caso, o shopping era freqüentado diariamente por 30 mil pessoas e descartava o esgoto no Rio Tamanduateí. Com o sistema implantado, diminuiu em 50% o lançamento além da economia de água potável. “Como no caso das concessionárias, nosso cliente consome e paga por metro cúbico, tanto no consumo quanto no reúso da água. A economia é grande, não apenas porque os preços são menores que os da operadora pública, mas também porque o cliente deixará de pagar a taxa de descarte de seu esgoto, que é tratado, produzindo água que volta para o sistema, para atividades específicas”, afirma ele.Os novos sistemas de tratamento de água e esgoto têm um forte apelo ambiental, são extremamente compactos e podem ser facilmente implantados em áreas reduzidas. Além disso, são eficientes na redução de DBO e não emanam odores. “Acreditamos que podemos fazer um trabalho em conjunto com as operadoras públicas, porque temos certeza de que esse novo mercado vai auxiliar a melhorar o quadro de estresse hídrico que estamos vivenciando”, conclui Sérgio Pontremolez. Estudo aperfeiçoa tratamento de esgotoSistema associa processo de ultrafiltração por membrana com o de lodo ativado
A tese de doutorado do professor Ricardo Nagamine Costanzi, defendida na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), ajudou o pesquisador a desenvolver um sistema piloto para tratamento de efluentes que associa o tratamento por lodos ativados a membranas de ultrafiltração, possibilitando maior segurança na produção de água para o reúso.A pesquisa foi realizada no Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra) da USP e a idéia foi buscar alternativas para atender à demanda industrial paulistana por água limpa, e também amenizar o impacto ambiental do despejo de esgoto não-tratado nos rios.Atualmente, o tratamento do esgoto com lodos ativados (contém bactérias que consomem carbono, nitrogênio e fósforo, diminuindo as impurezas e o seu potencial de impacto nos recursos hídricos) é utilizado principalmente para lançar a água com um menor grau de poluição nos rios e córregos.A esse processo de tratamento utilizado pelas companhias de saneamento locais, o pesquisador adicionou mais uma etapa, que é a passagem da água por um sistema de membranas de ultrafiltração. “O sistema foi utilizado para tratar o esgoto bruto originado do conjunto residencial e do esgoto do restaurante universitário da USP. Esse esgoto possui características físico-químicas e biológicas similares ao esgoto doméstico”, explica ele.A seletividade das membranas permite a retenção dos sólidos suspensos (moléculas maiores que 0,45 µm), bem como bactérias. Permanecem na água apenas substâncias solúveis (moléculas menores) e vírus, tornando-a adequada a diversos processos industriais que não exigem a remoção dessas substâncias. Como o vírus pode ser eliminado por desinfecção simples, ela pode ser utilizada também na lavagem de ruas, irrigação e vasos sanitários. Ou seja, seria potencialmente utilizável em condomínios residenciais verticais e horizontais.
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