Por Sabrina Domingos, do Carbono Brasil
Cana-de-açúcar, milho, arroz, batata: essas são as matérias-primas do bioplástico – produto que pretende substituir as resinas plásticas produzidas a partir do petróleo. A busca por novas alternativas ao plástico comum tem feito o setor crescer de forma acelerada – a Associação Européia de Bioplástico estima que a capacidade global de produção seja quadruplicada até 2011 – atingindo 1 milhão de toneladas. No Brasil, a petroquímica Braskem é pioneira no desenvolvimento de uma resina plástica sustentável feita a partir do etanol, conhecida como “plástico verde”.
O termo bioplástico é aplicado a compostos derivados de fontes renováveis (como os produzidos a partir de cereais e outros vegetais ou óleos) ou que sejam biodegradáveis (nesse caso, precisam atender a padrões rígidos relacionados com a capacidade de biodegradação e de compostagem).
Por custar entre 20% e 100% a mais do que o plástico convencional, o bioplástico não era adotado como uma alternativa viável pelas indústrias. Mas a competitividade do produto tem aumentado à medida que uma combinação de fatores vem estreitando significativamente a diferença de custo entre os dois tipos de produto: a crise do petróleo, os altos impostos aplicados às embalagens e a elevação no preço das resinas como o polipropileno em até 45% impulsionam a demanda por alternativas renováveis.
O destino pós-uso desses novos materiais já preocupa. Atualmente apenas 1% do bioplástico passa por processo de compostagem na União Européia e nos Estados Unidos. O restante acaba indo para aterros sanitários – aonde, na falta do oxigênio necessário para a biodegradação, acabam liberando metano (um dos mais poderosos gases do efeito estufa) - ou então são enviados erroneamente para a reciclagem de plástico, aonde podem causar contaminação.
Quase mágica
A idéia por detrás do bioplástico é de que se possa encher uma sacola feita desse material com restos de comida e jogá-la em um local juntamente com embalagens vazias de outros produtos biodegradáveis, como garrafas ou pratos descartáveis; e partir disso, formar um composto que dentro de três meses não deixe nenhum vestígio.
No entanto, nem todos os bioplásticos são feitos para serem eliminados. O plástico verde da Braskem, por exemplo, é produzido a partir de matéria-prima renovável, mas não é biodegradável. Desenvolvido do etanol de cana-de-açúcar, o polietileno fabricado na empresa se destina a suprir os principais mercados internacionais que exigem produtos com desempenho e qualidade superiores - como a indústria automobilística, de embalagens alimentícia, cosmética e de artigos de higiene pessoal.
O responsável pelo projeto do polietileno verde na Braskem, Luiz Nitschke, afirma que o plástico verde da empresa brasileira é o primeiro no mundo a conter 100% de matéria-prima renovável. “Há iniciativas em outros países com outros biopolímeros que têm propriedades físicas e aplicações distintas ao polietileno”. Ele acrescenta que a Braskem é pioneira nesse mercado e conta com uma planta com capacidade de 200 mil toneladas por ano, que será inaugurada em 2010, tornando a marca na líder mundial em biopolímeros.
As pesquisas iniciaram em 2005 e receberam 5 milhões de dólares de investimentos. Em uma parceria assinada com a com a Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo, a Braskem se comprometeu em investir mais 50 milhões de reais nos próximos cinco anos para desenvolver outros produtos de fonte renovável.
Com a comercialização em larga escala do plástico verde, Nitschke acredita que ocorrerá uma substituição em nichos de mercado que valorizem o conceito de um produto de fonte renovável. Uma sondagem da empresa demonstra que clientes estariam dispostos a pagar entre 15% e 20% a mais por embalagens que tenham uma espécie de certificação verde. A vantagem nesse caso é que o custo de produção da resina fabricada de etanol de cana-de-açúcar é praticamente o mesmo do plástico originado do petróleo.
Demanda por terra
A fabricação do bioplástico em nível comercial levanta a preocupação com a possível disputa por recursos naturais e terra. Degli Innocenti, porta-voz da empresa Novamont, que produz bioplásticos na Europa, afirma que “a quantidade de terra necessária para os bioplásticos é em varias ordens de magnitude menor do que para os biocombustíveis”.
Uma pesquisa publicada no início deste ano aponta que as plantações destinadas à produção de biocombustíveis ocupam cerca de 10 milhões de hectares de um total de 1,5 bilhões de hectares áreas cultiváveis.
No caso da Braskem, Nitschke explica que todo o etanol produzido no Brasil atualmente (cerca de 23 bilhões de litros por ano) utiliza somente 1% das terras aráveis do país. “Ainda pode-se duplicar a produtividade na mesma área com investimentos em melhorias tecnológicas, isso sem utilizar cana geneticamente modificada – o que significa que a cana-de-açúcar não é impactante no balanço de produção de alimentos”, defende.
Questões como essas prometem gerar menos polêmica quando se iniciar a produção de bioplásticos de segunda geração (a partir de biomassa não alimentícia, como o bagaço da cana-de-açúcar, por exemplo).
“Os biocombustíveis fornecerão a plataforma para a segunda geração de bioplásticos, que também poderão utilizar a lignina de celulose (biomassa) que os biocombustíveis usam”, afirma Mark Vergauwen, gerente de desenvolvimento de negócios para a empresa Natureworks na Europa. Ele explica que a idéia é preparar a tecnologia que possuem para utilização da biomassa de forma a não mais precisar dos alimentos como matéria-prima e, assim, evitar que os bioplásticos causem qualquer impacto real.
(Envolverde/Carbono Brasil)
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