Por Cristina Ávila, do MMA
A retirada do sal que tornava salobra a água dos poços da comunidade de Caatinga Grande, em São José do Siridó (RN), trouxe mais do que a alegria de matar a sede com a bebida fresca e saborosa. Os 600 habitantes do povoado potiguar acabaram tendo outra vantagem depois que passaram a integrar o Programa Água Doce (PAD), do Ministério do Meio Ambiente. Hoje eles têm fartura na mesa, pois contam com uma produção 3.200 quilos anuais de peixes criados em dois tanques construídos como parte do projeto de dessalinização.
Esse é um dos exemplos que estará no IV Encontro de Formação do Programa Água Doce (PAD) que tem por objetivo capacitar e integrar técnicos membros dos estados que participam de suas atividades, entre os dias 4 e 6 de agosto, em Natal. A meta é aprimorar o planejamento de ações e apresentação dos planos estaduais formulados para a continuidade do PAD até 2020. As comunidades que participam são escolhidas por apresentarem baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e altos percentuais de mortalidade infantil, além da dificuldade de acesso aos recursos hídricos.
"O programa foi criado devido à escassez de água no Semi-Árido de dez estados nordestinos, além de Minas Gerais", afirma Renato Coelho, analista de infraestrutura do MMA, que trabalha na coordenação nacional do PAD. Ele relata que são beneficiadas 60 mil pessoas, em 68 comunidades. Embora o foco principal seja o fornecimento de água pura, já foram implantadas oito unidades demonstrativas completas, integradas pela produção de peixes e plantio de atriplex, espécie de planta que absorve sais da terra e pode ser usada na alimentação animal.
O sistema de produção integrado do PAD foi desenvolvido pela Embrapa Semi-Árido como alternativa de uso adequado do efluente que resulta do processo de dessalinização. Cerca de 50% da água que passa pelos equipamentos para a retirada do sal eram jogados no meio ambiente, causando danos, pois ainda mantém quantidade de sal. A partir desse programa, esse rejeito passou a ser depositado em tanques de criação de peixes. Depois, enriquecido com matéria orgânica, ainda é usado na irrigação da atriplex, que se transforma em feno para animais.
"Além de água potável de primeira classe, hoje temos alimento para caprinos, ovinos e comida para o povo. Temos três associações beneficiadas", conta seu Miguelino, como é chamado Francisco das Chagas de Azevedo, presidente de uma das associações de Caatinga Grande. Renato Coelho diz que como outros povoados do Semi-Árido, esse também começou recebendo financiamento para a produção. "Hoje está independente", comemora o analista de infraestrutura.
Desde que o PAD surgiu, em 2003, foram investidos cerca de R$ 7,2 milhões em parcerias com Petrobras, Fundação Banco do Brasil, BNDES e recursos do próprio Ministério do Meio Ambiente. Hoje estão estruturados 11 núcleos estaduais, capacitando 526 técnicos dos estados e 319 operadores das localidades. Além disso, são desenvolvidas pesquisas na área de nutrição animal, piscicultura e cultivo de atriplex para o aperfeiçoamento dos sistemas produtivos. No momento, estão sendo elaborados os Planos Estaduais de Execução, que visam a definição de arranjos institucionais em cada estado, com intuito de orientar os investimentos futuros.
(Envolverde/MMA)
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