Usa-se a palavra “sustentabilidade” para qualquer coisa. Fala-se muito em desenvolvimento sustentável, crescimento sustentável, sustentabilidade ambiental, sustentabilidade econômica, negócios sustentáveis, sustentabilidade ecológica, marketing sustentável, e assim por diante.
A verdade, no entanto, é que poucos compreendem o que seja “sustentabilidade”. Alguns até sabem o que é, todavia evitam empregá-la no seu dia a dia, mas quando o fazem de forma pontual alardeiam mídia afora para que todos possam vê-lo e homenageá-lo. É o que se convencionou chamar de Greenwash. Há ainda os incoerentes que de um lado acenam com medidas pontuais relacionadas à sustentabilidade, mas de outro praticam atos que demonstram a falta de sintonia entre o que dizem e o que fazem.
Com a publicação do Relatório Brundtland (Nosso futuro comum) "Our Common Future", Oxford University Press, 1987, às fls p.43, encontraremos o conceito básico de sustentabilidade, obtido a partir de outra expressão “desenvolvimento sustentável”, ou seja: É o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras. Percebe-se que a definição é perfeitamente inteligível, no entanto, não se pode dizer o mesmo em relação à sua aplicação.
Parece-nos que um dos maiores equívocos associados à sustentabilidade é pensar que podemos continuar crescendo indefinidamente, como se não fosse haver um limite. Basta informar que o empreendimento é sustentável para receber a chancela ou simpatia dos diversos stakeholders. Os relatórios do Clube de Roma ou do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC na sigla em inglês - estão a nos dizer o contrário e há muito tempo. Segundo essas entidades, o planeta está em perigo e em breve chegaremos a um ponto sem retorno. Ou seja, a Terra perderá a capacidade de se regenerar e, com isso, vão faltar água e alimentos em diversas partes do globo. O aquecimento global chegará a um nível catastrófico dizimando a vida de uma infinidade de seres vivos.
O cerne do problema reside na velocidade da apropriação dos recursos naturais. Essa pegada inconseqüente está longe de diminuir porque, a cada ano, a população planetária cresce e, assim, demanda cada vez mais recursos naturais. É um círculo necessário, mas extremamente perigoso a todos nós. Para complicar um pouco mais, há os empresários inescrupulosos ávidos por lucros imediatos e portadores de belos discursos sobre a temática ambiental, mas que agem contaminados pela visão imediatista do curtíssimo prazo.
É nesse contexto que surge a sustentabilidade. Ela foi concebida para que o homem, independentemente de suas crenças, possa sensibilizar-se para o real perigo que representa para o planeta. O objetivo da sustentabilidade é induzir o homem a reduzir a pegada predatória. Como a biodiversidade planetária está no limiar do esgotamento, todas as atenções da sustentabilidade dirigem-se para o meio ambiente. No entanto, ela possui infindáveis vertentes. É, portanto em razão dessas inúmeras correlações que a sustentabilidade se tornou um tema complexo. Não se pode fechar questão em torno dela, tampouco aprisioná-la em conceitos que servem mais para acomodar interesses do que compreendê-la.
Novas tecnologias menos intensivas de recursos naturais estão sendo criadas para permitir que o desenvolvimento possa continuar. Esse é o caminho aconselhável a todo empresário sensato. Tudo é válido no sentido de reduzir nossa pegada inconseqüente e irresponsável! Por isso, devemos não apenas nos preocupar, mas pôr em prática ações relacionadas ao uso racional dos recursos naturais, preservação da biodiversidade, reciclagem, redução da emissão de gases de efeito estufa, entre outras medidas.
A complexidade da sustentabilidade decorre do fato de ser necessária a mudança de nossos hábitos e costumes. Para isso é preciso ter ética! É necessário ter respeito para com os seres vivos. Devemos nos preocupar com o próximo! Daí a dificuldade em expandir nossas consciências para além do lugar comum. Não estamos habituados a fazê-lo, e lamentavelmente, poucos possuem boa vontade em ascender a esse novo patamar de consciência. É preciso capacitação e disciplina! Se fosse fácil, o mundo não estaria na situação em que se encontra.
Revista Sustentabilidade
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