sexta-feira, 12 de junho de 2009

Poluição e “pesca fantasma” contribuem para a degradação do ambiente marinho

Nas últimas décadas, os ecossistemas marinhos, em especial os costeiros em função da proximidade com os Continentes, têm sido impactados por poluição proveniente das mais diversas fontes. Entre elas, destacam-se os dejetos industriais e os defensivos agrícolas, como pesticidas e adubos, que são utilizados nas plantações e arrastados pela chuva para córregos, rios e conseqüentemente para o mar. Por essa razão, é exatamente nas regiões estuarinas (áreas onde o mar e o rio se encontram) que ocorre o maior nível de concentração de poluentes.

A poluição resultante da ocupação humana, como é o caso de materiais plásticos e dos esgotos doméstico, também é responsável pelo processo de degradação. Segundo Fábio Hissa Vieira Hazin, especialista em oceanografia pesqueira, o grande volume de contaminantes resultados de esgoto doméstico não tratado, é o principal causador dos processos de eutrofização (crescimento excessivo de plantas aquáticas) e exaustão do oxigênio disponível nos corpos d’água que cruzam as grandes cidades brasileiras.

“As conseqüências desses processos para o ecossistema costeiro são enormes e gravíssimas, principalmente por que grande parte das espécies, a maioria de valor comercial, tem as regiões estuarinas como áreas essenciais para o desenvolvimento das fases iniciais do seu ciclo de vida, que também são as mais vulneráveis e frágeis”, explica Hazin.

A estimativa é de que, anualmente, mais de 13 mil objetos plásticos flutuem por quilômetro quadrado de oceano. Em 2006, um levantamento apontou que, em alguns trechos do Oceano Pacifico, foram encontrados seis quilogramas de plástico para cada quilograma de plâncton. Os resultados são preocupantes e alertam a sociedade para o alto nível de contaminação dos oceanos.

Hazin afirma que o processo de degradação enfrentado pelos ecossistemas costeiros e pelos rios que cortam os grandes centros urbanos do País, pode ser considerado a maior tragédia ambiental brasileira e seus impactos têm afetado significativamente tanto a biomassa das espécies que eles comportam como a sua biodiversidade. De acordo com ele, a solução para esse problema envolve trabalho de saneamento e tratamento de esgoto que demanda tempo e alto investimento econômico. “Além disso, é necessária uma mudança de comportamento, de atitude e do próprio paradigma de desenvolvimento a fim de conscientizar a população brasileira sobre a importância da preservação do meio ambiente, e em particular, dos ecossistemas marinhos”.

Pesca fantasma

Equipamentos de pesca perdidos, abandonados ou descartados são responsáveis hoje por 10% dos resíduos que poluem o ambiente marinho (cerca de 640 mil toneladas). Segundo um relatório sobre “pesca fantasma”, elaborado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e divulgado em maio último, cerca de oito milhões de itens listados como lixo são despejados a cada dia nos oceanos e mares. Desse total de objetos, cerca de cinco milhões (63%) são resíduos sólidos perdidos por barcos. O principal responsável por esse grande volume de resíduos é o transporte comercial marítimo, que faz com que muitos equipamentos se percam no mar durante tempestades ou em conseqüência de fortes correntes marinhas.

O aumento na escala global de operações de pesca e a introdução de equipamentos de longa durabilidade fabricados com materiais sintéticos aumentam os impactos sobre o meio ambiente. Entre os principais danos estão a alteração do solo marinho, o aumento do risco de navegação e a captura contínua de peixes e de outros animais como tartarugas, aves e mamíferos marinhos (conhecida como “pesca fantasma”), muito tempo após do aparelho de pesca ter sido abandonado.

As redes e armadilhas são os principais apetrechos de pesca responsáveis pela “pesca fantasma”. Com a proibição internacional de utilização das imensas redes de deriva oceânica (drift nets) em 1992, o impacto negativo causado pelas mesmas foi significativamente reduzido, dizem os especialistas.

Hoje, as redes que mais oferecem riscos são as ancoradas no fundo do mar, as quais ficam presas a flutuadores na superfície, formando uma parede vertical que pode medir entre 600 e 10 mil metros de comprimento. Quando perdidas ou abandonas, elas podem continuar “pescando” indiscriminadamente por meses, e, às vezes, anos.

O mesmo ocorre com as armadilhas. O referido relatório estima, por exemplo, que das 500 mil armadilhas de caranguejo que são instaladas anualmente na Bahia de Chesapeake, nos EUA, cerca de 150 mil são perdidas. Só a Ilha de Guadalupe, no Caribe, é responsável pela instalação anual de 20 mil armadilhas, entretanto 50% destes equipamentos se perdem nos furacões.

No relatório, Ichiro Nomura, subdiretor geral de Pesca e Agricultura da FAO, afirma que se medidas efetivas não forem adotadas pela comunidade internacional, os equipamentos continuarão se acumulando no ambiente marinho e consequentemente os impactos aos ecossistemas aumentarão. “As estratégias para enfrentar o problema devem abordar várias frentes, incluindo prevenção, diminuição e medidas reparadoras”, diz Ichiro.

O diretor executivo do Pnuma, Achim Steiner, explica no estudo que, além dos equipamentos abandonados, perdidos ou descartados, existem muitos outros fatores que prejudicam o ambiente marinho, como a sobrepesca, a acidificação ligada ao aquecimento global e o aumento das zonas mortas desoxigenadas. Esses processos formam um conjunto de desafios que devem ser resolvido coletivamente, para que seja mantida a produtividade dos oceanos e mares.

De acordo com o relatório FAO/Pnuma, incentivar economicamente os pescadores que informarem a perda ou dano em algum equipamento, aperfeiçoar o processo de notificação, melhorar o recolhimento, eliminação e reciclagem dos equipamentos, catalogar os materiais de pesca e utilizar novas tecnologias, como GPS e transponders, para monitorar e localizar os equipamentos perdidos, são algumas das iniciativas que podem contribuir para a solução da “pesca fantasma”.

Além disso, está em andamento um estudo sobre a adoção comercial de equipamentos com componentes duráveis, como os materiais sintéticos, mas que incorporem elementos biodegradáveis, que se desintegrem ao permanecer por um determinado tempo imerso no mar. Essa adoção comercial deve vir acompanhada de um sistema de informação e recuperação de equipamentos de pesca perdidos para reduzir o nível de resíduos no ecossistema.

Para o especialista Hazin, embora o relatório não tenha divulgado nenhum fato novo, ele alerta à comunidade internacional sobre a necessidade de se conscientizar a sociedade para que seja deflagrado um processo urgente de recuperação e preservação dos ecossistemas marinhos.


(Envolverde/Ministério da Ciência e Tecnologia)

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