Por Mel Frykberg, da IPS
Faqua, Palestina, 12/06/2009 – A setentrional aldeia de Faqua, na Cisjordânia, tem seu nome do aquífero sobre o qual se assenta. Mas a população carece desse recurso, controlado por Israel. Os problemas começaram em 1948 com a criação de Israel, quando 2,4 hectares dos 3,5 que tem Faqua e a maior parte da água subterrânea foram tomados pelo Estado judeu. Os palestinos continuaram sofrendo escassez de água após a assinatura dos acordos de paz de Oslo em 1993 e da criação da Comissão de Água Palestino-israelense, diz um informe do Banco Mundial divulgado em abril.
A Cisjordânia está dividida em três zonas: área A, sob controle palestino; B, sob controle palestino e israelense, e C, sob controle israelense, dentro da qual fica Faqua. Para os moradores da área C é muito difícil conseguir autorização das autoridades israelenses para cavar poços ou fazer ligação com a rede de água da empresa Mekorot, de Israel. “Desde 2000 esperamos permissão para construir uma rede de tubulações”, disse à IPS Abu Farha, chefe do conselho desta aldeia. “Mas, não querem nos dar. Tampouco podemos cavar poços ou reparar os que já estão construídos”. Porém, “os colonos podem fazer poços muito mais profundos do que os nossos e consertar os demais”, acrescentou.
O conselho da aldeia de Faqua pensa que Israel pretende expulsar os moradores das aldeias desta região por seu significado estratégico. Faqua, no distrito de Jenin, na Cisjordânia, fica no alto de uma colina de onde se tem uma visão panorâmica do vale do rio Jordão. Esta aldeia, a uma hora de automóvel de Ramala, está perto das fronteiras da Síria e do Líbano. Seus cinco mil habitantes foram prejudicados pro uma barreira erguida por Israel para separar esta aldeia de Maale Gilboa, um kibutz religioso onde vivem 400 colonos.
Esta localidade não está ligada a nenhuma rede de fornecimento e depende da água distribuída por tanques israelenses a um preço exorbitante, além disso, não basta para atender suas necessidades. Metade dos adultos está desempregada. Centenas de pessoas perderam o emprego que tinham em Israel por causa do muro, que também isolou a aldeia de suas terras. Agora as autoridades lhes negam permissão para entrar em Israel. O gado diminuiu de sete mil para dois mil animais devido à falta de água e pela expropriação de terras para construir o muro. “Temos muitos problemas de saúde pela má qualidade da água, mas não temos outra opção a não ser bebê-la”, disse Farha. “Não sabemos se é potável nem de onde vem. Muitas crianças têm diarréia e outras doenças causadas por bactérias como a Escherichia coli”, acrescentou.
Os palestinos não têm água suficiente, enquanto Maale Gilboa, a 500 metros do perímetro de Faqua, está ligada à rede da Mekerot e se pode ver agricultores a qualquer hora do dia irrigando os exuberantes cultivos e jardins do assentamento. Israel tem quatro vezes mais água por habitante do que os palestinos, que apenas podem ter acesso a um quinto do aquífero da Cisjordânia, segundo o informe do Banco Mundial. “A divisão desigual de recursos e a falta de informação sobre o fornecimento impedem os palestinos de terem suas próprias fontes de água”, disse o Banco. “A situação de emergência teve graves ramificações a economia, na sociedade e na ecologia da Autoridade Nacional Palestina (ANP), as crises humanitárias causadas pela falta de água são comuns na Cisjordânia e em Gaza”, acrescenta o informe.
A rede palestina de água está em péssimo estado. Menos de 1,8 milhão de pessoas, dos 2,4 milhões que vivem na Cisjordânia, estão ligadas à rede hídrica, disse o diretor da Autoridade Palestina de Água, Fadel Ka’Wash. “Cerca de 227 mil palestinos não têm água encanada, enquanto 190 mil não recebem quantidade suficiente por problemas na rede e pelo racionamento”, acrescento. Conseguir autorização de Israel para reparos é um pesadelo burocrático eterno e, ao que parece, sem resultado. “Nos disseram que nos dariam mais água, mas que primeiro temos de consertar nossa rede”, disse Ihab Barghuti, da unidade de gestão de projetos desse órgão. “É um círculo vicioso. Não nos dão mais água enquanto não arrumamos a infra-estrutura, mas nos negam autorização para as obras”, afirmou.
O consumo médio de um lar palestino é de 60 litros ao dia, enquanto em um lar israelense chega a 280 litros, segundo a organização israelense de direitos humanos B’Tselem. Em Faqua usa-se 30 litros ao dia por pessoa. O mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde é de cem. A ANP declarou situação de emergência nas 10 aldeias desta região o Conselho de Igrejas do Oriente Médio interveio para oferecer assistência de emergência. “Analisamos as necessidades dos mais afetados, os lares com menos de cinco pessoas com o chefe de família desempregado ou subempregado e sem água”, disse Ramzi Zananiri, diretor-executivo da Comissão de Trabalhadores Refugiados do Conselho de Igrejas do Oriente Médio.
“Construímos 42 cisternas em sete das 10 aldeias em situação crítica, que armazenam água da chuva e permitem a uma família subsistir por até quatro meses na época seca”, explicou Zananiri. “Atualmente, ajudamos 45 famílias, cerca de três mil pessoas. Esperamos poder construir mais cisternas nas três aldeias que faltam”, acrescentou.
IPS/Envolverde
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