quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Saneamento básico rural


Foto: Embrapa
Fossa séptica biodigestora elimina problemas sanitários e gera adubo orgânico


Simples, barata e de fácil reaplicação, fossa séptica biodigestora é a aposta da vez para revolucionar o tratamento de esgoto nas zonas rurais brasileiras. Além de eliminar a contaminação dos lençóis freáticos e a proliferação de doenças de veiculação hídrica, a tecnologia social (TS)* ainda converte o efluente em adubo orgânico.

O esgoto de mais de quatro milhões de propriedades rurais brasileiras segue um mesmo caminho: buracos rudimentares feitos no chão. Responsáveis pela contaminação de poços e lençóis freáticos e pela proliferação de doenças como diarréia, cólera e hepatite, as chamadas “fossas negras” têm agora uma substituta simples, sustentável e economicamente viável. A um custo que varia de R$ 800 a R$ 1.200, as fossas sépticas biodigestoras, que eliminam parasitas e microorganismos causadores de doenças, não só resolvem os problemas sanitários como também garantem a conversão dos dejetos em adubo orgânico. Se bem utilizado, dizem especialistas, o sistema pode ser pago em até quatro meses com a economia trazida pela substituição da adubação química.

A tecnologia, desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária de São Carlos/SP (Embrapa Instrumentação Agropecuária), foi vencedora, em 2003, do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social. O projeto é composto por três reservatórios de mil litros cada, conectados entre si por tubulações de PVC. Apenas o encanamento dos vasos sanitários é ligado ao sistema de reservatórios, que são enterrados no solo e vedados para impedir a entrada de ar. Na primeira caixa, esterco fresco é colocado, uma vez por mês, para agilizar o processo de fermentação no ambiente anaeróbico e a conseqüente eliminação dos microorganismos fecais. Caso não se deseje aproveitar o efluente como adubo e utilizá-lo somente para irrigação, pode-se ainda montar na terceira caixa um filtro de areia, que permite a saída de água sem excesso de matéria orgânica.

“As demais alternativas às fossas negras custam entre R$ 3 mil a R$ 5 mil. Além de mais caras, ainda demandam a compra de outros insumos químicos”, explica Fabiana Leonelli, Supervisora da Área de Comunicação e Negócios da Embrapa Instrumentação Agropecuária. A tecnologia, alerta, é estratégica se tomados os déficits de atendimento no campo. Segundo dados do IBGE, apenas 12% do esgoto rural recebe algum tipo de tratamento, sendo que nas regiões Norte e Nordeste esta porcentagem sequer ultrapassa a barreira dos 6%. O potencial público beneficiário também é gigantesco. De acordo com dados da FAO/ONU, a agricultura de base familiar, maior usuária das fossas negras, reúne no Brasil cerca de 14 milhões de pessoas e detém 75% dos estabelecimentos agrícolas no país.
Com manuseio simples, os próprios agricultores podem instalar a fossa

Multiplicação

O sistema experimental foi instalado, em 2001, em uma fazenda de Jaboticabal, interior de São Paulo. O adubo orgânico foi usado com sucesso pela Embrapa em pés de graviola e macadâmia, gerando economia de adubo químico de quase R$ 3 mil por ano para o produtor rural e médico Aleudo Santana.

Desde então, a Fundação Banco do Brasil já investiu R$ 1,1 milhão na implantação de outras 916 unidades do projeto em oito municípios do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, envolvendo diretamente mais de 2 mil famílias de agricultores familiares. Já a Embrapa calcula ter atendido 5 mil pessoas interessadas em conhecer a nova tecnologia. “É difícil dizer quantas fossas já foram instaladas no país, até porque o próprio produtor pode instalá-la em sua propriedade sem dificuldades”, explica Fabiana.

Para isso, cada família de cinco pessoas precisa de três caixas de cimento de mil litros cada, conexões, tubos pvc, válvulas, registros, adesivo para pvc e borracha para vedação. “Com todo o material à mão e com os buracos já cavados, dois homens conseguem instalar cinco fossas num dia”, garante o técnico em irrigação Lucas Mendes de Brito, responsável pela reaplicação de dezenas de unidades em Goiás junto à Fundação BB. “Muita gente ainda tem preconceito porque acha que a fossa vai deixar mal-cheiro, mas logo que fazemos quem desconfiava quer logo instalar quando vê as vantagens no vizinho”, diz.

Um deles é o agricultor Mário Benedito, de 53 anos, que desde 2003 utiliza o sistema em sua parcela de 11 hectares em um assentamento rural a 55 km de Brasília. “Agora mesmo estou usando o adubo da fossa para plantar feijão. Só não dá para usar nas folhagens”, explica. A utilização do sistema rende quase 900 kg de adubo por mês a seu Ari, que também utiliza o composto em suas frutíferas e minhocários. Como resolveu apostar na agricultura orgânica, os benefícios são redobrados. “Além de ser ruim para a terra, o adubo químico tem um preço muito alto. Cada saca de 50 kg não sai por menos de R$ 40 e o preço está sempre variando”, diz.

*TS - Tecnologia Social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social.

Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

Um comentário:

nelson disse...

eu queria saber se é preciso adicionar algum produto quimico para purificaçao da agua na fossa...para poder reutilizar a agua novamente