sábado, 1 de novembro de 2008

Gerenciamento adequado de água nas usinas sucroalcooleiras permite economia dos recursos minerais e energéticos e até renda extra.

Cynthia Luz


A maior preocupação da humanidade no momento é alimentar e matar a sede da população mundial. Depois dessas primeiras necessidades, são discutidas as diferentes formas de desenvolvimento, a necessidade de preservação dos recursos naturais, o efeito estufa e as diversas formas de energia. Com isso, os biocombustíveis têm sido a bola da vez nas discussões econômicas que ocorrem pelo planeta e o etanol brasileiro vem ganhando cada vez mais destaque. Uma das razões é o fato de ser um recurso renovável; outra é a característica de usar áreas menores para a produção de sua matéria-prima, a cana, em relação à demanda do etanol produzido a partir de milho.

Por outro lado, o álcool de cana também já atraiu projetos de grandes petroquímicas, que querem produzir, a partir dele, etileno para a indústria química, como mostram projetos e/ou intenções já anunciados por Dow e Braskem, por exemplo.

Com isso, o setor vem recebendo investimentos dos grandes grupos, que se preparam para oferecer ao mercado o álcool necessário para movimentar a economia. E, no rastro do ramo energético, o setor de tratamento e águas e efluentes ganha destaque, contribuindo com o processo industrial com o tratamento de água destinada às caldeiras, e dos efluentes, permitindo seu reúso. Mas agora vai mais longe e oferece soluções para a produção de água a partir da cana, contribuindo ainda mais para a sustentabilidade do setor.

Novas usinas
Um exemplo desse crescimento está na cidade de Brejo Alegre, localizada na região de Araçatuba, no interior de São Paulo, que vai sediar o novo empreendimento do Grupo Equipav, a Usina Biopav, a ser inaugurado ainda neste semestre, com capacidade de processar 5 milhões de toneladas de cana por ano. Resultado de investimentos de R$ 500 mil, a Biopav é apenas um dos três empreendimentos que o grupo deve terminar até 2011 e que incluem ainda as unidades de Chapadão do Sul (MS) e Chapadão do Céu (GO), que devem receber investimentos de mais R$ 1 bilhão.

“A Biopav, expansão do Grupo Equipav, é um marco por contar com a maior caldeira de co-geração de energia do segmento e a Fluid conseguiu vencer a concorrência para fazer o tratamento de água dessa caldeira”, comemora o diretor-geral da Fluid Brasil, José Eduardo Rocha.

Para a Fluid, esse negócio com a Biopav é muito importante por se tratar de um dos cinco maiores grupos do segmento de açúcar e álcool no Brasil e um forte formador de opinião. “Isso vai alavancar ainda mais nossos negócios nessa área”, considera Rocha, lembrando que a empresa está presente também em outros grandes grupos, como o Santelisa Vale, Zilor, Colorado e Bellodi.

A Estação de Tratamento de Água (ETA), baseada na tecnologia de troca iônica que a Fluid vai administrar, tem capacidade de tratar 750 mil litros de água por hora e vai alimentar a maior caldeira até então instalada em usinas desse segmento. “Até sete anos atrás era inimaginável alguma coisa no segmento desse tamanho. Mas a cada ano os recordes vêm sendo batidos, embalados pelos negócios de biocombustível”, conta Rocha.

Anteriormente a esse projeto, neste mesmo ano a Fluid fechou contrato, em parceria com a Dow, para o fornecimento dos sistemas de tratamento de água para as caldeiras de alta pressão da Santelisa Vale, que adotou os sistemas de ultrafiltração e osmose reversa.

O contrato prevê a instalação de duas unidades de ultrafiltração de 100 m³/h, duas unidades de osmose reversa de 60 m³/h e também dois leitos mistos polidores de 120 m³/h, em cada uma das usinas do Grupo Santa Elisa Vale, nas cidades de Itumbiara (GO), Ituiutaba (MG), Campina Verde (MG) e Platina (GO).

Além disso, Rocha lembra que recentemente esteve na China, participando de evento na área de biocombustíveis, que teve como um dos destaques o etanol brasileiro. O convite para a viagem partiu da Dow, que, em parceria com a Crystalsev, vai instalar uma usina de etanol para produção de etileno para a indústria química.

Produção de água
Outra empresa que vem investindo em soluções para o setor sucroalcooleiro é a Dedini Indústrias de Base, que recentemente anunciou projetos de usinas auto-suficientes no consumo de água e também unidades produtoras de água. A redução do consumo de água nas usinas é uma preocupação antiga da Dedini, por se tratar de um recurso natural importante com oferta limitada. Segundo dados do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), há cerca de 20 anos, as usinas utilizavam 10 mil litros de água por tonelada e hoje são 1,8 mil litros pela mesma quantidade de cana.

O vice-presidente de tecnologia e desenvolvimento da Dedini, José Luiz Oliverio, disse que a empresa, preocupada com projetos ambientalmente sustentáveis, lançou duas soluções inéditas no mercado. “Já temos condições de fornecer usinas auto-suficientes em água, ou seja, que não demandam abastecimento externo. Em um segundo passo, com a adoção de medidas adicionais que minimizam o consumo de água e melhoram a recuperação de energia, e a adoção do sistema de concentração da vinhaça por evaporação, conseguimos recuperar a água da cana e transformar a usina canavieira de consumidora para exportadora de água. Dessa forma, a água poderá ser mais um produto obtido da cana-de-açúcar.” Isso é possível, já que a cana-de-açúcar possui 70% de água em sua composição.

A grande evolução do setor é a otimização dessa tecnologia, fazendo com que a usina produza mais água do que vai utilizar e assim tenha condições de comercializar esse excedente. “Com uma concentração maior da vinhaça (cerca de 65%) conseguimos produzir, também através do processo de evaporação e condensação desse vapor, água doce que pode ter uso doméstico e industrial (não potável) ou para irrigação”, diz Oliverio.

Esse processo produz cerca de 300 litros de água por tonelada de cana, o que significa, numa usina de capacidade para processar 12 mil toneladas de cana por dia, produzir um excedente de 3,6 milhões de litros de água por dia. A Dedini irá disponibilizar essa tecnologia ao mercado já no próximo ano.

Efluentes
A Mizumo, por sua vez, está trabalhando para demonstrar os benefícios que as estações compactas de tratamento de efluentes podem trazer para empresas de grande porte, como as usinas de açúcar e álcool. Para a empresa, as energias renováveis estão no centro das discussões mundiais e, com isso, destaca-se a atuação do setor sucroalcooleiro nacional, que tem crescido muito no Brasil nos últimos anos e deve se expandir ainda mais. "Nosso objetivo é reforçar os diferenciais de nossos produtos às empresas de um setor produtivo no qual já temos mais de 30 clientes", afirma o gestor de unidades de negócios da companhia, Giovani Toledo.

Um exemplo é o Grupo Zilor, que instalou em duas de suas três unidades seis sistemas de tratamento de esgoto sanitário. Outras usinas também estão entre os clientes da Mizumo nesse segmento, como o Grupo Cosan, que possui sistemas instalados nas unidades Usina da Barra e Destivale; e o Grupo Santelisa Vale, com estações de tratamento de esgoto desenvolvidas pela empresa em cinco de suas unidades.


Fonte: Revista H2O

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