Método desenvolvido pelo Ipen trata efluentes industriais com resíduos de carvão de termelétricas
Uma forma de tratar a água de processos industriais com cinzas de carvão provenientes de usinas termelétricas foi desenvolvida por uma pesquisadora do Centro de Química e Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). As cinzas passam por um tratamento para se transformar em material adsorvente, capaz de reter os metais tóxicos dos efluentes poluídos. O novo método de despoluição foi testado com sucesso em laboratório e já existem esforços para que a substância absorvente seja produzida e usada em escala industrial.
“O método tem duas vantagens: a primeira é que o material usado, por ser um resíduo, é de baixo custo; a segunda é que, além de tratar a água, ele torna-se uma alternativa para a reciclagem dos resíduos gerados em usinas termelétricas”, explica a responsável pela pesquisa, a química Denise Alves Fungaro, que recebeu da Unesco em junho o Prêmio Internacional da Água e da Ciência. A cinza de carvão usada pela pesquisadora provém da Usina Termelétrica de Figueira (Paraná), que, devido à sua localização, pode contaminar mananciais de águas subterrâneas, como o Aqüífero Guarani. Segundo Fungaro, geralmente cerca de 30% dos resíduos produzidos por usinas são reaproveitados nas indústrias de cimento e fertilizantes e o restante é descartado no ambiente. “Por isso, é importante ampliar a utilização das cinzas de carvão, conferindo valor agregado ao resíduo.”
Para conseguir reter os poluentes, as cinzas de carvão precisam ser expostas a altas temperaturas em um meio de alto pH (tratamento hidrotérmico alcalino). Após esse processo, a cinza se transforma em material zeolítico, que apresenta características adsorventes essenciais para o tratamento de efluentes. “Ele pode ser considerado uma mistura de cinzas de carvão e zeólita (mineral formado de sílica e alumina encontrado na natureza)”, explica. Esse material é capaz de eliminar da água principalmente os íons metálicos tóxicos (como zinco, cádmio, chumbo, cobre, magnésio, ferro, manganês, bário, alumínio, mercúrio, telúrio, césio, estrôncio, cromo e níquel), mas também é eficaz para reter algumas substâncias orgânicas, amônia e corantes.
Há duas maneiras de utilizar o material zeolítico para tratar a água: a primeira é colocá-lo em contato com o efluente e agitar a mistura; a segunda é instalar uma espécie de filtro feito com o composto onde o efluente vai passar. “Já testamos o método no tratamento de efluentes de indústrias de galvanoplastia – contaminados com altos níveis de íons metálicos –, de indústrias têxteis – contaminados com corantes – e da própria Usina Termelétrica de Figueira – constituídos por uma água ácida extremamente tóxica”, diz. “Nossa idéia é estabelecer a produção de material zeolítico em escala industrial para tratar os efluentes líquidos gerados na própria termelétrica.”
A química acrescenta que a eficiência do tratamento depende do grau de contaminação da água. “Se a concentração de poluentes não for muito alta, o efluente apresentará, após o tratamento com o material zeolítico, um nível de poluição dentro dos limites permitidos para descarte em corpos d’água pela legislação brasileira.” Segundo Fungaro, as indústrias já realizam outros tipos de tratamento, porque não é permitido descartar a água contaminada no ambiente. “Mas a substituição do método usado atualmente pela zeólita de cinzas de carvão representará uma diminuição de custos”, completa.
Franciane Lovati
Ciência Hoje On-line
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