terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tratamento de esgotos mais barato

Sistema associa organismos aeróbios e anaeróbios para eliminar resíduos

Uma nova técnica promete reduzir os custos do tratamento de esgostos nas grandes cidades. Desenvolvido por pesquisadores da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o sistema elimina resíduos orgânicos combinando a ação de organismos aeróbios e anaeróbios (que precisam ou não do oxigênio para viver). Os dois processos de tratamento já existem. O aeróbio é o mais utilizado, embora seja mais caro, por consumir mais energia. A vantagem da nova técnica é a associação de ambos, que barateia o processo.


Bactérias anaeróbias são cultivadas no reator de manta de lodo



Quando um esgoto é lançado diretamente no leito de um rio, há uma "disputa" pelo material orgânico entre as bactérias. "As aeróbias sempre vencem essa briga quando ainda há presença de oxigênio na água. Quando acaba esse elemento e o rio já é considerado ‘morto’, imperam os organismos anaeróbios", explica a engenheira Carmela Braga, uma das responsáveis pelo projeto.

Na primeira etapa do processo, são eliminados cerca de 70% dos resíduos. O esgoto é decantado e circula por um reator em que são cultivadas bactérias anaeróbias que se alimentam dos elementos orgânicos presentes nos rejeitos. Esse aparelho foi projetado especialmente para a pesquisa, e reproduz um ambiente sem oxigênio, com uma manta de lodo em seu interior. Do material digerido pelas bactérias, uma parte volta a circular no reator, e a outra, em estado mineral, é descartada. "Esse descarte pode ser usado como adubo, mas só para a cultura de árvores, pois não há eliminação de agentes causadores de doenças", afirma Carmela.

No passo seguinte, entram em ação as bactérias aeróbias. O reator é aberto para que entre o oxigênio, inserido por um sistema de ar comprimido. 20% dos resíduos do esgoto são eliminados nessa etapa, fazendo com que, ao final de todo o processo, a água devolvida ao ambiente tenha um grau de purificação de cerca de 90% - a mesma percentagem obtida nos tratamentos usuais.

Ainda não existem projetos para a construção de estações de esgoto com esse sistema. "Em Belo Horizonte, ainda estão sendo construídas estações primárias de esgoto, onde são tirados os resíduos chamados grosseiros. Só depois, poderá ser instalado o novo sistema, que é secundário", ressalta Carmela.


Pedro Lent
Ciência Hoje On-line

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