segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Agua de Pelotas vai ser tratada como esgoto antes de entrar na ETA

Fazer tratamento de esgoto na água antes de que ela entre na Estação de Tratamento de Água (ETA) é uma das alternativas que o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (RS) – Sanep – vai adotar para melhorar a qualidade do produto distribuído a cerca de 60% da população. Enquanto isto não se concretiza foi adotado o uso de permanganato de potássio e está sendo feita a desincrustração das redes com ortopolifosfato de sódio pois o manancial apresenta elevados teores de manganês.

Além disso, a idéia é informar a população sobre o que está acontecendo e porque soluções como estas têm que ser tomadas quando a qualidade dos recursos hídricos onde a água é captada começa a comprometer o tratamento. Durante a 6ª Semana Municipal da Água, que ocorrerá de 4 a 10 de outubro, será abordada, através dos técnicos do Departamento de Tratamento, a avaliação completa deste tratamento com os técnicos da empresa que dá a assessoria.

Segundo a bioquímica Isabel André, chefe do Departamento de Tratamento, desde fevereiro de 2005 o Sanep passou a enfrentar problemas com água turva (preta) que atingiu várias regiões da cidade, entre elas Porto, Navegantes, Fátima, Centro, Fragata, Py Crespo, Santa Terezinha e Lindóia.

Em junho de 2006 análises identificaram a causa da turbidez: altíssima concentração de manganês na água in natura captada para tratamento, da barragem Santa Bárbara, manancial represado e bastante eutrofizado. Na água bruta da represa Santa Bárbara foram encontradas até 6 mg/L de manganês. Em outras cidades que enfrentam o mesmo problema essa concentração atingia no máximo 1 mg/L.

Conforme a bioquímica as concentrações variam muito com a estratificação que ocorre no meio, concentração da carga orgânica dos afluentes que contribuem para a bacia de acumulação, etc. “A partir de então foram buscadas soluções para o tratamento da água, encontrando-se algumas alternativas: aeração, o que não deu resultados positivos; pré-cloração, não adotada porque poderia causar o inconveniente de formar outros compostos indesejáveis à água de consumo, em desacordo com a portaria 518/04”, conta Isabel.

Ela explica que a opção foi pelo tratamento com permanganato de potássio, dosado na entrada da água bruta que chega à planta de tratamento, por gravidade, com um tempo de contato de 7m30s, fazendo com que o produto oxide o metal e fique retido no processo de clarificação da planta de tratamento, evitando a entrada do manganês na rede de distribuição. “Esse tratamento é eficiente. Mas nos restava resolver os quilos de manganês depositados nas incrustações das redes, por serem bastante antigas, algumas com mais de 100 anos”.

Novos ensaios laboratoriais foram realizados, testando outros produtos químicos, entre eles o ortopolifosfato de sódio que atua como sequestrante de metais, mantendo-os em suspensão na forma solúvel, impedindo a deposição e possibilitando a remoção. Há três meses o SANEP deu inicio a dosagem desse produto diretamente na saída do tratamento dado à água na ETA Santa Bárbara.

O ortopolifosfato de sódio deverá ser aplicado ao longo de até dois anos, desincrustando as redes internamente, resultando também, no aumento da pressão da água. O acompanhamento deste processo será observado através de microfilmagens, feitas pela empresa que dá o assessoramento técnico, em três pontos distintos da rede. Foram escolhidos três pontos em uma mesma adutora, que possui diâmetro de 140 mm até 300 mm e material de PVC, fibrocimento e ferro, nessa mesma rede.

Foi feita uma primeira filmagem no momento do início da dosagem com o produto. Na primeira quinzena de outubro será realizada a segunda microfilmagem para observar o grau de eficácia do produto e a redução do problema. “Já constatamos melhorias através das análises laboratoriais semanais feitas em 60 pontos distintos da rede de distribuição e nas análises realizadas nas 24 h durante a condução do tratamento. Não foram detectados mais problemas e as reclamações que chegavam a Autarquia cessaram” informa a especialista do Sanep.

Paralelamente à aplicação do ortopolifosfato de sódio são dadas descargas - sangria - em vários pontos das redes, para que se possa manter a água distribuída dentro dos padrões determinados pela portaria 518/04. Para solucionar em definitivo o problema restam ainda outras iniciativas importantes que estão sendo providenciadas, entre elas: o conserto da adufa de fundo do manancial Santa Bárbara, que além de outras finalidades, é também de dar expurgo ao lodo colmatado e rico em micronutrientes capazes de causar a eutrofização, depositado ao longo de 42 anos, e que nunca foi descartado.

A outra, mais definitiva, será o tratamento através de ETE ou lagoa de estabilização biológica a fim de tratar o afluente da Sanga da Barbuda, que recebe esgoto doméstico e industrial a montante do manancial.


Fonte: Água online -revista digital.

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