quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cisternas podem ajudar a atingir sete ODM.

Por Frederico Rosas


O armazenamento e o reaproveitamento da água da chuva podem ajudar no cumprimento de sete dos oito ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, uma série de metas socioeconômicas que os países da ONU se comprometeram a atingir até 2015). A estratégia de baixo custo, geralmente colocada em prática por meio de cisternas, tem sido bem-sucedida em assegurar o abastecimento para consumo humano — especialmente durante períodos de seca nas áreas rurais — e pode ser considerada uma fonte segura de água potável.

As conclusões são do estudo Tecnologias de Baixo Custo para o Cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: O Caso do Armazenamento de Água da Chuva, publicado pelo Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (CIP-CI), órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro.

A iniciativa, segundo a pesquisa, ajuda a erradicar a extrema pobreza e a fome (como prevê o ODM 1), a atingir o ensino básico universal (ODM 2), promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres (ODM 3), reduzir a mortalidade na infância (ODM 4), melhorar a saúde materna (ODM 5), garantir a sustentabilidade ambiental (ODM 7) e estabelecer parcerias para o desenvolvimento (ODM 8).

O funcionamento das cisternas é simples. A água da chuva que cai é desviada no telhado ou em lajes por meio de calhas ou canaletas (que podem ser feitas de bambu, plástico, metal) e armazenada em um tanque geralmente feito com cimento — os reservatórios têm capacidade entre 5 m³ e 50 m³, em média, de acordo com o estudo.

“No semiárido brasileiro, uma estrutura de 40 m² no topo de um telhado pode capturar e armazenar 16 mil litros de água limpa. Isso é o suficiente para satisfazer a demanda de água potável de uma família de cinco pessoas durante os meses de seca. Na região, a construção de uma cisterna custa cerca de US$ 800 (aproximadamente R$ 1.400)”, afirma o texto.

No país, o programa 1 Milhão de Cisternas já beneficiou, desde 2001, cerca de 1,5 milhão de pessoas em estados como Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. O projeto é financiado em maior parte pelo governo federal, mas a iniciativa privada e órgãos como o PNUD contribuem com a ação.

“As cisternas certamente cumprem um papel muito importante no semiárido brasileiro, garantindo um mínimo de água potável para beber e cozinhar às famílias que antes dependiam de fontes de água não seguras, e muitas vezes distantes do domicílio”, avalia a pesquisadora brasileira Raquel Tsukada, que divide a autoria do estudo com Christian Lehmann e o assistente Acácio Lourete, também brasileiro.

Impactos nos ODMs

ODM 1: Erradicar a extrema pobreza e a fome

O sistema dá mais tempo para que as pessoas busquem ou desenvolvam atividades produtivas. Em muitas áreas rurais, chefes de família gastam horas por dia coletando água em fontes distantes (rios, lagoas, nascentes), mas o fardo é ainda maior para mulheres e crianças. O reaproveitamento da chuva também eleva a quantidade de água em uma propriedade, essencial para aumentar a produção agrícola e pecuária. O acesso a uma fonte segura dá mais condições físicas para se trabalhar. “Casas com cisterna não gastam mais de 30 horas por mês na coleta de água, enquanto as que não possuem o método podem gastar mais de 50”, diz a pesquisa.

ODM 2: Atingir o ensino básico universal

Promover o ensino básico universal requer a construção de escolas, assim como outros investimentos para assegurar que os alunos possuam mínimas condições para um aprendizado qualificado. Além de professores e materiais didáticos, são necessários reforço nutricional e higiene apropriada. Em áreas rurais isoladas, depois de longas caminhadas até a escola sob condições exaustivas (poeira, calor), as crianças chegam com fome e sede, com pouca energia restante para prestar atenção nas aulas. O acesso a uma água potável melhora as condições básicas de higiene, além de reduzir as chances de infecção e transmissão de doenças como a diarreia. “Mais de 50% das escolas do mundo têm deficiências no acesso à água potável, e cerca de dois terços não possuem saneamento básico adequado”, afirma o texto. Além disso, com abastecimento regular a escola poderia preparar alimentos e cultivar vegetais em pequenas hortas.

ODM 3: Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres


Mulheres são normalmente responsáveis pelo fornecimento de água a suas famílias. Caminhando longas distâncias — de 2 a 15 quilômetros por dia —, as que vivem em áreas rurais do mundo em desenvolvimento gastam muito tempo coletando o recurso de rios, lagos e outras fontes impróprias. A tarefa impede a mulher de dedicar tempo a atividades que aumentariam sua influência em casa, como trabalho remunerado. “Buscar água em longas distâncias também pode causar danos físicos à mulher, já que as cargas geralmente pesam mais de 20 quilos”, destacam os autores.

ODM 4: Reduzir a mortalidade na infância

“Um terço dos 1,2 bilhão de infectados ou sob risco de infecção por helmintíase (doença causada pela presença de vermes no organismo) são crianças. A água da chuva, quando propriamente armazenada, remove o risco de infecção de doenças ligadas à água contaminada”, aponta o estudo. O aproveitamento da água da chuva permite a uma família cultivar pequenas hortas, estabelecer granjas e criar gado. Se água potável estiver disponível, frutas, vegetais e outros alimentos, como o leite, aumentarão a quantidade de calorias consumidas pelas crianças, ajudando a reduzir a desnutrição.

ODM 5: Melhorar a saúde materna

A quantidade e a qualidade da água extraída de fontes impróprias, como rios e lagos, são geralmente insuficientes para atender a necessidades especiais do sexo feminino, em períodos como menstruação, gravidez, pré-natal e pós-natal. Ainda há o fato de que, durante e após a gravidez, a mulher precisa evitar esforços físicos. Carregar recipientes pesados com água por longas distâncias aumenta a chance de grávidas e fetos poderem se lesionar durante esse período.

ODM 7: Garantir a sustentabilidade ambiental

O reaproveitamento da água da chuva contribui com a meta de cortar pela metade a parcela da população sem acesso a uma água potável. Além disso, faz com que menos pessoas recorram a outras fontes externas, como rios e lagos, preservando-as e combatendo danos maiores ao lençol freático, mantendo ainda a biodiversidade dessas áreas específicas. O processo também contribui para diminuir alterações na superfície do solo, evitando erosões.

ODM 8: Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento

O projeto brasileiro “1 Milhão de Cisternas” foi inspirado em um programa do governo chinês e tem lutado de forma bem-sucedida contra a pobreza nas áreas rurais. Em 2008, o CIP-CI promoveu uma troca de experiências em reaproveitamento de água da chuva entre países que implementaram o programa de cisternas e autoridades africanas. Esses são alguns exemplos do potencial do reaproveitamento da água da chuva para a criação de um diálogo entre países para uma parceria global para o desenvolvimento.



(Envolverde/PNUD Brasil)

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