quinta-feira, 6 de maio de 2010

ULTRAFILTRAÇAO

Crescimento constante - Usada inicialmente no tratamento de efluentes, a ultrafiltração vem ganhando espaço no mercado e agora faz parte do pacote de soluções para o tratamento de água, em parceria ou não com a osmose reversa.

Aultrafiltração é um sistema ainda em desenvolvimento no País, já que tem menos de duas décadas de utilização. Usada, a princípio, muito mais para o tratamento de efluentes, hoje é considerada uma forte opção também na potabilização de água e como auxiliar do sistema de osmose reversa, aumentando sua vida útil. Ultimamente, além do emprego em potabilização e tratamento de efluentes, um dos segmentos em que tem conseguido grande destaque é o de água ultrapura para uso industrial, incluindo aplicações em caldeiras, no setor sucroalcooleiro, um dos que mais cresce no Brasil, e até mesmo na indústria de alimentos e bebidas.

Para o engenheiro José Corrêa do Carmo Junior, consultor técnico comercial da Centroprojekt, o mercado de ultrafiltração está em expansão, um pouco lentamente ainda no Brasil, mas é uma tendência mundial, uma vez que as exigências em relação à qualidade final, tanto na área de água como em efluentes, estão cada vez maiores e somente com processos de tecnologia avançadas é que se consegue atender a essas exigências. “No País, o crescimento, atualmente, tem sido impulsionado quase na totalidade por empresas privadas compromissadas com o meio ambiente, que são as que mais estão investindo no segmento.”

Já o engenheiro Marcus Colnaghi Simionato, gerente de contas da Dow Water & Process Solutions – Brasil, esclarece que, particularmente, no Brasil os módulos de ultrafiltração da Dow vêm sendo empregados como pré-tratamento para sistemas de osmose reversa. “De acordo com a característica da água ultrafiltrada, em termos de turbidez e SDI, temos uma expectativa de incremento da vida útil das membranas de osmose reversa de pelo menos dois a três anos (considerando a operação do sistema de osmose reversa dentro dos parâmetros operacionais pré-determinados pela Dow)”.

Para ele, em termos de novos desenvolvimentos, o mercado de potabilização de águas se mostra bastante promissor. “As grandes companhias de saneamento do mundo investem cada vez mais em tecnologia, a fim de se tornarem mais competitivas em custo e qualidade. Quando comparamos uma Estação de de Água (ETA) convencional com um sistema de ultrafiltração, o sistema apresenta vantagens técnicas, entre elas o atendimento às legislações cada vez mais rigorosas; remoção de patógenos; menor consumo de produtos químicos e energia; operações automáticas e estáveis; trabalho menos intensivo; instalação mais fácil; e água de excelente qualidade. “Em termos de Capex, um sistema de ultrafiltração automatizado apresenta um custo superior de 20% a 25% quando comparado a uma ETA manual, porém, em termos de Opex, o sistema de ultrafiltração apresenta redução de cerca de 70%, o que proporciona retorno sobre o investimento inicial em torno de 18 a 24 meses.”

Essa ideia é reforçada por Luiz Fernando Bezerra, engenheiro de processos da Fluid: “No reúso de água a ultrafiltração vem sendo cada vez mais utilizada, pois é uma tecnologia que tem as vantagens de um menor consumo de produtos químicos e pode concentrar as impurezas em níveis mais elevados do que as tecnologias convencionais. Isso a torna uma tecnologia mais limpa.”

Em ultrafiltração, o segmento que mais cresce atualmente, para Sérgio Roberto Rodrigues Ribeiro, diretor comercial da Koch Membrane Systems, é o de tratamento de efluentes, seguido do tratamento de água. ”O crescimento da ultrafiltração tem sido impulsionado por duas razões principais: uma delas, é a exigência cada vez mais rigorosa dos órgãos ambientais em relação aos parâmetros de qualidade dos efluentes lançados em corpos receptores, incluindo Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) e Demanda Química de Oxigênio (DQO), sólidos suspensos; a outra é o custo da água captada, que tem incentivado o investimento em reúso. Nos países mais desenvolvidos percebe-se uma procura pela ultrafiltração motivada pela preocupação ambiental e no Brasil o que mais motiva a utilização dessa tecnologia ainda é o custo da captação. Outro segmento que está aquecido é o de tratamento de efluentes de refinarias, que vem sendo feito com a ultrafiltração.”

Ribeiro ainda compara: “A tecnologia de osmose reversa já está consagrada, por ter 40 anos de aplicação no País, tanto na indústria quanto no setor privado, sendo usada inclusive para fornecimento de água potável, em especial em locais onde há escassez de água doce, pois é empregada para dessalinização de água do mar. Em alguns casos já é considerada uma commodity, tendo sua comercialização muitas vezes feita com base no preço do produto.

Já a ultrafiltração é um produto que vem sendo desenvolvido nos últimos 20 anos, principalmente no tratamento de esgotos sanitários. Mas ultimamente ela vem sendo bastante empregada em pré-filtração, como uma proteção para as películas da osmose. Elas são complementares, principalmente onde é exigida uma água de alta qualidade, como a produção de vapor para caldeiras. No Brasil, o setor que mais usa a combinação dessas duas tecnologias é o de açúcar e álcool, para alimentar as caldeiras de alta pressão.”

Eduardo Pacheco, engenheiro sanitarista da Nalco IWM - Integrated Water Management Technical Manager – Latin America, lembra, por sua vez, que “a utilização de membranas filtrantes vem crescendo de modo significativo ao longo dos anos e isso se deve ao desenvolvimento de novas membranas e de novos fornecedores. Os preços vêm caindo e as vantagens desses processos estão cada vez mais evidentes.”

O diretor de Equipamentos e Sistemas de Águas e Efluentes da Nalco, Jorge Augello, complementa: “O mercado de ultrafiltração tem crescido muito, pois as necessidades de água pura e o reúso vêm crescendo e a ultrafiltração é uma tecnologia frequentemente utilizada nas soluções de reúso e reciclo de água.”

Por outro lado, Roberto Andreatti Freire, diretor da Norit, assevera que a tecnologia de ultrafiltração está se movendo rapidamente em direção a sistemas mais eficientes, com maior produção e menor consumo de energia e de produtos químicos, ou seja, “soluções sustentáveis com o menor custo de propriedade. Todos os segmentos da indústria, do comércio e também os usuários privados procuram resolver seus problemas de água com as melhores e mais acessíveis tecnologias. Particularmente no Brasil, podemos encontrar aplicações extremamente desafiadoras e forte interesse de quase todos os usuários de água, sendo eles uma empresa ou um indivíduo. A água potável nem sempre está disponível e, muitas vezes, quando está, sua qualidade é muito pobre. Outro fator é a escassez em algumas áreas, o que é um grande problema. Em todos esses casos, a ultrafiltração é uma forte tendência”.

Mercado

Com esse amadurecimento da tecnologia, o mercado vem se apresentando aquecido e enfrentou, com certa facilidade, a crise econômica e agora a expectativa é de que o crescimento seja retomado, alcançando incremento de mais de 10% em relação ao ano passado.
Para Carmo, a crise mundial afetou o segmento, com a maioria dos projetos sendo adiada. “Mas ainda vão ser implantados e muito poucos foram cancelados”, destaca, acrescentando: ”A perspectiva para 2010 é de que quase a totalidade desses projetos seja retomada e outras empresas estão elaborando estudos para melhorias no tratamento de águas, principalmente visando o reúso, uma vez que esse recurso está cada vez mais escasso.”

O consultor técnico adianta, ainda, que a Centroprojekt investiu recentemente e, ao contrário de outras empresas, cresceu durante a crise. “Nossos investimentos são feitos em sua maioria em pessoas, pois somos uma empresa de engenharia e tecnologia. Esse investimento é consequência de novos projetos contratados de nossa empresa. Temos, também, investimentos em pesquisa no que se refere ao tratamento de lodo, pesquisa com reúso de efluentes na área petroquímica e também no treinamento e aperfeiçoamento em nosso pessoal técnico. Além disso, a Centroprojekt possui hoje um laboratório onde desenvolve novas tecnologias.”

Por fim, Carmo lembra que a empresa tem um sistema de ultrafiltração instalado em fábrica de papel e celulose no Paraná, “a maior unidade dessa tecnologia em operação no Brasil. O efluente tem sido descartado com ótima qualidade e já se pensa em sua reutilização. Além disso, atualmente, temos plantas pilotos operando em indústrias químicas, petroquímicas e alimentos”.

Augello avalia que a crise não teve grande impacto: “Ao contrário, os projetos de reúso ajudam a reduzir custos operacionais. As expectativas são que cresçam a conscientização do reúso e reciclo de água dentro das empresas, sabendo que água é um recurso escasso e os custos de captação da água estão aumentando.”

Ele ainda lembra que a Nalco fez um investimento na diferenciação, com a inauguração do seu Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Campinas. “Nele, uma equipe de experts une tecnologias de membranas com tecnologia química e monitoramento e controle remoto que resultam em soluções confiáveis e economicamente sustentáveis para reúso e reciclo de água.”

Ribeiro por sua vez conta que “no início do ano passado tenha havido uma estagnação momentânea, com muitos projetos em andamento sendo deixados de lado, até para saber como seria a evolução dessa crise, mas já no segundo semestre houve uma retomada forte dos negócios e a expectativa é de que este ano o mercado apresente um crescimento elevado, acima de 10%”. Ele ainda revela que a Koch vai apresentar brevemente ao mercado novas alternativas em ultrafiltração.

Simionato diz que, apesar da crise no ano de 2009, o mercado de ultrafiltração para a Dow no Brasil foi bem interessante. “A nossa expectativa é incrementar as vendas em 2010 em pelo menos 20%”, afiança. Segundo ele, a Dow vem investindo em sua unidade na China com o objetivo de incrementar sua capacidade produtiva e desenvolver novos produtos. “Podemos citar, como exemplo, o lançamento em 2009 do módulo de Ultrafiltração SFP 2880 que possui uma área ativa de 77m2 por módulo – até então, o maior módulo era o SFP 2860 com uma área ativa de 51m2. Comparando-se o módulo 2860 e 2880, para plantas de grande porte, existe uma redução de 33% do número de módulos, tubulações e skids, levando a uma redução nos custos de produção da água em torno de 17% (Capex + Opex).”

Francisco Faus, gerente comercial da Fluid, também esclarece que alguns projetos sofreram paralisação e outros foram adiados em consequência da crise, “porém agora a maioria já foi retomada”. Ele ainda relata que a empresa é outra que está acreditando no segmento: A Fluid investiu em unidades piloto de MBR e UF para comprovação e verificação da performance da tecnologia antes do projeto final em escala industrial. Isso é necessário devido à grande diversidade dos efluentes industriais existentes. Além disso, a Fluid investiu na construção da nova sede, inaugurada em janeiro deste ano, que agrega a área administrativa (1.395m2) e fabril (2.400m2), contanto com laboratório, auditório para treinamentos e seminários.

A Fluid trabalha com empresas de ponta que desenvolvem a tecnologia de ponta de membranas como a Dow, americana, e a Norit, holandesa. Temos também um contrato com a empresa alemã Wehrle Umwelt GmbH, de aplicação de membranas de MBR.”
Para Freire, o ano passado foi um grande desafio em termos de vendas “e como a maioria dos projetos no Brasil é financiada pelo BNDES, a consequência da escassez de linhas de crédito foi o adiamento de muitos projetos para 2010 e 2011. De qualquer forma, as empresas que executaram projetos com seus próprios recursos os fizeram acontecer. Por outro lado, 2009 deu-nos uma boa oportunidade para entrar em mercados especiais com as Tecnologias Limpas de Processo Norit, como pequenas unidades de sistemas de tratamento de água usados em shoppings, bem como em condomínios”.
Freire afirma que as aplicações de ultrafiltração, embora sejam muito bem estabelecidas em todo o mundo, ainda estão sendo disseminadas no mercado brasileiro. “Apesar de já existirem enormes instalações em operação em nosso país usando as Tecnologias Limpas de Processo Norit, em várias aplicações que vão de águas industriais, tratamento de efluentes e reutilização da água, nós ainda encontramos no mercado várias empresas lidando com a água, mas com pouco conhecimento em tecnologia UF. Por esta razão, a Norit tem um programa de formação concebido para transferir conhecimentos para as melhores empresas de OEM no Brasil, onde damos treinamento e aperfeiçoamento profissional da área de água em aplicações de UF. Nos últimos dois anos a Norit já treinou mais de 200 profissionais que estão em constante contato com nossos engenheiros e recebendo apoio contínuo.”

O diretor da Norit ainda destaca que nos últimos anos a empresa fez vários investimentos, como a duplicação da capacidade da fábrica de membranas e o desenvolvimento da mais avançada tecnologia em UF. Neste momento está lançando o sistema de UF mais moderno do mundo, que trará diversos benefícios comparando-se com os sistemas de UF existentes no mercado. Estes desenvolvimentos estão na área de água municipal, na reutilização de efluentes, pequenas unidades de tratamento de água, membranas para água do mar, e unidades POU/POE.

“A Norit está constantemente investindo em P&D e, neste momento, os novos investimentos estão dirigidos no sentido de obter maior produção com baixo custo operacional. Nossos clientes buscam a sustentabilidade e a Norit está trabalhando incansavelmente para atender essa necessidade. Podemos dizer que temos os mais modernos e eficientes produtos no mercado e que podemos oferecer aos nossos clientes as soluções mais sustentáveis e com o custo mais competitivo do mundo.”

Fonte: Portal Tratameto de água.

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