segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sem reciclar todo PET nacional, Brasil importa o resíduo.

Por Rogério Ferro, do Instituto Akatu

Atrás apenas do Japão, Brasil é o segundo país do mundo que mais recicla garrafas PET, mas nível de reaproveitamento do material ainda não satisfaz a demanda interna; indústria têxtil é a que mais usa

“Na natureza, nada se perde, nada se cria. Tudo se transforma”, já dizia Antoine-Laurent de Lavoisier, químico francês do século 18. Nossa sociedade finalmente resolveu dar ouvidos ao cientista. Tanto é assim que o Brasil é hoje o segundo pais em reciclagem de garrafas de politereflalato de etileno, o popular PET, atrás apenas do Japão, de acordo com o senso divulgado em 2008 pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet).

Atualmente são recicladas no Brasil 253 mil toneladas do material, o que corresponde a um reaproveitamento de quase 55%, taxa que supera a dos EUA (que recicla 23,5%), Argentina (27%), Europa (40%) e México (15%).

Mas, enquanto 45% do PET reciclável ainda são desperdiçados em lixões e aterros ou são largados no solo, em rios e mares, o Brasil importa esse tipo de resíduo. Para completar a demanda por matéria-prima, nossas indústrias compram PET usado de outros países.

O aumento da reciclagem no país desde 1994 foi de 1.850%, ou seja, o Brasil recicla hoje quase 20 vezes mais do que reciclava no século passado; foram 253 mil toneladas recicladas em 2008, ante apenas 13 mil em 1994.
O índice de reciclagem de PET, no entanto, precisa melhorar, porque o país consome hoje quase seis vezes mais PET para produzir embalagens novas, portanto, sobra mais PET hoje do que sobrava no século passado. O consumo em 2008 chegou a 462 mil toneladas contra 80 mil em 1994. Isso resulta num descarte não reciclado de 209 mil toneladas de PET, volume quase três vezes superior ao descarte de 67 mil toneladas de 1994.

“A importação de sucata revela uma falha muito grave, uma falência das instituições brasileiras e da organização dos municípios para a reciclagem do lixo”, alertou o especialista em lixo e reciclagem Sabetai Calderoni, em entrevista ao programa Bom dia Brasil, da TV Globo, exibido no dia 12 de abril.

Para Heloisa Mello, gerente de operações do Instituto Akatu, consumidores e empresas no Brasil já realizam esse tipo de ação, mas é fundamental que esse número cresça para melhorar ainda mais esse panorama. “Hoje existem várias iniciativas de empresas e de outras organizações que realizam ações de coleta seletiva e a reciclagem, mas nosso foco continua sendo a sensibilização e educação do consumidor. Queremos que ele tenha consciência de seu poder de consumo, partindo para ações práticas e escolhas de consumo que causem menos impactos possíveis ao meio ambiente.”

A produção a partir de materiais reciclados permite uma exploração mais sustentável dos recursos naturais, já que o reuso e a reciclagem de produtos evitam a extração de novas matérias-primas de fontes naturais, além de economizar recursos, como água e energia, necessários na fase de produção. No caso das garrafas PET – que estima-se levam mais de 500 anos para se decompor na natureza –, a produção da resina a partir de material reciclado consome apenas 3% de energia originalmente necessária para produção da resina virgem, segundo a Abipet.

Indústria Têxtil é a mais beneficiada
Apesar de ser mais conhecido como matéria prima de fibra têxtil para confecção de vestuário, mantas e cobertores, é bom lembrar que a lista de possibilidades de aplicação da garrafa PET reciclada se estende a brinquedos, enfeites, utensílios domésticos como baldes, vassouras, prendedores de roupas, carpetes e forrações (100% das montadoras de automóveis no Brasil utilizam carpetes de PET reciclado).

No Brasil, a indústria têxtil é a que mais se beneficia da reciclagem de garrafas PET. Do volume reciclado em 2008 (dados mais recentes), 38% foram absorvidos pelo setor e esse número vem crescendo a cada ano.

Para produção de roupas, o PET reciclado é transformado em fibras que produzem um tecido forte, mas macio. Em geral, elas são combinadas com algodão, que dá um toque ainda mais confortável. A estudante de relações públicas Alice Alves dos Santos, 23 anos, já comprou esse tipo de roupa em São Paulo. “Eles estavam fazendo uma campanha ambientalista. A camiseta era bonitinha e achei a iniciativa muito legal. Tenho certeza de que, se eles não falassem que a matéria-prima era PET, não daria para saber, elas são confortáveis, como qualquer outra roupa”, conta.



Fonte: Envolverde/Instituto Akatu

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