sexta-feira, 17 de julho de 2009

Melhoria do saneamento na África é prioridade do G8

Os líderes do G8, reunidos na cidade italiana de L Aguila (Itália) acordaram em realizar um grande esforço para ajudar os países africanos a melhorar o acesso aos serviços de saneamento, especialmente na questão de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgotos.

Ênfase especial foi dada à melhoria da coordenação visando à implementação de programas de doação e assistência que se direcionem para os objetivos prioritários das nações neste segmento. Eles pretendem que esse apoio impulsione contribuições bi e multilaterais de ajuda à União Africana e Conselho Africano de Ministros de Recursos Hídricos e outras organizações de desenvolvimento regional.

Eles reafirmaram que o aumento da escassez dos recursos hídricos e a dramática falta de acesso ao saneamento, que já atingem o continente africano, criam uma barreira intransponível para o desenvolvimento sustentável, boas condições de saúde e erradicação da pobreza.

“Nós estamos determinados a construir uma forte parceria entre os países africanos e os que compõem o G8 para aumentar o acesso ao saneamento com base nos princípios da responsabilidade compartilhada e compromisso mútuo” disseram os representantes dos países desenvolvidos. O acordo foi obtido na reunião entre os integrantes do G8 (Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Japão, Canadá, Rússia e Estados Unidos) e os países africanos (Argélia, Angola,Egito, Etiópia, Líbia, Nigéria, Senegal, África do Sul, mais a Comissão da União Africana.

"A Semana da Água que se realizará em setembro na África do Sul vai proporcionar uma oportunidade para obtermos progressos tangíveis em nossos objetivos comuns no enfrentamento dos desafios do saneamento” reafirmaram as fontes dos dois lados.

Abundância ilusória

A África parece abençoado com abundantes recursos hídricos: grandes rios incluem o Congo, Nilo, Zambeze, Níger e o Lago Vitória, que é o segundo maior do mundo.

Apesar disso é o segundo continente mais seco do mundo, depois da Austrália, e milhões de africanos continuam a sofrer escassez de água ao longo do ano. Parte das dificuldades se devem a problemas de distribuição desigual - por vezes há muita água onde há menos pessoas - e também à ausência ou deficiente gestão dos bens existentes que pode ser melhorada. Um exemplo da disparidade de disponibilidade hídrica situa-se na bacia do Congo onde 30% da água do continente drena terras habitadas por apenas 10% da população da África.

Melhorar o acesso ao saneamento, entretanto, é apenas uma solução parcial. Torneiras e canos são meros mecanismos de entrega da água, é preciso garantir a sustentabilidade dos recursos hídricos disponíveis através de cuidados para conservação das zonas úmidas e rios. A concretização eficaz de gestão dos recursos hídricos na África requer participação de todos os que têm a ganhar ou sofrem com a perda da qualidade dos mananciais e da biodiversidade. Entre as primeiras medidas sugeridas, entre outras, estão:

• Estabelecer autoridades multilaterais de gestão de bacia hidrográfica em mais de 50% de 80 rios transfronteiriços e lagos na África até 2010.
• Estabelecer planos nacionais de gestão e utilização racional das zonas úmidas e de conservação de 50 milhões de hectares de zonas úmidas de água doce para sustentar os meios de subsistência dos povos locais até 2010.

A África é o lar de cerca de 13% (800 milhões pessoas) da população mundial e em contraste, é responsável por apenas 2% da produção econômica mundial. Globalmente, o setor agrícola e mineiro empregam o maior contingente de africanos. Vastas desertos e regiões densamente florestadas são quase desabitados, enquanto a densidade populacional é muito elevada, em lugares como a Nigéria, a região do Vale do Nilo, e os Grandes Lagos. Duas das maiores cidades do mundo - Cairo e Lagos - são africanas.

Mais de 80 dos rios e lagos são partilhados por dois ou mais países e muitos deles dependem da água que vem de fora de suas fronteiras. Alguns projetos hídricos de grande escala incluindo barragens podem exacerbar os impactos das cheias das secas, ameaçando a subsistência e reduzindo ainda mais o acesso à água.

A maior parte da água desviada para uso humano na África é utilizada para agricultura irrigada. Muitos destes empreendimentos agrícolas foram planejados indevidamente e não tem atingido as suas previsões de benefícios para os pobres. Esses sistemas também têm reduzido o abastecimento alimentar a partir de fontes tradicionais, como a pesca fluvial e suprimentos colhidos através de práticas tradicionais como o plantio das culturas na ápoca das cheias a partir de planícies aluviais.

Quase metade da população sofre de uma das seis principais doenças relacionadas com água. Em Moçambique mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas pelas inundações de 1999/2000 e houve um número ainda desconhecido de mortos. Todos os dias, 650 pessoas morrem de diarréia na África, principalmente crianças até cinco anos de idade. Mais de 10.000 pessoas contraíram cólera durante surtos na África do Sul em 2001.

Água e vida selvagem

Vastas planícies aluviais, ao longo do rio Níger e o rio em si são lar de espécies ameaçadas, como o hipopótamo e crocodilo do Oeste africano. O Níger contém 243 espécies em 36 famílias, das quais 20 espécies não são encontradas em mais nenhum lugar do mundo. O Lago Malawi, chamado Lago Niassa em Moçambique e na Tanzânia, hospeda uma das mais ricas coleções de peixes de água doce do mundo 99% das quais são encontradas apenas neste local. O lago também abriga 188 espécies de mamíferos, 140 de répteis e 90 de anfíbios.

As montanhas são frequentemente chamadas de torres de água da natureza. Devido a seu tamanho e forma, elas auxiliam na condensação das nuvens que garantem a chuva e neve necessárias ao fornecimento da água dos rios. O Vale da África Oriental inclui o Kilimanjaro que chega quase aos 6.000 metros e corta o continente, de norte a sul, por cerca de 4.000 quilômetros. Em virtude da sua raridade - em comparação com outras regiões - as montanhas e os vales adjacentes na África são de grande importância para as bacias hidrográficas do continente.

Mas os desmatamento e sobrepastoreio podem reduzir muito a confiabilidade do suprimento de água fornecida pelas montanhas e pelas zonas úmidas. Essas zonas úmidas (banhados) são fundamentais para manter a recarga subterrânea. Já há constatação de que o lençol freático está caindo rapidamente, em vários lugares, a partir de um a 30 metros, às vezes mais. Em alguns lugares e em determinadas épocas do ano, uma queda de um metro pode afetar grandemente o acesso à água segura.


Fonte:Revista Meio Filtrante

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