Por Elaine Patrícia Cruz, da Agência Brasil
Entre 79 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes, Franca, no interior paulista, é a que oferece à população o melhor serviço de saneamento básico disponível, conforme pesquisa divulgada nesta quinta-feira (2/7) pelo Instituto Trata Brasil.
Segundo o estudo, baseado em dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento do Ministério das Cidades, as cidades brasileiras avançaram 14% nos serviços referentes a esgotos e 5% no tratamento entre os anos de 2003 e 2007, mas, para os pesquisadores, os números ainda são insuficientes.
“O que os dados mostram é que a coleta de esgoto é muito pior que a coleta de lixo e o acesso às redes de água e eletricidade. E, na verdade, os níveis de tratamento [de esgoto], que são os que garantem o manejo correto dos dejetos, ainda estão muito abaixo. O problema de saneamento é um verdadeiro buraco para o Brasil, e o país não consegue resolver”, afirmou o pesquisador Marcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas.
Sete das dez cidades que apresentaram os melhores números no atendimento de saneamento para sua população ficam em São Paulo. Por ordem, as dez primeiras colocadas são Franca (SP), Uberlândia (MG), Sorocaba (SP), Santos (SP), Jundiaí (SP), Niterói (RJ), Maringá (PR), Santo André (SP), Mogi das Cruzes (SP) e Piracicaba (SP). A capital mais bem colocada no ranking é Curitiba (PR), no 11º lugar. São Paulo aparece na 21ª colocação e o Rio de Janeiro, na 36ª.
Entre as cidades com piores serviços de saneamento básico, quatro estão localizadas no estado do Rio de Janeiro: São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti. Também fazem parte da lista as capitais de Rondônia (Porto Velho), do Pará (Belém) e do Amapá (Macapá) e as cidades de Cariacica, no Espírito Santo, Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, e Canoas, no Rio Grande do Sul.
O estudo também levou em consideração a percepção das pessoas sobre os serviços públicos disponíveis, baseando-se em dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar (Pnad) de 2007, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com esse levantamento, apenas 49,44% da população brasileira tem rede de esgoto. O número é muito inferior ao da rede de água encanada (81,11%), de lixo coletado (86,79%) e de eletricidade (98,18%).
Segundo o pesquisador, a questão do saneamento básico deveria ser uma das prioridades em políticas públicas, já que a sua ausência traz muitos impactos negativos na vida das pessoas. “A falta de saneamento implica pior desenvolvimento humano em todas as dimensões, em particular na saúde. A falta de saneamento rouba a vida e mata crianças, principalmente de 1 a 6 anos de idade, e também gera consequências futuras para aqueles que sobrevivem às doenças do saneamento."
Marcelo Néri observou que a pesquisa mostra que está havendo redução na altura e no índice de massa corporal das pessoas que vivem em localidades que não têm ou oferecem serviços deficientes de saneamento."A falta de saneamento inibe o desenvolvimento físico e intelectual das pessoas”, disse o pesquisador.
Para ele, o problema da falta de saneamento só será resolvido com vontade política e mobilização social. “Não é só dinheiro. Dinheiro é importante, mas, fundamentalmente, é gestão. E, para isso, a população tem de estar conscientizada. Tem que perceber que a falta de saneamento não é só o cheiro, não é só a coceira. É doença.” Néri ressaltou que as pessoas precisam de pressionar o prefeito de sua cidade e cobrar avanços no saneamento básico.
Revista Meio Filtrante
Nenhum comentário:
Postar um comentário