terça-feira, 14 de julho de 2009

Pesquisador procura utização para pneus usados em concreto e revestimentos de baixa resistência

Os 30 milhões de pneus jogados fora todo ano, no Brasil, podem deixar de ser um problema para o meio ambiente, não por estarem inclusos no artigo sobre logística reversa do Programa Nacional de Resíduos Sólidos, mas porque muitos pesquisadores estão desenvolvendo técnicas para usá-los como matéria-prima em novos produtos e processos.

Um dos mais conhecidos é o uso em fornos, para a fabricação de cimento, mas o professor da Escola Politécnica da USP (Poli), Antônio Domingues de Figueiredo, junto com sua equipe, desenvolveu uma nova utilização, promovendo um modelo de dosagem de borracha de pneus usados e água, para adicionar ao concreto.

Ele busca comprovar que a matriz, o resultado desta mistura, perde em resistência à compressão e pode ser usado como isolamento térmico e acústico, por ser mais flexível e capaz de absorver calor, som e impacto.

Figueiredo acredita ser um equívoco usar a borracha para buscar aumento da resistência mecânica, como muitos pesquisadores estão fazendo. Ele explica que a borracha é considerada um material muito flexível e muito pouco rígido, logo deve se procurar outras aplicações, onde a resistência mecânica não seja exigida.

Uma possível utilização seria na construção de barreiras feitas de concreto, utilizadas nas estradas, a fim de amortecer o impacto em acidentes de carros. Estas barreiras são conhecidas como barreiras New Jersey e exigem baixo nível de resistência mecânica.

"É um concreto simples, porém, seria interessante aumentar a resistência ao impacto e diminuir a rigidez da matriz. A borracha cai como uma luva", disse o professor. "A borracha torna o material mais leve, absorve mais impacto e evita lascamentos".

Uma outra aplicação, que o professor acredita ser promissora, é a adição da borracha, do tipo pó de recauchutagem, na produçãp de argamassa para revestimento.

Segundo ele, isto aumentaria o isolamento térmico e reduziria o módulo de elasticidade, o que, provavelmente, diminuiria o risco de fissuração.

"Nós poderíamos ter a incorporação de um material na edificação com ganho de desempenho. Não estamos preocupados em ter uma alta resistência mecânica", concluiu o professor. "O que queremos é reduzir a fissuração e melhorar a qualidade em termos de isolamento térmico e acústico. Nisto, a borracha pode ajudar bastante".

Com esta adição, a argamassa teria uma menor densidade e possibilitaria um maior rendimento na aplicação e, consequentemente, uma redução nos custos.

O pesquisador conta que a idéia do projeto surgiu por insatisfação.

"Eu vi alguns estudos nos quais adicionavam, por exemplo, sílica ativa em matrizes de concreto, para melhorar a competência da matriz e a aderência com a borracha. Os ganhos com desempenho eram pífios, já que seria o mesmo que melhorar a aderência da pasta com os poros", disse.

Segundo Figueiredo, o raciocínio não estava certo. Você não pode misturar borracha com o concreto para melhorar a resistência mecânica. A borracha deve ser adicionada no concreto para melhorar o isolamento térmico acústico.

O projeto foi iniciado no mestrado de uma de suas orientadas, Sílvia Giacobbe, e não recebeu qualquer tipo de financiamento, além dos recursos do laboratório da Poli e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

O professor acredita ser promissora a aplicação comercial da borracha em adição ao concreto, pois, permite destinação adequada de um resíduo que tem impacto negativo no meio ambiente.

Escrito por Luis Paulo Roque/Revista Sustentabilidade

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